(Ditado Espontâneo – Médium: Sr. Costel)
O planeta Vênus é o ponto intermediário entre Mercúrio e Júpiter. Seus habitantes têm a mesma conformação física que a vossa; a maior ou menor beleza e idealidade nas formas é a única diferença entre os seres criados. A sutileza do ar, em Vênus, comparável à das altas montanhas, torna-o impróprio aos vossos pulmões; as doenças aí são ignoradas. Seus habitantes só se alimentam de frutas e de laticínios; desconhecem o bárbaro costume de comerem cadáveres de animais, ferocidade que não existe senão nos planetas inferiores. Em conseqüência, as grosseiras necessidades do corpo são aniquiladas e o amor se adorna de todas as paixões e de todas as perfeições apenas sonhadas na Terra.
Como na aurora, em que as formas se revestem indecisas e envoltas no vapor da manhã, a perfeição da alma, perto de ser completa, tem a ignorância e os desejos da infância feliz. A própria Natureza reveste a graça da felicidade velada; suas formas delicadas e arredondadas não têm a violência e a aspereza dos sítios terrenos; o mar, profundo e calmo, ignora a tempestade; as árvores jamais se curvam sob a ação da tempestade e o inverno não as despoja de sua verdura; nada é ruidoso; tudo sorri, tudo é suave. Os costumes, marcados de quietude e ternura, não necessitam de nenhuma repressão para se manterem puros e fortes.
A forma política reveste a expressão da família; cada tribo ou aglomeração de indivíduos tem seu chefe, eleito por classe de idade. A velhice aí é o apogeu da dignidade humana, porque aproxima do fim desejado. Isenta de doenças e de feiúra, é calma e radiante, como uma bela tarde de outono.
A indústria terrena, aplicada à inquieta procura do bemestar material, é simplificada e quase desaparece nas regiões superiores, onde não tem a mínima razão de ser. As artes sublimes a substituem e adquirem um desenvolvimento e uma perfeição que os vossos sentidos grosseiros não podem imaginar.
As vestimentas são uniformes; grandes túnicas brancas envolvem o corpo com pregas harmoniosas, sem o desnaturarem. Tudo é fácil a esses seres que só desejam a Deus e que, despojados dos interesses grosseiros, vivem simples e quase luminosos.
Georges
(Perguntas sobre o ditado precedente. Sociedade de Paris, 27 de junho de 1862 – Médium: Sr. Costel)
1. Por vosso médium predileto fizestes uma descrição do planeta Vênus e estamos satisfeitos em constatar que concorda com o que já nos foi dito, embora com menor precisão. Rogaríamos que vos dignásseis completá-la, respondendo a algumas perguntas. Dizei, inicialmente, como tendes conhecimento desse mundo. Resp. – Sou errante, mas inspirado por Espíritos superiores. Fui enviado em missão a Vênus.
2. Os habitantes da Terra podem lá encarnar diretamente, ao saírem daqui? Resp. – Deixando a Terra os seres mais adiantados passam por uma erraticidade mais ou menos prolongada, que os despoja dos laços carnais, imperfeitamente rotos pela morte.
Observação – A questão não era saber se os habitantes da Terra podem lá se encarnar imediatamente depois da morte, mas diretamente, isto é, sem passar por mundos intermediários. Ele respondeu que isso é possível aos mais adiantados.
3. O estado de adiantamento dos habitantes de Vênus permite se lembrem de sua passagem em mundos inferiores e estabelecerem uma comparação entre as duas situações? Resp. – Os homens olham a retaguarda com os olhos do pensamento, que num átimo reconstitui o passado extinto. Assim, o Espírito adiantado vê com a mesma rapidez com que se move, rapidez mais fulminante que a eletricidade, bela descoberta que se liga estreitamente à revelação do Espiritismo. Ambos encerram em si o progresso material e intelectual.
Observação – Para estabelecer uma comparação não é necessário saber a posição pessoal que se ocupa; basta conhecer o estado material e moral dos mundos inferiores pelos quais se passou para lhes notar a diferença. Conforme o que nos dizem do planeta Marte, devemos felicitar-nos por não mais lá estar; e sem sair da Terra, basta considerar os povos bárbaros e ferozes e saber que tivemos de passar por esses estados para nos sentirmos mais felizes. Sobre os outros mundos só dispomos de informações hipotéticas; mas é possível que nos mais adiantados que o nosso esse conhecimento tenha um grau de certeza que não nos é dado.
