sábado, 14 de junho de 2008

TRAÇO DO CIRINEU

O Senhor carregava a cruz dificilmente...

A sentença cruel, afinal, se cumpria.

Liberto Barrabás, Jesus no mesmo dia,

Era levado à morte, ante a ironia

Do fanatismo deprimente...

Brados, altercações, zombaria, algazarra...

O Excelso Benfeitor, no lenho a que se agarra,

Curva-se de fadiga, arrasta-se, tressua,

Escutando em silêncio os palavrões da rua.

O cortejo prossegue... O Cristo, passo em passo,

Por um momento só, exânime fraqueja;

Ajoelha-se e cai, vencido de cansaço.

O povo exige a marcha, excede-se, pragueja...

Nisso, um campônio vem da gleba com que lida.

É Simão de Cireneu, homem simples e forte.

Um meirinho lhe pede apoio na subida,

Deve prestar auxílio ao condenado à morte...

- "Como, senhor? não posso!... - exclama o interpelado,

- "Tenho pressa!..." No entanto, o funcionário insano

Grita-lhe em rosto: - "Cão, obedece ao chamado!..."

E mostra-lhe o rebenque a gesto desumano...

Calado, o lavrador atende e silencia,

Toma parte da cruz sobre o ombro robusto,

Fita o Mestre cansado e o suor que o cobria...

A turba escala o monte e alcança o topo a custo.

Contemplando Jesus, por fim, deposto o lenho,

Diz-lhe Simão: - "Senhor, achava-me apressado...

A filha cega e muda é o tesouro que eu tenho,

Não queria ferir-te o peito atribulado.

Perdoa, se aleguei a urgência em que me via...

É o coração de pai que falava a chorar...

Sei que estás inocente, ampara-me, alivia

A dor que me avassala e me atormenta o lar..."

Jesus endereçou-lhe um aceno de ternura,

Em meio à multidão, apupado, sozinho

E acentuou: - "Simão, guarda a fé que te apura,

Todo o bem que se faz é uma luz no caminho."

O cireneu, de volta, acha a enorme surpresa...

Fala-lhe a filha: - "oh, pai, uma luz veio a mim,

Agora vejo e falo, acabou-se a tristeza,

Tenho a impressão que a Terra é um formoso jardim!..."

Simão chora, lembrando a cruz que traz na mente

E reconhece o bem por divino troféu,

Que mesmo praticado involuntariamente

É uma força atraindo a intercessão do Céu!...

(De "A vida conta", de Francisco Cândido Xavier, pelo Espírito Maria Dolores)

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