domingo, 24 de agosto de 2008

Despreparo ante a Mediunidade

Livro: Bastidores da Mediunidade
Editora Allan Kardec - 2ª edição - fev.2004
Nora & Emanuel Cristiano

Vinte horas.

O dirigente encarnado fez prece comovente, unindo-nos em vibrações sublimes.

Em seguida, solicitou fossem lidos os nomes dos assistidos para o trabalho de desobsessão.

O orientador espiritual do grupo ligou-se mentalmente ao companheiro responsável pelas vibrações e, à medida que o nomes e endereços eram pronunciados, o benfeitor registrava para o devido socorro.

Quando o último pedido foi feito, entidade discreta e simpática aproximou-se, esclarecendo:

- Sou Antonieta e este caso é referente ao meu filho Albertino.

Desculpa ocupar-te o tempo, mas meu coração solicita amparo. Albertino não dispõe de méritos espirituais, mas eu tenho alguns créditos e, se me for permitido, gostaria de utilizá-los em benefício dele.

Meu filho guarda profundo compromisso com a mediunidade, mas não quer exercitá-la com as orientações espíritas.

Desviou-se para o mediunismo, o folclore, os condicionamentos e a leviandade, esquecendo-se das orientações que lhe leguei.

Por conta disso, angariou falsos orientadores. Estes o estão seduzindo para a idéia de riqueza, incentivando-o ao atendimento domiciliar, a fim de promover "trabalhos" para "abrir caminhos", fazendo da mediunidade uma profissão.

Uma pessoa caridosa encaminhou o nome dele para esta reunião.

Se puderes, irmão, ouve minhas rogativas e, ainda que eu não disponha de méritos, pelo menos por misericórdia, ajude-me a evitar que o meu "menino" se perca na obsessão.

Cândido, o orientador, fortemente sensibilizado, prometeu atenção ao caso. O Coração materno, um pouco mais aliviado, aguardou respeitosamente o desenvolver da reunião.

Vinte horas e cinqüenta minutos.

Um dos companheiros fez a prece respeitosa, encerrando, no plano físico, as atividades da desobsessão.

Cândido, porém, permanecia em intensas atividades. A mente lúcida e experiente organizava os tarefeiros, valorizando o tempo.

Três horas da madrugada

O orientador dava as últimas instruções. Antonieta lançou um olhar interrogativo ao benfeitor que, sem demonstrar o menor desânimo, como que lendo o pensamento da mãe sofredora, colocou-se à disposição para o amparo.

Mobilizada a equipe de trabalhadores espirituais, dona Antonieta mostrou o caminho e, com os recursos que possuíamos, nos dirigimos à casa do assediado.

O rapaz aparentava 30 anos de idade. O corpo em repouso manifestava, de tempos em tempos, uma agitação. Era o reflexo das vivências espirituais negativas de que participava.

A casa mantinha amplo trânsito de Espíritos inferiores. Espiritualmente, o cenário era de dor.

Espíritos zombeteiros gargalhavam, outros gritavam, alguns se diziam magos, feiticeiros, profetas, guias, santos...

Os consulentes que, periodicamente, lhe pediam ajuda e pagavam pelas "orientações", traziam consigo seus adversários espirituais, os quais, simpatizando com o ambiente do lar, disputavam o médium com outras mentes perversas.

Todos os adversários viam em Albertino o canal da desarmonia e das paixões. Facilmente poderia ser induzido à vida sensual, saciando a sede das mentes desequilibradas.

Cândido fez prece ardente, todos irradiamos com intensidade.

Os Espíritos inferiores, observando a mudança do ambiente e verificando a luminosidade que se fez, correram, atropelando-se, e um dos adversários, num crise de cólera, advertiu:

- Venceram, por enquanto. Antonieta, gritou o obsessor cruel, sei que é obra tua, tens amigos iluminados, mas nós somos muitos. Teu filho já é nosso!... nosso!...

O filho de Antonieta saía momentaneamente, da influência dos obsessores.

Albertino retornou abruptamente ao corpo e, sentado na cama, tentava organizar as idéias.

Antonieta aproximou-se, enlaçou-o em vibração ternas e, ajudada pelo mentor, direcionou ao primogênito estas palavras:

- Que aconteceu contigo, filho meu! Onde guardasse os santos ensinamentos de nossa Doutrina? Que fizestes com os livros da Codificação?

Não sabes que perdes tempo? As companhias espirituais que cultivas atrasam teu crescimento. Ajuda-nos a ajudar-te.

Vendo que a emoção a dominava, Cândido solicitou encerrar a visita.

