Palavras como LÚCIFER, SATANÁS, DIABO, DEMÔNIO, SATÃ, etc, só de ouvi-las, muitos se arrepiarão e se borrarão de medo, (TANTO QUE POUCOS LERÃO ESTA MATÉRIA!)
Palavras que são imprescindíveis em qualquer culto evangélico que se preze.
E o que estará por trás delas, destas figuras horrendas que fazem a maioria dos crentes se borrarem de medo? Elas, de fato, existem? Antes, porém, de responder a isso, um pouco de história:
AS ORÍGENS
A partir do séc. IV, quando o Cristianismo torna-se a religião oficial do Império Romano, a religião cristã se propaga com uma velocidade extrema. Muitos santuários e templos pagãos são destruídos, e em seus lugares são construídos igrejas cristãs, como tentativas de substituir a velha fé pela a nova. (Como evidência disso, podemos citar que o Cristianismo, não apenas, se apropriou do dia 25 de Dezembro, tido arbitrariamente como o dia do nascimento de Cristo, data também do SOLSTÍCIO DE INVERNO, a noite mais longa do ano (dia que era calculado através da lua e das estrelas), que então era a data mais sagrada para a religião mitraica, sendo o MITRAISMO a maior religião concorrente do Cristianismo, naquela época, como também uma das datas principais do paganismo. Assim como também se apoderou do lugar do maior templo mitraico, que ficava na colina vaticano, onde hoje fica a maior igreja cristã, a basílica do Vaticano). Contudo, mesmo com todo o poder da igreja, muitas divindades pagãs ainda eram reconhecidas, e cultuadas, em muitos lugares.
Tem inicio, então, uma nova estratégia da igreja: a transformação de deuses de outras religiões em demônios, seres destituídos de qualquer valor positivo. Deturpando, deste modo, o verdadeiro sentido que tais seres teriam para tais povos. E, assim, mantendo os fiéis longe de cultos pagãos. Culminando com a SANTA" INQUISIÇÃO, em que eram mortos, na fogueira, indivíduos simpatizantes de outros credos religiosos. (Ver o artigo: Inquisição: Tortura e Dor em nome de Deus).
Na verdade tal estratégia não era nem um pouco nova, pois, na antiguidade, quando um povo entrava em guerra com outro povo, não apenas os membros destes povos eram tidos como inimigos, assim como seus deuses eram tidos como adversários. O que seria de esperar, já que se um deus é tido como benéfico para determinado povo, o mesmo deus passaria a ser maléfico para o povo adversário. E, por conseguinte, seria natural que um povo adversário deturpasse os deuses adversários. O que se pode ver, de modo claro, nos termos SATANÁS e SATÃ:
termos oriundos do hebreu SHAITAN, que em hebreu significa adversário. Era usado para denominar rivais. Portanto, qualquer adversário era denominado de Shaitan, ou melhor, na linguagem de hoje, Satanás ou Satã, mesmo para deuses de povos inimigos.
A IMAGEM DO DIABO
DIABO – Termo oriundo da palavra grega diabolos. Segundo Marcelo Del Debbio, seu verdadeiro significado seria "aquilo que nos separa".
Como já foi dito, a igreja Cristã, durante sua tentativa de arrecadar novos fiéis e destruir religiões inimigas, - ato tão comum naquela época, e uma das formas de intimidar o culto de outros deuses -, distorceu, não apenas o significado de tais deuses, como suas imagens e qualidades, associando-os a figuras de seres horrendos e maléficos. Deste modo, o que era tido como símbolos sagrados e benéficos para outros povos passaram a ser vistos como símbolos maléficos para a cultura cristã, associados à imagem do Diabo.
E embora na Bíblia apareça uma figura denominada com tal nome, notamos que tal figura não aparece, de modo algum, com características, tidas hoje, como pertencente à sua malévola natureza, como os famosos chifres, tridente e as pernas de bode. Como em Ezequiel 28: 12 a 19, em que supostamente uma estranha figura é interpretada como o tal, e que geralmente é associado à origem do Diabo (embora alguns interprete-a de forma METAFÓRICA):
Filho do homem, levanta uma lamentação sobre o rei de Tiro, e dize-lhe: Assim diz o Senhor DEUS: Tu eras o selo da medida, cheio de sabedoria e perfeito em formosura.
