domingo, 22 de março de 2009

Sobre o uso de sinais exteriores de culto nos grupos

Allan Kardec
Do livro "Viagem espírita em 1862".

"Muitas vezes me tem sido perguntado se é útil começar as sessões
com preces e atos exteriores de devoção. Minha resposta não é apenas
minha; é, também, a dos espíritos eminentes que trataram dessa
questão.

"É, sem dúvida, não apenas útil, mas necessário, rogar, por uma
invocação especial, por uma espécie de prece, o concurso dos bons
espíritos. Essa prática, aliás, não pode predispor senão ao
recolhimento, condição essencial de toda reunião séria. Já o mesmo
não se dá com os sinais exteriores de culto, pelos quais certos
grupos crêem dever abrir suas sessões, e que têm mais de um
inconveniente, a despeito da boa intenção com que são sugeridos.

"Tudo nas reuniões deve passar-se religiosamente, isto é, com
gravidade, respeito e recolhimento. Mas não nos devemos esquecer de
que o espiritismo se dirige a todos os cultos; que, por
conseqüência, não deve adotar as formalidades de nehhum em
particular. Seus inimigos já foram bastante hábeis, apresentando-o
como uma seita nova, a fim de terem um pretexto para o combater.
[...] O espiritismo, chamando a si os homens de todas as crenças,
para uni-los sob a bandeira da caridade e da fraternidade,
habituando-se a se olharem como irmãos, seja qual for a sua maneira
de adorar a Deus, não deve chocar as convicções de ninguém pelo
emprego de sinais exteriores de um culto qualquer. [...].

"É também a razão pela qual deve-se abster, nas reuniões, de discutir
dogmas particulares, o que, certamente, melindraria certas
consciências, ao passo que as questões de moral são de todas as
religiões e de todos os países. O espiritismo é um terreno neutro,
sobre o qual todas as opiniões religiosas podem encontrar-se e se
dar as mãos. [...].

"O emprego de sinais exteriores do culto teria o mesmo resultado: o
de uma cisão entre os adeptos. Uns acabariam por achar que não são
suficientemente empregados; outros, que o são em excesso. Para
evitar esse incoveniente, que é muito grave, convém abster-se de
toda prece litúrgica, sem excetuar a oração dominical, por mais bela
que seja. Como ninguém abjura sua religião ao participar de uma
reunião espírita, cada um, no seu íntimo e mentalmente, faça a prece
que julgar conveniente; mas que nada haja de ostensivo e, sobretudo,
nada de oficial. Dá-se o mesmo com o sinal da cruz, ao costume de
ajoelhar-se, etc. sem o que não haveria razão para se impedir que um
muçulmano espírita, integrante de um grupo espírita, se prosternasse
e recitasse em voz alta sua fórmula sacramental: 'Só há um Deus e
Maomé é o seu profeta'.

"Não existe incoveniente quando as preces feitas na intenção de
alguém são independentes de qualquer culto particular. Sendo assim,
creio supérfluo salientar o quanto haveria de ridículo em fazer-se
toda uma assistência repetir em coro uma prece ou uma fórmula
qualquer, prática vista por alguém que ma contou".

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