Modesto professor de História antiga, passei pela sala de aula catalogando civilizações, relatando fatos arqueológicos e emitindo conceitos sobre etnias, formas de sociedades, cultura e artes dos povos, desconfiando, porém, de que trabalhava com informações incompletas e conhecimento fragmentário dos homens e sua própria história.
Não obstante os avanços da ciência e o progresso da tecnologia, da pesquisa e dos métodos de investigação, sentia que a presença do homem na Terra, que as trilhas da sua evolução natural e dos outros seres, que os elos que os interligam na corrente escalonada da vida não podiam se encerrar com as teorias evolucionistas de Charles Darwin, na memória rudimentar do carbono 14 nem tampouco nas alegorias dos textos bíblicos que limitam a história do início do povoamento do Planeta a um casal batizado por Adão e Eva – ele feito do limo da terra; e ela de uma das costelas dele!
Não, a consciência íntima me dizia que a Pré-História tinha dimensões insondáveis no calendário do tempo; que as estações da idade do homem não estavam circunscritas aos estreitos horizontes dos chamados períodos Paleolítico, Mesolítico, Neolítico, até à Idade dos Metais com que a História dividiu a transição do homem entre o seu estágio biológico primitivo e o seu encontro com a civilização, na Era da Escrita.
Ao me deter despretensiosamente no exame daquele mundo fantástico de apontamentos históricos que emergiram da caverna para a era Cristã, eu não podia conceber que a História Contemporânea se caracterizasse pela presença do homo sapiens sapiens, ou seja, do homem que sabe que sabe... Não, era um salto insignificante na corrida do tempo para que o homem alcançasse esse nível de sabedoria, de progresso espiritualizado. Os historiadores me pareciam mais presunçosos do que racionais na fixação dos seus critérios de tempo e espaço, que dividiram os períodos da História da evolução biológica. Por isso, eu preferia ficar com a lógica socrática, segundo a qual o homem sabe quando sabe que não sabe. O padre Antônio Vieira reproduziu esses conceitos nos seus sermões.
A história do homem é a história do Espírito como ser imortal, cuja idade se perde no imenso rosário das reencarnações sucessivas. Em cada reencarnação, na Terra ou noutros mundos, o Espírito sempre avança em progresso intelectual e/ou moral. Ou estaciona, como o aluno que não logra passar de uma série para outra e terá que repetir o curso – dependendo do uso que fizer do seu livre arbítrio, da decisão de tomar, do esforço que empreender ou da negligência a que se entregar. Disso resulta naturalmente o progresso das civilizações. Mas a verdade é que o homem não está aí na Terra nem alhures pela primeira nem pela última vez. Lavoisier deixou isso muito claro na sua lei de conservação da espécie: “nada morre, tudo se transforma.”
O homem, até chegar ao estágio hominal e desenvolver a inteligência, atributo espiritual, percorreu caminhos incontestáveis. E continuará percorrendo-os no curso dessa maratona, que o enriquece com os tesouros da experiência e do conhecimento sobre a sua própria história, que é a história das civilizações nos seus diversos graus de evolução. Gênios como Sócrates, Aristóteles, Copérnico, Galileu Galilei, Kepler, Gutemberg, Einstein e muitos outros que marcaram as diferentes épocas da humanidade não poderiam ter adquirido todo o conhecimento que lhes ornava a genialidade numa única existência. A sua bagagem de sabedoria é o somatório dessas experiências vivenciadas, como já dissemos, no rosário das reencarnações sucessivas. A história do homem está repleta dessas provas. Em missão de pesquisa no Egito em 1928, o francês Jean-François Champollion, aquele que decifrou os hieróglifos, trazendo ao mundo os segredos até então impenetráveis da Civilização Egípcia, descobriu finalmente o curso do rio Nilo nesse país que conhecia tão bem sem nunca o ter visitado.
Como não podia deixar de ser, eu também trouxe na minha bagagem espiritual o somatório das experiências vivenciadas aí – somos aqui o que fomos aí. E é claro que nessa mala que me acompanhou estavam bem arrumadas todas aquelas dúvidas e conjecturas que alimentara sobre a História das sociedades primitivas que povoaram a terra e formaram os diferentes degraus da civilização. Já fazia um bom tempo do meu desembarque no mundo astral, quando fui convidado pelo padre Antônio Gomes para assistir a uma conferência do respeitável historiador Capistrano de Abreu, em determinada escola de treinamento, localizada em belíssimo campus de universidade espiritual.
À entrada de amplo auditório, em conjunto arquitetônico que lembrava o estilo grego, chamou-me a atenção um enorme painel luminescente, exibindo ao fundo a imagem do grande Heródoto, tido por nós quando aí encarnados como o “Pai da História.” Embaixo, no centro de uma enorme mesa de conferência, ladeado por dois senhores – um sustentando um globo representando a Terra, e um outro, um imenso mapa colorido – falava a figura simpática de um ancião, de cuja fronte emanavam raios na forma de uma auréola com tons suaves de um azul aluarado. Era Capistrano de Abreu que dissertava sobre os precênios do homem, os estágios de suas peregrinações no ambiente terrestre, até seu ingresso no que ele chamou de Era do Espírito – tema central da sua conferência para uma assistência formada por espíritos dados como mortos, como era o meu caso, e outros que estavam apenas afastados temporariamente dos seus corpos carnais pelo processo do sono.
Foi uma noite em que me encontrei com o professor Raimundo Girão, pouco antes da sua volta definitiva ao Plano Espiritual. Depois disso, já o visitei aqui com um velho conhecido, Autran Nunes, e minha cara-metade Bárbara, entre outras almas afins cuja simpatia e afeição recíprocas se estendem além dos horizontes estreitos da vida física. Da conferência do eminente historiador, nesse ambiente espiritual, recolhemos ensinamentos valiosíssimos, descrições consistentes sobre mudanças, passagens e situações na esteira das civilizações sucedâneas, que não faziam parte do cabedal de conhecimento de nenhum professor de História do sistema convencional de ensino do meu tempo, nem ainda dos que laboram nestes dias tidos como mais modernos.
E o próprio palestrante ressaltou esse vácuo que ainda persiste na abordagem da História, quando o historiador trata períodos que dividem a chamada linha do tempo, na cronologia dos acontecimentos que assinalam a presença do homem no Planeta Azul, limitando-se ao exame da sua antropologia física, dos caracteres sociológicos e dos seus diversos estágios culturais. “Essa é apenas a história periférica da humanidade terrestre” – disse o conferencista – “pois é impossível compor a história real do homem e das sociedades humanas – da sua origem, da sua presença na Terra e traçar os caminhos do seu futuro sem conhecer a sua realidade espiritual que transcende a todas as informações e experimentações sobre o aspecto físico.” E acrescentou que se a História quiser traduzir a verdade a que se propõe como um dos ramos da ciência sobre o processo evolutivo das civilizações, vai ter que inserir nas suas páginas, mais cedo ou mais tarde, um novo acervo de informações – o da Era do Espírito, o principal e o mais amplo da verdadeira história do homem como ser espiritual eterno.
H. Firmeza
Pereira, Wanderley. Ditado pelo Espírito H. Firmeza.
Nota: H. Firmeza foi quando encarnado o professor de história Hermenegildo de Brito Firmeza.
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