sábado, 29 de setembro de 2018

segunda-feira, 24 de setembro de 2018



Krishna e o Cristo Jesus
Muito se fala sobre a semelhança das histórias da vida de Jesus, o Cristo, e a história de Krishna, na Índia. Ambos são filhos de Deus e encarnados no plano da matéria para ajudar os homens a avançar com mais rapidez e segurança em direção a luz. São avatares...
              A atração que a matéria exerce sobre os espíritos encarnados é muito forte. E a medida que essa atração vai aumentando ela vai ofuscando a chama da espiritualidade, conduzindo-a para o seu apagamento. É necessário, então, que haja uma ação eficaz do plano superior, visando retomar o caminho da luz, esclarecendo os homens onde está a verdade e a necessidade de se retomar o caminho da direita, que leva à ascensão a Deus.
              É com esse mister que espíritos do mais alto escol se fazem presentes no nosso planeta para nos trazer  a verdade e com o seu exemplo mudar o nosso comportamento. Buda, Krishna e o Cristo Jesus, são exemplos dessas encarnações. E não será de se estranhar se tais personagens não se tratar do mesmo espírito que, em espaçadas eras, retorna ao nosso planeta para nos ensinar as verdades que conduzem à senda da luz.
              Talvez encontremos ai a razão das semelhanças entre a doutrina Cristã com a filosofia budista dentre outras que nos vem das religiões praticadas na Índia.

segunda-feira, 13 de agosto de 2018

Necessidade de valorização

Resultado de imagem para sonhos
Os destrutivos gigantes da alma, que exteriorizam os tormentos e a imaturidade do ego, de alguma forma refletem um fenômeno psicológico, às vezes de procedência inconsciente, noutras ocasiões habilmente estabelecido, que é a necessidade da sua valorização.
Quando escasseiam os estímulos para esse cometimento do eu, sem crescimento interior, que não recebe compensação externa mediante o reconhecimento nem a projeção da imagem, o ego sobressai e fixa-se em mecanismos perturbadores a fim, de lograr atenção, desembaraçando-se, dessa forma, do conflito de inferioridade, da sensação de incompletude. Tivesse maturidade psicológica e recorreria a outros construtores gigantes da alma, como o amor, o esforço pessoal, a conscientização, a solidariedade, a filantropia, desenvolvendo as possibilidades de enriquecimento interior capazes de plenificação.
Acostumado às respostas imediatas, o ego infantil deseja os jogos do prazer a qualquer preço, mesmo sabendo que logo terminam deixando frustração, amargura e novos anelos para fruir outros. A fim de consegui-lo e por não saber dirigir as aspirações, asfixia-se nos conflitos perturbadores e atira-se ao desespero. Quando assim não ocorre, volta-se para o mundo interior e reprime os sentimentos, fechando-se no estreito quadro de depressão. Renitente, faculta que ressumam as tendências do prazer, mascaradas de auto-aflição, de autoflagelação, de autodepreciação. Entre muitos religiosos em clima de insatisfação pessoal, essa necessidade de valorização reaparece em estruturas de aparente humildade, de dissimulação, de piedade, de proteção ao próximo, estando desprotegidos de si mesmos...
A humildade é uma conquista da consciência que se expressa em forma de alegria, de plenitude. Quando se manifesta com sofrimento, desprezo por si mesmo, violenta desconsideração pela própria vida, exibe o lado oculto da vaidade, da violência reprimida e chama a atenção para aquilo que,  legitimamente, deve passar despercebido. A humildade é uma atitude interior perante a vida; jamais uma indumentária exterior que desperta a atenção, que forja comentários, que compensa a fragilidade do ego. O caminho para a conscientização, de vigilância natural, sem tensão, fundamentando-se na intenção libertadora, é palmilhado com naturalidade e cuidado.