Estiveste no Éden, jardim de Deus; de toda a pedra preciosa era a tua cobertura: sardônica, topázio, diamante, turquesa, ônix, jaspe, safira, carbúnculo, esmeralda e ouro; em ti se faziam os teus tambores e os teus pífaros; no dia em que foste criado foram preparados.
Tu eras o querubim, ungido para cobrir, e te estabeleci; no monte santo de Deus estavas, no meio das pedras afogueadas andavas. Perfeito eras nos teus caminhos, desde o dia em que foste criado, até que se achou iniqüidade em ti.
Na multiplicação do teu comércio encheram o teu interior de violência, e pecaste; por isso te lancei, profanado, do monte de Deus, e te fiz perecer, ó querubim cobridor, do meio das pedras afogueadas.
Elevou-se o teu coração por causa da tua formosura, corrompeste a tua sabedoria por causa do teu resplendor; por terra te lancei, diante dos reis te pus, para que olhem para ti.
Pela multidão das tuas iniqüidades, pela injustiça do teu comércio profanaste os teus santuários; eu, pois, fiz sair do meio de ti um fogo, que te consumiu e te tornei em cinza sobre a terra, aos olhos de todos os que te vêem. Todos os que te conhecem entre os povos estão espantados de ti; em grande espanto te tornaste, e nunca mais subsistirá.
Portanto, NADA há de chifres, tridente e, muito menos, pernas de bode.
A imagem do Diabo como um ser possuidor de chifres, tridente e pernas de bode, é uma imagem, portanto EXTRA BÍBLIA, criada para associar um conjunto de atributos que para outros povos eram sagrados e benéficos, pertencentes à natureza de seus deuses, à imagem de algo ruim.
Senão, vejamos:
CHIFRES
Os chifres em muitas culturas antigas eram sinais de algo divino, e em muitos casos o número de chifres representava o poder e a importância de cada deus. Acreditava-se também que os chifres recebessem poderes divinos, para quem os usasse. Por isso, em muitos povos era honroso o uso, não apenas por reis, como por guerreiros destes mesmos povos. E, assim, vários personagens foram retratados com chifres, como Alexandre, o grande e Moisés.
Detalhe da Estátua de Moisés com Chifres, Feita por Michelangelo
Foi com o cristianismo que tal uso tornou-se um símbolo maléfico, bem como desonroso. Mais tarde, "LEVAR CHIFRE" tornou-se ofensivo. Mas isso deveu-se primeiro aos romanos. Pois, durante as guerras, as rainhas celtas, durante a ausência dos reis, mantinham haréns, com homens incumbidos de substituí-lo. Para os romanos, como posteriormente para os católicos, isto era um ato desonroso e absurdo. O que logo foi associado ao uso dos chifres.
Dando origem a tal expressão tão usada em países latinos, como o nosso.
Outra forma que demonstra, inequivocamente, a idéia dos chifres como um símbolo divino é a cornucópia. Este símbolo é representado por um chifre, de onde brotaria alimentos em abundância, aplacando a fome de todos.
TRIDENTE
O tridente para muitas culturas era (e ainda o é) um instrumento sagrado e extremamente poderoso. "O tridente mais antigo que se tem registro
é o Trishula, a arma principal de Shiva [um dos deuses da religião hindu, responsável pela destruição dos defeitos da alma, que entravam nossa evolução espiritual], retratado aproximadamente 6.000 anos atrás. É com essa arma que ele destrói a ignorância nos seres humanos. Suas três pontas representam as três qualidades da matéria: tamas (a inércia), rajas (o movimento) e sattva (o equilíbrio)."2
"Portanto, para os indianos e durante mais de 4.500 anos, o tridente foi o símbolo de sabedoria; uma arma sagrada que todos nós devemos sempre lembrar de carregar conosco."3 Mas que, mais uma vez, foi tomado pelo cristianismo como um símbolo diabólico. E no IMAGINÁRIO popular cristão, tornou-se uma espécie de espeto diabólico, com o qual o Diabo espetaria as almas condenadas ao inferno.
PERNAS DE BODE
Muitas divindades pagãs possuíam pernas de bode, como os deuses romanos Sylvanus e Faunus, ou o deus celta Cernunnos, bem como o antigo deus grego Pan. Além de possuírem suas pernas em formato de pernas de bode, estes antigos deuses também possuíam chifres.
O deus Pan, assim como os deuses acima, era o deus da fertilidade, dos instintos, das paixões, do sexo, tido como um benéfico atributo dos deuses. Suas pernas de bode simbolizavam a sexualidade e a fertilidade, umas das características atribuídas ao bode.
