terça-feira, 5 de maio de 2009

O FESTIVAL DOS ANJOS





C. W. Leadbeater

Este artigo é uma versão abreviada dos escritos do falecido Bispo Leadbeater, retirados de seu livro “O Lado Oculto dos Festivais Cristãos”.

O festival dos Santos Anjos é comemorado no dia de São Miguel, o grande Líder dos Anjos; mas em verdade nós não celebramos nesta ocasião apenas este glorioso Príncipe, mas toda a Falange celeste; nós agradecemos e louvamos a Deus por eles e por todo o maravilhoso auxílio dado por eles a nós. Há uma grande quantidade de mal-entendidos sobre os Santos Anjos. A idéia que fazemos deles é tão bela, tão poética, que as pessoas freqüentemente pensam neles como sendo apenas poesia. Fala-se sobre estes grandes e gloriosos seres um pouco como se fala dos contos de fadas. É tudo muito belo, mas não se faz inteira justiça a eles.

Nada pode estar mais longe da verdade do que uma idéia como esta. A glória radiosa dos Santos Anjos é muito mais real, e não menos, que qualquer coisa neste plano físico. Suponho que isso pareça estranho, excessivo, talvez um tanto ridículo; mas de fato não é. As coisas deste plano físico que nós tocamos e sentimos são reais o suficiente para nós, enquanto vivemos por entre elas; mas temos apenas que elevar um pouco nossa consciência dentro de um mundo mais alto, e imediatamente toda essa realidade densa deixa de ser real, mas torna-se mais diáfana que o tecido de um sonho, e entendemos então que as coisas vistas aqui no plano físico são corretamente descritas como transitórias, e as coisas invisíveis daqui estão muito mais perto de serem eternas. Aquelas são as realidades, e não estas. O espírito é o fato real, não o corpo. O corpo é perfeitamente real enquanto dura, mas dura apenas alguns poucos anos; o espírito é uma centelha divina, e vive para sempre. Assim os Santos Anjos não são de modo algum menos reais que você e eu.

Qualquer um que tenha estudado as descobertas da ciência moderna sabe que há uma linha definida de evolução do mais baixo para o mais alto através dos diferentes reinos da Natureza. O reino mineral é geralmente considerado o reino mais inferior; alguns estudantes sabem que existem outros que o precedem mesmo naquela linha de evolução. O reino mineral gradualmente conduz para os inícios do reino vegetal, e da mesma maneira o reino vegetal se projeta para os inícios do reino animal. O homem é classificado como sendo a cabeça do reino animal; mas em nossos estudos da vida oculta nós o tomamos, por certas boas razões, como um reino separado. Os atributos que possui em muitos aspectos o diferenciam mesmo do animal mais evoluído, ainda que do animal haja um nítido progresso em direção ao humano. Não há lacunas neste sistema evolutivo, e assim da forma de vida mais inferior podemos apontar para nossa vida.

Somos então o ápice de tudo? Não haverá nenhuma forma de vida mais alta que a nossa assim como a nossa é mais alta que a do animal, como a do animal é mais alto que a do mineral? Investigações nos mostram que há sim uma forma de vida mais elevada que a nossa – que há um reino acima do reino humano, mais adiantado na evolução que o nosso; é chamado de Reino Angélico. Os filósofos da Índia dão a seus membros o nome de Devas. Deva é uma palavra sânscrita de onde deriva nosso termo divino. Está ligada a tudo o que sugere excelsitude e divindade. Os Devas são os Seres Brilhantes – uma denominação mui natural para lhes dar, para os homens que os vêem, porque todo o seu mundo elevado está em relação ao nosso como a luz está para as trevas.

