quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

MÁGOA

Joanna de Ângelis


Síndrome alarmante, de desequilibro, a presença da mágoa faculta a fixação de graves enfermidades físicas e psíquicas no organismo de quem a agasalha.

A mágoa pode ser comparada à ferrugem perniciosa que destrói o metal em que se origina.

Normalmente se instala nos redutos do amor-próprio ferido e paulatinamente se desdobra em seguro processo enfermiço, que termina por vitimar o hospedeiro.

De fácil combate, no início, pode ser expulsa mediante a oração singela e nobre, possuindo, todavia, o recurso de, em habitando os tecidos delicados do sentimento, desdobrar-se em modalidades várias, para sorrateiramente apossar-se de todos os departamentos da emotividade, engedrando cânceres morais irreversíveis. Ao seu lado, instala-se, quase sempre, a aversão, que estimulam o ódio, etapa grave do processo destrutivo.

A mágoa, não obstante desgovernar aquele que a vitaliza, emite verdadeiros dardos morbíficos que atingem outras vítimas incautas, aquelas que se fizeram as causadoras conscientes ou não do seu nascimento.

Borra sórdia, entorpece os canais por onde transita a esperança, impedindo-lhe o ministério consolador.

Hábil, disfarça-se, utilizando-se de argumentos bem urdidos para negar-se ao perdão ou fugir ao dever do esquecimento. Muitas distonias orgânicas são o resultado do veneno da mágoa, que, gerando altas cargas tóxicas sobre a maquinaria mental, produz desequilíbrio no mecanismo psíquico com lamentáveis consequências nos aparelhos circulatório, digestivo, nervoso...

O homem é, sem dúvida, o que vitaliza pelo pensamento. Sua idéias, suas aspirações constituem o campo vibratório no qual transita e em cujas fontes se nutre.

Estiolando os ideais e espalhando infundadas suspeitas, a mágoa consegue isolar o ressentido, impossibilitando a cooperação dos socorros externos, procedentes de outras pessoas.

Caça implacavelmente esses agentes inferiores, que conspiram contra a tua paz. O teu ofensor merece tua compaixão, nunca o teu revide.

Aquele que te persegue sofre desequilibros que ignoras e não é justo que te afundes, com ele, no fosso da sua animosidade.

Seja qual for a dificuldade que te impulsione à mágoa, reage, mediante a renovação de propósitos, não valorizando ofensas nem considerando ofensores.

Através do cultivo de pensamentos salutares, pairarás acima das viciações mentais que agasalham esses miasmas mortíferos que, infelizmente, se alastram pela Terra de hoje, pestilenciais, danosos, aniquiladores.

Incontáveis problemas que culminam em tragédias quotidianas são decorrência da mágoa, que virulenta se firmou, gerando o nefando comércio do sofrimento desnecessário.

Se já registras a modulação da fé raciocinada nos programas da renovação interior, apura aspirações e não te aflijas. Instado às paisagens inferiores, ascende na direção do bem. Malsinado pela incompreensão, desculpa. Ferido nos melhores brios, perdoa.

Se meditares na transitoriedade do mal e na perenidade do bem, não terás outra opção, além daquela: amar e amar sempre, impedindo que a mágoa estabeleça nas fronteiras da tua vida as balizas da sua província infeliz.

"Quando estiveres orando, se tiverdes alguma coisa contra alguém, perdoai-lhe, para que vosso Pai que está nos Céus, vos perdoe as vossas ofensas". - Marcos: 11-25.

"Não sou feliz! A felicidade não foi feita para mim! exclama geralmente o homem em todas as posições sociais. Isto, meus caros filhos, prova melhor do que todos os raciocínios possíveis, a verdade desta máxima do Eclesiastes: "A felicidade não é deste mundo". - ESE Cap.V - Item 20.


Psicografia de Divaldo P. Franco - Florações Evangélicas

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Ama tua Casa

Ama tua Casa



Não te irrites.

Mantém a serenidade e a cordialidade no lar, para que o ambiente doméstico opere por luz pacificadora na sociedade tumultuada em que vives.

Se não tens luz no lar, como queres dissipar a escuridão do mundo em conflito?

Compenetra-te de que o lar é célula da humanidade. Se adoece, compromete fatalmente a saúde do mundo.

Aceita o teu lar por ponto de encontro de almas que aí se reúnem com o fim de se ajustar a se ajudar mutuamente na reparação do passado de erros e na construção de um presente de amor com vistas a um futuro de justas alegrias.

Não transformes, pois, o teu ninho familiar em caldeirão explosivo, nem em praça de desabafo das infelicitações que te alcançam lá fora, nas tuas relações com o mundo que te examina a toda hora os níveis de progresso que já alcançaste na escola da vida.

Preserva o teu ninho doméstico das intempéries do tempo, para que se mantenha incólume ante a borrasca da violência expressa nas mais diferentes formas dos males que assolam o mundo. Lembra-te de que ele poderá rolar desfeito do galho da árvore do amor, se não estiver bem amarrado pelos cipós da compreensão e da solidariedade.

Contém os impulsos do personalismo que não conseguiste ainda abrandar e poda o quanto antes os brotos das viciações que ameaçam a segurança e a paz do teu ninho. As leis do dever te cobrarão o eventual descaso ou te premiarão pelo zelo à família que assumiste um dia sob contrato de amor. E quem ama verdadeiramente tudo faz para tornar feliz o objeto do seu amor.

Ama a tua casa, e o mundo se transformará no recanto de paz que tanto almejas e apregoas.

Com a paz do Senhor e Mestre Jesus.



Joana

Pereira, Wanderley. Ditado pelo Espírito Joana.

sábado, 26 de janeiro de 2008

A CRISE DA MORTE

ERNESTO BOZZANO







Segundo Caso

Tiro este segundo fato do volume de Morgan: From Matter to Spirit (pág. 149). A personalidade mediúnica do Doutor Horace Abraham Ackley descreve, nestes termos, a maneira por que seu Espírito se separou do organismo somático:

Como sucede a um bem grande número de humanos, meu espírito não chegou muito facilmente a se libertar do corpo. Eu sentia que me desprendia gradualmente dos laços orgânicos, mas me encontrava em condições pouco lúcidas de existência, afigurando-se-me que sonhava. Sentia a minha personalidade como que dividida em muitas partes, que, todavia, permaneciam ligadas por um laço indissolúvel. Quando o organismo corpóreo deixou de funcionar, pode o espírito despojar-se dele inteiramente. Pareceu-me então que as partes destacadas da minha personalidade se reuniam numa só. Senti-me, ao mesmo tempo, levantado acima do meu cadáver, a pequena distância dele, donde eu divisava distintamente as pessoas que me cercavam o corpo. Não saberia dizer por que poder cheguei a me desprender e a me elevar no ar. Depois desse acontecimento, suponho ter passado um período bastante longo em estado de inconsciência, ou de sono (o que, aliás, acontece freqüentemente, se bem isso não se da em todos os casos); deduzo-o do fato que, quando torne! a ver o meu cadáver, estava ele em estado de adiantada decomposição.

Logo que voltei a mim, todos os acontecimentos de minha vida me destilaram sob as vistas, como num panorama; eram visões vives, multo reais, em dimensões naturais, como o meu passado se houvera tornado presente. Foi todo o meu passado o que revi, compreendido o último episódio: o da minha desencarnação. A visão passou diante de mim com tal rapidez, que quase não tive tempo de refletir, achando-me como que arrebatado por um turbilhão de emoções. A visão, em seguida, desapareceu com a mesma instantaneidade com que se mostrara; às meditações sobre o passado e o futuro, sucedeu em mim vivo interesse pelas condições atuais.

Eu ouvira dizer aos espíritas que os Espíritos desencarnados eram acolhidos no mundo espiritual pelos seus parentes, ou por seus Espíritos-guardiães. Não vendo ninguém perto de mim, conclui que os espíritas se haviam enganado. Mas, apenas este pensamento me atravessou o espírito, vi dois Espíritos que me eram desconhecidos e para os quais me senti atraído por um sentimento de afinidade. Soube que tinham sido homens muito instruídos e inteligentes, mas que, como eu, não haviam cogitado de desenvolver em si os princípios elevados da espiritualidade. Chamaram-me pelo meu nome, embora não o houvesse eu pronunciado, e me acolheram com uma familiaridade tão benévola, que me senti agradavelmente reconfortado. Com eles deixei o meio onde desencarnara e onde me conservara até aquele momento. Pareceu-me nebulosa a paisagem que atravessei; mas dentro dessa meia obscuridade, fui conduzido a um lugar onde vi reunidos numerosos Espíritos, entre os quais muitos havia que eu conhecera em vida e que tinham morrido havia há algum tempo. . .

