terça-feira, 26 de agosto de 2008

A CAMINHO DA LUZ






RENASCIMENTO

A esse tempo opera-se um verdadeiro renascimento na vida
intelectual dos povos mais evolvidos do mundo europeu. A universidade
se constituía de quatro faculdades - Teologia, Medicina, Direito e Artes
reunindo milhares de inteligências ávidas de ensino, que seriam os
grandes elementos de preparação do porvir. Rogério Bacon, franciscano
inglês, notável por seus estudos e iniciativas, é um dos pontos
culminantes dessa renascença espiritual. A Igreja, contudo, proibindo o
exame e a livre opinião, prejudicou esse surto evolutivo, máxime no
capítulo da Medicina, que, desprezando a observação atenta de todos os
fatos, se entregou à magia, com sérios prejuízos para as coletividades.
Favorecida pela necessidade dos panoramas imponentes do culto externo
da religião e pela fortuna particular, a Arquitetura foi a mais cultivada de
todas as artes, em vista das grandes e numerosas construções então em
voga. Com a influência indireta dos Guias espirituais dos vários
agrupamentos de povos, consolidam-se as expressões lingüísticas de
cada país, formando-se as grandes tradições literárias de cada região.



TRANSMIGRAÇÃO DE POVOS

É então que inúmeros mensageiros de Jesus, sob a sua orientação,
iniciam largo trabalho de associação dos Espíritos, de acordo com as
tendências e afinidades, a fim de formarem as nações do futuro, com a sua
personalidade coletiva.
A cada uma dessas nacionalidades seria cometida
determinada missão no concerto dos povos futuros, segundo as
determinações sábias do Cristo, erguendo-se as bases de um mundo
novo, depois de tantos e tão continuados desastres da fraqueza humana.
Constroem-se os alicerces dos grandes países como a Inglaterra, que, em
1258, organiza os Estatutos de Oxford, limitando os poderes de Henrique
III, e em 1265 erige a Câmara dos Comuns, onde a burguesia e as classes
menos favorecidas têm a palavra com a Câmara dos Lordes A Itália
prepara-se para a sua missão de latinidade. A Alemanha se organiza. A
Península Ibérica é imensa oficina de trabalho e a França ensaia os passos
definitivos para a sabedoria e para a beleza.

A atuação do mundo espiritual proporciona à história humana a
perfeita caracterização da alma coletiva dos povos. Como os indivíduos, as coletividades também voltam ao mundo pelo caminho da reencarnação. É assim que vamos encontrar antigos fenícios na Espanha e em Portugal,
entregando-se de novo às suas predileções pelo mar. Na antiga Lutécia,
que se transformou na famosa Paris do Ocidente, vamos achar a alma
ateniense nas suas elevadas indagações filosóficas e científicas, abrindo
caminhos claros ao direito dos homens e dos povos. Andemos mais um
pouco e acharemos na Prússia o espírito belicoso de Esparta, cuja
educação defeituosa e transviada construiu o espírito detestável do
pangermanismo na Alemanha da atualidade. Atravessemos a Mancha e
deparar-se-nos-á na Grã-Bretanha a edilidade romana, com a sua educação
e a sua prudência, retomando de novo as rédeas perdidas do
Império Romano, para beneficiar as almas que aguardaram, por
tantos séculos, a sua proteção e o seu auxílio.



FIM DA IDADE MEDIEVAL

Do plano invisível e em todos os tempos, os Espíritos abnegados
acompanharam a Humanidade em seus dias de martírio e glorificação,
lutando sempre pela paz e pelo bem de todas as criaturas.
Referindo-nos, de escantilhão, à nobre figura de Joana d'Arc, que
cumpriu elevada missão adstrita aos princípios de justiça e de fraternidade
na Terra, e às guerras dolorosas que assinalaram o fim da idade medieval,
registramos aqui, que, com as conquistas tenebrosas de Gêngis Khan e de
Tamerlão e com a queda de Constantinopla, em 1453, que ficou para
sempre em poder dos turcos, verificava-se o término da época medieval.
Uma nova era despontava para a Humanidade terrestre, com a assistência
contínua do Cristo, cujos olhos misericordiosos acompanham a evolução
dos homens, lá dos arcanos do Infinito.