4. Aí a duração da vida, proporcionalmente, é mais longa ou mais curta que na Terra? Resp. – Em Vênus a encarnação é infinitamente mais longa que a prova terrena. Despojada das violências humanas, relaxada e impregnada da vivificante influência que a penetra, a alma experimenta as asas que a transportam a planetas gloriosos como Júpiter e outros semelhantes.
Observação – Conforme já fizemos notar, a duração da vida corporal é proporcional ao adiantamento dos mundos. Em sua bondade, quis Deus abreviar as provas nos mundos inferiores. A esta razão junta-se uma causa física: quanto mais adiantados os mundos, tanto menos são os corpos consumidos pelo fogo das paixões e pelas doenças, que são a sua conseqüência.
5. O caráter sob o qual descreveis os habitantes de Vênus leva-nos a pensar que entre eles não haja guerras, querelas, ódios e inveja. Resp. – Os homens só se tornam o que as palavras podem exprimir e seu pensamento limitado está privado do infinito. Assim, sempre atribuís, mesmo aos planetas superiores, as vossas paixões e os vossos motivos inferiores, venenos depositados em vossos seres pela grosseria do ponto de partida, dos quais só vos curais lentamente. As divisões, as contendas e as guerras são desconhecidas em Vênus, assim como entre vós desconheceis a antropofagia.
Observação – Com efeito, a Terra nos apresenta, pela inumerável variedade de seus estágios sociais, uma infinidade de tipos, que nos podem dar uma idéia dos mundos nos quais cada um desses tipos é o estado normal.
6. Qual o estado da religião nesse planeta? Resp. – A religião é a adoração constante e ativa do Ser Supremo; adoração isenta de todo erro, isto é, de qualquer culto idólatra.
7. Os seus habitantes estão todos no mesmo nível ou,como sucede na Terra, uns são mais adiantados que outros? Neste caso, a quais habitantes da Terra correspondem os menos adiantados? Resp. – A mesma desigualdade proporcional existe entre os habitantes de Vênus, como entre os seres terrestres. Os menos adiantados são as estrelas do mundo terreno, isto é, os vossos gênios e os vossos homens virtuosos.
8. Há senhores e servos? Resp. – A servidão é o primeiro grau da iniciação. Os escravos da Antigüidade, como os da América moderna, são seres destinados a progredir num meio superior ao em que habitavam na sua última encarnação. Por toda parte os seres inferiores estão subordinados aos superiores; mas em Vênus essa subordinação moral não pode ser comparada à subordinação corporal, tal como existe na Terra. Os superiores não são senhores, mas pais dos inferiores. Em vez de os explorar, auxiliam-lhes o progresso.
9. Vênus chegou gradualmente ao estado em que se encontra? Passou anteriormente pelo estado em que se acha a Terra e mesmo Marte? Resp. – Reina uma unidade admirável no conjunto da obra divina. Como os indivíduos, como tudo o que é criado, animais e plantas, os planetas progridem inevitavelmente. A vida,nas suas variadas expressões, é uma perpétua ascensão para o Criador, desenvolvendo, numa imensa espiral, os graus de sua eternidade.
10. Tivemos comunicações concordantes sobre Júpiter,Marte e Vênus. Por que sobre a Lua só tivemos coisas contraditórias e que não permitiram fixar uma opinião? Resp. – Essa lacuna será preenchida e em breve tereis sobre a Lua revelações tão claras e precisas quanto as obtidas sobre os outros planetas. Se ainda não vos foram dadas, mais tarde compreendereis a razão.
Observação – Por certo esta descrição de Vênus não tem nenhum dos caracteres de autenticidade absoluta; assim, só a damos a título hipotético. Todavia, o que já foi dito sobre esse mundo lhe dá, pelo menos, um certo grau de probabilidade e, seja como for, não deixa de ser o quadro de um mundo que necessariamente deve existir para todo homem que não tenha a orgulhosa pretensão de crer que a Terra seja o apogeu da perfeição humana; é um elo na escala dos mundos e um grau acessível aos que não se sentem com forças para ir diretamente a Júpiter.
R.E. , agosto de 1862, p. 333
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