Notarei que no último parágrafo do episódio precedente se encontra um outro dos detalhes secundários habituais, que se diferenciam mais ou menos nas descrições de tantos Espíritos que se comunicam. Esse detalhe achará sua razão de ser nas condições espirituais, bem pouco evolvidas, do defunto autor da mensagem. Geralmente, nas de revelações transcendentais, se lê que os Espíritos dos mortos entram num meio mais ou menos radioso, onde são acolhidos pelos Espíritos de seus parentes. Aqui se vê, ao contrário, que o Espírito comunicante se encontrou em um meio nuvioso, onde foi acolhida amistosamente por dois Espíritos que lhe eram desconhecidos, mas que guardavam afinidade com ele, do ponto de vista das condições espirituais. E fácil de argüir que este aparente desacordo entre as primeiras impressões desse Espírito desencarnado e outras muitas mais freqüentes dependa da circunstancia de que, como ele próprio o diz, se descuidara em vida de desenvolver em si o elemento espiritual e que os Espíritos que lhe foram ao encontro se achavam nas mesmas condições. Daí resultou que, pela lei de afinidade, um meio de luz não se adaptava às condições transitórias, mas obscurecidas, de seus Espíritos.

De outro ponto de vista, notarei que, também no episódio em apreço, o Espírito que se comunica afirma ter sofrido a prova da visão panorâmica de seu passado, prova que, neste caso, em vez de se desenrolar espontaneamente, em conseqüência de uma superexcitação sui generis das faculdades mnemônicas (superexcitação produzida pela crise da agonia, ao que dizem as psicologistas), pareceria antes provocada pelos guias espirituais, com o fim de predispor o Espírito recém-chegado a uma espécie de exame de consciência. Esta interpretação do fenômeno ressaltará muito mais claramente de alguns dos casos que se vão seguir.

Notarei, finalmente, que este caso, ocorrido em 1857, já contém a narração de um incidente interessante de bilocação no leito de morte, seguido do fenômeno consistente na situação que durante algum tempo o Espírito desencarnado conservou, pairando por cima do cadáver. Freqüentes incidentes análogos se encontrarão nas comunicações da mesma natureza; com mais freqüência ainda, são sensitivos que, assistindo à morte de alguém, os descreverão segundo o que perceberam. As obras espiritualistas estão cheias de episódios deste gênero, a começar dos que foram descritos pelo famoso vidente Andrew Jackson Davis e pelo juiz Edmonds, até aos que chegaram ao Rev. William Stainton Moses e à governante inglesa (enfermeira diplomada) Mrs. Joy Snell, que, ultimamente, assistiu à produção de fenômenos desta espécie durante uns vinte anos. Ora, quem não vê que o fato das afirmações de videntes, concordantes de modo admirável com o que narram os próprios Espíritas desencarnados, tem inegável importância, uma vez que se confirmam mutuamente? E também, com relação a esta ordem de incidentes, é muito comum que o médium escrevente, ou o sensitivo vidente, estejam na mais completa ignorância acerca da existência de tais fenômenos e da maneira por que se produzem no leito de morte. E como o caso com que acabamos de ocupar-nos remonta a 1857, isto é, aos começos do movimento espírita, tudo contribui para que se suponha que nesta circunstância o médium e os assistentes ignoravam tudo do que concerne aos fenômenos de bilocação em geral e, sobretudo, à maneira por que se dão com os moribundos.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

AUTODESOBSESSÃO

Se você já pode dominar a intemperança mental...

Se esquece os próprios constrangimentos, a fim de cultivar o prazer de servir...

Se sabe escutar o comentário infeliz, sem passá-lo adiante...

Se vence a indisposição contra o estudo e continua, tanto quanto possível, em contato com a leitura construtiva...

Se olvida mágoas sinceramente, mantendo um espírito compreensivo e cordial, à frente dos ofensores...

Se você se aceita como é, com as dificuldades e conflitos que tem, trabalhando alegremente com tudo aquilo que não pode modificar...

Se persevera na execução dos seus propósitos enobrecedores, apesar de tudo o que se faça ou fale contra você...

Se compreende que os outros têm o direito de experimentar o tipo de felicidade a que se inclinem, como nos acontece...

Se crê e pratica o princípio de que somente auxiliando o próximo, é que seremos auxiliados...

Se é capaz de sofrer e lutar na seara do bem, sem trazer o coração amargoso e intolerante...

Então você estará dando passos largos para libertar-se da sombra, entrando, em definitivo, no trabalho da desobsessão.


Xavier, Francisco Cândido. Da obra: Passos da Vida. Ditado pelo Espírito André Luiz.

* * * Estude Kardec * * *

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

A IMITAÇÃO DE CRISTO - LIVRO 3 - CAPITULOS 7 A 10

CAPÍTULO 7

Como se há de ocultar a graça sob a guarda da humildade

1. Jesus: Filho, muito útil e seguro te é encobrir a graça da devoção, sem te desvanceceres ou te preocupares muito com ela; convindo antes desprezar-te a ti mesmo e temer que não sejas digno da graça recebida. Importa não estares muito apegado a tais sentimentos, que bem depressa podem mudar-se nos contrários. Com a graça presente, pondera quão miserável e pobre és sem ela. O progresso na vida espiritual não consiste tanto em teres a graça da consolação, mas em suporta-lhe com humildade, abnegação e paciência a privação, de sorte que então não afrouxes no exercício da oração, nem deixes de todo as demais boas obras que costumas praticar. Antes faze tudo de boa vontade, como melhor puderes e entenderes, nem te descuides totalmente de ti por causa das securas e ansiedades espirituais.
2. Muitos há que se deixam levar pela impaciência e pelo desalento, logo que as coisas não correm como desejam. Pois nem sempre está nas mãos do homem o seu caminho (Jer 10,23), mas a Deus pertence consolar e dar a graça quando quiser, e quanto quiser, a quem quiser, tudo como lhe apraz, nem mais nem menos. Perderam-se alguns imprudentes por causa da graça da devoção, porque quiseram fazer mais do que podiam, não ponderando a fraqueza das suas forças e seguindo mais o impulso do coração que os ditames da razão. E porque presumiram de si coisas bem depressa perderam a graça. Caíram maiores do que Deus havia determinado, na pobreza e no abatimento os que pretendiam pôr seu ninho no céu, para assim, humilhados e empobrecidos, aprenderem a não voar com suas próprias asas, mas a esperar à sombra das minhas. Os novos e principiantes no caminho do Senhor facilmente se podem enganar e perder, se não se aconselharem com homens experientes.
3. Estes, se quiserem antes seguir seu próprio parecer, que confiar no conselho de pessoas experimentadas, põem em grande risco sua salvação, se continuarem aferrados à sua opinião. Os que se têm por sábios raro se deixam dirigir pelosoutros. É melhor saber e entender pouco, humildemente, que possuir tesouros de ciência e presumir de si. Melhor te é ter menos do que muito, se com o muito te vem o orgulho. Não é bastante prudente quem se entrega todo à alegria, esquecido da antiga pobreza e do casto temor de Deus que sempre receia perder a graça concedida. Nem tampouco muita virtude denota entregar-se a nímio desânimo em tempo de adversidade e por qualquer contratempo, sem pôr em mim a confiança devida.
4. Quem se dá por muito seguro no tempo de paz, muitas vezes se revela tímido e covarde em tempo de guerra. Se te souberes conservar sempre humilde e pequeno no teu conceito, e governar com moderação teu espírito, não cairás tão depressa na tentação e no pecado. É de aconselhar, quando sentes fervor de espírito, meditar no que será de ti, retirando-se esta graça. E quando isto de fato acontecer, pensa que a luz pode voltar, que ta tirei por algum tempo, para tua cautela e minha glória.
5. Tal provação, muitas vezes, te é mais proveitosa do que se tudo te saísse à medida de teu desejo. Pois não se devem avaliar os merecimentos do homem pelas muitas visões e consolações, nem pela perícia nas Escrituras, nem pela elevação do cargo. Mas, para conhecer o valor de cada um, considera: se está fundamentado na verdadeira humildade e vive cheio de amor de Deus; se sempre busca a honra de Deus com pura e reta intenção; se se despreza a si mesmo, nem faz caso algum de si, e se gosta mais de ser desprezado e humilhado do que estimado pelos homens.

CAPÍTULO 8

Da vil estima de si próprio ante os olhos de Deus

1. A alma: Ao meu Senhor falarei, ainda que seja pó e cinza (Gn 18,27). Se eu me tiver em maior conta, eis que vos ergueis contra mim, e ao testemunho verdadeiro que dão meus pecados, não posso contradizer. Mas se me tiver por vil e me aniquilar, deixando toda a vã estima de mim mesmo, e me reduzir a pó, que sou na verdade, ser-me-à propícia a vossa graça, e a vossa luz há de vir em meu coração, e todo sentimento de amor-próprio, por mínimo que seja, perder-se-á no abismo do meu nada e perecerá para sempre. Ali me dais a conhecer o que sou, o que fui, a que ponto cheguei; porque sou nada - e não o sabia. Abandonado a mim mesmo, sou um puro nada e a mesma fraqueza; tanto, porém, que lançais um olhar sobre mim, logo me sinto forte e cheio de nova alegria. E é grande maravilha que tão sabiamente me levantais e tão benigno me abraçais, a mim, que pelo próprio peso pendo sempre para a terra.
2. Isto é obra do vosso amor, que me previne gratuitamente, socorrendo-me em mil necessidades, guardando-me de males, para bem dizer, infindos. Perdi-me, amando-me desordenadamente; mas, buscando a vós unicamente, e amando com puro amor, a mim me achei e a vós também, e este amor me fez ainda mais aprofundar-me em meu nada. Porque vós, ó dulcíssimo Senhor, me tratais além do meu merecimento, e mais do que ouso esperar ou pedir.
3. Bendito sejais, meu Deus, pois conquanto eu seja indigno de todo bem, ainda assim não cessa vossa liberalidade e bondade infinita de fazer bem até aos ingratos e aos que de vós andam apartados. Convertei-nos a vós, para que sejamos gratos, humildes e devotos, pois vós sois nossa salvação, nossa virtude e fortaleza.