Renascença do mundo

MOVIMENTOS REGENERADORES

Nos albores do século XV, quando a idade medieval estava prestes a
extinguir-se, grandes assembléias espirituais se reúnem nas proximidades do planeta, orientando os movimentos renovadores que, em virtude das determinações do Cristo, deveriam encaminhar o mundo para uma nova era.
Todo esse esforço de regeneração efetuava-se sob o seu olhar
misericordioso e compassivo, derramando sua luz em todos os corações.
Mensageiros devotados reencarnam no orbe, para desempenho de
missões carinhosas e redentoras.
Na Península Ibérica, sob a orientação da personalidade de
Henrique de Sagres, incumbido de grandes e proveitosas realizações,
fundam-se escolas de navegadores que se fazem ao grande oceano, em
busca de terras desconhecidas. Numerosos precursores da Reforma
surgem por toda a parte, combatendo os abusos de natureza religiosa.

Antigos mestres de Atenas reencarnaram na Itália, espalhando nos
departamentos da pintura e da escultura as mais belas jóias do gênio e do
sentimento. A Inglaterra e a França preparam-se para a grande missão
democrática que o Cristo lhes conferira. O comércio se desloca das águas
estreitas do Mediterrâneo para as grandes correntes do Atlântico,
procurando as estradas esquecidas para o Oriente. Jesus dirige essa
renascença de todas as atividades humanas, definindo a posição dos
vários países europeus, e investindo cada qual com determinada
responsabilidade na estrutura da evolução coletiva do planeta. Para
facilitar a obra extraordinária dessa imensa tarefa de renovação, os
auxiliares do Divino Mestre conseguem ambientar na Europa antigas
invenções e utilidades do Oriente, como a bússola para as experiências
marítimas e o papel para a divulgação do pensamento.



MISSÃO DA AMÉRICA

O Cristo localiza, então, na América as suas fecundas esperanças. O
século XVI alvorece com a descoberta do novo continente, sem que os
europeus, de modo geral, compreendessem, na época, a importância de
semelhante acontecimento. As riquezas fabulosas da Índia
deslumbram o espírito aventureiro daquele tempo, e as testas coroadas do Velho Mundo não entenderam a significação moral do continente
americano.
Os operários de Jesus, porém, abstraídos da crítica ou do aplauso
do mundo, cumprem os seus grandes deveres no âmbito das novas terras. Sob a determinação superior, organizam as linhas evolutivas das
nacionalidades que aí teriam de florescer no porvir.

Nesse campo de lutas novas e regeneradoras, todos os
espíritos de boa-vontade poderiam trabalhar pelo advento da paz
e da fraternidade do futuro humano, e foi por isso que, laborando
para os séculos porvindouros, definiram o papel de cada região no
continente, localizando o cérebro da nova civilização no
ponto onde hoje se alinham os Estados Unidos da América do Norte, e o
seu coração nas extensões da terra farta e acolhedora onde floresce o
Brasil, na América do Sul. Os primeiros guardam os poderes materiais; o
segundo detém as primícias dos poderes espirituais, destinadas à
civilização planetária do futuro.



O PLANO INVISÍVEL E A COLONIZAÇÃO DO NOVO MUNDO

Após a descoberta da América, grande esforço de seleção espiritual
foi levado a efeito no seio das lutas européias, no intuito de criar no Novo
Mundo um outro sentido de evolução.
Se os colonizadores da região americana, nos primeiros tempos,
eram os degredados ou os proscritos das sociedades européias, importa
considerar que esses colonos não vinham tão-somente das grandes capitais do antigo continente, na exclusiva observância do plano material.
Do mundo invisível, igualmente, partiram caravanas inúmeras de
almas de boa-vontade, que encarnaram nas terras novas, como filhos
daqueles degredados muitas vezes perseguidos pela
iniquidade da justiça dos homens. A esses Espíritos mais ou menos
adiantados, aliaram-se numerosas entidades da Europa, cansadas das
lutas inglórias de hegemonia e de ambição, buscando a redenção no
esforço construtivo de uma nova pátria em bases sólidas de fraternidade e
amor, originando-se, desse modo, entre os povos americanos,
sentimentos mais elevados, quanto à compreensão da comunidade
continental. Se reconhecemos na América a projeção espiritual da Europa,
temos de convir que se trata de uma Europa mais sábia e mais experiente,
não só quanto aos problemas da concórdia internacional e da
solidariedade humana, como também em todas as questões que significam os verdadeiros bens da vida.



APOGEU DA RENASCENÇA

Essa renascença, iniciada do Alto, clareou a Terra em todas as
direções. A invenção da imprensa facultava o mais alto progresso no mundo das idéias, criando as mais belas expressões de vida intelectual. A
literatura apresenta uma vida nova e as artes atingem culminâncias que a
posteridade não poderia alcançar. Numerosos artífices da Grécia antiga,
reencarnados na Itália, deixam traços indeléveis da sua passagem, nos
mármores preciosos.
Há mesmo, em todos os departamentos das atividades
artísticas, um pronunciado sabor da vida grega, anterior às disciplinas
austeras do Catolicismo na idade medieval, cujas regras, aliás, atingiam
rigorosamente apenas quem não fosse parte integrante do quadro das
autoridades eclesiásticas.