Poderíamos pensar: “Podemos ver os animais; por que não podemos ver os Anjos? Os animais pertencem a um reino inferior ao nosso, mas eles podem nos ver; se eles podem ver algo pertencente a um reino superior, por que nós não?” Em primeiro lugar, nós podemos. Há uma grande quantidade de pessoas que têm visto membros do Reino Angélico, mesmo que o plano material mais denso onde apareçam ainda esteja acima de nosso plano físico. Há uma grande variedade de estágios e tipos de matéria mesmo aqui embaixo; temos os sólidos, os líquidos e os gases. Há matéria que escapa aos nossos sentidos, não porque seja de alguma forma irreal ou imaterial, mas porque nossos sentidos são imperfeitos, e abrangem apenas uma pequena fração de tudo o que sabemos que existe. Por exemplo, geralmente podemos ver os sólidos e os líquidos, mas raramente podemos ver gás, ou algo em estado gasoso. Há alguns gases, como o cloreto, que podemos distinguir por sua cor, mas usualmente percebemos os gases de outra maneira, pelo cheiro ou pelo que sentimos quando os respiramos. O que é mais elevado que os gases fica ainda mais além de nossos sentidos físicos, mas estaríamos caindo em um erro básico – para a compreensão destas coisas – se supuséssemos que são irreais. Estes Anjos possuem corpos, construídos de matéria assim como os nossos; só ocorre que esta matéria é mais sutil, respondendo apenas a vibrações mais elevadas. Mas também temos em nós um corpo de matéria mais sutil, um veículo mais elevado que pode ser treinado, seus sentidos desenvolvidos, exatamente como os sentidos físicos do homem podem ser desenvolvidos em um grau muito maior de refinamento do que a maioria de nós possui.

O ANJO ROSA DO AMOR

Os sentidos de nosso corpo mais elevado também podem ser treinados para ver coisas destes mundos superiores. As pessoas às vezes obtêm relances delas quando estão em estados exaltados, ou em profunda contemplação. Lemos, por exemplo, que os grandes santos tinham visões de Anjos. Não podemos supor que estes homens fossem apenas sonhadores histéricos; o fato é que sua consciência superior foi por momentos aberta, de modo que viram o que sob condições normais permanecia invisível a eles.

Ainda que o Reino Angélico seja o imediatamente superior ao humano, não é necessariamente o próximo degrau em nossa evolução. Assim como nem todas as criaturas pertencentes ao reino animal vão algum dia se tornar homens, igualmente nem todos os seres humanos entrarão no reino dos Santos Anjos. Todos os que hoje são humanos atingirão a meta, o ápice do desenvolvimento humano, e se tornarão super-homens; mas há muitas outras linhas de evolução dentro da qual o homem pode adentrar, além da hoste angélica.

Este grande reino dos Anjos tem sua próprias raças, seus variados graus de desenvolvimento, suas diferentes linhas de evolução, exatamente como é o caso de todos os outros reinos da Natureza. Há Anjos que não estão mais adiantados na evolução do que alguns dos nossos melhores homens; e há outros cujo esplendor parece-nos incluir tudo o que poderíamos imaginar da Divindade. Podemos notar que as palavras de nossa Liturgia nos lembram, em todo o serviço eucarístico, uma classificação que tem sido largamente aceita na antiga Igreja Cristã – aquela que divide os Anjos em nove ordens: Anjos, Arcanjos, Querubins, Serafins, Tronos, Dominações, Principados, Virtudes e Potestades. A ordenação Judaica, que em grande parte foi adotada pela Igreja Cristã, os divide em sete grandes tipos, correspondentes aos Raios. Até mesmo os nomes daqueles Grandes Seres que ficam à testa de cada um destes sete tipos foi dada em escritos antigos, onde aparecem como Miguel, Gabriel, Rafael, Uriel, Chamuel, Jofiel e Zadkiel.

Na classificação em nove ordens, dois outros tipos são acrescentados – isto é, estendem-se para além de nossa cadeia de mundos, talvez para além de nosso sistema solar. Para cada um desses tipos diferentes características são atribuídas, e em cada uma destas grandes Ordens de Anjos existem muitos níveis. Nós dividimos nosso reino humano em várias raças – Ariana, Mongólica, Semítica e assim por diante; mas todos reconhecemos que em cada uma destas raças há pessoas altamente evoluídas e pessoas comparativamente menos evoluídas. Há reis e príncipes e nobreza e também há camponeses; mas são todos da mesma raça. Do mesmo modo nas Ordens Angélicas há os grandes líderes, e há outros que não são tão altamente evoluídos; os de níveis inferiores possuem corpos astrais, e ainda estão sob influência do desejo. É verdade que as más intenções não são possíveis a nenhum da hoste angélica, mas há muitos que em intelecto e adiantamento geral estão só levemente à frente de nós.

