quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Repensando Kardec - Da Lei do Trabalho

(Questões 674 a 685 de O Livro dos Espíritos)

Inaldo Lacerda Lima

http://www.terraespiritual.locaweb.com.br/espiritismo/artigo1405.html

Nesta parte de O Livro dos Espíritos, que trata das Leis Morais, a necessidade e o limite do trabalho tomam vulto especial no capítulo III da Parte 3a da obra maior da Terceira Revelação de Deus à Humanidade.

Se nada mais escrevêssemos além dessa análise reflexiva, já teríamos dito o suficiente para que a missão de Allan Kardec fosse encarada por quem quer que a conhecesse como algo do mais sublimado teor.

Nosso propósito, no entanto, com estes estudos é bem outro. É aprofundar reflexões sobre mensagem tão luminosa quanto perfeita da Espiritualidade, cuja origem não temos condição de compreender senão como emanada das planuras celestiais.

Recordamos, através da História, que a ação de trabalhar era considerada de cunho tão ínfimo que os nobres não trabalhavam. Nada expressaria condição tão desprezível para um nobre como a de trabalhador; talvez por isso mesmo salientara Jesus – “Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também” (João, 5:17) – ao ser censurado pelos fariseus por realizar uma cura num dia de sábado.

Na verdade, quem observa a Natureza e o próprio Universo vê que em tudo há trabalho. A própria vida, em si mesma, é uma ação contínua de trabalho. E a história das civilizações premia-nos com exemplos magníficos de trabalho em todas as áreas do progresso. Do homem de nossos dias ao homem primitivo, parece-nos a distância de um salto apenas! Efetivamente, sem a bênção do trabalho estarímos, ainda, na era da pedra lascada. Vê-se, pois, que na ação de trabalhar se encontra o principal fator que arrastou o homem primitivo à condição do homo sapiens de nossos dias, retardando-o apenas em moralidade.

Por trabalho, aqui, não entenda ninguém apenas as ocupações materiais. Por isso enganavam-se os nobres, quando malsinavam, principalmente na Idade Média dos senhores feudais, o trabalho como atividade inferior. Eles administravam seus bens e poderes, desconhecendo, por força do egoísmo, que isso também era ação de trabalhar.

É que o homem ainda ignorava sua condição de Espírito eterno, que sempre trabalha quando pensa, quando estuda, quando faz Arte, quando procura ser útil. O homem de mente elevada sente que o trabalho se lhe impõe, como conseqüência espiritual, no comando do corpo.

Mas, só nisso? Claro que não! Na Casa do Pai tudo trabalha, mesmo os Espíritos ainda de condição inferior trabalham (LE, questão 540).

Eis que sua alimentação, sua segurança e bem-estar estarão sempre na dependência de certa atividade, e que essa atividade é trabalho.

Assim, quando extremamente fraco o homem, Deus lhe desenvolve a inteligência como compensação da fraqueza, apontando-lhe recursos de ação criadora e produtiva, do que encontramos exemplos em toda a parte.

Observemos uma vez mais a Natureza, no mundo dos seres simples e irracionais. O que vemos é que não há inação em parte alguma.

Tudo trabalha, a partir do átomo com seus elétrons e prótons em ininterrupta movimentação no seio das coisas, mesmo inorgânicas, estruturando, assim, os seres do futuro.

Nas plantas, nos irracionais, nos seres mais pequeninos e simples, na terra e nos mares, tudo se agita, buscando vida e conservação. No homem, porém, o trabalho tem duplo fim: a conservação ideal do corpo – saúde e bem-estar – e o desenvolvimento da capacidade de pensar, de refletir, de aprender mais e mais.

Atentemos, por exemplo, no que está expresso no item 11 do capítulo XVII de O Evangelho segundo o Espiritismo, para melhor reflexão.

Eis que na questão 678, o Codificador do Espiritismo, numa indagação aos Espíritos Superiores, leva-nos a pensar nos mundos mais aperfeiçoados do Universo, ensinando-nos que lá também há necessidades que só serão satisfeitas através do trabalho incessante.

O cientista de nossos dias assesta seus instrumentos de observação na direção do espaço cósmico, e ao captar a imagem do nascimento de um sistema galático, há milhares de anos-luz, extasia-se e exclama: “Um big-bang, é o nascimento do Universo!”

Porque não tem, ainda, alcance para entender que o Universo é ação da plenitude infinita de Deus, e que a Criação é permanente, nunca se interromperá!

Repitamos, mais uma vez, a afirmação de Jesus registrada por João (5:17): “Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também.”

Recordemos aqueles que, por expiação ou prova, impossibilitados se encontram de trabalhar. E Deus, na sublimidade de Seu Amor e Justiça, manda-nos que, fraternalmente, lhes supramos as necessidades, à luz do Evangelho. Acentua, ainda, na questão 681, ser obrigação dos filhos assistirem os pais, quando a estes faltarem forças para trabalhar; e adverte toda a sociedade do dever de amparar os que se incapacitarem.

Quanto ao limite do trabalho e à necessidade do repouso, na velhice, quatro questões ocuparam a atenção dos Espíritos Reveladores, que confirmaram ser o repouso, também, lei natural da vida, tendo em vista que, fisicamente, o trabalho pode exercer desgaste na máquina física do corpo.

Desse modo, o limite do trabalho é decorrente do limite das forças.

Não obstante, quanto a isso, Deus deixa o homem entregue ao seu próprio arbítrio, sem isentá-lo da responsabilidade de prover o que lhe for necessário, na ordem física, social e moral.

Na velhice, por exemplo, pode ocorrer total incapacidade, no homem, para trabalhar, diante do que não lhe deve faltar assistência da própria sociedade através do Estado.

Pois, que há de fazer o velho que já não pode trabalhar e precisa sobreviver? Na verdade, infelizmente, há países de sociedades ainda tão atrasadas moral e espiritualmente que nem mesmo o poder público se faz atento a esse tipo de compromisso fraternal...

Gostaríamos de estender-nos mais sobre um melhor aprofundamento em torno do pensamento do inspirado Missionário da Doutrina do Consolador. Em face, porém, de nossas deficiências, deixamos a cargo do leitor refletir bem nas indagações do mestre Allan Kardec a respeito do que compete à educação moral, social e cívica, tão necessária ao desenvolvimento espiritual do homem...

Fonte: Revista Reformador – set/2004

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