O deus Grego Pan
BAPHOMET
Uma das imagens bastante divulgadas do Diabo, principalmente entre músicos de Rock, é o Baphomet.
Esta mistura de bode, homem e ave, na verdade nunca foi cultuada verdadeiramente, surgiu de uma lenda medieval ligada aos Templários, que por questões de interesses políticos e financeiros, foram dizimados sob a calúnia, nunca comprovada, de homossexualismo, baseada no símbolo da ordem, que trazia dois cavaleiros montando o mesmo cavalo, bem como na idéia herética, também nunca comprovada, de que estes soldados cristãos, que em vez de cultuarem Cristo, cultuavam outro ser, um ser demoníaco. Tal figura nunca foi bem definida pelo tribunal da Inquisição, sendo apenas vagamente descrita como uma espécie de "cabeça barbuda". Mais tarde esta figura tomou forma através das mãos do ocultista francês Eliphas Levi (1810 – 1875), que tentou decifrá-lo em seu livro Dogma e Ritual da Alta Magia de 1855.
Portanto, é quase certo que o famoso Baphomet não passou de uma invenção, com intuito de desmoralizar, e assim, desapropriar os Templários de suas riquezas, feita por alguns reis europeus.
LÚCIFER
A palavra Lúcifer tem origem do latim, LUCIS = LUZ; FERRE = CARREGAR. Portanto, Lúcifer significa: "o que trás a luz". Era um nome dado, na antiguidade, para o planeta Vênus. Vênus, devido sua proximidade ao sol, aparece antes do amanhecer e do anoitecer. Isto, para os antigos, era como se Vênus puxasse o astro rei de seu sono para criar as manhãs. E no entardecer o empurrasse de volta, para as regiões obscuras, abissais. Daí, portanto, dando origem ao seu nome, Lúcifer, "o que trás a luz". Vênus também é conhecido, pelo mesmo motivo, como a "estrela d'alva", "estrela da manhã" e "estrela vespertina".
Em nenhum momento na Bíblia seu nome aparece como sinônimo para Demônio. Tal associação surge, posteriormente, devido a uma má interpretação de uma passagem bíblica do Velho Testamento, cujo o profeta Isaías, assim nos relat a:
"Como caíste do céu, ó Lúcifer, filho
da manhã", ou mais precisamente:
Como caíste do céu,
Ó ESTRELA D'ALVA [LÚCIFER], filho da manhã!
Como foste atirado à terra,
vencedor das nações!
E, no entanto, dizias no teu coração:
'hei de subir até o céu,
acima das estrelas de Deus colocarei o meu trono,
estabelecer-me-ei na montanha da assembléia,
nos confins do norte.
Subirei acima das nuvens, tornar-me-ei semelhante ao
Altíssimo.'
E, contudo foste precipitado ao Xeol,
nas profundezas do abismo.
Os que te vêem fitam os olhos em ti,
e te observam com toda atenção, perguntando:
"Porventura é este o homem que fazia tremer a terra,
que abalava reinos?"
(Isaías 14, 12 – 15)
O que o profeta nos relata não é a queda de um anjo demoníaco, mas a morte do rei da Babilônia, Nabucodonosor, identificado metaforicamente à Lúcifer (o planeta Vênus), pelo pecado da luxúria que era, então, associado a Vênus. Posteriormente esta passagem será associada à origem do Diabo.
Isto é tão verdadeiro, que as próprias palavras de Jesus comprovam que tal nome, não poderia ser associado a algo mal:
"Eu, Jesus, ... Eu sou a raiz e o descendente de Davi, sou a estrela radiosa da manhã."
(Apocalipse 22:16).
Portanto, JESUS É LÚCIFER, isso mesmo, para seu espanto, pois, Jesus, tal qual a estrela da manhã (Lúcifer), é aquele que trás a luz, o iluminado. Por isso, um dos primeiros Papas foi chamado de Lúcifer. Houve também um bispo da Sicília, de 370 a 371, chamado Lúcifer de Cagliari, que é um Santo cristão conhecido. O que reforça, ainda mais, tais idéias.
