domingo, 12 de janeiro de 2014


Paulo Nagae
Químico e Palestrante Espírita

Como Entender a Segunda Morte à Luz do Espiritismo
Um homem é basicamente, um ser tríplice, constituído de espírito, perispírito e corpo físico. A maioria já entende isso, sem dificuldade. A morte do perispírito, ou “segunda morte”, ocorre quando o espírito, em sua caminhada para Deus, passa a reencarnar em mundos nos quais necessita de um intermediário mais sutil. Este tipo de “morte” pode acontecer também no caso da formação de ovóides, quando uma idéia obsessiva de ódio ou vingança, por exemplo, destrói momentaneamente o corpo espiritual. Somente o espírito é imortal e eterno.

Até quando o corpo espiritual acompanha o espírito no caminho rumo à perfeição? O corpo espiritual é também um envoltório perecível? Em “O Livro dos Espíritos”, há os seguintes esclarecimentos:

Questão 186 – “Haverá mundos onde o Espírito, deixando de revestir corpos materiais, só tenha por envoltório o perispírito?”
Resposta – “Há e mesmo esse envoltório se torna tão etéreo que para vós é como se não existisse. Esse o estado dos Espíritos puros.”

Ainda na questão 186 – “Parece resultar daí que, entre o estado correspondente às últimas encarnações e o de Espírito puro, não há linha divisória perfeitamente demarcada; não?”
Resposta – “Semelhante demarcação não existe. A diferença entre ume outro estado se vai apagando pouco a pouco e acaba por ser imperceptível, tal qual se dá com a noite às primeiras claridades do alvorecer.”

Na questão 187, Allan Kardec pergunta se a substância do perispírito é a mesma em todos os mundos. Os espíritos informa que não: “É mais ou menos etérea. Passando de um mundo a outro, o Espírito se reveste da matéria própria desse outro, operando-se, porém, essa mudança com a rapidez do relâmpago.”

Comentando o mesmo tema, na questão 257, Kardec esclarece: “Sabemos que quanto mais eles se purificam, tanto mais etérea se torna a essência do perispírito, donde se segue que a influência material diminui à medida que o Espírito progride, isto é, à medida que o próprio perispírito se torna menos grosseiro.”

A conclusão é simples: quanto mais evoluímos, mais sutil torna-se o perispírito. No estágio de espíritos puros, tal roupagem fica tão tênue que os espírito inferiores, como nós, a consideram inexistentes.

Durante a permanência em planetas como a Terra, o espírito repete várias vezes, quantas forem necessárias, a experiência de reencarnação. No desencarne, deixa no mundo físico o duplo etéreo e o corpo físico. Ao regressar ao mundo espiritual, desembarca com o chamado corpo de relação, agregando “matéria” mais sutil.

No processo inverso, durante a encarnação, o espírito carrega consigo as marcas perispirituais que o ajudarão a construir, no ventre materno, o duplo etéreo e o corpo físico – veículos perecíveis que utiliza, enquanto encontra-se no plano físico.

Nos dois casos, a roupagem de que se serve o espírito obedece sempre à lei de afinidade. À medida que evolui moralmente, com o pensamento mais equilibrado, o espírito emite ondas de maior freqüência. Em decorrência, a densidade do perispírito se transforma, pela perda de moléculas mais densas, porque estas passam a não ter mais afinidade com a freqüência vibratória do espírito.

Uma comparação grosseira serve para facilitar o entendimento. Imagine um pedreiro teimoso, que queira colocar massa sem preparar adequadamente a parede. Será, inevitavelmente, malsucedido, por falta de aderência dos materiais.

Vai chegar o momento, na viagem rumo à perfeição, em que o corpo perispiritual deixará de atender às necessidades do espírito.

No livro “Libertação”, André Luiz espanta-se quando se depara com entidades espirituais, as quais chamou de ovóides. O fenômeno permitiu o seguinte diálogo com o instrutor Gúbio:
“Nunca havia observado, antes, tal fenômeno. Em nossa colônia de residência, ainda mesmo em se tratando de criaturas perturbadas e sofredoras, o campo de emanações era sempre normal. E quando em serviço, ao lado de almas em desequilíbrio, na Esfera da Crosta, nunca vira aquela irregularidade, pelo menos quanto me fora, até ali, permitido observar.

“Inquieto, recorri ao Instrutor, rogando-lhe ajuda.
— André — respondeu ele, circunspecto, evidenciando a gravidade do assunto —, compreendo-te o espanto. Vê-se, de pronto, que és novo em serviços de auxílio. Já ouviste falar, de certo, numa “segunda morte”
— Sim — acentuei —, tenho acompanhado vários amigos à tarefa reencarnacionista, quando, atraídos por imperativos de evolução e redenção, tornam ao corpo de carne (1). De outras vezes, raras aliás, tive notícias de amigos que perderam o veículo perispiritual, conquistando planos mais altos (2). A esses missionários, distinguidos por elevados títulos na vida superior, não me foi possível seguir de perto.

Gúbio sorriu e considerou:
— Sabes, assim, que o vaso perispirítico é também transformável (1) e perecível (2), embora estruturado em tipo de matéria mais rarefeita.
— Sim... — acrescentei, reticencioso, em minha sede de saber.
— Viste companheiros — prosseguiu o orientador —, que se desfizeram dele, rumo a esferas sublimes, cuja grandeza por enquanto não nos é dado sondar (2), e observaste irmãos que se submeteram a operações redutivas e desintegradoras dos elementos perispiríticos para renascerem na carne terrestre.” (1).

Nas partes assinaladas com o número (1), confirma-se a transformação que o corpo espiritual sofre nas entradas e saídas da vida física.
Nas seqüências marcadas com (2), o orientador Gúbio trata da segunda morte, que é a perda do veículo perispiritual, para reencarnação em mundos mais evoluídos.

Terceira situação de “morte” é a dos ovóides (destruição temporária do corpo espiritual), que provocou o diálogo de Gúbio com André Luiz. Neste caso, as características do perispírito permanecem em estado latente, como a semente que guarda em si as potencialidades da árvore. Ocorre desagregação de “matéria”, com inevitável redução do corpo de relação, explicável pela plasticidade e maleabilidade do perispírito.

COMPULSÓRIO – O mergulho na carne, quase sempre compulsórios, nesses casos, permite ao espírito reconstruir a forma do corpo espiritual.
Gúbio também se refere ao abandono do corpo espiritual, quando o espírito se eleva, rumo a esferas superiores.

Assim, o corpo espiritual tem duração temporária e é perecível como o corpo físico.

Recomendo, como complemento, a leitura do livro “Evolução em Dois Mundos”, de André Luiz, na parte que trata do corpo espiritual depois da morte.

O espírito segue a caminhada com o corpo mental, o qual vai-se depurando até a pureza máxima da matéria que conhecemos, ou seja, o fluido cósmico universal.

Paulo Nagae
(Retirado da Revista Estudos Espíritas – Janeiro/1999 – Edições Léon Denis

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