domingo, 2 de setembro de 2007

VICIAÇÃO ALCOÓLICA




Sob qualquer aspecto considerado, o vício - esse condicionamento pernicioso que se impõe como uma "segunda natureza" constritora e voraz - deve ser combatido sem trégua desde quando e onde se aloje.

Classificado pela leviandade de muitos de seus medos como de pequeno e grande porte, surge com feição de "hábito social" e se instala em currículo de longo tempo, que termina por deteriorar as reservas morais, anestesiando a razão e ressuscitando com vigor os instintos primevos de que se deve o homem libertar.

Insinuante, a princípio perturba os iniciantes e desperta nos mais fracos curiosa necessidade de repetição, na busca enganosa de prazeres ou emoções inusitados, conforme estridulam os aficionados que lhe padecem a irreversível dependência.

Aceito sob o acobertamento da impudica tolerância, seu contágio destrutivo supera o das mais virulentas epidemias, ceifando maior número de vidas do que o câncer, a tuberculose, as enfermidades cardiovasculares adicionados... Inclusive, mesmo na estatística obituária dessas calamidades da saúde, podem-se encontrar como causas preponderantes ou predisponentes as matrizes de muitos vícios, que se tornaram aceitos e acatados qual motivo de relevo e distinção...

Os vitimados sistemáticos pela viciação escusam-se abandoná-la, justificando que o seu é sempre um simples compromisso de fácil liberação em considerando outros de maior seriedade que, examinados, a sua vez, pelos seus sequazes, se caracterizam, igualmente, como insignificantes.

Há quem a relacione como de conseqüência secundária e de imediata potência aniquilante. Obviamente situam suas compressões como irrelevantes em face de "tantas coisas piores"... E argumentam: "antes este" , como se um mal pudesse ter sopesado, avaliada e discutidas as vantagens decorrentes da sua atuação...

Indiscutivelmente, a ausência de impulsão viciosa no homem dá-lhe valor e recursos para realizar e fruir os elevados objetivos da vida, que não podem ser devorados pela irrisão das vacuidades.

A vinculação alcoólica, por exemplo, escraviza a mente, desarmonizando-a, e envenena o corpo deteriorando-o. Tem início através do aperitivo inocente, quão dispensável, que se repete entre sorrisos e se impõe como necessidade, realizando a incursão nefasta, que logo se converte em dominação absoluta, desde que aumenta de volume na razão direta em que se consome.

Os pretextos surgem e se multiplicam para as libações: alegria, frustração, tristeza, esperança, revolta, mágoa, vingança, esquecimento... Para uns se converte em coragem, para outros em entusiasmo, invariavelmente impondo-se, dominador incoercível. Emulação para práticas que a razão repulsa, o alcoolismo faz supor que sustenta os fracos, que tombam em tais urdiduras, quando, em verdade, mais os debilita e arruína.

Não fossem tão graves, por si só, os danos sociais que dele decorrem - transformando cidadãos em parias, jovens em vergados anciãos precoces, profissionais de valor em trapos morais, moçoilas e matronas em torpes simulacros humanos, aceitos e detestados, acatados e temidos nos sítios em que se pervertem, a caminho da total sujeição, que conduz, quando se dispõe de moedas, a Sanatórios distintos e em contrário, às sarjetas hediondas, em ambos os casos avassalados por alienações dantescas -, culmina em impor os trágicos autocídios, por cujas portas buscam, tais enfermos, soluções insolváveis para os problemas que criaram espontaneamente para si próprios... Não acontecendo à queda espetacular no suicídio, este se dá por processo indireto, graças à sobrecarga destrutiva que o alcoólatra ou simples cultivador da alcoolofilia depõe sobre a tecelagem de elaboração divina, que é o corpo. E quando vem a desencarnação, o que é também doloroso, não cessa a compulsão viciosa, em que o espírito irresponsável constata que a morte não resolveu os problemas nem aniquilou a vida...

Nesse capítulo convém considerarmos que a desesperada busca ao álcool - ou substâncias outras que dilaceram a vontade, desagregam a personalidade, perturbam a mente - pode ser, às vezes, inspirada por processos obsessivos, culminando sempre, porém, por obsessões infelizes, de conseqüências imprevisíveis.

A pretexto de comemorações, festas, decisões, não te comprometa com o vício.

O oceano é feito de gotículas e as praias imensuráveis de grãos.

Liberta-te do conceito: "hoje só", quando impelido a comprometimento pernicioso e não te facultes: "apenas um pouquinho", porquanto, uma picada que injeta veneno letal, não obstante em pequena dose, produz a morte imediata,

Está-se bafejado pela felicidade, sorve-a com lucidez.

Se te encontras visitado pela dor, enfrenta-a, abstêmio e forte.

Para qualquer cometimento que exija decisão, coragem, equilíbrio, definição, valor, humildade, estoicismo, resignação, recorre à prece, mergulhando, na reflexão, o pensamento, e haurirás os recursos preciosos para a vitória em qualquer situação, sob qual seja o impositivo.

Nunca te permitas a assimilação do vício, na suposição de que dele te libertarás quando queiras, pois que se os viciados pudessem querer não estariam sob essa violenta dominação.

Pelo Espírito Joanna de Ângelis - Do livro Após a Tempestade, psicografado por Divaldo Pereira Franco - Editora LEAL.

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