LÚCIFER E A QUEDA DOS ANJOS
Tal erro surge da tentativa de substituir uma velha tradição então, aceita correntemente, da "queda dos anjos", encontrada nos chamados Livros de Enoque. Um livro apócrifo, não pertencente ao conjunto dos livros bíblicos, mas que possuía enorme influência. E na tentativa de substituí-la, com influências cristãs, alguns autores tomaram a infeliz decisão de transformar a palavra Lúcifer como título de Demônio. Para tanto, como já foi dito, interpretaram de modo errôneo uma passagem do Livro de Isaías "no qual [o Deus] Yaveh protege seu povo destruindo o orgulho de seu inimigo".
Deste modo, interpretaram Lúcifer como sendo o nome de Satanás antes de sua queda do Paraíso. (Lembrem-se que a palavra Satanás (Shaitans), como já foi visto, possuía o significado de adversário, ou inimigo).
O DEMÔNIO
A idéia de um deus, ou de um semi-deus, que trás a luz para os homens, não era um tema novo, mesmo naquele tempo. Muito antes já havia o mito grego de Prometeu, o deus grego que rouba o fogo dos deuses para prover os homens com esse elemento divino, anteriormente inexistente entre os homens. E mesmo entre essa espécie grega de Lúcifer, nada havia de Demoníaco.
Aliás, o termo Demônio possui origem grega, de Daemon, palavra que em sua origem, significava uma espécie de anjo protetor, ou uma intuição interior benéfica, à nos dirigir nos bons atos. Deste modo, Sócrates, o filósofo grego, que foi considerado o homem mais justo que, então, o mundo tinha conhecido, bem como o homem mais sábio, pelo oráculo de Delphos, se dizia inspirado em suas boas ações por um Daemon. Posteriormente tal palavra originaria a palavra Demônio, já obedecendo às interpretações cristãs, no sentido de espírito maligno.
O NÚMERO 666 E O ANTICRISTO
Interpretações que se arrastaram acumulando erro após erro, continuando, assim, distorcendo elementos sagrados de outras culturas. Um desses símbolos é o sagrado número 666, que passou a ser associado a algo demoníaco, e à um eventual apocalipse (fim do mundo).
E assim como a palavra apocalipse não tem nada haver com o fim do mundo, já que esta provém do grego, significando revelação, (apesar de muitos, ainda hoje, estejam esperando um "apocalipse do mundo") associaram o 666 a um ser demoníaco, embora este número nada tenha haver com isto. Tanto que ele já aparece com seu verdadeiro sentido em outras partes da bíblia, embora muita gente desconheça isto, e sempre lhe associe seu sentido distorcido, assim como o associe unicamente ao Livro Apocalipse. Como podemos ver no encontro entre o rei Salomão e a rainha de Sabat, onde o número 666 aparece pela primeira vez 4:
"Ora, o peso do ouro que se trazia a Salomão cada ano era de SEISCENTOS E SESSENTA E SEIS talentos de ouro". 1 Reis 10 – 14. Nesta frase, a associação entre o número 666 ao elemento ouro, não é à-toa. O ouro, por sua cor e seu brilho, sempre foi associado ao sol.
Aqui, começa a ser desvendado o verdadeiro significado do número 666.
Na Kabbalah, que é uma antiqüíssima forma de conhecimento judaico, e rica de simbolismos, todos os corpos celestes, possuem um elemento chamado "quadrado mágico"5. associado a eles, divididos em tantos quadrados internos de acordo com a propriedade de cada elemento representado. Deste modo, Saturno é representado por um quadrado dividido em 3x3, quadrados internos, Júpiter em 4x4, Marte 5x5, e assim por diante.
Estes quadrados possuem números, inscritos nos quadrados internos, que vão do número 1 ao número que corresponde ao número total de quadrados internos.
Todos os quadrados mágicos possuem seus números ordenados, de tal modo, que todas as somas dos números em colunas, linhas e, mesmo, em diagonais centrais, teriam o mesmo resultado. Além disso, cada corpo celeste teria um número sagrado, relacionado com tais quadrados. Estes números seria o resultado da soma de todos os números pertencentes aos seus respectivos quadrados mágicos. Assim, por exemplo, saturno seria representado pelo quadrado mágico:
Note que a soma dos três números, tomados tanto em horizontal quanto vertical, ou mesmo em suas diagonais, sempre é igual a 15. Sendo o número sagrado de Saturno o número 45, isto é, 1+2+3+4+5+6+7+8+9 = 45. O sol seria representado pelo quadrado mágico:
Note, também, que as mesmas propriedades podem ser conseguidas com o quadrado mágico do sol. E se você somar todos os números contidos em seu quadrado mágico obterá seu número sagrado, isto é, 1+2+3+... 34+35+36 será o famoso, e "terrível", número 666. Portanto,
O NÚMERO 666, TAL QUAL O OURO, REPRESENTARIA O SOL.
