Para evitar confusões, cabe distinguir cuidadosamente entre as coisas que encadeiam o homem ao mundo de tal maneira, que podem também ser equacionadas numa encarnação ulterior e aquilo que o vincula a uma determinada encarnação, isto é, à ultima. As primeiras são compensadas pela lei do destino, ou do karma; as ultimas, porém, só podem ser despojadas pela alma depois da morte.
Após a morte, segue-se para o espirito humano um periodo em que a alma vai se libertando de suas inclinações para a existencia no mundo físico, a fim de passar de novo a seguir exclusivamente as leis do mundo anímico e espiritual, e dar liberdade ao espirito.
É natural que esse periodo seja mais ou menos extenso na medida em que a alma tenha sido mais, ou menos, apegada ao mundo fisico. Será curta num homem que pouco se tenha apegado à vida física, e longa num outro cujos interesses tenham estado completamente vinculados a esta vida, permanecendo na alma por ocasião da morte muitos desejos, ânsias, etc. É mais fácil fazer-se uma idéia do estado em que a alma vive no periodo logo após à morte mediante a seguinte reflexão: Tomemos um exemplo crasso - os prazeres de um "gourmet". Seu gozo provém da excitação do paladar pelos acepipes. Esse gozo, naturalmente, nada tem de físico, é antes anímico. Na alma, vive o prazer e a ânsia de prazer. Mas para satisfazer às ânsias é preciso o órgão corpóreo correspondente do palato, etc. Ora, após a morte, a alma não perde logo semelhante apetite; só que, agora, não possui mais o órgão corpóreo, ou seja, o meio de satisfaze-lo. O homem se encontra então (verdade é que por uma razão diversa, cujos efeitos são,porem, semelhantes e também muito mais intensos) na mesma condição, de uma pessoa atormentada pela sede num deserto. Desse modo, sofre a alma agudamente pela falta dos prazeres, despojada que foi do corpo físico, único intermediário dos mesmos. Assim sucede com tudo quanto a alma deseja, e que só pode ser satisfeito mediante os órgãos corpóreos. Esse estado de "privação ardente" perdura por quanto tempo a alma leve para aprender a não mais ansiar pelo que só mediante órgãos corpóreos pode ser atendido. E o período passado nesse estado pode ser designado "região dos anseios" embora, é claro, não se trate de uma "localidade determinada.
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