segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

ENSINOS ESPIRITUALISTAS




William Stainton Moses

Espiritualismo

SESSÃO VII


Um Espírito, cujos traços me eram familiares, foi fotografado. Tendo seu vestuário alguma coisa de anormal, perguntei qual a razão disso; responderam-me que as condições sob as quais se efetua a materialização parcial, necessárias à fotografia, diferiam das que convinham ao Espírito que se apresenta à vidência.

Seguiram-se algumas comunicações referentes à filosofia neoplatônica. A exposição da fase especial do ensinamento neoplatônico foi das mais minuciosas e inteiramente nova para mim. O sofisma ou a meditação extática, que experimenta por entusiasmo rejeitar tudo o que não é Deus e atingir a Verdade, por transfusão do Divino, foi exposto por extenso e ilustrado na pessoa de um dos seus professores. Aprendi assim muitas coisas cujo traço achei sobretudo nas lições do Espírito em questão, moderado e modificado pela experiência.

Depois disso, houve uma curta suspensão. Uma nova impostura produzida em uma reunião que eu freqüentava trouxe vivos debates. Fui obrigado a abster-me de tomar parte em outras reuniões durante o tempo que a nossa durasse; explicaram-me ser da mais alta importância:. evitar contacto com médiuns ou fortes influências magnéticas, quaisquer que fossem, porque eu me tornaria em elemento de perturbação, filiando-me a outros grupos - o que reagiria sobre o nosso. Alguns notáveis extratos de antigos poetas, sobretudo de Lydgate, foram então escritos por um Espírito que não fazia outra coisa e parecia deleitar-se com essa ocupação. O Espírito usava uma escrita muito especial.

Em uma sessão realizada a 13 de junho de 1873, foram apresentadas inúmeras perguntas sobre pontos de teologia, sendo pronunciado um longo discurso durante o qual o médium esteve em transe. Parte foi redigida, imediatamente, mas muitos pontos foram omitidos ou imperfeitamente recordados. No dia seguinte, sem ser interrogado, o mesmo Espírito, que tinha falado na véspera à noite, escreveu o seguinte:



Ontem à noite muitas coisas foram ditas à pressa, e por isso não se acham resumidas exatamente na ata transcrita naquela ocasião. Era de máxima importância que, sobre assunto tão capital, nos exprimíssemos com cuidado e que pudésseis compreender precisamente o que desejamos expor. Queremos pois estabelecer, de maneira mais nítida, o que apresentamos imperfeitamente na sessão. As condições de confronto não nos permitem sempre ser tão precisos, servindo-nos da palavra, como o somos comunicando pela escrita, e isso apesar da cuidadosa atenção que prestamos. O insulamento completo assegura as condições convenientes para ser preciso e exato.

Tratamos da divina missão que nos é conferida. No número das contínuas dificuldades que nos assaltam, uma das mais sérias é que aqueles cuja cooperação desejamos, porque são adaptáveis ao nosso assunto, são ordinariamente embaraçadas por noções teológicas preconcebidas ou se assustam com o que parece contradizer o que aprenderam. Então somos incapazes de os influenciar, e afligimo-nos vivamente por se atribuir o que deriva de Deus, a adversários, a um demônio todo-poderoso e malfazejo.

Entre todos os nossos contraditores, estes nos entristecem mais. O pseudo-sábio que só quer ver com o auxílio do seu próprio médium, mediante as suas condições particulares, que só quer tratar conosco para demonstrar que somos farsistas, mentirosos ou transmitimos as ficções de um cérebro desequilibrado; com este pouco nos importamos; seus olhos cegos não podem ver, sua inteligência obscurecida, embaraçada, contraída por longa vida sacrificada aos preconceitos, não pode absolutamente servir-nos. Ele pode, quando muito, penetrar com dificuldade os mistérios comuns das esferas; a base de conhecimento que poderia adquirir, ainda que útil e mesmo de valor, só insignificantíssimos serviços prestaria à nossa obra especial. Não procuramos além disso excitar a atenção de alguns homens de ciência, que se dignam ocupar-se com o aspecto fenomenal da nossa obra. O espírito, desde muito tempo habituado à observação dos fenômenos físicos, está mais bem preparado para elucidar esses fatos, que são do seu domínio. O nosso estudo é diferente e relaciona-se com a influência do espírito sobre o espírito com o conhecimento do que podemos revelar sobre o seu destino. A categoria dos espíritos ignorantes e incultos, ainda que possa mais tarde atingir ao nível em que nos encontraremos, não pode servir atualmente. Ela nada sabe do que temos a dizer e só o saberá depois de um período infinito de preparação preliminar. Igualmente temos pouco a dizer aos orgulhosos, àqueles que, em sua altiva confiança em si próprios, se presumem sábios, e aos escravos da rotina e da respeitabilidade; só uma evidencia inteiramente física pode atingi-los.

A história que estamos encarregados de publicar seria para eles uma fábula. E para as almas livres, que tem conhecimento de Deus, do céu, do amor e da caridade que nos voltamos com vivo empenho; elas desejam instruir-se e conhecer o porto ao qual aspiram. Mas, ah! achamos multas vezes os religiosos instintos naturais, implantados por Deus e nutridos pelo espírito, ocultos ou desfigurados pela restrita influência de uma teologia humana, que aumentou imperceptivelmente, durante os longos séculos de ignorância e loucura. Esses espíritos estão armados de todas as armas contra a verdade, que eles amam entretanto.

Falamos de uma revelação do Pai Celeste, mas eles tem já uma revelação que julgam ser completa. Assinalamos a sua inconsistência demonstrando-lhes que em parte alguma ela pretende a finalidade ou infalibilidade que lhe assinalam. Respondem-nos por palavras sem nexo, tiradas dos formulários de uma Igreja ou baseadas em uma opinião adquirida e adaptada de acordo com qualquer pessoa, que pretendem considerar infalivelmente inspirada. Aplicam-nos um testemunho, tirado de alguma narração sagrada, que foi dada em uma época especial, para um fim determinado, e que se persuadem ser de aplicação universal e contínua.

Se nos referimos às provas, aos pretensos milagres que atestam a realidade da nossa missão, como atestavam a missão daqueles que influenciamos no passado, respondem-nos que o tempo desses milagres não mais existe, que os inspirados do Espírito Santo tinham sido autorizados a produzi-los, somente nos séculos longínquos do passado, e dizem-nos que o diabo, por eles próprios inventado, tem o poder de contraverter a obra de Deus e de nos levar às trevas, afirmando estar a nossa missão em antagonismo declarado contra Deus e o Bem. Quereriam, na verdade, ajudar-nos, pois o que dizemos é provável, mas somos emissários do demônio. Devemos vir dele, porque está escrito na Bíblia que falsos e artificiosos Espíritos virão. Isso deve ser assim, pois um Santo Mestre não profetizou que haveria quem renegasse o Filho de Deus? Isso deve ser assim, pois não colocamos a razão humana acima da fé? Não mudamos o lugar onde Deus tinha colocado o Cristo e a sua missão? Não pregamos um Evangelho sedutor, no qual as boas ações aproveitam a quem as põe em prática? Tudo isso não é empreendido pelo Arquiinimigo transformado em anjo de lua, para enganar as almas e arrastá-las à ruína?

Esses argumentos, sinceramente expressos por aqueles cuja confiança quereríamos captar, causam-nos dolorosa angústia. Essas almas, que resistem por uma piedade mal compreendida, são amantes, ardentes, só lhes faltando a liberdade de espírito em vista do progresso real - tendência que os transformaria em luzes, brilhantes no meio da escuridão terrestre. Quereríamos confiar-lhes a nossa comunicação, pois o conhecimento que têm de Deus e do Dever é já um terreno sólido, mas, antes de estabelecer as nossas bases, devemos fazer desaparecer os escombros com que eles impedem de construir solidamente.

A Religião para ser digna de seu nome tem dois objetivos: Deus e o homem. Que pode objetar a isso a fé aceita, chamada ortodoxa pelos que a professam? Em que diferimos e como a nossa comunicação se concilia com a razão? Pois, antes de tudo, apelamos para a razão, que está implantada no homem. Recorremos a ela, pois foi em nome da razão que os sábios fixaram a lista dos escritos que continham, segundo eles, a revelação exclusiva e final de Deus. Eles apelaram para a razão a fim de sancionar a sua decisão; também nós apelamos para ela. Os nossos amigos acreditam que a direção divina prescreveu-lhes o que seria para todas as idades o conjunto da verdade revelada.

Somos também os mensageiros do Altíssimo, não menos enviados do que os Espíritos que guiaram os Videntes Hebreus e que ajudaram aqueles cujo fiat estabeleceu a palavra divina. A nossa comunicação é a mesma deles, somente mais adiantada; o nosso Deus é o seu Deus, somente mais claramente revelado, menos humano, mais divino. Que o apelo seja ou não de divina inspiração, a humana Razão, guiada, sem dúvida, por agentes espirituais, mas sendo sempre a Razão - alcançará compreender afinal. E os que rejeitam esse apelo estão, por suas próprias bocas, convencidos de loucura. A fé cega não pode substituir a esperança raciocinada; pois a fé é a fé quando repousa sobre bases sólidas e escolhidas, que a Razão confirma; do contrário, não pode impor-se a ninguém. Se não se apoiar absolutamente sobre coisa alguma, não temos precisão de demonstrar a sua nulidade e falsidade.

Voltemos pois à razão. Como pode ser racionalmente provado que vimos do diabo? Em que o nosso credo é perigoso? Sob que respeito podem acusar-nos de tendência infernal? São esses os pontos sobre os quais vos instruiremos.

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