sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Revirando o Intelecto




Colônia Capella – A Outra Face de Adão / Pedro de Campos – Pelo Espírito Yehoshua Bem Nun



Vamos procurar subir a uma esfera mais elevada de observação para, das alturas, com o panorama ampliado, debruçarmos sobre aquele plano elevado e dirigirmos o foco de visão para baixo, em direção à Terra, para verificarmos o desenrolar dos grandes vagalhões de desenvolvimento do espírito humano. Assim, será possível compreendermos, em linhas gerais, como o homem avançou no pensamento religioso e depois dele se desviou, em suas tentativas de descobrir a origem de si mesmo e de todos os mistérios, chegando a conceber o materialismo e a evolução natural como as únicas verdades que fizeram emergir no concerto da vida, afastando, em princípio, e depois negando a figura de Deus como a inteligência criadora de todas as coisas.

O êxito obtido pelo desenvolvimento cultural do homem, provocado pelas ondas sucessivas de evolução humana que se espalharam por todas as partes da Terra desde tempos remotíssimos e distantes da consciência pré-histórica, fez com que o homem, num certo ponto desse avanço e sem que mesmo se desse conta do sucedido, de repente se deparasse observando a si mesmo e descobrindo sua própria existência como um ser inteligente imerso no seio da natureza e interferindo com o mundo à sua volta.

Em épocas recuadas, onde a visão humana não alcança, os ascendentes dos primeiros seres humanos surgem sem que se saiba como provieram. Mas o fato é que surgem e desenvolvem-se. O homem caminha devagar, vindo a passo lento, sem fazer qualquer ruído. De repente, quando se percebe, está formado. Observa maravilhado a natureza. Contempla o mundo à sua volta e percebe a existência das coisas ao seu redor. Descobre e experimenta tudo o que lhe cerca, mas ainda não pergunta a si mesmo quem é e o que faz ali. Ainda não tem cérebro para isso.

Assim transcorrem milhares de milênios e, num dado momento, no início da época histórica, quando a reflexão revirava-lhe as entranhas do intelecto buscando a razão de sua existência, ele percebe que não poderia estar imerso na Terra sem que ele soubesse como. Naqueles tempos, ainda recuados, seus anseios foram satisfeitos, pois a hora da revelação houvera chegado, e ele recebe os primeiros ensinamentos espirituais. Eis que surgem as revelações exaradas na Gênese Bíblica, com imagens majestosas da criação do mundo e de símbolos personificando a geração da humanidade, onde, do barro, emerge Adão, e, de sua costela, surge Eva, sua companheira e mãe do gênero humano. O intelecto daquele ser rudimentar aceita maravilhado a revelação que é dada e deslumbra-se com sua magnitude, a qual lhe satisfaz por completo os anseios de conhecimento, pois está na conformidade de sua compreensão.

Entretanto, na medida em que a cultura antiga prospera e desenvolve as civilizações do passado, fazendo-as avançar rumo às mais modernas aquisições científicas, próprias das épocas atuais, o homem novamente põe-se a refletir, agora postado num edifício cultural mais avantajado que os anteriores, e procura explicações sobre sua origem plausíveis de serem aceitas pela sua própria consciência, pois ele não é mais um espectador que assiste ao filme da própria vida sem questionar, como no princípio, mas sim o ator principal em cena, responsável pelas ações que marcam seu avanço evolutivo e coletor do resultado das ações que provoca com seus atos.

Nesse estágio evolutivo de substancial avanço cultural, o homem envolve a si mesmo com o manto sombrio do materialismo, o qual lhe faz imaginar a existência de um universo autônomo, em sua íntima expressão, que funciona de acordo com leis naturais desenvolvidas pelo próprio Universo, e que este Universo fora formado inicialmente de matéria desconhecida, inerte, destituída de qualquer inteligência, mas que no decorrer de bilhões de anos, ao jogo das tentativas infinitas roladas em simples lances de acaso, tudo criara por si só, até formar uma ordem de constituição e funcionamento universais, dotada de exuberante inteligência, que prosperara do nada e tornara-se perfeita, capaz de ser a “causa de si e de todas as coisas”.

A partir desse momento em que o Universo, naqueles lances de acaso, teria conseguido produzir tudo por si só numa ordem inteligente, então ali teria surgido os ascendentes da vida no planeta Terra e também, quiçá, com grandes possibilidades, em muitas outras esferas siderais pulverizadas na imensidão do Cosmos.

Esse Universo gerador de tudo, como concebido pelo homem materialista, teria feito prosperar a vida a partir da matéria inerte. Esse Universo sem vida, elemento destituído de inteligência, gerara outro provido de inteligência numa verdadeira inversão de valores, onde a lógica apresenta-se distante do nosso raciocínio.

