Muita
gente casada, ou que está noiva, pouco sabe sobre o simbolismo do anel
nupcial. Para alguns, presentear a outra parte com o anel nupcial
(aliança) é um convite ao selamento matrimonial; para outros, apenas um
objeto de pura vaidade e capricho. O fato é que esse pequeno e delicado
adereço encerra em si um poderoso elemento de ligação entre a anima e o animus.
Antes de mais nada, a sua própria forma circular é uma representação da alma e reporta-se ao self (Si-Mesmo).
Isto quer dizer que quando há a troca de alianças (no noivado ou
casamento), inconscientemente está havendo um intercâmbio anímico, como
se cada uma das partes recebesse a essência da alma da outra.
E
por que o ouro é o metal preferido na confecção das alianças? Não só
por sua beleza, mas o ouro é um metal nobre que tem correspondência
direta com o Sol, com a luz e com a consciência. É um metal alquímico, e
transmite também o significado de sua raridade; tal como um herói
mítico, o homem que compra as alianças e a oferta à sua parceira
percorreu todo um caminho iniciático até ali, vencendo
provações ou desafios na sua relação (junto à sua parceira), e como
prêmio raro, oferece a aliança como tesouro conquistado no fim de sua
jornada.
Na
verdade, a jornada está apenas para recomeçar, pois a fase em que a
aliança se encontra na mão direita (ativa, equivalente ao hemisfério
esquerdo do cérebro – racionalidade, lógica, análise) cumprirá sua prova
de fogo para provar seu amor, e normalmente terá que se desdobrar junto
à sua parceira para formularem o embasamento do lar.
Quando
a aliança é consagrada no festivo dia matrimonial, ela passa para a mão
esquerda (passiva, equivalente ao hemisfério do cérebro – emoção,
intuição, sentimento), então a nova jornada do casal será a nova
estrutura familiar formada e todas
responsabilidades advindas do processo. Logo, todo processo é um ato
consciente de fusão anímica (ou pelo menos deveria ser).
Outro aspecto importante que reforça o simbolismo solar da aliança, é
o fato de o dedo anular ter correspondência na quirologia com o Sol.
Logo, todo rito que vai do noivado até o casamento é solar, que expressa
luz e invoca a verdade. Não deixarei de citar também o simbolismo
sexual por detrás do dedo e da aliança: o dedo como símbolo fálico (lingan) e o anel como símbolo vaginal (yoni) sela também o ato sexual que culmina com a lua-de-mel.
A
inscrição do nome de cada parceiro é feita tradicionalmente do lado
interno da aliança. Isso simboliza duas coisas: a primeira, é que o
nome, como mantra sagrado, se mantém protegido na parte de dentro do
círculo. Ou seja, o poder daquele nome "fica restrito ao portador da
aliança" (isso é uma metáfora); a segunda, que só aquele que porta a
aliança sabe exatamente o que está escrito em sua face interior (além do
nome de seu (sua) parceiro(a), algumas pessoas também
inscrevem datas, palavras de amor, símbolos como o coração etc.) e
mantém o conteúdo protegido do olhar de estranhos. Comprova-se aí a
importância do círculo como área delimitada, sinalizando um campo de
energia e força.
A
aliança impõe ao seu usuário a condição de amo e escravo ao mesmo
tempo: a troca de alianças passa também a ser o elo de poder entre as
partes na relação, mas também o agrilhoamento simbólico do casal. Na
verdade, essa não é uma condição que expressa submissão: a escolha do
parceiro ou da parceira tem relação direta com o animus e a anima, logo,
você escolhe seu reflexo interior e se funde simbolicamente através do
anel.
Um
importante símbolo é inserido dentro do casamento católico: a criança,
normalmente uma menina (dama de honra), leva as alianças ao padre. A
criança representa a pureza de intenção, e é ela quem conduz as alianças
até o ato de sagração final. Em alguns antigos ritos pagãos, a exemplo
do celta, utilizava-se a coroa de flores para ser colocada na cabeça da
jovem que se casava, e normalmente era uma criança que a carregava no
ato cerimonial e entregava ao sacerdote. Apesar de símbolos com
diferenças de interpretação, a coroa nupcial e o anel mantêm estreita
relação, pois ambas são figuras circulares.
No
ato das bodas de prata (25 anos), é acrescida pelo casal uma fina
camada folheada de prata, normalmente representando uma coroa de louro
de prata como prêmio conquistado após 25 anos de casados, reafirmando os
votos matrimoniais. A prata é um metal que corresponde à Lua, logo, é
acrescida uma coroa lunar ao símbolo então solar. É como se a relação
entrasse numa fase mais interiorizada, mais yin, mais sublime. O louro
sempre foi considerado uma planta ligada aos nobres e a vitória, logo, a
folhagem de louro em prata marca um ciclo de magnificência conquistado
pelo casal. Também evoca, de certo modo, a maturidade atingida na
relação. A Lua também tem relação com a família; e nessa altura do
campeonato é bem possível que ela tenha crescido o suficiente para
sinalizar o potencial lunar.
As
bodas de ouro (50 anos) reafirma o compromisso solar feito no dia do
casamento (consciência, luz, verdade). O casal recebe um novo par de
alianças normalmente levado pelo(s) filho(s) - frutos da união solar e
lunar. Isso evoca simbolicamente que o ciclo solar foi completado pelo
casal e há um renascimento da relação, só que no nível espiritual. O
fato de os filhos levarem as alianças também implica, inconscientemente,
que os descendentes devem selar o compromisso solar com suas
respectivas parceiras.
Quero
frisar que a sagração das alianças independe de Igreja ou templo que o
casal possa estar integrado. O rito de troca de alianças é sempre um
momento ímpar, e deveria ser feito primeiramente pelo casal a sós.
Atribuo a isso o que Jung chamava de momentum, ou seja, é um ato único
no tempo e espaço criado exclusivamente pelas partes envolvidas na
relação.
A
aliança tem mais poder e sentido para a mulher do que para o homem, já
que o círculo é uma figura geométrica feminina (pois encerra em seu
interior um sentido analogamente ao útero). Logo, meninos, ao ofertar a
aliança à sua parceira, lembrem-se que estão ofertando sua alma à ela, para todo sempre e por toda eternidade.
GIANCARLO SCHMID
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