sexta-feira, 21 de setembro de 2007

O HÁBITO NOCIVO


Hábito é o que incorporamos ao nosso dia a dia. É nossa maneira usual de
ser. É o que realizamos de forma mecânica.
Atitudes que assumimos e realizamos, sem nos darmos conta.
Vejamos: quantas vezes já nos aconteceu de chegar em casa e colocar as
chaves sobre algum lugar?
Tão mecanicamente é executada a ação que, ao precisar das chaves, algum
tempo depois, não conseguimos recordar onde as deixamos.
Saímos de casa, apagamos as luzes, passamos a chave na porta. Depois de
andarmos algumas quadras, nos questionamos se fechamos ou não a casa.
E precisamos retornar para ter a certeza, a fim de que não permaneçamos o
restante do dia em desassossego.
Muitas outras coisas fazemos de forma automática.
Tomamos café, regamos as plantas, alimentamos o gato, sem pensar.
Ao lado dessas questões, outros hábitos temos não muito saudáveis. E, por
incorporados à nossa forma de ser, não nos apercebemos o quão danosos são.
É comum se observar, antes de uma palestra ou conferência, um grande
burburinho pelo salão.
Natural, num primeiro momento, pelo reencontro com amigos, cumprimentos,
saudações, sorrisos, torna-se desagradável quando uma música se faz
presente, e não modificamos nossa postura.
Alguém toca ao piano delicada melodia, ou dedilha um violão, ou canta e nós
prosseguimos a falar, como se nada estivesse acontecendo.
A impressão que se têm é que chegamos ao local programados para ouvir a
palestra. E tudo o mais que antes aconteça, não tomamos conhecimento, não
registramos.
Mau hábito, que caracteriza, inclusive, grande indelicadeza de nossa parte,
desde que o artista que vai se apresentar naquele momento, merece, ao menos,
que permaneçamos em silêncio, para ouvir a sua arte.
E não menos grave é quando, concluída a palestra que nos propusemos ouvir,
de imediato, nos erguemos e saímos com ruído.
Não aguardamos a real conclusão do evento para um lembrete final que se
fará, um agradecimento ao orador, uma advertência útil.
E o mesmo se repete nos cinemas quando, acabado o filme, nos erguemos e
vamos saindo, esquecidos de que muitos apreciam ver todos os créditos.
O que não lhes é permitido porque em nos levantando, obstruímos a sua visão
da tela.
É essa mesma atitude que nos permite observar a miséria perambulando pelas
ruas, sem que nos atinja. Habituamo-nos de tal sorte às cenas que nos
tornamos insensíveis.
Habituamo-nos a ver a corrupção triunfar, que já não desejamos fazer coisa
alguma para a debelar.
Hábitos... Hábito de ver a mentira adquirir forma, volume e não emitirmos
movimento algum no sentido de esclarecer a verdade, de defender o caluniado.
Hábito de receber a bênção da chuva, os raios do sol, as carícias do vento,
sem nenhuma gratidão. Como se o Universo inteiro nos devesse o favor de
servir.
Hábito de não ouvir quem nos fala da sua dor, da sua dificuldade. Hábito de
não pensar senão em si mesmo.
É hora de parar para pensar e buscar refazer atitudes.
Reflitamos que o bom da vida é viver. E para viver intensamente é preciso se
sentir tudo que se faz, tudo que nos chega.
É preciso olhar em torno, estar presente, agir, tomar atitudes pensadas,
atentas.
Desta forma, alteremos o rumo.
Aprendamos a observar o dia, a olhar as pessoas nos olhos, a perceber o que
acontece ao nosso redor.
Moldemos hábitos de gentileza, de delicadeza, de gratidão.
Vivamos mais conscientes. Aprendamos a sentir prazer nas pequenas coisas
como andar, correr, comer, molhar-se na chuva ou aquecer-se ao sol.
Aprendamos a olhar para as estrelas, a nos extasiar com a noite enluarada, a
vibrar com a música, o perfume, as pessoas.
Abandonemos hábitos nocivos e nos tornemos mais felizes, desde agora.

Redação do Momento Espírita.

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O ANIMAL
SATISFEITO
DORME
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O pensamento que intitula esta reflexão é de Guimarães Rosa, e encerra, por trás de aparente obviedade, um profundo alerta existencial.

O que o escritor tão bem percebeu é que a condição humana perde substância e energia vital, toda vez que se sente plenamente confortável com a maneira como as coisas já estão.

Rende-se assim à sedução do repouso e imobiliza-se na perigosa acomodação.

A advertência é preciosa pois, segundo o pensador Mario Sérgio Cortella, que aborda o tema, a satisfação conclui, encerra, termina.

A satisfação não deixa margem para a continuidade, para prosseguimento, para a persistência, para desdobramento.

A satisfação acalma, limita, amortece.

Diz ainda, que, quando alguém nos fala: Fiquei muito satisfeito com você ou Estou muito satisfeito com seu trabalho, é algo assustador.

Explica ele que tal expressão pode ser entendida como uma barreira ao crescimento, dizendo que nada mais de nós desejam, ou que aquele é nosso limite, nossa possibilidade.

O está bom como está pode ser um grande cerceador da evolução, pois pode nos acomodar à situação atual.

Segundo ele, seria muito melhor ouvir a seguinte expressão: Seu trabalho é bom mas fiquei insatisfeito, e portanto, quero conhecer outras coisas.

Percebamos que ele se utiliza da expressão insatisfeito, não para criticar ou depreciar o trabalho, mas para incentivar seu autor à continuidade.

Um bom filme, por exemplo, não é aquele que, quando termina, ficamos insatisfeitos, parados, olhando quietos para a tela, enquanto passam os créditos, desejando que não acabe?

Um bom livro não é aquele que, quando encerramos a leitura, o deixamos no colo, absortos e distantes, pensando que poderia não terminar?

Uma boa festa, um bom passeio, uma boa viagem, não é aquela que desejamos se prolongue, que nunca acabe?

É desta forma que, segundo Cortella, a vida de cada um também deve ser, afinal de contas, não nascemos prontos e acabados.

Ainda bem, pois estar plenamente satisfeito consigo mesmo é considerar-se terminado e constrangido ao possível da condição do momento.

Termina ele dizendo que somos seres de insatisfação, e precisamos alguma dose de ambição em nossas existências.

O animal satisfeito dorme, pois não tem objetivos de vida, não tem razão para sair do lugar.

O ser insatisfeito, sedento por melhorar-se, pára por pouco tempo, avalia-se, celebra e valoriza o que já conseguiu. Depois, segue em frente, rumo ao inexplorado.

* * *

A reencarnação e suas leis são um grande incentivo ao progresso.

Como se acomodar perante um horizonte sem limites?

Como parar de caminhar sabendo que muito nos aguarda à frente?

Como deixar de buscar o aprimoramento constante, se percebemos que quanto mais conseguimos, mais felicidade conquistamos?

Despertemos, aqueles de nós que ainda dormimos o sono da acomodação!

Redação do Momento Espírita com base no texto Não nascemos prontos, do livro Não nascemos prontos - provocações filosóficas, de Mário Sérgio Cortella, ed. Vozes.

www.momento.com.br

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