quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Escândalos




Raimundo de Moura Rêgo Filho



Vamos conversar, hoje, baseados no capítulo VIII da obra O Evangelho segundo o Espiritismo, notadamente nos itens de XI a XXI.

Na verdade, fico muito honrado em trazer à vocês esses itens, exatamente porque dentre o capítulo VIII, “OS QUE TÊM PURO O CORAÇÃO”, são estes os que relaciono como de grande importância nos dias de hoje.

Sim, amigos, estamos vivenciando momentos de violências em todos os setores e em toda parte do globo. Tudo isso tem uma razão de ser, e nós, juntos, vamos entendê-la.

O item XI nos trás a citação: “se alguém escandaliza a um destes pequenos que crêem em mim, melhor fora que lhe atassem ao pescoço uma dessas mós quem um asno faz girar e que o lançassem ao fundo do mar. Ai do mundo por causa do escândalo; pois é necessário que venham os escândalos, mas ai do homem por quem o escândalo venha.

Tende muito cuidado em não desprezar um destes pequenos. Declaro-vos que seus anjos, no céu, vêem incessantemente a face de meu Pai que está nos céus, porquanto o filho do Homem veio salvar o que estava perdido.”

As palavras do Rabi, encontradas em Mateus XVII vv. 6 a 11indicam várias coisas e asseveram das dores que por certo advirão àqueles que agirem no erro ou no mal.

Comentário: hoje, meus amigos, assaltos, tiroteios, administração falha e inexistente do Estado para com o povo, nos dão mostras de alguns desses escândalos. Se a violência é anotada pelos tele-jornais apenas mostrando os traficantes e os ladrões, de outro lado estão as famílias que se ressentem e vivem em medo e dor. É o pai desempregado, ou o assalariado que não ganha para honrar suas dívidas ou sustentar a prole, o filho que não tem um estudo de nível, na rede pública, ou professores interessados pacientes. A mãe teve que deixar o lar e a educação dos filhos para ajudar ao pai na tarefa do sustento familiar. Toda uma sorte de aflições ronda a atmosfera do Lar. Por que? Porque o momento que vivenciamos é de modificações, e a todas essas, compreende este tipo de acometimentos. Nosso mundo de provas e expiações está para ser guindado ao nível de mundo de regeneração, para tal, esses escândalos anotados acima acordam a espiritualidade encarnada para as modificações que ela terão que evidenciar, em suas próprias vidas. Falamos de moral, sim do altear dessa moral, o galardão que dá ao espírito a chave de entrada num mundo melhorado.

Temos todos nós, um conjunto de mazelas hauridos das múltiplas vivencias pelas quais já passamos, a serem expurgadas. Muitas dessas ainda nos são gratas e gostosas, e delas esforçamo-nos por não nos desligarmos. A Lei de Causa e Efeito, vigendo inexoravelmente, há de cobrar dos espíritos a modificação e em não a encontrando efetivada, por certo indicará novo reencarnar em dores mais profundas. Assim, urge que nos entreguemos à esse salutar trabalho de regeneração que nos colocará aptos a adentrarmos ao novo mundo, como alunos que obtiveram aprovação no período que se encerra no aprendizado espiritual.

Vejam os versículos de 29 a 30 no capítulo V, onde Mateus, novo chamamento à ordem nos remete em palavras fortes: “Se a vossa mão ou o vosso pé vos é objeto de escândalo, cortai-os e lançai-os longe de vós; Melhor será para vós estareis na vida tendo um só pé ou uma só mão, do que terdes dois e serdes levados ao fogo eterno. Se o vosso olho vos é objeto de escândalo arrancai-o e lançai-o longe de vós; melhor para vós será, que estareis na vida tendo um olho só , do que terdes os dois e serdes precipitados no fogo do inferno.”

Comentário: aqui, o apóstolo descreve com singular clareza sobre os vícios (nossas mazelas), que contraímos, pelo uso dos sentidos que detemos.

Olfato, audição, gutação, visão e fala, bênçãos de Deus, que se mal usadas, nos remetem a toda uma sorte de desregros que nos forçam à um caminhar mais lento e nos afastam do bom caminho. Cada um destes sentidos, se anexados a uma construção malévola ou viciada, ditada por nossa casa mental, arrasta-nos a momentos fortificados de dor, pranto, medo e culpa. E somos nós, somente nós, os que os procuramos, não há arrastamento irresistível, dizem-nos os bons espíritos, mas nós, espíritos imperfeitos, ainda descremos ou mesmo nos fazemos refratários à esses bons ensinamentos, mas quando a dor nos bate a porta, sofremos e choramos, a desdita de nosso “Azar”, do pouco olhar do Pai por sobre nossas cabeças... Quanta imprevidência!

Concluí-se então, que a palavra escândalo, em verdade bem traduzida é pelos tropeços a que nós mesmos estamos propensos a dar em virtude de nossa negligência para como o Orar e Vigiar. Somos nós, amigos, os eternos fomentadores de nossa alegria ou da nossa dor. Não Deus, nem Jesus, e nem mesmo os maus espíritos.