Jesus, na condição de excepcional Psicoterapeuta, recomendava a vigilância antes da oração, como forma de auto-encontro, para depois ensejarse a entrega a Deus sem preocupação outra alguma. A Sua proposta é atual, porquanto o inimigo do homem está nele, que vem herdando de si mesmo através dos tempos, na esteira das reencarnações pelas quais tem transitado. Trata-se do seu ego, dissimula-dor hábil que conspira contra as forças da libertação.
Não podendo fugir de si mesmo nem dos fatores arquetípicos coletivos, o ser debate-se entre o passado de sombras — ignorância, acomodação, automatismos dos instintos — e o futuro de luz — plenitude através de esforço  tenaz, amor e auto-realização — recorrendo aos dias presentes, conturbados pelas heranças e as aspirações. No entanto, atraído pela razão à sua fatalidade biológica — a morte — transformação do soma — histórica — a  felicidade — e espiritual — a liberdade plena — vê o desmoronar dos seus anseios e reconstrói os edifícios da esperança, avançando sem cessar e conquistando, palmo a palmo, a terra de ninguém, onde se expressam as
próprias emoções conturbadas. Essa necessidade de valorização egóica pode ser transformada em  realização do eu mediante o contributo dos estímulos.
Cada ação provoca uma reação equivalente. Quando não se consegue uma resposta através de um estímulo positivo, como por exemplo: — Eu te amo, para uma contestação equivalente: — Eu também, recorre-se a uma negativa: — Ninguém me ama, recebendo-se uma evasiva — Não me inclua nisso. Sob trauma ou rancor, o estímulo expressa-se agressivo: — Não gosto de ninguém, para colher algo idêntico: — A recíproca é verdadeira.
Os estímulos são fontes de energia. Conforme dirigidos, brindam com resultados correspondentes.
O ego que sente necessidade de valorização, sem o contributo do self em consonância, utiliza-se dos estímulos negativos e agressivos para compensar se, sejam quais forem os resultados.
O importante para o seu momento não é a qualidade da resposta estimuladora, mas a sua presença no proscênio onde se considera ausente.
Verdadeiramente, no inter-relacionamento social, quando todos se encontram, o ego isola suas vítimas para chamar a atenção ou bloqueia-as de tal forma que não ficam ausentes, porém tornam-se invisíveis. Encontram-se no lugar, todavia, não estão ali. Essa invisibilidade habilmente buscada compensa o conflito do ego, mantendo a autoflagelação de que não énotado, não possui valores atraentes. Tal mortificação neurótica introjeta as imagens infelizes e personagens míticas do sofrimento, que lhe compõem o quadro de desamparo emocional de desdita pessoal.
Nesse comportamento doentio do ego, a necessidade de valorização, porque não possui recursos relevantes para expor, expressa-se na enganosa autocomiseração que lhe satisfaz as exigências perturbadoras, e relaxa, completando-se emocionalmente.
Quando o self assoma e governa o ser, os estímulos são sempre positivos, mesmo que tenham origem negativa ou agressiva, porque exteriorizam o bemestar que lhe é próprio.
Se alguém diz: Não gosto de você, a mensagem transacional retorna elucidando : — Eu, no entanto, o estimo.
Se a proposta afirma: — Detesto-o, a comunicação redargue: — Eu o admiro.
Não se contamina nem se amargura, porque, em equilíbrio, possui valor, não tendo necessidade de valorização.
Psicologia Joanna de Ângelis

Necessidade de valorização

por Psicologia Joanna de Ângelis

quarta-feira, 13 de junho de 2018


ENCONTRO COM O SELF
Joanna de Ângelis
Jung definiu o Self como a representação do objetivo do homem
inteiro, a saber, a realização de sua totalidade e de sua individualidade,
com ou contra sua vontade.
A dinâmica desse processo é o instinto, que vigia para que tudo o que pertence a uma vida individual figure ali, exatamente, com ou sem a concordância do sujeito, quer tenha consciência do que acontece, quer não. Capitaneado pelo instinto, o experimenta a sua injunção, vivenciando um processo de transformação contínuo e sublimante no rumo da individuação. Muitas vezes, experimentando a própria sombra, tem como finalidade precípua auxiliar o ego na sua integração plena durante a vigência do eixo que os vincula e os influencia reciprocamente.