Eu suponho que a maioria das pessoas, quando pensa em Anjos, os considera como uma falange de Espíritos gloriosos, humanos em forma, ainda que usualmente portando grandes asas sobre os ombros, que passam o tempo em perpétua adoração defronte ao Trono de Deus, ou levando mensagens em Seu nome, a maioria delas ligadas aos acontecimentos respectivos à raça humana, ou resgatando indivíduos de perigos ou misérias. Teremos apenas uma imagem muito truncada e parcial deste reino glorioso se pensarmos em seus membros como sempre ocupados em inúteis louvores à Deidade ou como mensageiros ligados apenas à raça humana. Os Anjos são uma manifestação da Vida Divina num elevado estágio de evolução, e estão prioritariamente interessados, assim como nós estamos, nos trabalhos desta evolução. Eles vivem suas próprias vidas, e estas vidas são um epifania da Deidade certamente muito mais esplêndida que a nossa. Sem dúvida eles amiúde rendem graças a Deus, como nós em nossas igrejas; mas assim como tentamos demonstrar nosso amor por Deus principalmente vivendo no mundo como Ele gostaria que vivêssemos, também eles, em seu nível superior, demonstram melhor seu amor e devoção a Ele desempenhando cabalmente o trabalho que lhes foi confiado.

Seria tolice pensarmos que seu trabalho de algum modo está especialmente ligado a nós; sem dúvida tal pensamento é lisonjeiro, mas também aponta claramente para o autocentramento da humanidade como um todo. Chegaremos talvez a uma apreciação mais racional se meditarmos em nossa própria atitude em relação aos reinos inferiores a nós, o animal e o vegetal. Não gastamos todas nossas vidas pensando em como favorecer estes reinos ou em como ajudá-los; a maioria dos seres humanos está muito mais interessada em pensar em como fazer com que estas criaturas inferiores os sirvam, e em como tirar proveito delas de um modo ou de outro. Nossas relações com os animais merecem, de fato, a mais horrível descrição, e eles podem ser plenamente desculpados de nos olharem não como anjos, mas como demônios. É claro que seria impensável que o reino angélico trabalhasse de alguma forma para nos explorar, mas bem podemos supor que, no conjunto, seja razoável que sigam o caminho de sua evolução sem interferir necessariamente com a nossa.

Quando a humanidade estiver bastante mais adiantada em sua estrada entrará em relações mais estreitas com estas grandes hostes angélicas, e esta proximidade será de grande valia. Algo do método para esta aproximação pode ser lido, por aqueles que desejarem, no livro Homem, De Onde, Como e Para Onde, no qual está descrito como, num futuro não muito longínquo, grandes Anjos assumirão uma função visível e preeminente no serviço eclesiástico daqueles dias, e reunirão a devoção dos membros da congregação e a projetarão para cima, em uma poderosa fonte, em direção aos pés da própria Deidade Solar. Agirão também como recipientes e distribuidores da tremenda influência espiritual ou graça que Ele em resposta derramará sobre os devotos.

Eles já trabalham assim agora, ainda que de modo menos óbvio. Eu já mencionei anteriormente que toda a devoção e todo o amor que ao longo dos séculos tem sido derramado aos pés da Bendita Virgem Maria são recolhidos por Ela, pois agora Ela é um grande Anjo, e conduzidos à Deidade Solar, que certamente os aceita e responde. Na Ciência dos Sacramentos eu já expliquei algo da maravilhosa parte que os Anjos têm no maior de nossos serviços eclesiásticos. Milhares e milhares de devotos Cristãos têm pelos últimos vinte séculos obtido da Sagrada Eucaristia o mais profundo auxílio espiritual e elevação sem saberem que devem a possibilidade deste tão glorioso serviço à assistência paciente e alegre dada pelos Santos Anjos a um mundo que não compreende. Eles acorrem porque podem arranjar para nós um certo tipo de serviço sem cujo concurso não seria possível obtermos, e porque sabem que quando um homem assiste a tal serviço e põe seu coração na prece e no culto, está em uma atitude influenciável, e pode ser alcançado e tocado; um bem pode ser feito a ele e poder pode ser derramado sobre ele.

Quando um homem adentra na igreja, ele se põe na presença de Nosso Senhor, entronizado sobre Seu altar; e só por este fato ele também entra na presença de uma grande multidão de Anjos adorantes. O quanto será possível fazer por ele depende de até onde ele pode abrir seu coração à sua influência, e de sua disposição física, moral e mental. Alguns de nós sentem tais influências fácil e nitidamente, por termos aguçado nossos sentidos em tal direção; outros as percebem apenas vaga e incertamente; mas um número crescente de pessoas está se tornando cônscia delas. O homem está andando em lentos passos em direção a tornar-se o tipo de criatura que os Anjos podem ajudar, e à medida que avança mais para dentro de sua esfera, percebe melhor seu interesse e sua graciosa resposta.