A suprema bondade e Justiça de Mais Alto nos deu a capacidade de raciocínio, a inteligência, a consciência de Deus, esculpida em nossa psique profunda e o Livre Arbítrio. Estes atributos fazem de nós espíritos completos, diferenciando-nos dos animais ditos irracionais. Eis ai que o Pai, ao exarar a Legislação Eterna, houve de colocar a Lei de Causa e Efeito, como elemento normatizador de nossas ações, não estamos obrigados a nada em virtude de nosso Livre arbítrio, mas se andamos ao arrepio da Lei, por certeza teremos de aditar à nossas vivências momentos de reparação, mais das vezes em dor profunda. Este o nosso caminho nos mundos de provas e Expiações: Errarmos o menos possível, avançarmos o mais que possamos pelo trabalho no Bem, esta a nossa Missão.

Outro ponto de muito valor, de importância capital, está em o tratamento, educação, valor tempo que damos aos nossos miúdos, sim aos nossos filhos... Quando Jesus disse: “Deixai virem a mim as criancinhas”, por certo não falou senão para todas as crianças, todo o contingente de espíritos encarnados na terra, não excetuou nenhuma idade, da mais tenra a mais adulta. Falou também, dirigindo-se às crianças do intelecto, todas essas almas que gravitam nessa região onde a dor e o sofrer imperam. Se pouco Ele podia ensinar às crianças físicas presas tão somente à matéria, submetidas ao império dos sentidos e ainda desprovidas da razão madura. Deixou que o exemplo que dignifica a familiaridade que todos mantemos com ele e o Pai, exortou-nos ao trabalho incessante e abnegado no Bem, na ajuda ao próximo no amor em seu mais alto grau.

Lembro aqui o segundo mandamento, este do qual falamos apenas a primeira parte: “Amarás a teu próximo como se fosse a ti mesmo...”, em realidade faltamos com a parte mais importante e asseverada na mesma narrativa do Bom Mestre: “(...)Estão nesse mandamento, todas as doutrinas e todos os profetas.”

Ao explicar-nos tão sabiamente, Yoshua Bem Yussef ( verdadeiro nome de Jesus), deu-nos a exata proporção da dor conferida a quem por negligência, omissão, ou descuido, para não dizer maldade, descura de tal mandamento.

Mas voltamos às nossas crianças: São elas o objeto de nossas responsabilidades paternas, espíritos que por laços contraídos para conosco, no amor ou na reparação, chegam-nos aos portais familiares para o processo de refazimento, se descuramos para com eles, descuramos para com nossa própria ascensão espiritual.

Amigos, todo o capítulo VIII do Evangelho Segundo o Espiritismo, nos fala de Fé, de trabalho, de resignação, tolerância e paciência, tais virtudes, fazem o matiz de nossa evolução, assim, espíritos em adiantamento nesse orbe, estamos todos nós atrelados à mesma escola e classe, cada um a seu modo e vontade, há de conseguir gerir sua vivência de modo a poder se fazer apto ao ingresso em mundo de regeneração.

Quando estudamos a mensagem contida nos itens de 20 a 21, assinada pelo Cura D`Ars, Vianney, verificamos o quanto esquecidos estamos desses ensinamentos tão importantes para o nosso burilamento espiritual e conseqüente melhoria. A mensagem nos exorta ao perdão e à resignação, avisando-nos benevolamente.

Sim, posto que se o mal que nos aflige faz com que sejamos motivos de escândalos, compete-nos tal modificação, demonstrando que somos nós que nos salvamos a nos mesmos. Mais ainda, que somos nós, aquele a quem não conseguimos enganar, que nos vai julgar. Notem que o mal reside em nossa casa mental, então se são os nossos olhos os motivos do escândalo de que nos serviria arrancá-los se não nos propuséssemos, conscientemente a envidarmos todo o esforço para que nos modificássemos?

Essa explicação demonstra a alegoria da mensagem de Mateus, posto que naquele tempo, O homem detinha pouco conhecimento não tendo assim a compreensão que hoje temos.

Como disse no início de nosso papo, os tempos são os da retificação da Moral, os rebuliços, a onda de violência, os demais escândalos, são os chamamentos à reconstrução moral da Humanidade, trabalho sem o qual, pouco o nada andaríamos, relegando nossa elevação à tempos no depois dos tempos.

Amigos, se de nosso íntimo não houver a propositura grave e séria em nossa modificação, ao efetivarmos o arrancar dos olhos, apenas ficaríamos cegos, nada de melhor acontecendo para com o nosso de ascensão espiritual, o arrancar o olho ou o pé sugerido, é verificado no expurgar de nossos maus instintos, chagar morais tais como a vaidade, o orgulho, a prepotência, a cupidez, irmãos diletos, filhos da Dor e do Egoísmo.

A Fé inabalável, aquela obtida pelo raciocínio lógico, nos é o elmo, a couraça, o escudo que nos há de defender das estocadas do mal. Mas nos é necessário também a ação no bem, o exercício da Humildade e do amor ao próximo, salvos-condutos à regeneração do espírito.

Terminando, gostaria de como um alerta, deixar vívida nas mentes de vocês a exortação basilar do Mestre:

“Sejais Frios ou Quentes, pois os mornos, Eu os vomitarei de minha boca.”

O porque dessa exortação nos remete ao raciocínio de que devamos estar a trabalho, sempre, e incessantemente, na reconstrução de nosso espírito.

O Estar morno de que nos fala Jesus, é a INAÇÃO, a falta de VONTADE, o descaso de muitos de nós, que relegam sua evolução espiritual aos andrajos dos esmoleres morais.

Para depois, sofrermos em dor e remorso.
Muita paz,

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