Apesar da sombra ser geradora de muitos conflitos, deve-se considerar que em muitas situações ela responde por vários fatores que produzem alegria, relacionamentos felizes, motivações para se viver, apresentando uma outra face oposta à sua constituição primitiva como arquétipo.
Na integração da anima com o animus, a fim de ser conseguida a harmonia, a sombra contribui com uma boa parcela de entendimento das suas finalidades, facultando a vivência de ambos sem perturbação da persona. Sendo ela o resultado da repressão de muitos sentimentos que não puderam ser vivenciados, emerge do inconsciente e expressa-se muitas vezes de maneira afligente.
Todos creem, por exemplo, que a função do médico é sempre a de curar, para a qual deve estar sempre preparado, às ordens. Nada obstante, existem outros fatores que o levam a mudanças dessa estrutura da persona, assumindo também o comportamento de esposo e pai, de cidadão e idealista com direito a outras atividades, significando essa alteração a presença da sombra que lhe emerge do inconsciente pessoal onde estão arquivadas, desde antes da concepção, as heranças do inconsciente coletivo.
Numa análise contemporânea, à luz dos ensinamentos espíritas, esses arquivos do inconsciente coletivo são o resultado de vivências que o Espírito realizou em reencarnações transatas através dos tempos, conduzindo essas heranças impressas no seu perispírito (na consciência, enquanto as vivenciando no seu período próprio). Em razão disso, não seja de estranhar que se tornem rejeições da consciência, que as mantém estáticas e uniformes, aguardando o momento para poderem expressar se.
Desse modo, é certo que o indivíduo nasce com todas essas informações adormecidas, que vão ressumando através dos tempos, e tornando-se conscientes pelo Self. A imagem apresentada por Jung a respeito do inconsciente é bem fundamentada, porquanto ele o imaginava como um iceberg, cuja parte visível são apenas 5 % do seu volume (consciência), estando os 95 % da sua massa submersos (o inconsciente). Assim se encontra a consciência no ser humano. Faz recordar também o mesmo conceito de Freud, quando o comparou a um oceano, e a consciência a uma casca de noz sobre ele.
Em realidade, os arquivos de todas as experiências pretéritas vivenciadas ao longo das sucessivas existências corporais é imenso, presentes no inconsciente e que vão sendo revividas pela consciência, nos momentos dos grandes transes de sofrimento, nos estados alterados (de consciência), durante os estágios oníricos, quando são liberados automaticamente, permitindo que o Espírito volte a vivê-los. Em razão, portanto, desse imenso arsenal que se encontra no inconsciente e que pode flutuar na consciência, muitos conflitos e complexos da personalidade tomam corpo, conduzindo as pessoas a transtornos de variada denominação.
Quantos pacientes que se apresentam resignados na miséria, confiantes na escassez, nobres e honestos nas situações mais lamentáveis da existência socioeconômica em que se encontram!
Em tal situação prosseguem exercendo os caracteres morais de existência anterior, quando se encontravam em posição relevante, no poder, no conforto, na dignidade, e hoje experimentam o oposto, contribuindo em favor do Self harmônico, com o ego nele integrado, formando a unidade.
De igual maneira, existem aqueles que se apresentam soberbos e malcriados na pobreza, agressivos e raivosos, ostentando recursos que realmente não possuem, revivendo situações anteriores que não puderam ser dignamente cumpridas, e voltaram ao proscênio terrestre em provas e expiações rigorosas. Tal ocorre a fim de poderem valorizar as oportunidades existenciais, especialmente os desafios ou provações da riqueza, do poder, da beleza, das situações invejáveis que invariavelmente são transformadas em sítios de escravidão para os quais o retorna quando sob o açodar das recordações inconscientes.
Os muitos complexos de inferioridade ou de superioridade em que expressivo número de pessoas estorcega, não conseguindo disfarçar as mágoas da situação em que se encontram, projetando o que se demora no inconsciente, na difícil condição em que transitam no mundo, têm a sua origem nas condutas mantidas em existências anteriores que não souberam utilizar ou aplicaram de maneira ignominiosa.
Essas pessoas – portadoras do complexo de inferioridade – são rudes, ingratas, exigentes, comprazendo-se em humilhar os servos e auxiliares, mantendo-se dominadoras e inacessíveis… De maneira idêntica, outras
— portadoras do complexo de superioridade — nem sequer se permitem a convivência saudável no círculo familiar e social em que estagiam, não ocultando o conflito que as amargura… Essas heranças marcantes das experiências passadas são muito mais comuns do que podem parecer, consumindo as suas vítimas, aquelas que os conservam.
Cabe ao Self diluir essas construções vigorosas impressas na persona pelo inconsciente pessoal desde quando a psique passou a animar a matéria na concepção fetal. A adoção de condutas saudáveis com disciplina da sombra, que se apresenta como o instrumento de execução dessas frustrações do processo evolutivo, torna-se inevitável e de imediata aplicação. Mediante a reflexão é possível ao Self a constatação do que é e de como se conduz, esforçando-se por alterar as emissões mentais para outras condutas mais equilibradas, dentro dos padrões da saúde que proporciona relacionamentos edificantes e compensadores.
Mantendo a postura referente às imagens reprimidas no inconsciente, esses pacientes não têm noção do quanto devem à vida, tornando-se ingratos e reacionários, quando, ocorrendo uma mudança de atitude adquirida por intermédio da autoanálise que faculta a identificação das mazelas, poderá começar por bendizer a vida, por ascender na escala dos valores, por vencer a empáfia, passando a agradecer a oportunidade de crescimento real para a felicidade. Será mediante esse esforço que o ego se integrará no Self, sem que desapareçam os seus valores de alta significação. Conquista da individuação e da gratidão.
A individuação é a conquista mais expressiva do processo evolutivo do ser humano. Aparentemente se resume na vitória do Self em relação à sombra e ao ego, assim como à superação dos arquétipos responsáveis pelos transtornos emocionais e enfermidades de outra natureza que facultam ao ser   humano a perfeita compreensão da vida e das suas finalidades. E o momento quando a consciência toma conhecimento dos conteúdos inconscientes e prossegue realizando a sua superação, que consiste na integração dos arquétipos, a fim de que sejam evitados os conflitos habituais, ou surjam novos. Pode parecer difícil de acontecer, por exigir o grande esforço de depuração da personalidade, elegendo-se os valores mais nobres do Espírito.
Em uma análise mais simplista, pode-se asseverar que a individuação é algo semelhante à auto iluminação dos místicos ou à conquista do Reino dos Céus proposta por Jesus, quando o indivíduo se liberta das exigências imediatistas do ego para se transformar em um oceano de  amor e de tranquilidade, passando a vivenciar experiências emocionais superiores, sem tormentos nem ansiedades.
Os instintos permanecem como parte integrante do conjunto fisiológico, expressando-se nas necessidades primárias automaticamente
sem os impulsos da violência ou os ditames das paixões asselvajadas. Em diluindo-se a sombra, ocorre a harmonia do eixo egol Self, ao tempo em que outros arquétipos como a anima e o animus, a persona, proporcionam equilíbrio psicológico, qual ocorre em Jesus, que é o modelo da verdadeira individuação.
É toda uma viagem realizada pelo self integrado, fulcro energético e central da personalidade. Sendo o Self o desenhador de toda a trajetória da existência humana, desde o período infantil, que se manifesta nos períodos oníricos, nos quais se apresenta através de símbolos arquetípicos, é natural que haja uma grande ansiedade no paciente que deseja a integração no Self, a  autoconsciência, podendo orientar os arquétipos perturbadores que antes geravam os conflitos e os transtornos de comportamento por falta de conhecimento da sua realidade.
Todos podem alcançar esse momento culminante da evolução psíquica mediante o esforço que realizem para interpretar os símbolos e as angústias que lhe precedem à ocorrência. Santa Tereza d’Ávila alcançou-o mediante os momentosos êxtases que a conduziram ao estado de plenitude, de iluminação interior, assim como São Francisco de Assis, ou Michelangelo ao terminar de esculpir a estátua de Moisés, que o deslumbrou a tal ponto que exclamou emocionado:
— Parla!
Era tão viva a obra que faltava apenas falar, para se tornar um ser real… Músicos e artistas de vária procedência, cientistas e mártires, filósofos éticos e místicos conseguiram essa integração perfeita, vivenciando o estado de plenitude que os acompanhou até o momento da desencarnação.
Normalmente, um psicoterapeuta experiente pode conduzir os seus pacientes ao momento culminante da libertação dos seus transtornos quando os leva à individuação, como estágio superior e culminante da saúde integral.
Jung logrou vivenciá-la, conseguindo individuar-se por meio dos métodos psicoterapêuticos por ele próprio elaborados. O mestre suíço elucidou igualmente que é possível conseguir-se a individuação quando se logra a assimilação das quatro funções por ele descritas como sensação, pensamento, intuição e sentimento. Nos seus estudos alquímicos comparou a meta da individuação ao que sucede com a Opus ou Grande obra que os alquimistas tentaram vivenciar. E, portanto, um processo lento, contínuo e de elevação emocional.
Pode-se alcançá-lo também mediante a oração, os fenômenos mediúnicos e paranormais, as regressões psicológicas que conduzem à fase infantil ou mesmo uterina, assim como às existências passadas, a meditação, de forma que todos os conteúdos inconscientes geradores do medo e da ansiedade, das angústias e inquietações possam ser diluídos por intermédio do enfrentamento consciente, nada deixando de enigmático nos painéis do inconsciente que possa ressurgir de forma assustadora…
Essa conquista formosa torna o ser diferenciado, libertando-o dos clichês e das imposições sociais que sempre o escravizam, exigindo-lhe condicionamento, quando aspira por liberdade. Com essa conquista, o ser humano torna-se consciente de si mesmo, das responsabilidades que lhe dizem respeito no concerto da sociedade, encorajando-o para os ideais relevantes, embora raciocinando que novas situações difíceis surgirão, mas que poderão ser vencidas naturalmente.
A individuação pode ser também denominada, no seu início, de alguma forma como a participation mystique, de Lévy-Bruhl. Na etapa final, situando-se o Self como a Imago Dei, numa conquista de unidade, que não isola o indivíduo, antes, pelo contrário, favorece o seu intercâmbio com as demais pessoas que passa a ver de maneira diferenciada de quando havia o predomínio do ego. E tão complexa que se pode afirmar que tem início, mas nunca termina, porque se trata da busca da perfeição, no relativo do mundo em
que se encontra o ser humano.
Pode-se, durante o processo de individuação, examinar o desenvolvimento da sociedade desde os seus primórdios e a maneira consciente como vem lidando com as suas projeções e superando-as, mediante as conquistas do conhecimento cultural nos seus vários aspectos, especialmente naqueles de natureza psicológica.
A perfeita identificação dos conflitos vem facultando que sempre se aspire pela aquisição do bom e do belo, como metas da saúde e do bem estar. Vencendo as diferentes etapas do desenvolvimento emocional, logo surgem os primeiros alvores da individuação, em decorrência da superação ou conscientização dos arquétipos que geram sofrimento.
As denominadas virtudes religiosas, que eram tidas como heranças místicas, no momento da individuação adquirem sentido de realização, quais o amor, que se transforma numa conquista relevante, indispensável para uma existência harmônica; a bondade, que multiplica os bens dos sentimentos elevados; a fé no futuro, como condição de estímulo — sentido e significado psicológico — para se prosseguir nas lutas naturais do processo evolutivo; a compaixão, em forma de solidariedade e de compreensão das aflições do próximo; a gratidão, como coroa de bênçãos por tudo quanto se conseguiu e pode realizar-se.
A gratidão, filha dileta do amor sábio, enriquece a vida de beleza e de alegria porque com a sua presença tudo passa a ter significação enobrecida, ampliando os horizontes vivenciais daquele que a cultiva como recurso de promoção da vida em todos os sentidos.
Narra-se que certo dia, em Boston, nos Estados Unidos da América do Norte, um rebanho de carneiros era levado por uma das avenidas centrais da urbe. Um dos carneiros repentinamente caiu sem forças…
Uma criança muito pobre e mal cuidada, observando a cena, deu-se conta que deveria ser por sede que o animalzinho perdera as resistências. Tomando do seu gorro, correu a uma bica próxima e colheu algum líquido, trazendo-o ao carneiro quase desfalecido e deu-lhe de
beber.
Poucos minutos depois o animal correu e juntou-se ao grupo que seguia em frente.
Uma das pessoas que nada havia feito, num tom irônico, disse ao
menino:
— Obrigado, titio!
E pôs-se a rir zombeteiramente. Um cavalheiro que havia observado a
cena disse ao irônico:
— O carneirinho pediu-me para que agradecesse por ele, escusando-se de fazê-lo. Como eu sou dono de uma casa editora, sou conhecido como Eduardo Baer, e sempre estou procurando crianças dotadas de sentimentos nobres para cuidá-las, acabo de encontrar mais uma.
A partir deste momento, você estará sob a minha responsabilidade. .. – disse à criança aturdida. Mais tarde, a sociedade acompanharia a trajetória do Dr. Carlos Mors, que se fez conhecido pela inalterável bondade com que tratava todas as criaturas.
A gratidão do carneiro havia alcançado a sua nobre finalidade, porque jamais esmaece ou perde o seu sentido. Poder-se-ia incluir esse fato na extensa relação daqueles de natureza mitológica, da mesma forma que Hércules combateu o mal, vencendo todos os inimigos do bem pelo imenso prazer de ser grato à vida pelo seu poder. O carneiro, que é símbolo da mansuetude, e o menino gentil, que pode ser considerado como um arquétipo de misericórdia e compaixão, unindo-se no mesmo sentimento de ajuda recíproca, produziram o missionário do amor e da bondade.
Isso porque a gratidão é um dos mais grandiosos momentos do desenvolvimento ético-moral do ser humano e está ínsita na individuação, quando tudo adquire beleza e significado.
A gratidão é, portanto, um momento de individuação, quando o serhumano recorda o passado com alegria, considerando os trechos do caminho mais difíceis que foram vencidos, alegrando-se com o presente e encarando o futuro sem nenhum receio, porque os arquétipos responsáveis pelas aflições foram diluídos na consciência, não restando vestígios da sua existência.
O ego, que os mantinha em ação, alargou a sua percepção psicológica da vida e tornou-se parte vibrante do Self, que ama sem distinção nem interesse de retribuição e é grato a Deus por existir, ao Cosmo por viver nele, à mãe-Terra por ser o seu habitat, a todas as cores e vibrações da Natureza, que lhe facultam contemplação e emotividade especial, aos sons maravilhosos que o fazem vibrar, ao oxigênio que o nutre e à psique responsável pelo seu pensamento e pela faculdade de discernir que a consciência alcançou.
Quando o ser humano se der conta de que necessita abandonar as faixas menos harmônicas por onde transita, aspirará pela conquista da individuação, exercitando-se na sublime arte do amor a Deus, ao próximo e, certamente, a si mesmo, abandonando o egotismo e vivenciando o altruísmo como forma segura de realização plena, no rumo da gratidão…
A gratidão abrange, num afetuoso abraço, os sentimentos que dignificam os seres humanos e os tornam merecedores de felicidade, quando estarão instalando no íntimo o decantado Reino dos Céus, conforme proposto por Jesus, o maior psicoterapeuta da Humanidade.

Extraído da obra. Psicologia da gratidão