HADES E ARETUSA
Após as inúmeras dificuldades que
acarretaram o acerto com Zeus e Deméter sobre o rapto de Perséfone, Hades agora
pretendia se vingar de quem lhe
atraiçoara delatando o fato a Deméter.
Ele procurou Hermes e com ele fez um pacto onde o deus protetor dos
ladrões lhe informava quem era o autor da façanha e o Deus dos infernos se
comprometia a atende-lo em qualquer necessidade futura.
Hermes relutou um pouco em
entregar o nome de quem atiçara a ira do
Deus dos Infernos, mas sabia também que Hades
não era um deus que alguém devia ter por inimigo. Tampouco poderia dizer que não sabia porque
o seu don de tomar conhecimento instantâneo
de tudo que envolvia os interesses dos deuses,
era por demais conhecido.
Hermes nutria uma incontida
paixão por aquela que delatara Hades,
mas nada podia fazer para defendê-la naquele momento. Então, ele resolutamente
confessou o nome da formosa ninfa Aretusa, amiga predileta de Deméter, como autora do indigitado gesto. O tenebroso
rosto do senhor do inferno se tornou ainda mais horrendo com o ódio estampado e
os gigantescos olhos injetados; a
tempestade era iminente e prometia ser violenta.
Hermes se projetou pelo mundo
afora em busca da sua amada que, por sua causa, estava em sério perigo.
Localizou-a nas proximidades dos Montes Cárpatos no momento em que a bela ninfa
era arrebatada pelo lúgubre Caronte que, a mando do seu chefe, também estava no
encalço da ninfa. Hermes partiu em cima de Caronte mas este usando o dom da invisibilidade
escapou do seu perseguidor.
Não restou outro meio ao deus
mais rápido do Olimpo do que procurar Deméter e pedir a sua ajuda. A deusa se
mostrou assaz preocupada com a sorte da sua amiga, mas também não estava menos
feroz quando soube da conduta de Hermes. Debalde Hermes procurava convencê-la
da inutilidade da sua recusa e o acréscimo na ira de Hades com a sua negativa. Após
contar a Deméter sobre o amor que nutria
pela linda ninfa, Deméter se
prontificou em ajuda-lo a resgatar a sua amiga, uma vez que ela também tinha
culpa na sua desdita, foi para ajudá-la a localizar sua filha que a ninfa
atraiu a fúria do deus infernal.
A noite se aproximava e não era
bom qualquer tratativa com Hades em
horas noturnas. Sendo ele um deus das sombras, estas lhe redobravam as forças e
aguçava seus poderes. Combinaram se encontrar na manhã seguinte no monte
Citerão, onde se localizava a caverna das ninfas. No dia seguinte, estando
Hermes e Deméter na entrada da caverna, arquitetaram o plano para atrair Hades.
Deméter, tomando a forma da sua filha se
transportou para a entrada que dava
acesso ao rio Aqueronte. Hades, alertado por Caronte, vê a sua amada fugindo dos
seu domínios. Desesperado ele parte em seu encalço, mas Perséfone (Deméter), foge para a caverna
Mellissani. Adentrando na caverna, Hades se depara com a sua amada que lhe
propõe retornar ao seu reino somente após ele conceder liberdade a ninfa
Aretusa, amiga da sua mãe.
O deus reluta nessa concessão,
alegando que a sua permanência no seu reino já estava decidida por acordo dele
com a sua mãe e Zeus. Deméter relutava
para não demonstrar a sua ira contra o raptor da sua filha. Procurava
sensibilizar Hades, tendo por aliado o amor que ele tinha por Perséfone. Mas, Hades
era um deus vingativo e não admitia que uma divindade secundária, uma ninfa, pudesse provocar
impunemente a sua cólera. Nesse ínterim, Hades soltou a sua terrível
gargalhada. Caronte, usando dos seus poderes telepáticos, lhe alertava que
Perséfone estava no seu reino e aquela com quem ele tratava era sua mãe,
Deméter. Descoberta, Deméter não se fêz de rogada, reafirmando ao deus a sua
intenção de libertar a sua amiga. Aberto o confronto, Hades eriça ainda mais na
sua resistência. Nesse momento, Hermes
adentra na caverna da ninfas. Sem compreender a razão da sua presença, Hades
procura seu apoio. No entanto, Hermes confessa seu amor pela ninfa Aretusa e
pede a sua libertação. Hades dá um riso zombeteiro, sem pretender levar a sério
a paixão de Hermes. Mas este lhe lembra da sua dívida, e a cobra mediante a
libertação de Aretusa. Hades não tem como se furtar, já que havia se
comprometido com Hermes.
Diante da pressão de Deméter e o
seu compromisso com Hermes, Hades procura uma saída honrosa e, fazendo-se de
magnânimo, concorda em libertar a
prisioneira. Todavia, ele impõe
uma condição, ela será transformada numa fonte onde não poderá mais fazer uso
da sua perigosa língua. Malgrado, não poder mais vê-la na sua forma feminina,
Hermes entende que é melhor do que vê-la para sempre no reino das sombras.
Concluído o acordo, Aretusa se ver transformar numa linda fonte jorrando águas cristalinas,
cercada de flores e de lindos pássaros.
Nas tardes, Hermes vinha com a
sua lira tocar para a sua amada que, embevecida, vinha lavar os pés do seu amado
rumorejando o seu amor e a ternura de sua alma apaixonada.
Beau Geste
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