CAPÍTULO 9

Tudo se deve referir a Deus como ao fim último

1. Jesus: Filho, eu devo ser o teu supremo e último fim, se desejas ser verdadeiramente feliz. Esta intenção purificará teu coração, tantas vezes apegado desregradamente a si mesmo e às criaturas. Porque se em alguma coisa te buscas a ti mesmo, logo desfaleces e afrouxas. Refere, pois, tudo a mim, principalmente porque eu sou quem te deu tudo. Considera todos os bens como dimanados do Sumo Bem, e por isso refere tudo a mim como sua origem.
2. De mim, como de fonte de vida, tiram água viva o pequeno e o grande, o rico e o pobre, e os que me servem voluntária e livremente receberão graça sobre graça. Mas quem, fora de mim, quiser gloriar-se, ou deleitar-se em algum bem particular, jamais poderá firmar-se na verdadeira alegria, nem se lhe dilatará o coração, mas sempre andará perturbado e angustiado de mil maneiras. Não te atribuas, pois, bem algum, nem a pessoa alguma atribuas virtude, mas refere tudo a Deus, sem o qual nada tem o homem. Eu dei tudo, eu quero tudo reaver, e com estrito rigor exijo as devidas ações de graças.
3. É esta a verdade que afugenta toda a vanglória. E se entrar em teu coração a graça celestial e a verdadeira caridade, não sentirás mais inveja alguma, nem aperto de coração, nem haverá mais lugar para o amor-próprio. Porque tudo vence a divina caridade, e multiplica as forças da alma. Se és verdadeiramente sábio, só em mim te alegrarás e porás a tua confiança; porque ninguém é bom senão Deus (Mt 19,17), só Ele cumpre seja louvado e bendito em tudo, acima de todas as coisas.

CAPÍTULO 10 Como, desprezando o mundo, é doce servir a Deus

1. A alma: De novo, Senhor, vos falarei, e não me calarei; direi aos ouvidos de meu Deus, meu Senhor e meu Rei, que está nas alturas: Quão grande, Senhor, é a abundância da doçura que reservastes aos que vos temem! (Sl 30,20). Mas que será para os que vos amam e de todo o coração vos servem? É verdadeiramente inefável a doçura da contemplação que concedeis aos que vos amam. Nisto particularmente me manifestastes a doçura de vosso amor: quando não era, vós me criastes e quando andava longe de vós, perdido no erro, me reconduzistes a vos servir e me destes o preceito de vos amar.
2. Ó fonte perene de amor, que direi de vós? Como poderia eu esquecer-me que vos dignastes lembrar-vos de mim, ainda depois de depravado e perdido? Além de toda esperança, usastes de misericórdia para com vosso servo, e acima de todo mérito me prodigalizastes vossa graça e amizade. Com que poderei agradecer-vos tal mercê? Porque nem a todos é dado deixar tudo, renunciar ao mundo e abraçar a vida religiosa. Será porventura mérito que eu vos sirva, quando toda criatura tem obrigação de vos servir? Não me deve parecer grande coisa que eu vos sirva; antes devo considerar grande e digno de admiração que vos digneis receber-me, pobre e indigno como sou, em vosso serviço e associar-me aos vossos servos prediletos.
3. Vede, é vosso, Senhor, tudo que possuo e com que vos sirvo; entretanto, mais me servis vós a mim, do que eu a vós. Aí estão o céu e a terra, que criastes para uso do homem, e estão atentos a vosso aceno, a fazer cada dia o que lhes mandais. Mais ainda: os próprios anjos destinastes ao serviço do homem. Mas, acima de tudo isso, vós mesmos vos dignais servir ao homem, e prometestes ser a sua recompensa.
4. Que vos darei eu por esses benefícios sem conta, Oh! se pudera servir-vos todos os dias da minha vida! Se pudera, ainda que um só dia, prestar-vos condigno serviço! Na verdade, sois digno de todo serviço, de toda honra e glória eterna. Vós sois verdadeiramente meu Senhor, eu vosso pobre servidor, obrigado a servir-vos com todas as minhas forças, sem me cansar jamais de vos dar louvores. Assim o quero, assim o desejo: dignai-vos, Senhor, suprir o que me falta.
5. Grande honra e glória é servir-vos e desprezar tudo por vosso amor. Porque copiosa graça alcançarão os que livremente se sujeitam ao vosso santíssimo serviço. Encontrarão suavíssima consolação do Espírito Santo os que por vós desprezam todos os deleites carnais. Conseguirão grande liberdade da alma os que por vosso nome entram na vereda estreita e se apartam de todos os cuidados mundanos.
6. Ó doce e amável servidão de Deus, que torna o homem verdadeiramente livre e santo! Ó sagrada servidão do estado religioso, que faz o homem igual aos anjos, agradável a Deus, terrível aos demônios e recomendável a todos os fiéis! Ó ditoso e nunca assaz desejado serviço, que nos mereceu o Bem soberano e adquire o gozo que há de durar para sempre!

Perante os Amigos

O amigo é uma benção que nos cabe cultivar no clima de gratidão.

Quem diz que ama e não procura compreender e nem auxiliar, nem amparar e nem servir, não saiu de si mesmo ao encontro do amor de alguém.

A amizade verdadeira não é cega, mas se enxerga defeitos nos corações amigos, sabe amá-los e entendê-los mesmo assim.

Teremos vencido o egoísmo em nós quando nos decidirmos a ajudar aos entes amados a realizarem a felicidade própria, tal qual entendem eles, deva ser a felicidade que procuram, sem cogitar de nossa própria felicidade.

Em geral, pensamos que os nossos amigos pensam como pensamos, no entanto, precisamos reconhecer que os pensamentos deles são criações originais deles próprios.

A ventura real da amizade é o bem dos entes queridos.

Assim como espero que os amigos me aceitem como sou, devo, de minha parte, aceitá-los como são.

Toda vez que buscamos desacreditar esse ou aquele amigo, depois de havermos trocado convivência e intimidade, estaremos desmoralizando a nós mesmos.

Em qualquer dificuldade com as relações efetivas é preciso lembrar que toda criatura humana é um ser inteligente em transformação incessante, e, por vezes, a mudança das pessoas que amamos não se verifica na direção de nossas próprias escolhas.

Quanto mais amizade você der, mais amizade receberá.

Se Jesus nos recomendou amar os inimigos, imaginemos com que imenso amor nos compete amar aqueles que nos oferecem o coração.



Xavier, Francisco Cândido. Da obra: Sinal Verde. Ditado pelo Espírito André Luiz.

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Mensagem de André Luiz

Mensagem de André Luiz

A vida não cessa. A vida é fonte eterna e a morte é o jogo escuro das ilusões.

O grande rio tem seu trajeto, antes do mar imenso. Copiando-lhe a expressão, a alma percorre igualmente caminhos variados e etapas diversas, também recebe afluentes de conhecimentos, aqui e ali, avoluma-se em expressão e purifica-se em qualidade, antes de encontrar o Oceano Eterno da Sabedoria.

Cerras os olhos carnais constitui operação demasiadamente simples.

Permutar a roupagem física não decide o problema fundamental da iluminação, como a troca de vestidos nada tem que ver com as soluções profundas do destino e do ser.

Oh! Caminhos das almas, misteriosos caminhos do coração! É mister percorrer-vos, antes de tentar a suprema equação da Vida Eterna! É indispensável viver o vosso drama, conhecer-vos detalhe a detalhe, no longo processo do aperfeiçoamento espiritual!...

Seria extremamente infantil a crença de que o simples "baixar do pano" resolvesse transcendentes questões do Infinito.

Uma existência é um ato.

Um corpo - uma veste.

Um século - um dia.

Um serviço - uma experiência.

Um triunfo - uma aquisição.

Uma morte - um sopro renovador.

Quantas existências, quantos corpos, quantos séculos, quantos serviços, quantos triunfos, quantas mortes necessitamos ainda?

E o letrado em filosofia religiosa fala de deliberações finais e posições definitivas!

Por toda a parte, os cultos em doutrina e os analfabetos do espírito!

É preciso muito esforço do homem para ingressar na academia do Evangelho do Cristo, ingresso que se verifica, quase sempre, de estranha maneira - ele só, na companhia do Mestre, efetuando o curso difícil, recebendo lições sem cátedras visíveis e ouvindo vastas dissertações sem palavras articuladas.

Muito longa, portanto, nossa jornada laboriosa.

Nosso esforço pobre quer traduzir apenas uma idéia dessa verdade fundamental.

Grato, pois, meus amigos!

Manifestamo-nos, junto a vós outros, no anonimato que obedece à caridade fraternal. A existência humana apresenta grande maioria de vasos frágeis, que não podem conter ainda toda a verdade. Aliás, não nos interessaria, agora, sendo a experiência profunda, com os seus valores coletivos. Não atormentaremos alguém com a idéia da eternidade. Que os vasos se fortaleçam, em primeiro lugar. Forneceremos, somente, algumas ligeiras notícias ao espírito sequioso dos nossos irmãos na senda de realização espiritual, e que compreendem conosco que "o espírito sopra onde quer".

