quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

M Ã E


Um dia, a Mulher solitária e atormentada chegou ao Céu e,
rojando-se, em lágrimas, diante do Eterno Pai, suplicou:
- Senhor, estou só! Compadece-te de mim.
Meu companheiro fatigado, cada dia, pede-me repouso e
devo velar-lhe o sono!
quando triunfa no trabalho, absorve-se na atividade mais intensa
e, muitas vezes distraído, afasta-se do lar,
aonde volta somente quando exausto, a fim de refazer-se.
Se sofre, vem a mim, abatido, buscando restauração
e conforto...
Tu que deste flores ao arvoredo e que abriste as carícias
da fonte, no seio escuro e ressequido do solo,
consagras-me, assim, ao insulamento? Reservaste a terra
inteira ao serviço do homem que se agita, livre e dominador,
sobre montes e vales, e concedes a mim apenas o estreito
recinto da casa, entre quatro paredes, para meditar
e afligir-me sem consolo?
Se sou a companheira do homem, que se vale de
mim para lutar e viver, quem me acompanhará
na missão a que me destinas?
O Senhor sorriu, complacente, em seu trono de estrelas fulgurantes e, afagando-lhe a cabeça curvada e trêmula, falou compadecido:
- Dei o mundo ao homem, mas confiarei a vida ao teu coração.
Em seguida colocou-lhe nos braços uma frágil criança.
Desde então, a Mulher fez-se Mãe e passou a viver
plenamente feliz.


(Meimei)

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