sábado, 21 de outubro de 2017

... Os planos inferiores do céu

Segunda, 29 de setembro de 1913. A idéia de ver as coisas do ponto de vista de uma esfera mais elevada que a sua, é para que se dê o verdadeiro valor quando se lê o que acabamos de escrever. De outra forma, você estará sempre enganado pela aparência de incongruência na associação das idéias que temos lhe passado. A nós é perfeitamente normal unir a chegada de nosso Senhor com o outro evento da formação daquela ponte que é a expansão da grande região do precipício. O que lá é visto concretamente – isto é, claro, concretamente para nós aqui – é apenas um fenômeno do mesmo poder invisível pelo qual o Senhor e suas legiões angélicas cobriram a abóbada celeste entre a esfera na qual agora nos movemos e aquelas de onde vieram eles. Você compreenderá que aquela Manifestação foi, para nós, muito mais que uma materialização é, para vocês. Foi a ligação entre dois estados do Reino do Pai pela união no espaço através das vibrações mais elevadas do que as que podemos usar nestas esferas mais baixas. Como tudo acontece, nós apenas podemos imaginar, mas, ao passarmos de sua esfera terrestre para esta, a conexão entre esta e a próxima não parece estranha. Desejamos que você pudesse ser melhor esclarecido ao observar algumas das maravilhas de nosso plano, pois então tudo lhe pareceria mais natural, tanto em sua jornada na terra, quanto também quando vier para cá e nada soar estranho em sua mente. A primeira coisa que veria é que a terra é o embrião do céu, e que o céu é apenas a terra purgada e aperfeiçoada; e em seguida veria que as razões são bem óbvias. Para ajudá-lo neste assunto, portanto, tentaremos contar-lhe de um sistema que temos aqui para separar e discernir entre as coisas que importam e as de menor importância. Quando estamos com alguma dúvida – e falo apenas de nosso círculo imediato – vamos ao topo de algum edifício, ou montanha, ou algum lugar elevado de onde possamos avistar as terras distantes que nos cercam. Então, expomos nossas dificuldades, e quando acabamos de completar o raciocínio, ficamos em silêncio por um tempo, esforçando-nos por retratar tudo dentro de nós, da forma como as coisas são. Depois de algum tempo começamos a ver e ouvir algum lugar mais alto que o nosso, e vemos que as coisas importantes são as que nos mostram, pela visão e audição, que ainda persistem naquele plano mais elevado, naquelas esferas mais altas. Mas não ouvimos ou vemos as coisas que não importam tanto, e é desta forma conseguimos separar uma categoria de outra. Parece tudo certo, querida, mas poderia dar-me um caso mais específico, a fim de exemplificar? Penso que sim. Tivemos que lidar com uma dúvida, e não sabíamos como agir da melhor forma. Foi sobre uma mulher que estava aqui por um bom tempo e não parecia capaz de progredir muito. Não era má pessoa, mas parecia ser insegura a respeito de si mesma e de todos os que a cercavam. Sua principal dúvida era sobre os anjos – se eles eram todos de luz e bondade, ou se alguns eram de um estado angelical e outros da escuridão. Por algum tempo não conseguimos ver o porquê disto estar perturbando-a tanto, já que tudo por aqui parecia ser amoroso e brilhante. Mas descobrimos que ela tinha alguns parentes que haviam vindo para cá antes dela, e a quem ela não vira e não conseguia encontrar seu paradeiro. Quando descobrimos o principal problema dela, discutimos entre nós e fomos ao topo da colina, colocando nosso desejo de ajudá-la e pedindo que nos fosse mostrada a melhor maneira. Uma coisa memorável aconteceu, tão inesperada quanto útil. Quando ficamos ajoelhados ali, todo o topo da colina pareceu tornar-se transparente e, enquanto estávamos ajoelhados, com as cabeças inclinadas, enxergamos diretamente através dela, e uma parte das regiões abaixo foi trazida a nós muito nitidamente. A cena que vimos –e todos nós a vimos, portanto não poderia ser ilusão – era numa planície obscura, árida e nua, e, encostado numa rocha, estava um homem de alta estatura. Diante dele, ajoelhada no chão, com as faces cobertas pelas mãos, havia uma outra pessoa. Era um homem, e parecia estar implorando algo ao outro, que continuava ali, com aparência de estar em dúvida. Então, finalmente, num impulso súbito, ele se abaixou e levantou em suas costas aquele que estava ajoelhado e o conduziu pela planície, em direção ao horizonte onde refulgia a luz pálida do crepúsculo. Ele andou uma longa jornada com aquela carga e então, quando chegaram a um lugar onde a luz era mais forte, ele o largou e apontou um caminho a ele; então vimos que este agradeceu muito e muito, então voltou-se e correu rumo à luz. Nós o seguimos com nossos olhos, e então vimos que lhe havia sido apontado o caminho da ponte, da qual já lhe falei – na extremidade que está no outro lado do precipício. Ainda não entendíamos por que esta visão estava sendo mostrada a nós, e continuamos seguindo o homem até que ele alcançou o enorme prédio que está no começo da ponte – não para guardá-la, mas para auxiliar os que chegam até ali, necessitando de descanso e ajuda. Vimos que o homem havia sido observado pelo guardião, pois um facho de luz sinalizou-o aos que estavam embaixo, mostrando-o ao guardião seguinte, ao longo da ponte. E então a colina reassumiu seu aspecto normal de novo, e nada mais foi visto por nós. Estávamos perplexos, mais que antes, e estávamos descendo a colina quando nossa Senhora Diretora veio ao nosso encontro, e em sua companhia estava alguém que parecia um alto servidor de alguma parte de nossa esfera, mas que não havíamos conhecido ainda. Ela disse que ele veio para nos explicar a instrução que acabáramos de receber. Aquele homem menor era o marido da mulher a quem estávamos tentando ajudar, e deveríamos dizer a ela que fosse até a ponte pois lhe seria dado alojamento ali, onde então poderia esperar até que seu querido chegasse. O homem mais alto que vimos era o que a mulher chamou de anjo das trevas, já que ele era um dos mais poderosos espíritos nos planos trevosos. Mas, conforme observamos, ele era capaz de uma boa ação. Por que, então, perguntamos, ele ainda estava nas regiões de trevas? O servidor sorriu e respondeu, “Meus queridos amigos, o Reino de Deus Nosso Pai é um lugar muito mais maravilhoso do que podem imaginar. Vocês jamais se defrontaram ainda com um reino ou esfera que fosse completo por si mesmo, independente e separado dos demais. Nem há nenhum assim. Aquele anjo trevoso mescla, em si, muitas esferas de conhecimento, bondade e maldade. Ele permanece onde está, primeiro por causa da maldade remanescente nele, que o incapacita para as regiões de luz. Ele permanece ali também porque ele poderia progredir se quisesse, mas mesmo assim ele não o deseja por enquanto, em parte por causa de sua obstinação, e parte porque ele ainda odeia a luz, e acha que os que partem para a horrível montanha são loucos, pois a dor e as agonias são mais intensas ali, em razão do contraste com o que vêem entre a luz e a escuridão. Então ele fica, e há multidões como ele, a quem uma espécie de desespero embrutecedor e estonteante impede de seguirem adiante. Também em suas horas de raiva e loucura, ele é cruel. Ele torturou e maltratou algumas vezes este mesmo homem a quem vocês viram com ele, e o fez com a crueldade de um fanfarrão covarde. Mas, como viram, isto foi superado e quando o homem implorou nesta última vez, alguma corda sensível no coração do outro vibrou um pouquinho só, e, num impulso, temendo uma reversão em suas intenções, liberou sua vítima que desejou empreender a jornada, e apontou-lhe o caminho, sem dúvida pensando em seu coração no quanto ele era estúpido e contudo, talvez, um estúpido mais inteligente que ele, afinal de contas.” Isso era novidade para nós. Não percebêramos antes que havia bondade naquelas regiões de trevas; mas agora vimos que era natural que assim fosse, ou, se todos ali fossem totalmente ruins, nenhum deles jamais desejaria estar conosco deste lado.” Mas o que tem a ver tudo isso com o discernimento entre as coisas que importam e as que têm menor importância? Tudo que é do bem é de Deus, e a luz e a treva, quando aplicadas aos Seus filhos, não são, e não podem ser, absolutas. Elas devem ser entendidas como relativas. Há, como sabemos, muitos “anjos das trevas” que estão na escuridão por causa de algum desvio em seu comportamento, algum traço de obstinação que os previne contra o que é bom dentro deles, fazendo esse efeito. E estes, um dia, podem nos ultrapassar na estrada das eras, e, no Reino dos Céus, tornarem-se maiores que nós, que hoje somos mais abençoados que eles. Boa noite, meu querido filho. Pense sobre o que escrevemos. Tem sido uma lição proveitosa a nós, e seria bom que muitos em sua vida atual pudessem aprendê-la.

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