Tem sido assim, a milhares de anos anterior ao Livro do apocalipse ter sido escrito. Com o número 666 representando um elemento sagrado para a antiqüíssima cultura judaica, Kabbalah.
E não um ser demoníaco.
O sol para esta cultura representaria a iluminação e todos os seres iluminados, o mais alto grau de consciência e sabedoria que um ser poderia alcançar. Portanto, não seria à-toa sua associação com um dos símbolos máximos de sabedoria da bíblia, o rei Salomão.
Como bem diz6, Marcelo Del Debbio,"Não há NENHUM registro deste número como sendo adorado ou utilizado pelos pagões, hereges, bruxas ou feiticeiros queimados pela Inquisição.
Nem mesmo as mentiras forjadas pela Igreja contra os Templários continham qualquer alusão a este número." "Sei que a lavagem cerebral da mídia faz com que vocês acreditem que o número 666 foi associado ao diabo e ao fim do mundo desde sempre, mas é muito importante lembrar que, antes de Gutemberg, em 1456, simplesmente não existiam exemplares da bíblia que não fossem copiados à mão por monges e mantidos trancados à sete chaves dentro das Ordens Iniciáticas e da Igreja (assistam ao filme 'O Nome da Rosa'), ou seja, NADA de conhecimento deste número por parte da população."
"MESMO depois de Gutemberg, a bíblia ainda era um item extremamente raro e caro de se obter. [...]. Ao contrário do imaginário popular, o povão só tomou realmente conhecimento do conteúdo da bíblia depois da metade do século XIX. Bíblias dentro de casa só se tornam uma realidade depois da metade do século XX." Contudo, embora o "povão" não tivesse conhecimento direto do conteúdo da Bíblia, havia toda uma tradição religiosa paralela a tais textos, como as ligadas aos livros de Enoque, como já foi visto, sobre a queda dos anjos, e embora alguns autores a tivesse substituído por uma versão cristã, a antiga, ainda, resistia ao lado da nova. E como era de se esperar, não demorou para que as duas se misturassem.
Assim, "relações sexuais de anjos com humanos saíram de um passado longínquo de Enoque e passaram para o 'tempo presente'. Falava-se de Íncubus e Súccubos [forma de demônios que supostamente manteriam relações sexuais, respectivamente, com mulheres e homens, encanto dormiam]. Então, como o novo objetivo do lado negro seria tomar o trono de Deus, nada mais prático do que criar um novo messias. Assim, já nos primeiros tempos da cristandade, a profetiza Sibila Tiburtina previa a chegada do Anticristo– que seria de origem Judia. Entretanto, Santa Hildegarda (1098 – 1179) foi a primeira a dizer que ele seria filho de 'um demônio disfarçado de anjo de luz'."7 Assim dizia ela:
"O filho de perdição que reinará pouco tempo, virá ao anoitecer da duração do mundo, no tempo correspondente a esse momento em que o sol desapareceu já no horizonte, isto é, que virá nos últimos dias. Armai-vos com tempo, e preparai-vos para o mais terrível de todos os combates.
Após haver passado uma juventude libertina no meio de homens muito perversos e num deserto onde haverá sido conduzida por um demônio disfarçado de anjo de luz, a mãe do filho de perdição o conceberá e o aluminará sem conhecer seu pai. O filho de perdição é essa besta muito malvada, que fará morrer os que recusam crer nele..."8 E esta tradição, EXTRA BÍBLIA, mantém-se até nossos dias, distorcendo, não apenas, outras religiões, como os próprios textos bíblicos.
