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quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009
DEUS E UNIVERSO COMO FALA A VIDA
PIETRO UBALDI
[...]
O homem voltou-se, então, para um seu semelhante e lhe disse:
- "Eis finalmente um igual a mim. Resumes todos os seres com que tenho falado até agora. Tens as férreas leis físicas do vento, a sabedoria vegetativa da planta, os sentidos e o instinto do animal, além de uma qualidade nova - a tua liberdade de escolha, o mundo moral com as suas conseqüências. Tu, que dispões de tudo, por que não és perfeito, por que caís em culpa?"
O homem respondeu
- "Caio, porque não sou perfeito. Se peco, é exatamente porque possuo uma qualidade nova. Sou livre, tenho responsabilidade e o direito de escolher".
O animal é mecanicamente sincero na sua ferocidade e não peca, pois que não dispõe de liberdade; não compreende e não pode escolher. A sua visão não se eleva acima de sua Lei, simples, quase mecânica. Eu a domino porque vejo de mais alto, mas ele está encerrado nela. Menos sujeito a errar, é um autômato movido por uma mais profunda sabedoria, que não é sua, mas que tudo sabe. Devo aprender a manejar uma potência diversa, diretora, o que implica lutas que o animal ignora. Devo viver a Lei de Deus, não como cego instrumento constrangido por impulsos íntimos, através dos quais a Lei se faz presente, mas devo vivê-la por livre escolha para assim chegar a compreender a lógica e a bondade dessa Lei e, dessa maneira, tornar-me consciente dela. Esta é a minha experimentação e, se cada um tem a sua lição, esta e a lição que devo aprender. A Lei é única para todos, mas é diverso, segundo os planos evolutivos, o conhecimento que o ser atinge dela. Os elementos, a planta, os animais, aplicam-na em graus diversos, sem nada saber a seu respeito. Só o homem consegue conhecê-la, para livremente segui-la, depois de ter tomado consciência dela, um instrumento, espontâneo executor, porque compreendeu que só nessa ordem está o seu bem e a felicidade.
"A minha vida é dura e difícil, repleta de fadigas e esforços, de abismos que a mecânica do instinto ignora. O animal obedece cegamente, até à brutalidade, às leis da fome e do amor e não pode superá-las. O homem, mesmo sentindo-as prepotentes, como as sente o animal, tem pela superior natureza humana, possibilidade que ele não possui, de sobrepor-se-lhes e subjugá-las: pode completar a catarse biológica ignorada pelo animal, do herói, do gênio, do santo, do místico, que o conduz a um plano de vida ainda mais elevado, no qual as conhecidas características da animalidade são subjugadas e, vencidas. Se no homem ainda sobrevive a besta, já existe em germe o anjo. O homem sofre e luta justamente para desenvolver em si esse germe e tornar-se anjo. Essa é a fase evolutiva que me compete viver. Se, por isso, eu posso criar muito mais do que o animal, porque sou livre também sofrendo posso aprender muito mais do que ele, através de lições que de modo nenhum ele pode conhecer. Enquanto a sabedoria do animal consiste em aguçar os sentidos e as possibilidades físicas, e nisto está toda a expressão de sua vida, eu aguço os sentidos, os meios morais e espirituais, cuidando cada vez mais destes últimos. Quando o animal tiver conseguido ver e ouvir de mais longe, a farejar com maior delicadeza, para assim vencer com meios cada vez mal perfeitos a lula pela vida, terá assim aprendido completamente a lição. Eu terei aprendido a minha somente quando tiver conseguido ver e ouvir com maior bondade e justiça para todos, para vencer a luta pela vida, não destruindo o meu semelhante, mas com ele coordenando-me e colaborando na ordem divina".
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