A presença dos Anjos não nos deveria ser incerta, vaga ou hipotética; deveríamos começar a pensar que são realidades perfeitamente definidas, e ainda que não possamos de fato vê-los mais do que vemos uma corrente elétrica, são reais como uma corrente elétrica o é, e seus efeitos podem ser notados por aqueles que são capazes de senti-los.

Grandes legiões de Anjos assistem à celebração da Eucaristia. Os maiores Anjos acodem para tomar uma parte definida no trabalho. A Sagrada Eucaristia não é celebrada para nós, ainda que muito benefício possamos obter dela. Nós não vamos no intuito de receber, mas principalmente no de dar. Nós vamos porque este é o método pelo qual Cristo irradia influência espiritual sobre todo o Seu mundo, e nós vamos lá para ajudá-lo nesta distribuição de divina energia. Incidentalmente obtemos muito para nós mesmos, mas este não é nosso objetivo principal.

Os Anjos vêm – os grandes Anjos – a fim de fazer tudo isso possível para nós. Ao fim do Asperges, pedimos a Deus que envie Seu Anjo para nos ajudar e para estar conosco. Em resposta a aquele apelo acorre o Anjo da Eucaristia e constrói um receptáculo a partir de nossa devoção e de nossos sentimentos, e da energia liberada pela parte musical do serviço. Maiores que ele são os Anjos que vêm quando os chamamos justamente antes do Sanctus – quando o sacerdote ou bispo, tendo pedido que elevássemos nossos corações e déssemos graças a Deus, prossegue dizendo que com os Santos Anjos (enumerando os diferentes tipos), também fazemos nossa parte. Este é o chamamento tradicional a eles, e a melodia com que cantamos “Corações ao alto!” e “Nosso coração está em Deus” tem quase dois mil anos, se não mais. Ela remonta aos primeiros tempos em que tais músicas eram cantada na Igreja.

Então eles vêm e tomam parte no serviço. É claro que não devemos pensar nem por um momento que este é um privilégio nosso. Em todas as Igrejas Cristãs onde não houve ruptura na sucessão apostólica, permanece o mesmo mecanismo; na verdade não devemos sequer imaginá-lo confinado ao Cristianismo. Todas as religiões existem para o auxílio do mundo, e em quase todas algum sistema é arranjado para a recepção e distribuição de força espiritual. Este trabalho dos Anjos é tornado mais fácil quando a congregação compreende o que está sendo feito e colabora inteligentemente através do pensamento. Destarte deveríamos nos aplicar em saber e compreender, para que pudéssemos ajudar os Anjos no trabalho que têm de fazer.

Estes Espíritos gloriosos são de tantos tipos diversos que é praticamente impossível tentar alguma descrição deles. Muitos deles têm forma humana, ainda que usualmente maiores que a estatura do homem. Suas cores, sua radiância e iridescência são de uma maravilha além de toda palavra; eles nos olham com seus olhos faiscantes, plenos da paz eterna. Suas auras são tão grandes e tão mais magnificentes que as nossas, que à distância parecem somente esferas de luz fulgurante. Nunca os vi com asas; na verdade, imagino que as asas usadas pelos Anjos da arte e da poesia devam simbolizar seus diversos poderes, como o ilustram algumas escrituras. Esta suposição pode ser corroborada pelo fato de que mesmo nas histórias bíblicas, quando o Anjo do Senhor vem visitar Seu Povo (como Abraão, Pedro e outros), ele costumeiramente é tomado por um homem, o que dificilmente ocorreria se portasse um par de asas enormes.

