Livro: Mediunidade e Apostolado
Odilon Fernandes & Carlos A. Baccelli
"Mas, pela graça de Deus, sou o que sou, e a sua graça, que me foi concedida, não se tornou vã; antes trabalhei muito mais do que todos eles; odavia não eu, mas a graça de Deus comigo." 1 Coríntios, cap. 15 – v.10
É evidente que nada existe ou acontece em vão. Tudo obedece a um propósito, que muita vez nos escapa à analise imediata.
Paulo, escrevendo aos coríntios, afirma que a graça que lhe foi concedida "não se tornou vã", ou seja, nele, a visão do Cristo redivivo, antecedendo-lhe os méritos que mais tarde conquistaria, frutificou de maneira prodigiosa, induzindo-o a trabalhar "muito mis do que todos eles" os cristãos dos primeiros dias, muitos dos quais, apesar de seu contato direto com o Senhor, quase nada operaram pela causa do Evangelho.
No entanto Paulo nãos e atribui qualquer mérito pelo esforço valioso que empreendia; antes, debitava à graça de Deus consigo tudo quanto realizava no bem...
Transportando a lição para o campo da mediunidade, notamos que, infelizmente, a faculdade mediúnica em muitos medianeiros se assemelha à figueira estéril.
Contam-se aos milhares os que clamam aos Céus por determinadas concessões que, quando alcançadas, se lhes revelam não serem exatamente o que esperavam.
Quantos imaginam na mediunidade privilegio de natureza pessoal, olvidando que qualquer dom medianímico é sinônimo de trabalho em prol dos semelhantes?!
Quantos aspiram a mediunidade para o seu próprio deleite, recusando-se, todavia, ao serviço da fé em beneficio do próximo?!
Quantos médiuns nãos sabem ser úteis, vendo enormes obstáculos em diminutos entraves do cotidiano?!
Quantos outros não possuem a necessária determinação e a indispensável disciplina que caracterizam as atividades de natureza espiritual?!
E ainda quantos outros portadores de faculdades sensitivas excelentes que parecem amarrados aos invisíveis cordéis da apatia e do comodismo, da descrença em si mesmos e da debilidade que não logram superar?!...
Visitado pela revelação divina às portas de Damasco, o futuro Apostolo dos Gentios colocou-se de imediato, a serviço do Mestre, trabalhando a vida inteira, "mais do que todos", para valorizar a bênção que lhe fora outorgada. Certamente, reconhecendo-se esmagado pela sublimidade do fenômeno que protagonizara, Paulo lutou para superar-se e não permitir que os Céus nele investissem inutilmente.
Médiuns existem que, unicamente por serem médiuns, impõem condições de trabalho, formulam exigências descabidas, reivindicam deferências e privilégios, querem ser distinguidos dos demais companheiros... Não colocam "a Mao na massa", não arregaçam as mangas, não sujam os pés, não vertem o suor do tarefeiro comum. Anseiam pelo tratamento dispensado aos oráculos de hierofantes, sacerdotes e pitonisas, esquecidos de que o médium é chamado, em qualquer circunstancia, a dar exemplo de simplicidade, qual o fez Jesus quando, cingindo-se com uma toalha, lavou os pés dos discípulos...
O médium que não age é comparável ao homem da parábola que enterrou o seu talento...
Quem se sentir apreciado pro este ou aquele dom mediúnico deixe de vez tanta dúvida e tanto questionamento que, na maioria, é o disfarce da má vontade e da falta do desejo sincero de servir.
Em circunstancia nenhuma acredite ser o que não é. Paulo que era o que era, pela graça de Deus foi o que foi, ou seja apesar de suas limitações humanas, fez-se apostolo do Evangelho, sendo ele mesmo um dos maiores exemplos do poder transformador da Boa-Nova sobre as criaturas.
Que quem não se sinta digno de ser médium, esforce-se para sê-lo, invés de preferir renunciar ao exercício da mediunidade a ter que abrir Mao de alguns dos seus caprichos... se a mediunidade procura o homem e o encontra na condição em que ele se apresenta, é porque o aceita sem exigências de qualquer espécie.
Para que, no médium, a mediunidade não se torne vã, ele necessita trabalhar "muito mais do que todos eles", os críticos, os que nele não acreditam, os invejosos, os ciumentos... Trabalhar, é bom que se diga, sem espírito de competição. Trabalhar à feição de alguém que recebeu régio salário antes do serviço executado e que, por isso mesmo, se sente na obrigação de não falhar.
Que ninguém amargue, mais tarde, a dura decepção de ter sido um médium que frustrou as expectativas da Vida a seu respeito, uma espécie de semente que não floresceu...
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