UM EXEMPLO: A BESTA E O LIVRO DO APOCALIPSE
É preciso lembrar que, diferentemente de hoje, o ato de escrever e ler, não era tão acessivo quanto hoje, muito pelo contrário, a escrita e a leitura eram privilégios de poucos. O conhecimento pertencia a uma pequena camada religiosa. Por isso, os escribas, eram pessoas que dominavam profundamente o conhecimento religioso de sua época. E os autores bíblicos não fogem disso. E como era de se esperar, o autor do Livro do Apocalipse não é exceção à regra. Ele dominava profundamente o conhecimento judeu da Kabbalah, e, por conseguinte, jamais daria um sentido maléfico a tal número. Por isso, tal escrito é rico em simbolismos, e quando não interpretado desta forma torna-se de difícil entendimento, ou sem sentido, ou, ainda, pior, com um sentido distorcido. Por isso, Del Debbio nos faz ver que, "com um conhecimento básico de Kabbalah, ao examinarmos a primeira frase do Livro das revelações, temos9:
'Aqui há sabedoria. Aquele que tem entendimento, calcule o número da besta; porque é o número de um homem, e o seu número é seiscentos e sessenta e seis' Sabedoria e Entendimento são as duas esferas mais altas da Kabbalah, Hochma e Binah. A Besta é Chayah [...], o Abismo que separa o mundo divino do mundo das ilusões em que vivemos.
O Chayah é um nível especial de iniciação dentro do Chayoth HaKodesh, que vai representar a escolha final de um Magister Templi quando ele chega a iluminação. Portanto é um número humano e ao mesmo tempo divino. O número do Sol.
As conexões entre Tiferet [o sol] e Binah/Hochma representam os dois vértices do "continuum", ou seja, o começo e o fim, o alfa e o ômega.
666 representa a pessoa capaz de manipular as emanações divinas e ainda assim permanecer humano encarnado."
666 OU 616?
Contudo, é bem possível que o número 666 seja fruto de interpolação, já que O Codex Ephraemi Rescriptus, um manuscrito do Séc. V, que comporta quase todo o Novo Testamento, o qual "trata-se de um palimpsesto, ou seja, um pergaminho que foi raspado para apagar-se o conteúdo original e possibilitar ser novamente escrito", concebe o número da Besta como sendo 616, bem como um pequeno fragmento antigoencontrado do Livro do Apocalipse. Não havendo, portanto, unanimidade quanto a tal número, sendo, bem possível, ser o número 666 o resultado de adulteração de traduções. O que explicaria, por sua vez, toda a confusão com o sentido benéfico de tal número. Pois, é sabido que, naquele tempo, o ato de escrever em cifra ou em código, era bastante comum, consistindo, simplesmente, em atribuir valores numéricos às letras. O que era facilitado pelo fato das línguas, latim, hebreu e grego, usarem letras como símbolos de números. E, assim, podia-se conceber palavras como números e vice-versa. Deste modo, para alguns, por exemplo, o nome Cristo podia ser interpretado como 888. Todavia, uma mesma palavra, dependendo do idioma adotado, podia ter valores numéricos diversos. Assim sendo, para Orígenes, Cristo era representado pelo número 318. Tornando clara a CONFUSÃO que daí poderia provir, já que muitas línguas possuíam alfabetos diferentes. Tanto que do próprio nome de Jesus de Nazaré em hebraico (YRSN VSY), transpondo para números, pode-se obter 666.
IDENTIFICANDO A BESTA
Todavia, não faltaram aqueles que usando do mesmo procedimento, tentaram identificar a Besta. E assim, por exemplo, incentivados por coincidências numéricas, viram no Papa a imagem da própria."Coincidências" como as que se obtém ao interpretar os títulos papais como somas de números romanos. Assim, os títulos "VICARIVS GENERALIS DEI IN TERRIS" (significando "Vigário-geral de Deus na Terra"), "VICARIVS FILII DEI" (Vigário do Filho de Deus") e"DVXCLERI" ("Príncipe do Clero"), possuem todos o resultado 666. Por exemplo:
VICARIVS [(V=5)+(I=1)+(C=100)+(I=1)+(V=5) igual 112]
GENERALIS [(L=50)+(I=1) igual 51]
DEI [(D=500)+(I=1) igual 501]
IN [(I=1) igual 1]
TERRIS [(I=1) igual 1]
Total: 112+51+501+1+1=666
E as coincidências não pararam por aí, invadiram nosso século usufruindo cada vez mais dos modernos meios de comunicação. "Muitas coisas já foram identificadas com o famigerado 666. [...]. Também encontraram o número na frase 'Viva, Viva, Viva a Sociedade Alternativa', da música do ex-roqueiro Raul Seixas, onde transformaram a sílaba VI em algarismo romano VI = 6. Então o VIva VIva VIva, virou 6 6 6. 'Marquei um X, um X, um X no seu coração' da cantora Xuxa também se enquadraria na famosa continha. Segundo dizem a letra X pronunciada em português seria XIS, lendo de trás para frente vira SIX que em inglês é 6. Então SIX, SIX, SIX = 666."10 Assim, como muitas personalidades, como a do Papa João Paulo Segundo, que escrito na forma Ioannes Pavlvs Secvndo, interpretado como soma de algarismos romanos, teríamos 666.