RENASCENÇA RELIGIOSA

A essas atividades reformadoras não poderia escapar a Igreja,
desviada do caminho cristão. O plano invisível determina, assim, a vinda
ao mundo de numerosos missionários com o objetivo de levar a efeito a
renascença da religião, de maneira a regenerar os seus relaxados centros
de força. Assim, no século XVI, aparecem as figuras veneráveis de Lutero,
Calvino, Erasmo, Melanchton e outros vultos notáveis da Reforma, na
Europa Central e nos Países Baixos.
Por ocasião dos primeiros protestos contra o fausto desmedido dos
príncipes da Igreja, ocupava a cadeira pontifícia Leão X, cuja vida mundana
impressionava desagradavelmente os espíritos sinceramente religiosos.
Sob a sua direção criara-se, em 1518, o célebre "Livro das Taxas da
Sagrada Chancelaria e da Sagrada Penitenciaria Apostólica", onde se
encontrava estipulado o preço de absolvição para todos os pecados, para
todos os adultérios, inclusive os crimes mais hediondos.

Tais rebaixamentos da dignidade eclesiástica ambientaram as pregações de Lutero e seus companheiros de apostolado. De nada valeram as
perseguiçõese ameaças ao eminente frade agostiniano.
Alguns historiadores enxergaram na sua missão uma simples
expressão de despeito dos seus companheiros de comunidade, em face
da preferência de Leão X encarregando os Dominicanos da pregação das indulgências. A verdade, contudo, é que o humilde filho de Eisleben tornara-se órgão da repulsa
geral aos abusos da Igreja, no capítulo da imposição dogmática e da
extorsão pecuniária. Os postulados de Lutero constituíram, antes de tudo,
modalidade de combate aos absurdos romanos, sem representarem o
caminho ideal para as verdades religiosas. Ao extremismo do abuso,
respondia com o extremismo da intolerância, prejudicando a sua própria
doutrina. Mas o seu esforço se coroou de notável importância para os
caminhos do porvir.



A COMPANHIA DE JESUS

Uma onda de claridades novas felicitava todas as consciências, mas
os Espíritos tenebrosos e pervertidos, que mostraram ao europeu outras
aplicações da pólvora, além daquelas que os chineses haviam enxergado
na beleza dos fogos de artifício, inspiraram ao cérebro obcecado e doentio
de Inácio de Loiola a fundação do jesuitismo, em 1534, colimando reprimir
a liberdade das consciências.
A Igreja, estendendo mão forte a essa idéia, inaugurava um dos
períodos mais tristes da história ocidental. O Tribunal da Inquisição, com
poderes de vida e morte nos países católicos, fez milhares e milhares de
vítimas, ensombrando o caminho dos povos.

Espetáculos sangrentos e detestáveis verificaram-se em quase todas
as grandes cidades da Europa, os autos-de-fé acenderam horrendas
fogueiras do Santo-Ofício, por toda parte onde existissem cérebros
que pensassem e corações que sentissem.
Instituiu-se a devassa de todos os institutos sociais e a violação de todos os lares. Na Espanha, queimavam o infeliz na praça pública;
na França, tétrica noite causava pesadelos coletivos em
matéria de fé; na Irlanda, muitos "fiéis" faziam questão de levar ao altar de
Jesus a vela feita da gordura dos protestantes.



AÇÃO DO JESUITISMO

A Companhia de Jesus, de nefasta memória, não procurava
conhecer os meios, para cogitar tão-somente dos fins imorais a que se
propunha.
Sua ação desdobrou-se por largos anos de treva, nos domínios da
civilização ocidental, contribuindo amplamente para o atraso moral em que
se encontra o "homem científico" dos tempos modernos.
Suas hordas de predomínio, de cupidez e de ambição não
martirizaram apenas o mundo secular. Também os padres sinceros
sofreram largamente sob a sua preponderância nefasta. Tanto assim que,
quando o papa Clemente XIV tentou extingui-la, em 1773, com o seu breve
"Dominus ac Redemptor", exclamava desolado: - "Assino minha sentença
de morte, mas obedeço à minha consciência." Com efeito, em
setembro de 1774, o grande pontífice entregava a alma a Deus, no meio
dos mais horrorosos padecimentos, vitimado por um veneno letal que lhe
apodreceu lentamente o corpo.
FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER
Ditada pelo Espírito
EMMANUEL

Nenhum comentário: