sábado, 26 de maio de 2012

Esmola e Caridade




Escusam-se muitos de não poderem ser caridosos, alegando precariedade de bens, como se a caridade se reduzisse a dar de comer aos famintos, dar de beber aos sedentos, vestir os nus e proporcionar um teto aos desabrigados.
Além dessa caridade, de ordem material, outra existe - a moral, que não implica o gasto de um centavo sequer e, não obstante, é a mais difícil de ser praticada.
Exemplos? Eis alguns:
Seríamos caridosos se, fazendo bom uso de nossas forças mentais, vibrássemos ou orássemos diariamente em favor de quantos saibamos acharem-se enfermos, tristes ou oprimidos, sem excluir aqueles que porventura se considerem nossos inimigos.
Seríamos caridosos se, em determinadas situações, nos fizéssemos intencionalmente cegos para não vermos o sorriso desdenhoso ou o gesto desprezível de quem se julgue superior a nós.
Seríamos caridosos se, com sacrifício de nosso valioso tempo, fôssemos capazes de ouvir, sem enfado, o infeliz que nos deseja confiar seus problemas íntimos, embora sabendo de antemão nada podermos fazer por ele, senão dirigir-lhe algumas palavras de carinho e solidariedade.
Seríamos caridosos se, ao revés, soubéssemos fazer-nos momentaneamente surdos quando alguém, habituado a escarnecer de tudo e de todos, nos atingisse com expressões irônicas ou zombeteiras.
Seríamos caridosos se, disciplinando nossa língua, só nos referíssemos ao que existe de bom nos seres e nas coisas, jamais passando adiante notícias que, mesmo sendo verdadeiras, só sirvam para conspurcar a honra ou abalar a reputação alheia.
Seríamos caridosos se, embora as circunstâncias a tal nos induzissem, não suspeitássemos mal de nossos semelhantes, abstendo-nos de expender qualquer juízo apressado e temerário contra eles, mesmo entre os familiares.
Seríamos caridosos se, percebendo em nosso irmão um intento maligno, o aconselhássemos a tempo, mostrando-lhe o erro e despersuadindo o de o levar a efeito.
Seríamos caridosos se, privando-nos, de vez em quando, do prazer de um programa radiofônico ou de T.V. de nosso agrado, visitássemos pessoalmente aqueles que, em leitos hospitalares ou de sua residência, curtem prolongada doença e anseiam por um pouco de atenção e afeto.
Seríamos caridosos se, embora essa atitude pudesse prejudicar nosso interesse pessoal, tomássemos, sempre, a defesa do fraco e do pobre, contra a prepotência do forte e a usura do rico.
Seríamos caridosos se, mantendo permanentemente uma norma de proceder sereno e otimista, procurássemos criar em torno de nós uma atmosfera de paz, tranquilidade e bom humor.
Seríamos caridosos se, vez por outra, endereçássemos uma palavra de aplauso e de estimulo às boas causas e não procurássemos, ao contrário, matar a fé e o entusiasmo daqueles que nelas se acham empenhados.
Seríamos caridosos se deixássemos de postular qualquer benefício ou vantagem, desde que verificássemos haver outros direitos mais legítimos a serem atendidos em primeiro lugar.
Seríamos caridosos se, vendo triunfar aqueles cujos méritos sejam inferiores aos nossos, não os invejássemos e nem lhes desejássemos mal.
Seríamos caridosos se não desdenhássemos nem evitássemos os de má vida, se não temêssemos os salpicos de lama que os cobrem e lhes estendêssemos a nossa mão amiga, ajudando-os a levantar-se e limpar-se.
Seríamos caridosos se, possuindo alguma parcela de poder, não nos deixássemos tomar pela soberba, tratando, os pequeninos de condição, sempre com doçura e urbanidade, ou, em situação inversa, soubéssemos tolerar, sem ódio, as impertinências daqueles que ocupam melhores postos na paisagem social.
Seríamos caridosos se, por sermos mais inteligentes, não nos irritássemos com a inépcia daqueles que nos cercam ou nos servem.
Seríamos caridosos se não guardássemos ressentimento daqueles que nos ofenderam ou prejudicaram, que feriram o nosso orgulho ou roubaram a nossa felicidade, perdoando-lhes de coração.
Seríamos caridosos se reservássemos nosso rigor apenas para nós mesmos, sendo pacientes e tolerantes com as fraquezas e imperfeições daqueles com os quais convivemos, no lar, na oficina de trabalho ou na sociedade.
E assim, dezenas ou centenas de outras circunstâncias poderiam ainda ser lembradas, em que, uma amizade sincera, um gesto fraterno ou uma simples demonstração de simpatia, seriam expressões inequívocas da maior de todas as virtudes.
Nós, porém, quase não nos apercebemos dessas oportunidades que se nos apresentam, a todo instante, para fazermos a caridade.
Porquê?
É porque esse tipo de caridade não transpõe as fronteiras de nosso mundo interior, não transparece, não chama a atenção, nem provoca glorificações.
Nós traímos, empregamos a violência, tratamos ou outros com leviandade, desconfiamos, fazemos comentários de má fé, compartilhamos do erro e da fraude, mostramo-nos intolerantes, alimentamos ódios, praticamos vinganças, fomentamos intrigas, espalhamos inquietações, desencorajamos iniciativas nobres, regozijamo-nos com a impostura, prejudicamos interesses alheios, exploramos os nossos semelhantes, tiranizamos subalternos e familiares, desperdiçamos fortunas no vício e no luxo, transgredimos, enfim, todos os preceitos da Caridade, e, quando cedemos algumas migalhas do que nos sobra ou prestamos algum serviço, raras vezes agimos sob a inspiração do amor ao próximo, via de regra fazemo-lo por mera ostentação, ou por amor a nós mesmos, isto é, tendo em mira o recebimento de recompensas celestiais.
Quão longe estamos de possuir a verdadeira caridade!
Somos, ainda, demasiadamente egoístas e miseravelmente desprovidas de espírito de renúncia para praticá-la.
Mister se faz, porém, que a exercitemos, que aprendamos a dar ou sacrificar algo de nós mesmos em benefício de nossos semelhantes, porque "a caridade é o cumprimento da Lei."
RODOLFO, Calligaris,. As Leis Morais. FEB.
* * * Estude Kardec * * *

domingo, 20 de maio de 2012

Consciência da Gratidão




À medida que a psique desenvolve a consciência, fazendo-a superar os níveis primitivos recheados pela sombra, mais facilmente adquire a capacidade da gratidão.

A sombra, que resulta dos fenômenos egoicos, havendo acumulado interesses inferiores, é a grande adversária do sentimento de gratulação. Na sua ânsia de aparentar aquilo que não conquistou, impedida pelos hábitos enfermiços, projeta os conflitos nas demais pessoas, sem a lucidez necessária para confiar e servir. Servindo-se dos outros, supõe que assim fazem todos os demais, ante a impossibilidade de alargar a generosidade, que lhe facultaria o amadurecimento psicológico para a saudável convivência social, para o desenvolvimento interior dos valores nobres do amor e da solidariedade.

A miopia emocional defluente do predomínio da sombra no comportamento do ser humano impede-o que veja a harmonia existente na vida.

As imperfeições morais que não foram modificadas pelo processo da sua diluição e substituição pelas conquistas éticas atormentam o ser, fazendo-o refratário, senão hostil a todos os movimentos libertários.

Não há no seu emocional, em conseqüência, nenhum espaço para o louvor, o júbilo, a gratidão.

Desse modo, os conflitos que se originaram em outras existências e tornaram-se parte significativa do ego predominam no indivíduo inseguro e sofredor, que se refugia na autocompaixão ou na vingança, de forma que chame a atenção, que receba compensação narcisista, aplauso, preservando sempre suspeitas infundadas quanto à validade do que lhe é oferecido, pela consciência de saber que não é merecedor de tais tributos...

Acumuladas e preservadas as sensações que se converteram em emoções de suspeita em de ira, de descontentamento e amargura, projetam-nas nas demais pessoas, por não acreditar em lealdade, amor e abnegação.

Se alguém é dedicado ao bem na comunidade, é tido como dissimulador, porque essa seria a sua atitude (da sombra).

Se outrem reparte alegria e constrói solidariedade, a inveja que se lhe encontra arquivada no inconsciente acha meios de denominá-lo como bajulador e pusilânime, pois que, por sua vez, não conseguiria desempenhar as mesmas tarefas com naturalidade. A ausência de maturidade afetiva isola o indivíduo na amargura e na autopunição.

Tudo quanto lhe constitui impedimento mascara e transfere para os outros, assumindo postura crítica impiedosa, puritanismo exagerado, buscando sempre desconsiderar os comportamentos louváveis do próximo que lhe inspiram antipatia.

Assim age porque a sua é uma consciência adormecida, não habituada aos vôos expressivos da fraternidade e da compreensão, que somente se harmonizando com o grupo no qual vive é que poderá apresentar-se plena.

Autoconscientizando-se da sua estrutura emocional mediante o discernimento do dever, o que significa amadurecer, conseguirá realizar o parto libertador do ego, dele retirando as suas mazelas, lapidando as crostas externas qual ocorre com o diamante bruto que oculta o brilho das estrelas que se encontram no seu interior.

Urge, pois, adotar nova conduta para se libertar das fixações perversas. Conseguindo despertar dos valores nobres, é inevitável a saída da sua individualidade para a convivência com a coletividade, onde mais se aprimorará, aprendendo a conquistar emoções superiores que o enriquecerão de alegria e de paz, deslumbrando-se ante as bênçãos da vida que adornam tudo, assimilando-as em vez de reclamando sempre, pela impossibilidade de percebê-las.

O ingrato, diante do seu atraso emocional, reclama de tudo, desde os fatores climatéricos aos humanos de relacionamentos, desde os orgânicos aos emocionais, sempre com a verruma da acusação ou da autojustificação assim como do mal-estar a que se agarra em seguro mecanismo de fuga da realidade.

Nos níveis nobres da consciência de si e da cósmica, a gratidão aureola-se de júbilos, e os sentimentos não mais permanecem adstritos ao eu, ao meu, ampliando-se ao nós, a mim e a você, a todos juntos.

A gratidão é a assinatura de deus colocada na Sua obra.

Quando se enraíza no sentimento humano logra proporcionar harmonia interna, liberação de conflitos, saúde emocional, por luzir como estrela na imensidão sideral...

Por extensão, aquele que se faz agradecido torna-se veículo do sublime autógrafo, assinalando a vida e a natureza com a presença dEle.

Quando o egoísta insensatamente aponta as tragédias do cotidiano, as aberrações que assolam a sociedade, somente observa o lado mau e negativo do mundo, está exumando os seus sentimentos inconscientes arquivados, vibrantes, sem a coragem de externá-los, de dar-lhes campo livre no consciente.

A paz de fora inicia-se no cerne de cada ser. Também assim é a gratidão. Ao invés do anseio de recebê-la, tornar-se-lhe o doador espontâneo e curar-se de todas as mazelas, ensejando harmonia generalizada.

A vida sem gratidão é estéril e vazia de significado existencial.



Autor: Joanna de Ângelis
Psicografia de Divaldo Franco. Livro: Psicologia da Gratidão

IGREJA CATÓLICA APOSTÓLICA BRASILEIRA

Seminário ICAB seminarioicab@yahoo.com.br 




Jesus, o ninho do Espírito Santo


Lucas 3,22: “o Espírito Santo desceu sobre ele na forma de uma pomba e uma voz do céu disse: Tu és o meu Filho muito amado. Em ti tenho grande prazer”.

