segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

A DOR E SUAS BENÇÃOS

No universo o caos é a presença da vida em ebulição,
em desenvolvimento.

O repouso, se houvesse, significaria o aniquilamento
da ordem, do equilíbrio.

Tudo se agita, desde as micropartículas às galáxias
em incessante movimentação.

Sucumbe um astro pela decadência da energia e surge
outro pela aglutinação de novas moléculas.

Só há vida em toda parte e, portanto, ação.

É natural que, no ser humano, esse processo se expresse
como desgaste que produz dor.

O pântano e as águas estagnadas experimentam rigorosa
drenagem, a fim de se transformarem em jardim e pomar.

O deserto sente a modificação da sua estrutura,
mediante elementos químicos, de modo a reverdecer e
coroar-se de flores.

A semente sofre o esmagamento e arrebenta-se em vida
exuberante.

Nos animais, o parto é violência orgânica dolorosa,
que liberta a vida que conduzia encarcerada.

Compreensível, desse modo, que o desabrochar da
perfeição comece pelo despedaçar do grotesco em
predominância no ser humano.

Erros que geraram calamitosos efeitos a reparar,
desafios que promovem à conquista de mais elevados
patamares se apresentam com freqüência.

São inevitáveis as ocorrências depuradoras, os
sofrimentos de sublimação.

A dor é mensagem da vida cantando o hino de exaltação
e glória à evolução.

Recebê-la com tranqüilidade constitui admirável
realização íntima da lucidez intelecto-moral do ser
humano.

Pressões, compressões, dilacerações constituem
mecanismos da vida que se liberta do cárcere temporário
para a exuberância da plenitude.

Compreender a função da dor é atitude solidária,
caminhando-lhe ao lado, ao invés de enfrentá-la com
a extravagância da derrota.

Entendida no seu significado profundo, torna-se amena
e disciplinadora de impulsos graves quão danosos que
persistem, dominadores.

Em razão disso, a atitude passiva, o pensamento de
aceitação e entendimento contribuem para torná-la
produtiva, enriquecedora.

Diante da transitoriedade do carro orgânico a que o
Espírito se atrela, eis que o desgaste e a decomposição
fazem parte dos fatores de destruição da aparência,
para que o ser eterno singre os rios incomparáveis da
imortalidade.

Sem a histólise, que precede à histogênese demorada, a
lagarta jamais flutuaria no ar como borboleta delicada.

As condições físicas, portanto, são uma permanente
transformação e a dor representa as mãos do Divino
Escultor trabalhando em formas novas, aprimorando
arestas e corrigindo anfractuosidades...

Alegra-te, por haveres sido contemplado pela dor, por
mais paradoxal que te pareça.

Bem-aventurado aquele que sofre em paz, quando outros,
desassisados, em tranqüilidade infelicitam vidas...

Mantém-te confiante, mesmo sofrendo, e transforma as
tuas ansiedades em gratidão a Deus, por haver
estabelecido diretrizes diferentes das tuas, que te
farão realmente feliz para sempre.

Deixa-te, pois, arrastar pelas mãos do sofrimento digno,
e converterás lágrimas em sorrisos, tristezas em
júbilos, frustrações em pacificação interna, arrimado
em Jesus, que nunca te abandonará.

Dor bendita, que liberta e sublima, louvada sejas!

[Joanna de Ângelis]
[Divaldo P.Franco]
[Fonte de Luz]
[Editora LEAL]

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