E, agora, amigos, que meus agradecimentos se calem no papel, recolhendo-se ao grande silêncio da simpatia e da gratidão. Atração e reconhecimento, amor e júbilo moram na alma. Crede que guardarei semelhantes valores comigo, a vosso respeito, no santuário do coração.

Que o Senhor nos abençoe.

André Luiz

(extraído de Nosso Lar, publicado em 1943)

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

A DOR E SUAS BENÇÃOS

No universo o caos é a presença da vida em ebulição,
em desenvolvimento.

O repouso, se houvesse, significaria o aniquilamento
da ordem, do equilíbrio.

Tudo se agita, desde as micropartículas às galáxias
em incessante movimentação.

Sucumbe um astro pela decadência da energia e surge
outro pela aglutinação de novas moléculas.

Só há vida em toda parte e, portanto, ação.

É natural que, no ser humano, esse processo se expresse
como desgaste que produz dor.

O pântano e as águas estagnadas experimentam rigorosa
drenagem, a fim de se transformarem em jardim e pomar.

O deserto sente a modificação da sua estrutura,
mediante elementos químicos, de modo a reverdecer e
coroar-se de flores.

A semente sofre o esmagamento e arrebenta-se em vida
exuberante.

Nos animais, o parto é violência orgânica dolorosa,
que liberta a vida que conduzia encarcerada.

Compreensível, desse modo, que o desabrochar da
perfeição comece pelo despedaçar do grotesco em
predominância no ser humano.

Erros que geraram calamitosos efeitos a reparar,
desafios que promovem à conquista de mais elevados
patamares se apresentam com freqüência.

São inevitáveis as ocorrências depuradoras, os
sofrimentos de sublimação.

A dor é mensagem da vida cantando o hino de exaltação
e glória à evolução.

Recebê-la com tranqüilidade constitui admirável
realização íntima da lucidez intelecto-moral do ser
humano.

Pressões, compressões, dilacerações constituem
mecanismos da vida que se liberta do cárcere temporário
para a exuberância da plenitude.

Compreender a função da dor é atitude solidária,
caminhando-lhe ao lado, ao invés de enfrentá-la com
a extravagância da derrota.

Entendida no seu significado profundo, torna-se amena
e disciplinadora de impulsos graves quão danosos que
persistem, dominadores.

Em razão disso, a atitude passiva, o pensamento de
aceitação e entendimento contribuem para torná-la
produtiva, enriquecedora.

Diante da transitoriedade do carro orgânico a que o
Espírito se atrela, eis que o desgaste e a decomposição
fazem parte dos fatores de destruição da aparência,
para que o ser eterno singre os rios incomparáveis da
imortalidade.

Sem a histólise, que precede à histogênese demorada, a
lagarta jamais flutuaria no ar como borboleta delicada.

As condições físicas, portanto, são uma permanente
transformação e a dor representa as mãos do Divino
Escultor trabalhando em formas novas, aprimorando
arestas e corrigindo anfractuosidades...

Alegra-te, por haveres sido contemplado pela dor, por
mais paradoxal que te pareça.

Bem-aventurado aquele que sofre em paz, quando outros,
desassisados, em tranqüilidade infelicitam vidas...

Mantém-te confiante, mesmo sofrendo, e transforma as
tuas ansiedades em gratidão a Deus, por haver
estabelecido diretrizes diferentes das tuas, que te
farão realmente feliz para sempre.

Deixa-te, pois, arrastar pelas mãos do sofrimento digno,
e converterás lágrimas em sorrisos, tristezas em
júbilos, frustrações em pacificação interna, arrimado
em Jesus, que nunca te abandonará.

Dor bendita, que liberta e sublima, louvada sejas!

[Joanna de Ângelis]
[Divaldo P.Franco]
[Fonte de Luz]
[Editora LEAL]

domingo, 13 de janeiro de 2008

O EFEITO DA CÓLERA

Um velho judeu, de alma torturada por pesados remorsos, chegou certo dia,
aos pés de Jesus, e confessou-lhe estranhos pecados.
Valendo-se da autoridade que detinha no passado, havia despojado vários
amigos de suas terras e bens, arremessando-os à ruína total e
reduzindo-lhes as famílias a doloroso cativeiro. Com maldade
premeditada, semeara em muitos corações o desespero, a aflição e a morte.
Achava-se, desse modo, enfermo, aflito e perturbado... Médicos não lhe
solucionavam os problemas, cujas raízes se perdiam nos profundos labirintos
da consciência dilacerada.
O Mestre Divino, porém, ali mesmo, na casa de Simão Pedro, onde se
encontrava, orou pelo doente e, em seguida, lhe disse:
- Vai em paz e não peques mais.
O ancião notou que uma onda de vida nova lhe penetrara o corpo, sentiu-se
curado, e saiu, rendendo graças a Deus.
Parecia plenamente feliz, quando, ao atravessar a extensa fila dos
sofredores que esperavam pelo Cristo, um pobre mendigo, sem querer,
pisou-lhe num dos calos que trazia nos pés.
O enfermo restaurado soltou um grito terrível e atacou o mendigo a
bengaladas.
Estabeleceu-se grande tumulto.
Jesus veio à rua apaziguar os ânimos.
Contemplando a vitima em sangue, abeirou-se do ofensor e falou:
- Depois de receberes o perdão, em nome de Deus, para tantas faltas, não
pudeste desculpar a ligeira precipitação de um companheiro mais desventurado
que tu?
O velho judeu, agora muito pálido, pôs as mãos sobre o peito e bradou
para o Cristo:
- Mestre, socorre-me!... Sinto-me desfalecer de novo... Que será isto?
Mas, Jesus apenas respondeu, muito triste:
- Isso, meu irmão, é o ódio e a cólera que outra vez chamaste ao próprio
coração.
E, ainda hoje, isso acontece a muitos que, por falta de paciência e de amor,
adquirem amargura, perturbação e enfermidade.

(De "Pão Nosso", de Francisco Cândido Xavier, pelo espírito Meimei)

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

LIVRE ARBÍTRIO

Jesus, Mestre e Senhor! Sei que estou submetido à leis soberanas nas quais não posso interferir, cabendo-me apenas acatar e aceitar a tua amorosa vontade como o melhor e o mais justo recurso à minha evolução!...
Mas, dentro destas leis posso movimentar-me à vontade, aceitando ou não a sua influência sobre mim, acertando ou errando conforme o meu desejo e minha inclinação...
Sou livre para escolher o que de melhor me serve no momento, dentro do panorama que Tu me ofereces por aprendizado, tomando o rumo das estrelas ou a estrada do despenhadeiro, sempre de conformidade com o clima espiritual de minha preferência.
Mas a minha vontade ainda é perfectível e nem sempre, ao impulso dela, os resultados são benéficos à minha alma, trazendo-me, bastas vezes, decepções e dolorosas chagas que me cumpre sempre mais tarde medicar...
Por outro lado, e por não compreender-te plenamente, ainda, às vezes não gosto do que me ofereces e por isso nem sempre tomo o caminho que desejarias eu tomasse, para o meu próprio bem...
Olho o mundo em torno e anoto nele deficiências de toda a ordem e meu coração Te censura silenciosamente, infinitas vezes, por não mudares o que considero imoral, injusto e desumano!...

Vejo o caos aos meus pés e clamo por tua intervenção, e ainda assim o mau progride e o violento impera, qual se te fosse mais importante verificar o grau de minha tolerância e o limite de minha fé, perante os acontecimentos, e não o sofrimento e a ruína que estas ações provocam em todos aqueles que lhes sofrem a sinistra influenciação!...
Nesses momentos, Senhor, surge a inconformação e a revolta; um gosto amargo e perene no coração pelo que aí está, situações que Tu não alteras e que não eu não tenho o poder de modificar...
Queria, Senhor, eu o confesso, melhorar em um só toque o mundo em que vivo, e sem me importar com mais nada, entregar paz e harmonia à Terra independentemente de dívidas e devedores, de provas e provações, de durezas espirituais e dolorosos burilamentos...
Mas, impotente e frágil, nada mais posso fazer que chorar muitas vezes, estendendo em torno mãos que não tocam e palavras que não consolam.
E então percebo que só Tu tens o supremo poder de socorrer, modificar, salvar ou punir...
É muito a pouco a pouco que compreendo o que significa livre-arbítrio e de que modo posso usufruí-lo em meu benefício.
Aprendo lentamente que existem liberdades e liberdades, dentro das quais posso alterar meu destino para melhor ou dificultar de vez minha passagem pelo mundo...
Sou livre sim, para tomar o rumo que melhor me aprouver tomar, Senhor, porém dentro sempre do que me compete, no momento, e que Tu dispões visando meu aprendizado e progresso.
Se nem tudo corre como deveria, se acontecem alterações de planos, mesmo que trágicos e infinitamente dolorosos, não importa a Ti quem os causou e nem de que forma o fizeram, mas sim a minha reação individual perante o fato, como conseqüência direta e inalienável sobre o meu futuro espiritual...



Não modificas imediatamente a paisagem em torno, salvo condições especialíssimas, mas enxugas minhas lágrimas se me aproximo de ti buscando consolação e força, ou me aguardas maior entendimento para mais além, quando eu compreender que tudo é equilíbrio e harmonia mesmo que sob aparente dor e desordem...
Não me abandonas jamais, Senhor, mas deves aguardar, às vezes, que eu o compreenda para que só então possas me auxiliar efetivamente.
Aprendo, enfim, Senhor, que se não tenho o poder de modificar a marcha natural da Terra, posso fazer muito para minimizar toda a espécie de sofrimento, meu e o alheio, doando amor e solidariedade isentos de revolta e incompreensão, para que minha ajuda seja bênção, e nunca maldição...
Ampara-me, Jesus, para que eu prossiga em meu aprendizado com lucidez e boa vontade, porque também compreendo que de meu gesto individual depende a paz em torno de meus passos, e que minhas opções sempre influenciarão os outros, levando concórdia e alegria ou proporcionando dor e dificuldades, sempre de acordo com meu livre-arbítrio!

Assim seja!

Prece ditada por André Luiz
Instituto de Estudo, Pesquisa e Divulgação Espírita André Luiz
Curitiba, PR

Grupo Espírita Renascer: http://www.ger.org.br/preces.htm

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

BEM COMUM

cada um de nós tem de enfrentar as dificuldades com coragem e o coração tranqüilo, resolvendo os muitos problemas sem deixar de ajudar ao próximo. No egoísmo, nenhum progresso é possível; pelo altruísmo e pela caridade, o progresso é seguro. Sempre que pensamos no bem comum mais que no nosso, estamos realizando um bem à humanidade.

Não podemos fazer distinção entre as espécies de serviços que se podem prestar, desde que sejam para o bem de outros e movida pelo ideal de servir e ajudar. Pode ser qualquer serviço, em que procuremos difundir o conhecimento do bem, para que nossos irmãos possam ser mais prudentes. Pode ser um serviço social, como a ajuda a carentes ou aos que sofrem, por meio de obras de auxílio.

Podemos ser úteis de inúmeras formas. Escolhamos uma ou várias, valorizando a vida, a nossa e a alheia, conforme nossas capacidades e oportunidades.

Não encontramos satisfação pessoal permanente com honras, riquezas, prazeres materiais, mas sim quando fazemos algo útil para nossos semelhantes.

Façamos com amor, sem cobrar nada em troca, nem agradecimentos, e sem querer ver os resultados, porque muitos dos beneficiados podem ser ingratos.

Ingratidão nenhuma deve nos atingir, porque devemos fazer a caridade sem esperar recompensas.

É sempre melhor dar que receber. Ao fazermos o bem propiciamo-nos a chance de sermos bons, e isso é o que deve importar. O maior beneficiado somos nós mesmos.


Pelo Espírito: ANTÔNIO CARLOS
Psicografia: VERA LÚCIA MARINZECK DE CARVALHO
Do livro: SEJAMOS FELIZES

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

SOMOS OS LÁZAROS DA ESCRITURA

Não deve existir nenhuma interpretação oficial obrigatória, dogmática, da mensagem de Jesus. Nenhuma instituição humana foi por Ele investida de autoridade especial ou de procuração particular para interpretar e ministrar com exclusividade os ensinos do Mestre. Se assim fosse, Jesus teria deixado aos homens não um código de moral e ética de livre acesso e uso geral de todos os povos, mas um instrumento particular de força e dominação em poder de grupos privilegiados, em nome da fé.

A única autorização que se conhece está explícita nos Evangelhos, através de Suas próprias palavras quando disse: “Onde houver duas ou mais pessoas reunidas em meu nome, aí também estarei”. Logo, os ensinos do Cristo não formam compêndio particular de ninguém, nem a sua interpretação se submete ao espírito de seita ou de religião em conflitos nas disputas pela pretensa posse das verdades eternas. Ninguém está proibido de buscar o tesouro moral dos Evangelhos para partilhá-lo com os necessitados do pão da alma, recolhendo-lhe a interpretação que melhor assimile os princípios da lógica e da razão nele contidos.

E a razão nos diz que as lições do Mestre não podem conflitar com o caráter divino da sua missão. Não se pode abster-se de considerar nelas o fundo moral de Suas idéias, a essência do Seu pensamento superior formulados em linguagem inerente à cultura da época e da região. Assim é que em narrativas como a da Ressurreição de Lázaro, a interpretação não deve se ater à forma literária própria do evangelista para detalhar o acontecimento. A amplitude psicológica do episódio em si, os ensinamentos nele sinalizados limitaram a capacidade interpretativa do escritor que se restringiu mais aos aspectos formais, às emoções do fato, fruto do nível de percepção.

O mais importante, porém, nesse episódio como noutros semelhantes, é a leitura dos sinais embutidos na mensagem. Eles falam mais do que o fato em si. É deles que devemos recolher, como o garimpeiro na bateia, as pedras preciosas das verdades do Cristo, em prol da transformação real dos homens. Visto por esse prisma, o Lázaro das Escrituras somos todos nós que ainda estamos enfaixados nas próprias imperfeições, imobilizados pela morte da ignorância e da rebeldia, à espera da ressurreição que não virá enquanto não removermos a pedra que nos impede a saída de nós. Na ressurreição de Lázaro, Jesus pede que se retire a pedra para que Lázaro volte à vida. É uma alusão às dificuldades, aos empeços que criamos a toda hora contra a nossa própria libertação dos males em que nos enredamos.

Continuamos retidos por essas pedras que se expressam na forma de dores e sofrimentos, sepultando-nos sonhos e esperanças. Permanecemos moucos ao chamamento do Cristo que nos convida a deixar o túmulo das nossas ilusões, desfazendo-se, como Lázaro, das ataduras da morte que nos paralisa a vontade e nos impede de acordar para uma vida nova, alçando vôos mais altos pelos espaços infinitos de nossos anseios de felicidade e paz – rumo à verdadeira vida!



Com as bênçãos do Divino médico Jesus,



Deocleciano


Pereira, Wanderley. Ditado pelo Espírito Deocleciano.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Aproveitamento

"Medita estas coisas; ocupa-te
nelas para que o teu aproveitamento
seja manifesto a todos."
- Paulo. (I TIMÓTEO, 4:15.)



Geralmente, o primeiro impulso dos que ingressam na fé constitui a preocupação de transformar compulsoriamente os outros.

Semelhante propósito, às vezes, raia pela imprudência, pela obsessão. O novo crente flagela a quantos lhe ouvem os argumentos calorosos, azorragando costumes, condenando idéias alheias e violentando situações, esquecido de que a experiência da alma é laboriosa e longa e de que há muitas esferas de serviço na casa de Nosso Pai.

Aceitar a boa doutrina, decorar-lhe as fórmulas verbais e estender-lhe os preceitos são tarefas importantes, mas aproveitá-la é essencial.

Muitos companheiros apregoam ensinamentos valiosos, todavia, no fundo, estão sempre inclinados a rudes conflitos, em face da menor alfinetada no caminho da crença. Não toleram pequeninos aborrecimentos domésticos e mantêm verdadeiro jogo de máscara em todas as posições.

A palavra de Paulo, no entanto, é muito clara.

A questão fundamental é de aproveitamento.

Indubitável que a cultura doutrinária representa conquista imprescindível ao seguro ministério do bem; contudo, é imperioso reconhecer que se o coração do crente ambiciona a santificação de si mesmo, a caminho das zonas superiores da vida, é indispensável se ocupe nas coisas sagradas do espírito, não por vaidade, mas para que o seu justo aproveitamento seja manifesto a todos.



* * *


Xavier, Francisco Cândido. Da obra: Vinha de Luz. Ditado pelo Espírito Emmanuel. Lição 13. Livro eletrônico gratuito em http://www.febnet.org.br. FEB, 1996.

domingo, 6 de janeiro de 2008

A MENTE SOFREDORA

Krishnamurti

Interiormente, psicologicamente, somos em geral muito vulgares, limitados, sob o peso de nossa ilustração e saber. E temos tantos problemas — problemas de relação, problemas que surgem em nossa vida de cada dia — o que se deve fazer e o que se não deve fazer, o que se deve crer e o que se não deve crer — interminável busca de conforto, segurança e de um meio de fuga ao sofrimento — temos tantos problemas que, se os víssemos todos, em conjunto, poderíamos perder as esperanças. Assim, evidentemente, o que se torna necessário, o desejável e essencial é uma mente nova; porque, em verdade, tudo o que tocamos faz surgir um novo problema.



Assim, como dissemos na última reunião, é necessária uma mente religiosa. E, sem dúvida, a mente religiosa é aquela que se depurou de todas as crenças e de todos os dogmas; esta mente é capaz de um percebimento, uma compreensão interior que dá uma certa tranqüilidade, serenidade. E, quando a mente está interiormente tranqüila, há intenso percebimento de tudo o que se passa fora dela. Isto por que, compreendendo todos os conflitos, frustrações, perturbações, agitações e sofrimentos interiores, ela está serena e, por conseguinte, exteriormente ela se torna intensamente ativa, com todos os sentidos bem despertos, capaz, portanto, de observar sem nada desfigurar, de seguir cada fato de maneira não tendenciosa.

A mente religiosa, pois, não só é capaz de observar as coisas externas com clareza, lógica e precisão, mas também, graças ao autoconhecimento, ela se tornou interiormente tranqüila, de uma tranqüilidade que tem seu movimento próprio. E dissemos que essa mente religiosa se acha, por conseguinte, num estado de revolução constante. Não estamos interessados em nenhuma espécie de revolução parcial, nenhuma revolução comunista, socialista ou capitalista. Os capitalistas, em geral, não desejam revolução alguma, mas os outros a desejam; e a revolução deles é sempre de natureza parcial — econômica, etc. Mas a mente religiosa promove a revolução total, não só interiormente, mas também exteriormente; e, no meu sentir, só a revolução religiosa, e nenhuma outra, pode resolver os múltiplos problemas da humana existência.

E que pode fazer essa mente? Que podemos fazer, vós e eu, como dois indivíduos, neste mundo monstruoso e insano? Não sei se já pensastes nisto, alguma vez. Que pode fazer uma mente religiosa?

Já explicamos com muita clareza que a mente religiosa não é a mente cristã, hinduísta ou budista, ou pertencente a alguma seita extravagante ou sociedade com fantásticas crenças e idéias; a mente religiosa é aquela que, tendo percebido interiormente sua própria validade, a verdade de suas percepções, sem desfiguração, é capaz de resolver lógica, racional e sãmente os problemas que surgem, não permitindo que nenhum deles crie raízes. Desde que deixamos um problema lançar raízes na mente, existe conflito; e onde há conflito, está presente o “processo” de deterioração, não só exteriormente, no mundo objetivo, mas também interiormente, no mundo das idéias, dos sentimentos, das afeições.

Que pode, então, fazer a mente religiosa? Provavelmente muito pouco. Porque o mundo, a sociedade é constituída de indivíduos ambiciosos, ávidos, “aquisitivos”, facilmente influenciáveis e que desejam pertencer a alguma coisa, crer em alguma coisa, filiando-se a certas correntes de pensamento e padrões de ação. Essas pessoas não podem ser modificadas senão pela influência, a propaganda, o oferecimento de novas formas de condicionamento. Mas a mente religiosa lhes diz que se despojem, interiormente, de tudo. Porque é só em liberdade que se pode descobrir o que é verdadeiro e se existe a Verdade, Deus. A mente que crê nunca descobrirá o que é verdadeiro ou se existe Deus; só a mente livre pode descobri-lo. E para sermos livres, temos de penetrar todas as servidões que a mente a si mesma impôs. Isto é dificílimo, pois requer muita penetração, exterior e interiormente.

Quase todos, sabemo-lo, andamos às voltas com o sofrimento. Sofremos de uma ou de outra maneira, física, intelectual, ou interiormente. Somos torturados e nos torturamos a nós mesmos. Conhecemos o desespero, e a esperança, e o medo sob todos os seus aspectos; e nesse vórtice de conflito e contradições, preenchimentos e frustrações, ciúmes e ódio, debate-se a mente. Aprisionada que está, sofre, e todos sabemos que sofrimentos são estes: o sofrimento ocasionado pela morte, o sofrimento da mente insensível, o sofrimento da mente muito racional e intelectual, que conhece o desespero, porque reduziu tudo a pedaços e nada mais lhe resta. A mente sofredora faz nascer várias filosofias do desespero; busca refúgio através de numerosas vias de esperança, confiança, conforto, através do patriotismo, da política, das argumentações verbais, das opiniões. E para a mente sofredora existe sempre uma igreja, uma religião organizada pronta a acolhê-la e torná-la mais embotada ainda, com suas promessas de consolo.

Conhecemos tudo isso; e quanto mais refletimos, tanto mais intensa a mente se torna e nenhuma saída se encontra. Fisicamente, é possível fazer algo contra o sofrimento, tomar uma pílula, procurar o médico, alimentar-se melhor, mas aparentemente nenhuma saída existe senão pela fuga. Mas a fuga torna a mente muito embotada. Ela poderá ser penetrante em seus argumentos, em suas defesas; mas a mente em fuga está sempre temerosa, porque precisa proteger a coisa em que se refugiou, e, evidentemente, tudo aquilo que protegemos, que possuímos, faz nascer o medo.

E, assim, o sofrimento continua; conscientemente, talvez, possamos afastá-lo, mas interiormente ele continua existente, corrompendo, putrefazendo. Mas podemos ficar livre dele, totalmente, completamente? Esta me parece a pergunta correta que se deve fazer; porque, se perguntamos “Como ficar livre do sofrimento?”, então, o “como” cria o padrão” do que se deve fazer e do que não se deve fazer”, e isso significa seguir por uma via de fuga, em vez de enfrentar o problema, a causa-efeito do próprio sofrimento. Assim, antes de começarmos a discutir, gostaria de investigar esta questão.

O sofrimento perverte e deforma a mente. O sofrimento não é o caminho da Verdade, da Realidade, de Deus (ou como quiserdes chamá-lo). Temos tentado enobrecê-lo, dizendo-o inevitável, necessário, alegando que traz a compreensão, etc. Mas a verdade é que, quanto mais intensamente uma pessoa sofre, tanto mais ansiosa se torna de fugir, de criar uma ilusão, de encontrar uma saída. Parece-me, pois, que a mente sã, saudável, deve compreender o sofrimento e ficar completamente livre dele. E isso é possível?

Ora, como compreender por inteiro o sofrimento? Não estamos tratando de uma única qualidade de sofrimento por que acaso estejais passando ou eu esteja passando; existem, como sabeis, muitas variedades de sofrimento. Mas estamos falando sobre o penar em geral, estamos falando da totalidade da coisa; e como compreender ou sentir o todo? Espero me esteja fazendo claro. Através da parte nunca é possível sentir o todo; mas, se se compreende o todo, a parte pode então ajustar-se nele e tornar-se, assim, significativa.

Ora, como se sente o todo? Entendeis o que quero dizer? Sentir, não apenas como inglês, mas sentir a totalidade da humanidade; sentir não apenas a beleza das paisagens da Inglaterra, que são realmente belas, porém a beleza de toda a Terra; sentir o amor total — não apenas o amor por minha mulher e meus filhos, mas o sentimento total de amor; conhecer o sentimento total da beleza, não da beleza de um quadro pendente da parede, ou de um sorriso num rosto belo, ou de uma flor, de um poema, porém aquele sentimento de beleza que transcende todos os sentidos, todas as palavras, toda expressão. Como sentir assim?

Não sei se alguma vez já vos fizestes esta pergunta. Porque, vede, satisfazemo-nos tão facilmente com um quadro na parede, com nosso jardim particular, uma árvore que num campo nos atrai a atenção. E como alcançar esse sentimento da inteireza da Terra e do céu, e da beleza da humanidade? Percebeis o que quero dizer — o sentimento profundo disso?

Prosseguirei examinando este tópico, se desejais seguir-me, mas deixemo-lo de parte, por enquanto. Deixemos a questão em “fervura”, em ebulição, e entremos numa diferente ordem de considerações.

A mente que está em conflito, em batalha, em guerra, interiormente, se torna embotada; não é uma mente sensível. Ora, que é que torna a mente sensível, não apenas para uma ou outra coisa, porém sensível como um todo? Quando é ela sensível não apenas para o belo, mas também para o feio, para tudo? Só o é, por certo, quando não há conflito; isto é, quando a mente está tranqüila interiormente e, por conseguinte, é capaz de observar todas as coisas exteriores com todos os seus sentidos. Ora, que é que gera o conflito? E existe conflito não apenas na mente consciente, exterior — a mente que está sumamente cônscia de seus raciocínios, seus conhecimentos, sua proficiência técnica, etc. — mas também a mente interior, inconsciente, a qual, provavelmente se acha no “ponto de fervura” a todas as horas. Que é, pois, que cria o conflito? Por favor, não respondais, porquanto a mera análise mental ou investigação psicológica não resolve o problema. O exame verbal pode mostrar intelectualmente as causas do sofrimento, mas nós estamos falando sobre o “estar de todo livre do sofrimento”. Cabe-nos, pois, experimentar ao mesmo tempo que falamos, sem nos deixarmos ficar no nível verbal.

O que cria o conflito é, obviamente, o “puxão” em diferentes direções. O homem que se deixou comprometer completamente com alguma coisa é, em geral, insano, desequilibrado; para ele não há conflito: ele é essa coisa. O homem que crê inteiramente numa dada coisa, sem duvidar, sem interrogar, que se identificou completamente com aquilo que crê — esse homem não tem conflito nem problema. Tal é mais ou menos o estado de uma mente doente. E a maioria de nós gostaria muito de identificar-se, de “comprometer-se” com alguma coisa de tal maneira que não houvesse mais problema algum. Em geral, por não termos compreendido o processo do conflito, só desejamos evitar o conflito. Mas, como já assinalamos, o evitar só produz mais sofrimentos.

Assim, percebendo tudo isso, faço a mim mesmo e, portanto, também a vós, esta pergunta: Que cria o conflito? E conflito implica não só desejos contraditórios, vontades, temores e esperanças contraditórias, mas tudo quanto é contradição.

Ora, por que existe contradição? Espero estejais escutando, através de minhas palavras, a vossas mentes e corações. Espero vos estejais servindo de minhas palavras como um portal através do qual estais observando, escutando a vós mesmos.

Uma das causas principais do conflito é a existência de um centro, um ego, “eu”, resíduo de todas as lembranças, todas as experiências, todos os conhecimentos. E esse centro está sempre tratando de ajustar-se ao presente ou de absorvê-lo: sendo o presente o hoje, cada momento de nosso viver, que envolve sempre desafio e reação. Está sempre a traduzir tudo o que encontra nos termos daquilo que já conhece. O que ele já conhece é todo o conteúdo de milhares de dias pretéritos, e com esse resíduo procura enfrentar o presente. Por conseguinte, ele modifica o presente, e nessa própria atividade modificadora alterou o presente, criando assim o futuro. E nesse processo do passado que traduz o presente e cria o futuro, se acha aprisionado o “eu”, o ego. E nós somos isso.

Assim, a fonte do conflito é o “experimentador” e a coisa que está “experimentando”. Não é assim? Quando dizeis “amo-vos” ou “odeio-vos”, existe sempre esta separação entre vós e aquilo que amais ou odiais. Enquanto houver separação entre pensador e pensamento, experimentador e coisa experimentada, observador e coisa observada, tem de haver conflito. Divisão é contradição. Ora, pode-se anular esta divisão ou separação, de modo que sejais o que vedes, sejais o que sentis?

Importa compreender, primeiramente, que enquanto há divisão entre pensador e pensamento, tem de haver conflito, porque o pensador está sempre tentando fazer alguma coisa em relação ao pensamento, procurando alterá-lo, modificá-lo, controlá-lo, dominá-lo, tentando tornar-se bom, não ser mau, etc. Enquanto perdurar a divisão geradora de conflito, tem de haver esta agitação da existência humana, não só internamente, mas também externamente.

Ora, existe pensador separado do pensamento? Está clara esta pergunta? O pensador é uma entidade separada, algo distinto, algo permanente, separado do pensamento? Ou existe só pensamento, o qual cria o pensador, porque assim poderá dar-lhe (ao pensador) permanência? Entendeis? O pensamento é impermanente, acha-se num constante fluir, e a mente não gosta desse estado de fluidez. Deseja criar algo permanente, em que possa ficar em segurança. Mas, se não há pensamento, não há pensador, há? Não sei se já alguma vez experimentastes isto, se já seguistes esta ordem de reflexões, ou investigastes inteiramente o processo do pensar e quem é o pensador. O pensamento declarou que o pensador é supremo, que existe a alma, o “eu superior”, conferindo assim ao pensador existência permanente — mas tudo isso continua a ser resultado do pensamento.

Assim, se observamos este fato, se o percebemos realmente, vê-se então que não há centro.

Notai, por favor, que isto pode ser muito simples de declarar, verbalmente; mas penetrar o fato, vê-lo, experimentá-lo, isto é muito difícil. No meu sentir, a fonte do conflito é esta separação entre o pensador e o pensamento. Esta separação cria conflito; e a mente em conflito não pode viver, no mais elevado sentido desta palavra: não pode viver totalmente.

Não sei se já notastes alguma vez que, quando tendes um sentimento muito forte, seja do belo, seja do feio, provocado do exterior ou despertado interiormente, nesse estado imediato de intenso sentir não existe, momentaneamente, observador, nem divisão. O observador só se apresenta quando o sentimento se atenuou. Entra então em ação todo o processo da memória: Dizemos: “Devo repetir este estado” ou “devo evitá-lo” — e tem início o processo do conflito. Podemos ver a verdade aí? E que entendemos por ver? Como vedes a pessoa que está sentada aqui, neste tablado? Não a vedes apenas visualmente, mas também intelectualmente; estais vendo a pessoa com vossa memória, vossas simpatias e antipatias, vossas diferentes formas de condicionamento; e, por conseguinte, não estais vendo, não é verdade? Quando vedes alguma coisa realmente, vós a vedes sem nada daquilo (condicionamento, simpatias, antipatias, etc.) É possível olharmos para uma flor sem lhe dizermos o nome, sem “colar-lhe” uma etiqueta: olhá-la, simplesmente? E não é possível, ao ouvirdes algo grato aos ouvidos — não apenas música organizada, mas o canto de uma ave na floresta, etc. — escutá-lo com todo o vosso ser? E pode-se, pela mesma maneira, perceber realmente uma coisa? Porque, se a mente é capaz de perceber, de sentir realmente, então só há experimentar e não existe experimentador; pode-se então ver que o conflito, com todas as suas angústias, esperanças, defesas, etc., termina.

Quando se percebe a verdade integral de uma coisa; ao vermos a verdade de que o conflito só pode cessar quando não há divisão entre o observador e a coisa observada; quando se experimenta realmente este estado, sem nos socorrermos da memória nem dos dias passados, então está terminado o conflito. Então seguis fatos e não estais tolhido pela divisão que a mente faz entre o observador e o fato.
O fato é: sou estúpido, estou cansado, preso na monótona rotina da existência diária. Isto é um fato, mas não gosto dele; por isso, há divisão. Detesto o que estou fazendo, e põe-se, assim, em movimento o mecanismo do conflito, com todas as defesas e fugas e sofrimentos que ocasiona. Mas o fato é que minha vida é feia, superficial, vazia, cruel, escrava dos hábitos.

Ora, se a mente não criar esse senso de divisão e, por conseguinte, conflito, pode então seguir simplesmente o fato; seguir toda a rotina, todos os hábitos; seguir tudo, sem procurar alterar nada? Isto é percepção, no sentido em que estamos empregando a palavra. E vereis que o fato nunca é estático, nunca se acha imóvel. É uma coisa que se move, uma coisa viva; mas a mente preferiria torná-lo estático e daí é que vem o conflito. Eu vos amo, desejo apegar-me a vós, possuir-vos; mas vós sois uma coisa viva, que se modifica, com existência própria; por isso, existe conflito e todos os sofrimentos dele decorrentes. E pode a mente ver o fato e segui-lo? Isso, em verdade, significa uma mente muito ativa, muito viva, muito intensa, exteriormente, e ao mesmo tempo muito tranqüila interiormente. A mente que no interior não está de todo quieta não pode seguir um fato, pois este é muito rápido. Só a mente interiormente tranqüila é capaz desse “processo”, capaz de seguir continuamente cada fato que se apresenta, sem dizer que o fato devia ser “deste jeito” ou “daquele jeito”, sem criar separação, conflito, sofrimento: só essa mente pode cortar todas as raízes do sofrimento.

Podeis ver, então, se alcançastes este ponto — não no espaço e no tempo, mas na compreensão — que a mente entra num estado em que se vê completamente só.
Como sabeis, para a maioria de nós “estar só” é uma coisa terrível. Não me refiro aqui solidão, que é coisa diferente. Refiro-me ao “estar só”: estar só com alguém ou com o mundo: estar só com um fato. Só, no sentido de que a mente não está sujeita a influências, já não se acha presa ao passado, nem tem futuro, nem busca, nem teme: está só. O que é puro está só; a mente que está só conhece o amor, porque já não se enreda nos problemas do conflito, do sofrimento e do preenchimento. Só essa mente é uma mente nova, uma mente religiosa. E, talvez, só ela pode curar as feridas deste mundo caótico.