Enquanto nos retirávamos, o mentor orientava a mãe sofredora:

- Acalma-te, Antonieta, confia no Criador. Não nos faltarão recursos para o auxílio. Mas, é preciso lembrar, Albertino está exercendo o livre-arbítrio.

Acredito já esteja no limite da ilusão. Nossa visita hoje foi providencial, certamente ele se sentiu tocado com tuas vibrações. O tutor espiritual do teu filho nos informou que, agora, com novo reforço, poderá aumentar a ajuda.

Unindo nossos recursos e sob a bênção de Deus, as chances de libertação serão maiores.

Certamente, ele engrossará as fileiras dos que vêm ao Espiritismo pela dor. É uma pena que assim seja, mas dos males o menor.

Muitos desconhecem a alegria de trabalhar na seara cristã.

Segundo nos informou o protetor, teu filho será convidado por valorosa colega, na empresa que trabalha, a visitar um bom Centro Espírita.

Ali, passará pelo atendimento fraterno, assistência com a fluidoterapia e, finalmente, os cursos da Doutrina Espírita.

Alegará estar perturbado pela mediunidade, mas sabemos que o verdadeiro responsável pelo desequilíbrio são as atitudes impróprias, e não a faculdade mediúnica, propriamente dita.

Os ensinos evangélicos o fortalecerão.

Está submisso aos Espíritos inferiores por despreparo, empolgação, falta de seriedade na mediunidade e por ausência de ação no bem.

Será convidado para colaborar nas obras assistenciais e, ao ocupar a mente com atitudes úteis, os obsessores se afastarão.

Aprenderá que a mediunidade é coisa santa, que a tarefa mediúnica é sempre muito delicada, demandando respeito, estudo e prática cristã. Que o local apropriado para o intercâmbio mediúnico é o Centro Espírita, que por dispor de companheiros especializados, experientes na área, sendo preciso contar com a amparo do Mais Alto.

Os verdadeiros caminhos que o Espiritismo abre são os do conhecimento espiritual, ensejando a reforma íntima e o progresso.

Agora, só nos cabe orar.

No dia seguinte, o medianeiro desviado do bem acordou tranqüilo, com a sensação de ter convivido com sua mãezinha. Isso lhe trouxe doces lembranças e agradáveis recordações dos primeiros anos de orientação espírita.

Contou a experiência para a sua colega de serviço que, inspirada pelo protetor do médium, acrescentou:

- Albertino, conheci sua mãe, me impressiona como você se desviou da estrada.

Acaso, não sabe que os amigos espirituais fazem o bem pelo desejo de servir? Desde que você começou a comercializar suas forças psíquicas, carrega na alma profunda angústia.

Já existem comentários aqui na empresa. Estão vendo em você a figura de uma charlatão.

Nenhum dos seus "trabalhos" funciona. Os Espíritos amigos não são nossos empregados e não têm interesses materiais.

Assim, você está prestando um desfavor à mediunidade, desacreditando-a publicamente.

Vamos, meu amigo, volte aos círculos espíritas! Tenho certeza, sua mãe é quem está se esforçando. Sabe como é, coração de mãe "pulsa" até mesmo do lado de lá.

Chega de tormenta! Vamos, eu o acompanho, vou lhe fazer companhia. O que me diz?

O protetor do médium entendeu que os segundos eram cruciais. Ligando-se a ele, emanou os melhores pensamentos. De nossa parte, reforçamos as vibrações emitindo nossas salutares influência, imprimindo novo ânimo, aguardando ansiosamente a resposta do medianeiro perturbado.

Instantes depois, enchemo-nos de alegria quando, em seu livre-arbítrio, Albertino decidiu:

- Está certo, chega de ilusão. O orgulho já me legou muita dor e arrependimento. Aceito sua companhia, hoje mesmo iremos ao Centro.

Antonieta, a mãezinha desencarnada, chorava discretamente. Todos rendemos graças a Deus pela oportunidade de socorro, e só demos o caso por encerrado, quando os acompanhamos à respeitável Instituição Espírita, desejando perseverança aos recém-matriculados no Espiritismo.

Albertino fez os anos básicos de estudo, disciplinou a mediunidade, ocupou o pensamento e aprendeu, empiricamente, que ao explorarmos as faculdades espirituais, não estudando os mecanismos da mediunidade, não produzindo o bem, tornamo-nos vulneráveis ao assédio dos adversários espirituais, mostrando despreparo ante a mediunidade, promovendo, com isso, um escolho no caminho do próprio progresso.

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