Como as demais pessoas, nós, os cristãos e as cristãs, sofremos a situação de ambigüidade em nossa vida, temos as dúvidas que todos têm.
Mas temos a experiência de que com Jesus Cristo, chegou a nova humanidade, o Reino esperado, a inclusão radical em Deus: a redenção.
Porque Jesus viveu e morreu com amor e liberdade que não deixam dúvidas e n’Ele a humanidade realiza sua vocação essencial: estar incluída em Deus, por obra do Espírito Santo. Ou de outra maneira, podemos dizer: "Não há, sob o céu outro nome dado aos homens pelo qual nós devemos ser salvos" (Atos 4, 12). Com esta fé, os primeiros cristãos e cristãs enfrentaram a dura realidade da exclusão e da alienação. O Apóstolo Paulo, em sua Carta aos Romanos pergunta, manifestando sua angustia: "Pobre de mim! Quem me libertará deste ser meu, instrumento de angustia?" (Rm 7,24).
E aqui vem a novidade da experiência cristã: Jesus Cristo é a entrada de Deus mesmo na história sofredora dos homens e das mulheres para libertá-los e salvá-los de suas misérias, dores e limitações. Há já uma realidade nova: onde havia escravidão, reina hoje a liberdade; e a lei fica superada pelo Espírito; tribulação, angustia, medo, exclusão, perseguição, ficam destruídos pelo amor de Deus "manifestado em Cristo Jesus, nosso Senhor (Rm 8, 31): “Deus, Terra e Liberdade”!!
E assim, em Jesus Cristo, homens e mulheres, desde sua realidade, e com sua realidade, são convocados e convocadas para formar “a Igreja que ama você”, "corpo espiritual" do Ressuscitado na história. É o novo povo de Deus, integrados por pessoas de todas as condições...
Jesus Cristo é a pedra angular em que todos os batizados encontram consistência. A Igreja é o "povo adquirido", "povo de Deus" onde se dão a libertação e a redenção esperadas.
Quando Jesus foi batizado no Jordão, "desceu o Espírito Santo sobre Ele", "em forma de pomba" e isto nos recorda o Espírito que revoava sobre as águas primordiais da criação, mas mais quer dizer que Jesus é o ninho, o lugar do Espírito, por isso o Batista disse que viu "o Espírito descer do céu como pomba e pousar sobre Ele".
"Tu é meu Filho amado, em quem tenho prazer". Esta confissão corresponde ao que Jesus manifestou em sua vida: "sua intimidade única com o Pai" e sua solidariedade com todos os excluídos e afastados da sociedade e da religião. Jesus manifesta a originalidade da experiência na proximidade com Deus com Deus e desta experiência de proximidade irrompe o amor gratuito de Deus, irrompe o amor gratuito de Deus ali onde ninguém o espera. O Pai do Filho Pródigo e o Dono da Vinha que paga a diária completa também ao que chegou tarde ao trabalho revelam a experiência de Deus que Jesus viveu: a Justiça do Pai brota e encontra perfeição em Sua entranhável misericórdia, é o Filho de Maria, que Morre para nos salvar, ascende aos Céus e nos envia o Espírito, para que o Reino seja realidade entre nós, experimentada na Igreja.
O prazer, as complacências, a alegria do Pai, em Jesus, é que por Sua Vida, Seu Martírio e Seus ensinamentos, nós encontramos esperanças para vencer todas as exclusões, todas as alienações, toda a injustiça, toda a marginalização, toda a angústia, todas as dúvidas, e se criará uma nova humanidade de homens e mulheres livres que não mais se adestrarão para a guerra, e sim que se relacionarão como irmãos e irmãs.
O batismo de Jesus "quando todo o povo se batizava" (Lc 3,21), sugere assim a solidariedade de Jesus com todos os e todas as que se aproximavam para formar a nova humanidade, "as pessoas do Reino", fazendo Sua a causa do pobre e do excluído para estar na comunidade dos homens e mulheres livres e irmanados com a paz e a justiça.
O céu que se abre, para que a "pomba" venha, evoca o véu do Templo que se rasgou "de cima abaixo", para que desaparecessem, definitivamente, os muros que separam os homens, se acabem as discriminações, chega o reinado de Deus.
Amém. Aleluia!
Padre Antonio Piber
Seminário São Carlos do Brasil
Igreja Católica Apostólica Brasileira

AS ORIGENS DA MAÇONARIA