Krishnamurti – Do livro: O PASSO DECISIVO – Ed. Cultrix

O INCENTIVO SANTO

Aberta a sessão de fraternidade em casa de Pedro, Tadeu clamou, irritado,
contra as próprias fraquezas, asseverando perante o Mestre:
¾ Como ensinar a verdade se ainda me sinto inclinado à mentira? com que
títulos transmitir o bem, quando ainda me reconheço arraigado ao mal? Como
exaltar a espiritualidade divina, se a animalidade grita mais alto em minha
própria natureza?
O companheiro não formulava semelhantes perguntas por espírito de desespero
ou desânimo, mas sim pela enorme paixão do bem que lhe tomava o íntimo, a
observar pela inflexão de amargura com que sublinhava as palavras.
Entendendo-lhe a mágoa, Jesus falou, condescendente:
¾ Um santo aprendiz da Lei, desses que se consagram fielmente à Verdade,
chamado pelo Senhor aos trabalhos da profecia entre os homens, mantinha-se
na profissão de mercador de remédios, transportando ervas e xaropes
curativos, da cidade para os campos, utilizando-se para isso de um jumento
caprichoso e inconstante, quando, refletindo sobre os defeitos de que se via
portador, passou a entristecer-se profundamente. Concluiu que não lhe cabia
colaborar nas revelações do Céu, pelo estado de impureza íntima, e fez-se
mudo. Atendia às obrigações de protetor dos doentes, mas recusava-se a
instruir as criaturas, na Divina Palavra, não obstante as requisições do
povo que já lhe conhecia os dotes de inteligência e inspiração.
Sentindo, porém, que a Celeste Vontade o constrangia ao desempenho da tarefa
e reparando que os seus conflitos mentais se tornavam cada vez mais
esmagadores, certa noite, depois de abundantes lágrimas, suplicou
esclarecimento ao Todo-Poderoso.
Sonhou, então, que um anjo vinha encontrá-lo em suas lides de mercador.
Viu-se cavalgando o voluntarioso jumento, vergado ao peso de preciosa carga,
em verdejante caminho, quando o emissário divino o
interpelou, com bondade, em seguida às saudações habituais:
¾ Meu amigo, sabes quantos coices desferiu hoje este animal?
¾ Muitíssimos ¾ respondeu sem vacilação.
¾ Quantas vezes terá mordido os companheiros de estrebaria? ¾ prosseguiu
o enviado, sorridente ¾ quantas vezes terá insultado o asseio de tua casa
e orneado despropositadamente?
E porque o discípulo aturdido não conseguisse responder, de pronto, o anjo
considerou:
¾ Entretanto, ele é um auxiliar precioso e deve ser conservado. Transporta
medicamentos que salvam muitos enfermos, distribuindo esperança, saúde e
alegria.
E fitando os olhos lúcidos no pregador desalentado, rematou:
¾ Se este jumento, a pretexto de ser rude e imperfeito, se negasse a
cooperar contigo, que seria dos enfermos a esperarem confiantes em ti? Volta
à missão luminosa que abandonaste, e, se te não é possível, por agora,
servir a Nosso Pai Supremo na condição de um homem purificado, atende aos
teus deveres, espalhando reconforto e bom ânimo, na posição do animal
valioso e útil. Nas bênçãos do serviço. serás mais facilmente encontrado
pelos mensageiros de Deus, os quais, reconhecendo-te a boa-vontade nas
realizações do amor, se compadecerão de ti, amparando-te a natureza e
aprimorando-a, tanto quanto domesticas e valorizas o teu rústico, mas
prestimoso auxiliar!
Nesse instante, o pregador viu-se novamente no corpo, acordado, e agora
feliz em razão da resposta do Alto, que lhe reajustaria a errada conduta.
Surgindo o silêncio, o discípulo agradeceu ao Mestre com um olhar. E Jesus,
transcorridos alguns minutos de manifesta consolação no semblante de todos,
concluiu:
¾ O trabalho no bem é o incentivo santo da perfeição. Através dele, a alma
de um criminoso pode emergir para o Céu, à maneira do lírio que desabrocha
para a Luz, de raízes ainda presas no charco.
Em seguida, o Mestre pôs-se a contemplar as estrelas que faiscavam, dentro
da noite, enquanto Tadeu, comovido, se aproximava, de manso, para beijar-lhe
as mãos com doçura reverente.
(De "Jesus no Lar", de Francisco Cândido Xavier, pelo Espírito Neio Lúcio)

Perdoar aos Amigos

Afirmação aparentemente contraditória,
mas de justo sentido:”perdoar aos amigos”.
Advertência afetuosa para todos os dias.
Reflete nisso e não estragues o tempo com suscetibilidades inúteis.
Do adversário, é possível venham ofensas
que nos impõem a prática da tolerância, considerando-se

que os inimigos, em muitas ocasiões, são nossos credores, que nos ensinam
a raciocinar e a discernir.
Dos amigos, porém, temos as lições constantes da convivência,

na escola do cotidiano.
São os testes da comunhão afetiva que nos oferecem

oportunidades à conquista do entendimento e do amor.
Valoriza os companheiros que te apóiam e

não lhes desmereças a dedicação por bagatelas.
Não te queixes da omissão de teu nome na relação de

convidados para uma festa; não
exija dos teus associados de ideal considerações

pessoais claramente dispensáveis; não te melindres

com alguma frase menos feliz a teu

respeito e nem percas tempo com apontamentos

que a malícia te assopre aos ouvidos.
Honra sempre aos amigos que te incentivem
para o trabalho do bem e abençoa-lhes
a presença no caminho que a vida
te deu a percorrer.
Diz a Escritura:”aquele que encontrou

um amigo achou um tesouro” e, por isso mesmo,
entre as mutações e perturbações do mundo,
é preciso que saibamos conservá-lo.

***Emmanuel***

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

ALEGRIA

Autor Meimei / Médium Francisco Cândido Xavier

Alegria é o cântico das horas com que Deus te afaga a passagem no mundo.

Em toda parte, desabrocham flores por sorrisos da natureza e o vento penteia a cabeleira do campo com música de ninar.

A água da fonte é carinho liqüefeito no coração da terra e o próprio grão de areia, inundado de sol, é mensagem de alegria a falar-te do chão.

Não permitas, assim, que a tua dificuldade se faça tristeza entorpecente nos outros.

Ainda mesmo que tudo pareça conspirar contra a felicidade que esperas, ergue os olhos para a face risonha da vida que te rodeia e alimenta a alegria por onde passes.

Abençoa e auxilia sempre, mesmo por entre lágrimas.

A rosa oferece perfume sobre a garra do espinho e a alvorada aguarda, generosa, que a noite cesse para renovar-se diariamente, em festa de amor e luz.


Mensagem psicografada por Francisco Cândido Xavier.
Do livro “Ideal Espírita"

DEVER SIMPLES

Trabalho aparentemente simples e que o dever nos aponta como sendo dos mais importantes nas relações humanas: podar os atritos.
Notadamente no grupo de serviço, tanto os que administram quanto os que obedecem precisam daqueles que lhes assessorem as atividades na preservação da harmonia e da segurança.
E essa tarefa positivamente necessária na conservação da paz é acessível a todos. Cada obreiro, dentro dela dispensará designações de qualquer natureza para atuar. Todos somos convidados a sustentá-la e exercê-la.
+ + +
Surpreendes diminuta questão a resolver ou espinhosa providência a executar e, desde que não afetes as responsabilidades dos outros, não peças a alguém para interferir. Toma sobre ti mesmo o encargo de atender ao que deve ser feito, sem cobrar aplausos dos que te compartilhem a experiência.
Se ali ouves conversações descabidas, evidentemente destinadas a fomentar desentendimento ou perturbação, promete à própria consciência que trabalharás sem alarde para refazer a concórdia.
Diante de algum problema, não lhe dês expansão aos aspectos negativos. Perante companheiros, transitoriamente desanimados ou tocados de influência obsessiva, administra-lhes esperança e renovação sem comentários.
Não te digas incapaz de contribuir nas fileiras da caridade. A todo instante, com qualquer pessoa, em toda parte e nas mínimas circunstâncias, podes evitar a mágoa ou sustar o desequilíbrio. E basta reduzir as áreas do mal para que nos coloquemos, de imediato, sob a força do bem.

(Francisco Cândido Xavier/Batuíra. Livro: Mais Luz)

terça-feira, 1 de janeiro de 2008

CONDUTA DE MISERICÓRDIA








Este cavalheiro insolente, agressivo, que parece dominador, e que, tomando o caminho, investe contra os teus direitos, encontra-se gravemente enfermo, não tendo dimensão do mal que o consome.

Aquela dama, frívola e irreverente, que parece desejar submeter o mundo aos pés, assinalada pelo excesso de jóias e tecidos caros, tem o coração dilacerado por terríveis frustrações, que não consegue superar.

Esse jovem rebelde, que desdenha as leis a assoma na tua senda com o cinismo afivelado à face, padece conflitos íntimos que o vergastam e aos quais não pode fugir.

Estoutro senhor, de cenho carrancudo a aspecto amargo, que não logra dissimular a arrogância de que se vê objeto, tem medo de ser conhecido pelas fraquezas morais que carrega interiormente.

Esta moça, quase despida, que exibe o corpo e a alma ao comércio da luxúria, invejada por uns e por outros malsinada, viva ralada pela carência de um amor verdadeiro que a dulcifique e felicite.

O rapaz que expõe o corpo, para o jogo exaustivo dos prazeres fáceis, símbolo e modelo de beleza, vive aturdido na timidez que o neurotiza, obrigado a uma exteriorização que o aniquila a pouco e pouco.

No festival dos sorrisos humanos, no banquete dos triunfos sociais a na passarela da fama as criaturas não são o que demonstram, mas, sim, um simulacro do que não conseguem tornar-se.

É certo que há exceções, como não poderia deixar de ser, o que mais afirma a regra geral.

A pobreza andrajosa, a polidez da face de bom comportamento, a voz melíflua, suave, certamente não significam personalidades humildes e resignadas, a um passo do triunfo sobre as vicissitudes.

Muitas provêm de incontida revolta, de sentimentos desesperados, de vidas em estiolamento pela mágoa e pela rebeldia.

Por isto, não julgues ninguém pela aparência, ou melhor, não te arvores a julgamento algum com desconhecimento da causa reta.

Torna-te tolerante, embora sem conivir.

O problema de cada um, a cada qual pertence.

Sê um momento de esperança para quem te busque, ou uma oportunidade de renovação para quem te perturbe ou desafie, mantendo-te em paz contigo mesmo em qualquer situação.

Da mesma forma que o teu exterior não te reflete a realidade interna, os passantes pelo teu caminho, igualmente, vivem essa dicotomia de comportamento.

Jesus, que identificava a causa das aflições humanas e penetrava o âmago dos corações, por isto mesmo não julgava, não condenava, não desconsiderava ninguém.

Seguindo-Lhe o exemplo e exercendo misericórdia para com o teu próximo, quando, por tua vez, necessites de apoio, não te faltarão o socorro da compreensão e da amizade que alguém te dispensará.





Franco, Divaldo Pereira. Da obra: Momentos de Coragem. Ditado pelo Espírito Joanna de Angelis