E a PARANÓIA continua cada vez mais intensa, identificando no moderno código de barras, que teria em suas extremidades e no meio o número 666, tendo na figura de Bill Gates, uma das mais recentes identificações.
A paranóia é tanta que chega, mesmo, às raias do crime: em 2008 a polícia russa da cidade de Yaroslavl prendeu oito jovens acusados de matar e devorar quatro jovens. As vítimas além de terem sido esquartejadas foram apunhaladas 666 vezes, cada uma.
A DEFINITIVA ASSOCIAÇÃO ENTRE 666 E O DIABO11
Houve, porém, aqueles que se aproveitaram da situação, como o ocultista inglês Aleister Crowley (1875 – 1947), que, aproveitando-se da liberdade de nosso tempo (antes seria certamente preso ou morto, pelos fanáticos religiosos), por volta de 1904, se auto-intitulou, com um título em grego, To Mega Therion, ou a Grande Besta (666).
Certamente para Crowley, conhecedor como era da cultura esotérica, tal título não tinha nada de demoníaco, embora fosse extremamente provocativo. E ao ficar conhecido como grande divulgador da cultura esotérica, a igreja não demorou a demonizá-lo, associando-o, de modo pejorativo, ao Diabo, e, por extensão, explorando a associação entre o número 666, a magia e o anticristo. Tornando, daí adiante, tal associação, extremamente popular, divulgada, hoje, em música, livros e filmes.
À Esquerda o Disco da Banda Iron Maiden: The Number of The Beast (O Número da Besta). Tendo ao Lado o Filme 666 - O Filho do Mal, Acompanhado do Livro 666 - O Limiar do Inferno de Jay Anson
CONCLUSÃO:
Devemos sempre nos lembrar que não apenas nossos atos possuem conseqüências, como também nosso modo de pensar. E que um pensamento calgado no medo e na ignorância não pode nos dar bons frutos. E que o pior medo, é aquele que surge da ignorância, pois ignorando suas origens, não podemos dominá-lo, porém ele nos domina. Por isso, desde muito cedo, é sabido:
O MELHOR MEIO DE DOMINAR ALGUÉM É LHE INCUTINDO MEDO.
Idéia que sempre foi usada na humanidade e que, em nós, é incutida desde que somos criancinhas, como forma infeliz de nos "acalmar" os ânimos, nos impondo medo de um bicho-papão, ou de algo parecido. E poucas são as fontes tão prodigiosas em medo quanto as religiões.
Assim, Lúcifer, Satanás, Diabo e etc, surgem como deturpações criadas de deuses, ou símbolos, pagãos, feitas pela igreja cristã. E o que são tais figuras, além de uma espécie de bicho-papão que assombrariam nossas mentes, mantendo-nos cativos de nossa própria ignorância? E, assim, provendo de um gordo dízimo àqueles interessados em mantê-las, mantendo, deste modo, o medo.
FONTES:
1. O Diabo não é tão Feio Quanto se Pinta – I / Marcelo Del Debbio. Ver em:
(http://www.sedentario.org/colunas/teoria-da-conspiracao/o-diabo-nao-e-tao-feio-quantose- pinta-i-5334)
2. Baseado em: Belzebu, Satanás e Lúcifer – Parte II / Marcelo Del Debbio. Ver em:
(http://www.sedentario.org/colunas/teoria-da-conspiracao/belzebu-satanas-e-lucifer-parteii- 5489)
3. Idem
4. Citado em: 666, The Number of The Beast / Marcelo Del Debbio. Ver em:
(http://www.sedentario.org/colunas/teoria-da-conspiracao/666-the-number-of-the-beast-5706)
5. Idem
6. Idem
7. Citado no Zine: Putrefação Agnóstica
8. Idem
9. 666, The Number of The Beast / Marcelo Del Debbio
10. 666 - O Número da Besta (Uma Análise Crítica das Interpretações) / Paulo Cristiano da
Silva
11. Baseado em: 666, The Number of The Beast / Marcelo Del Debbio
www.igrejacatolicacarismatica.org.br.