Nesse ponto, estamos diante de um Universo Criador, Pai Maior de toda a natureza. Não é um Deus, como outros assim o queiram, mas um processo, por assim dizer. Contudo, um processo diferente, pois nele há ordem, mas não inteligência. Há vida inteligente, mas ele mesmo não é inteligente. Um Universo que cria a vida, mas ele próprio não tem vida. Um Universo que tem somente duração num estágio passageiro de ser e, depois, transformar-se-ia numa outra coisa que o homem não sabe o que possa ser, mas imagina que seria uma grande concentração de matéria que, numa nova composição extremamente sólida, se saturaria de energia e, por si só, provocaria uma nova grande explosão, e tudo recomeçaria de novo de forma ignorada por todos, sem que nisso tudo houvesse qualquer inteligência criadora por trás desse Universo em permanente mutação.

Se o caro Leitor é capaz de conceber como verdadeiro o tipo de raciocínio expresso nos últimos parágrafos e de identificar-se com essas idéias, que subtraem Deus do contexto e divulgam que tudo evolui de um nada preexistente, então, notadamente, suas tendências são materialistas. Entretanto, em caso contrário, se, como nós, o Leitor considera Deus o princípio de tudo o que existe e pondera como corretos alguns dos raciocínios expressos anteriormente – mas somente aqueles que apresentam lógica de comando inteligente espiritual – então é possível afirmarmos juntos que com o cerne daquelas idéias não concordamos e portanto, nossos ideais são espiritualistas.

O homem materialista acredita, com todas as suas forças, que, pelo fato de ter concluído racionalmente a lógica da origem do Universo, e por conseqüência, abandonado a idéia da existência de uma Inteligência Suprema criadora desse Universo, a qual chamamos de Deus, solucionou o problema da sua própria ignorância e passou a ser conhecedor do mistério maior das origens. Na sua auto-suficiência enganosa, acredita que pelo fato de ter aportado e observado mais de perto outros Orbes do infinito sideral, formações estas muito menores e oriundas do mesmo fenômeno inicial criador do Universo; acredita que pelo fato de ter descoberto e estudado vários fósseis milenares da sua própria espécie e de ter concluído a questão evolucionista de forma muito diferente da propagada pelo criacionismo Bíblico; acredita que por ter conseguido manipular os rudimentos da genética, conhecendo detalhes mais íntimos da constituição da vida; e por ainda outros avanços científicos importantes que conseguiu – com tudo isso tendo feito, o homem materialista pensa que pode considerar-se o conhecedor das verdades absolutas do Cosmos e o historiador que detém o júbilo máximo por ter desvendado apenas alguns mistérios da eclosão da vida. Vive extasiado em sua imagem cerebral ilusória o engano de ter descoberto aquilo que na verdade não conseguiu, pois desconhece os mistérios da sua própria existência e a causa de toda a intelectualidade existente.

Assim, engana-se e prossegue satisfeito em seu engano, o qual lhe satisfaz a mente ainda em estágio de evolução elementar. Em seu ponto de extremo engano, o pseudo-intelectual chegou ao cúmulo de querer separar as raças humanas em melhores e piores e de querer extingui-las por achá-las inferior à sua própria, ou rechaçá-las em razão da cor da pele, ou, ainda, querer melhorá-la por achar a sua superior às outras. Esse é o tipo de homem materialista radical e inescrupuloso, que se esconde às vezes sob pomposo título de notoriedade, mas cujos débitos acumulados no presente terão de ser saldados no futuro, em cumprimento à Lei de Causa e Efeito a que todo intelecto está sujeito.

Revirando o intelecto, muito distante do materialista está o espiritualista iniciante. Qual criança que já deu os primeiros passos, mas ainda vacila na caminhada, ele permanece buscando maior confiança interior, maior conhecimento e equilíbrio necessários para prosseguir a caminhada em direção a um entendimento espiritual mais amplo e profundo.

Esse homem espiritualista, no mundo ocidental, em sua maioria, possui ideais religiosos consagrados, principalmente nas religiões católicas e protestante- esta última em todas as suas derivações.

Tais religiões diferem entre si em pequenos detalhes de interpretação das escrituras. De modo geral, divergem notoriamente na crença dos milagres, na adoração de ídolos ou santos, na realização dos cultos e outras formas exteriores, por assim dizer. Contudo, no cerne da questão espiritual, na interpretação que fazem do Antigo e do Novo Testamento, pouco diferem entre si. Mas seus crentes, de alguma forma insatisfeitos, migram constantemente de uma a outra religião, sempre na esperança de ter as aspirações da alma satisfeitas.

Essas religiões ficam horrorizadas quando alguém lhes fala sobre o espírito, o qual para elas, é quase sempre sinônimo de demônio. Acreditam que a figura diabólica criada por elas mesmas viveria perpetuamente nas trevas e de lá faria incursões constantes para atormentar e desarranjar a vida do homem. Numa visão absolutamente parcial, aceitam a existência de um espírito maligno que incorpora no homem e a ele faz mal, observam-no em comunicação falando línguas e fazendo toda sorte de coisas. Porém, não aceitam a existência de um espírito evoluído, que é bom e se comunica com os vivos, que vive feliz e faz constantemente o bem. Aceitam que o maligno possa comunicar-se com o homem, mas não que o homem possa comunicar-se com os espíritos, sejam eles perfeitos ou imperfeitos. Embora aceitem que os espíritos tenham sido criados por Deus, não aceitam que evolucionem e sejam diferentes uns dos outros no progresso alcançado. Pensam que o anjo bom já foi criado pronto nos céus, assim como que o homem foi colocado pronto na Terra, sem que fosse preciso evolucionar por milhões de anos em estágios inferiores da vida até chegar ao em que se encontra.

Não cogitam nem sequer admitem que os espíritos imperfeitos, por pertencer a uma onda evolutiva em ligeiro retardo na caminhada ascensional de progresso, ainda não tenham adquirido hábitos benévolos por conseqüência desse retardo natural e passageiro a que todo espírito da criação está sujeito. Não aceitam que as comunicações daquelas criaturas sejam marcadas por linguagem frívola, grosseira, trivial e, às vezes, por presunção, arrogância e falsa sabedoria. Não aceitam que aquelas entidades retardatárias, interagindo com os encarnados, às vezes pratiquem ações próximas da irracionalidade e sejam prejudiciais ao homem. Por isso, deram-lhe a denominação de demônio. Contudo, não observam, no mundo à sua volta, que figuras semelhantes àquelas sombrias que recriminam, no mais das vezes, estão encarnadas no seio da própria família, imersas no vicio, na imoralidade ou nos crimes que fartamente pairam na Terra.

Contudo, segundo a lei da maior entidade criadora, o Pai Celestial que não perde nenhuma de suas ovelhas, dia chegará, conforme ensinado pelos Espíritos Superiores, que todos eles também evoluirão, pois o evolucionismo espiritual é compulsório: progredir é a lei.

O espiritualista iniciante ainda está imerso no retardo da onda evolutiva criacionista. Considera a existência de Deus, mas não a si próprio como princípio espiritual que evoluiu até se tornar espírito humano. Não considera que ainda deve progredir em espírito, utilizando novos corpos físicos para obter outras aquisições intelectuais ou morais que ainda não possui, seja aqui na Terra ou em outro mundo do Cosmos.

Ele simplesmente acredita que nasceu de Deus, do sopro da vida que transformou o barro da terra nessa forma humana possuída por ele, onde sua espécie privilegiada habita a Terra que, vivendo decente e corretamente em sua curta existência, após a morte será recompensado com a vida eterna no paraíso em razão de a bondade divina ter reconhecido nele um homem temente a Deus, que procura corrigir-se e ser bom no decurso de alguns anos (às vezes, segundos de vida) de existência na Terra. Acredita que com esse irrisório tempo vivido e com seu mínimo conhecimento possa ser recompensado com a felicidade eterna. Não aceita que para obter esse intento recompensador é preciso avançar com méritos próprios em todos os campos do saber, de forma progressiva, angariando sabedoria no decorrer de muitas existências pelo processo contínuo do nascer de novo.

Quando falamos do Espírito, entendido como um ser imaterial criado por Deus, uma inteligência geradora de vida na matéria que precisa evoluir em muitas vidas, nas várias formas orgânicas, desde a mais simples até a mais complexa, para aprender e adquirir sabedoria, exercer responsabilidade, incorporar a moral e apurar o amor nas diversas encarnações para atingir a perfeição suprema, estado onde se desfruta a felicidade eterna – quando falamos dessas condições às quais o espírito humano tem necessariamente de submeter-se para progredir, esse espiritualista iniciante ainda não é capaz de compreendê-las e de conceber a evolução humana como parte do processo evolucionista do Espírito. Ele ainda precisa forçosamente avançar para compreender as verdades de si mesmo, sem que ele próprio perceba, tal estágio também é passageiro para ele, pois progredir é a grande lei.

Desde o início da existência do homem observa-se um progresso cultural constante, que se acelera cada vez mais de maneira vertiginosa. No princípio vimos o hominídeo gastar milhões de anos para aprimorar a pedra lascada sem dela sair. Depois vimos o Homo erectus levar centenas de milhares de anos para construir um fogareiro no interior das cavernas. Em seguida vimos o Cro-Magnon passar milhares de anos até obter o arco e a flecha. No início da civilização vimos o homem gastar centenas de anos para sair de um metal e obter outro melhor. Hoje, contudo, vemos que em apenas alguns anos o computador substituiu as máquinas de escrever, de calcular, fac-símiles e outros aparelhos. No passado, o homem somente percebia as alterações culturais no decurso de várias gerações. Hoje, ao contrário, é arrastado por essas imensas ondas culturais que se alçam e quebram por toda a parte. A aceleração do progresso é tão grande que tende a abraçar rapidamente a humanidade inteira. Essas explosões de conhecimento que hoje acontecem, inevitavelmente darão ao homem uma outra visão de si mesmo e de suas novas possibilidades. Durante os séculos que virão, elas farão prevalecer nele as idéias cientificamente validadas, fortes alavancas propulsoras do progresso material.

Contudo, de encontro aos anseios da humanidade do porvir, o evolucionismo espiritual, com sua abordagem científico-filosófica, virá descortinar ao mundo novas possibilidades materiais e teológicas. Virá trazer um sistema de raciocínio aberto, com postura religiosa renovável, capaz de elucidar plenamente o homem e de demonstrar a ele o motivo verdadeiro de sua existência na Terra, de onde veio e para onde vai. Virá propor um novo enquadramento religioso sem os dogmas que tornam as religiões misteriosas, fanáticas e detentoras de uma verdade absoluta e ilusória. Virá descortinar uma nova visão de Deus, onde a lógica do raciocínio e o uso iluminado da razão serão fatores que nortearão a caminhada do homem. Virá acender uma nova luz na Terra, mostrando ao homem que para chegar a Deus não é preciso fazer ritual algum, nem mesmo no nascimento, no casamento ou na morte. Virá confirmar que é preciso fraternidade entre os homens, conduta moral ilibada e senso ético apurado para conseguir maior evolução espiritual. Virá manter a mesma proposta de ligação com Deus por meio da prece, da ação bondosa e do amor filial ao próximo. O evolucionismo espiritual virá estimular novos postulados religiosos que poderão ser corrigidos sempre que necessário, da mesma maneira como o faz a ciência quando remove de si mesma o véu da ignorância passada e avança com novas descobertas beneficiando a humanidade inteira.

Caro Leitor, agradecemos a Deus, pois tudo isso que virá no futuro será pela ascensão de uma centelha de luz espiritual que já se alça na Terra de Santa Cruz. O mundo tem hoje à sua disposição uma nova teologia que se reformula em conceitos e estrutura-se em idéias que se renovam na mesma proporção dos acontecimentos científicos: é o Espiritismo!*

O vagalhão enorme da evolução espiritual humana, do qual falávamos no início deste capítulo, tudo arrasta no seu desenrolar envolvente, tanto o materialista quanto o espiritualista iniciante. Todos eles serão, inexoravelmente, mais cedo ou mais tarde, seja nesta encarnação ou em outra do porvir, arrastados por aquela imensa onda envolvente. Um vagalhão enorme que se quebra em todas as praias da humanidade e faz ressurgir nelas os Espíritos em novos corpos de carne, para dali, em nova praia, prosseguir ainda de novo, arrastando os Espíritos para uma outra onda maior de sabedoria que absorve a anterior e vai transformá-la, novamente, numa mais avançada ainda. Assim, sucessivamente, num rolar constante, as ondas prosperam até atingir as alturas da imensidade, em consonância com a grande lei da vida: evoluir sempre!

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* “O Espiritismo é uma ciência de observação, não produto da imaginação.” No Brasil existem hoje clínicas, associações médicas e institutos de pesquisas ligados ao Espiritismo e realizando, além de trabalhos convencionais, sérios estudos nas áreas de Biologia, Antropologia, Psiquiatria, Neurologia, Psicologia, Parapsicologia, etc., estudos que também trazem importante contribuição ao conhecimento humano no campo do evolucionismo espiritual. Em toda parte do país são inúmeros os encontros, palestras e publicações que enriquecem cada vez mais o assunto e divulgam amplamente os resultados positivamente obtidos. No dizer de Kardec: “O Espiritismo, marchando com o progresso, nunca será ultrapassado, porque, se novas descobertas lhe demonstrarem que está errado num certo ponto, ele se modificará nesse ponto; se uma nova verdade se revelar, ele a aceitará” Portanto, o Espiritismo está em perene evolução. (N.A. com citações de Kardec – Gêneses cap.I 14,55 e Obras Póstumas: últ. Cap.)

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