A aura de um grande Anjo é muito mais expansível e flexível que a nossa; ele se expressa simultaneamente em formas-pensamento de desenho maravilhosamente belo, em fulgurações de gloriosas cores e através de uma pletora da mais deslumbrante música. Para ele um sorriso de boas-vindas poderia ser um coruscante relampejar de cores e uma torrente de harmonias sonoras; uma frase proferida por um desses valorosos Filhos de Deus seria como um grandioso oratório; uma conversação entre dois grandes Anjos seria como uma poderosa fuga (estilo de composição musical contrapontística onde as várias vozes, que têm aqui igual importância, entram em distâncias e alturas sucessivos e pré-determinados, dialogando em forma de imitação mútua ou eco), com motivo (ou tema, fragmento melódico apresentado na abertura da peça) respondendo a motivo, ecoando em cataratas de harmonia acompanhada de caleidoscópicas mutações de tons flamantes, cintilando como miríades de arco-íris. Anjos há que vivem e se expressam pelo que para nós são fragrâncias e perfumes – mesmo que dizer assim seja degradar e materializar as exóticas emanações nas quais se comprazem tão jubilosos.

Sempre há Anjos cerca da Hóstia Consagrada, mas quando o fulgor aumenta, na Elevação ou no Benedictus, vemos uma surpreendente e ainda mais formosa adição à falange, pois um número de pequeninos Anjos volteiam em seu redor. A maioria dos membros da Hoste Angélica são pelo menos do tamanho humano, e muitos deles são bem maiores que o homem; mas há uma tribo de diminutos querubins que são como aqueles pintados por Ticiano ou Michelangelo. São todos pequenas e maravilhosamente perfeitas criaturas – não diversos de certos tipos de espíritos da natureza, exceto pelo fato de que são muitíssimo mais radiantes e indubitavelmente angélicos em feição; têm aparência de crianças, mas ainda assim parecem muito, muito velhos. São uma imagem do fulgor eterno que é impossível de expressar em palavras; são como aves do paraíso no esplendor de suas cores, seres feitos de luz viva; e eles voejam ou quedam em atitude de adoração, volteando adiante e atrás ao se mover, criam uma espécie de esfera oca em torno da Hóstia – uma esfera de talvez seis metros de diâmetro. Penso que nenhum deles desce ao nível astral; a maioria deles é distinguível somente com a visão do plano causal, o que significa que seu veículo mais denso é feito de matéria pertencente ao plano mental. São da mais alta valia no serviço, pois refletem e transmutam algumas das mais poderosas forças empregadas, e podem veicular grandes quantidades de outras; assim, um torvelinho de indescritível atividade está sempre acontecendo dentro e em torno da esfera.

Há também um outro tipo destas criaturinhas ao qual o título de Anjo é menos adequado. São igualmente graciosas e belas à sua maneira, mas na realidade pertencem ao reino dos elfos ou espíritos da natureza. Eles não se expressam através de perfumes, mas vivem nas cercanias e misturados a tais emanações, e estão onde quer que fragrâncias estejam sendo disseminadas. Há muitas variedades, algumas vivendo de odores repulsivos e pesados, outras somente daqueles delicados e refinados. Entre eles existem algumas poucas espécies que são especialmente atraídas pelo cheiro do incenso, e são encontradas sempre que este é queimado. Quando o sacerdote incensa o altar, criando um campo magnético, enclausura dentro dele um número destes deliciosos elfinhos, e eles absorvem grande quantidade da energia que é acumulada ali, tornando-se valiosos agentes de sua distribuição no momento oportuno.

Nós podemos também guardar em afetuosa lembrança a grande classe de Anjos-Pensamento, que estão especialmente conectados com os serviços da Igreja. O maior de todos é o Anjo da Presença, que aparece toda vez que a Santa Eucaristia é celebrada, e consuma por nós aquele tremendo sacrifício; pois, ao completar os deveres de seu ofício sagrado, o sacerdote pronunciando as palavras de poder, aquele Anjo fulgura, e pelo seu ígneo toque acontece aquela espantosa transmutação que é ao mesmo tempo o maior de todos os milagres e ao mesmo tempo o de todos o mais natural, uma expressão íntima do Amor Divino. Ele é em verdade uma forma-pensamento do próprio Senhor Cristo, uma projeção daquela prodigiosa Consciência.

Não há alegria maior para Seus Santos Anjos que seguir o clarão daquele pensamento, e banhar-se naquele rio de vida, aquele inefável derramar de influência espiritual. E isso acontece em cada Eucaristia; em cada Missa a congregação é de longe muito mais numerosa da que pode ser vista com os olhos físicos; e quando celebramos estes sagrados mistérios, os esquadrões da falange celeste juntam-se a nós, aqui e agora.

Tradução: Ricardo Frantz

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