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sábado, 21 de fevereiro de 2009
A Lenda dos Milagres do Amor
A família chegara à floresta para fixar residência, fazia poucos dias.
Os ventos bons da primavera trouxeram o perfume das flores e das árvores - tílias, rönn, bétulas - o canto dos passáros e as mil vozes da natureza para saudarem os novos habitantes.
Havia festa de cor e de alegria que se exteriorizava em toda parte, bailando no ar.
Extasiado, o casal, à porta de entrada da choupana, bendizia a vida, agradecendo essas belas homenagens. Menos o filhinho único de seis anos, que tinha o olhar distante e melancólico.
Neste momento de alegria, saiu do bosque, risonho, um troll (duende), que se aproximou dos recém-chegados e pediu licença para fazer parte do grupo familiar.
Vendo-o, assustaram-se os adultos, que o expulsaram com insultos, dizendo-lhe:
- Como se atreve a vir importunar-nos, esse velho de grandes orelhas e disforme nariz, feio de rosto com rabo eriçado e tão pequeno de estatura, que é insignificante!?
Procurando sorrir, ele explicou:
- Eu sou um small troll (gentil duende) e desejo ser útil. Eu sei amar; porém, ninguém me ama. Por favor, deixem-me entrar e ficar com vocês. Eu vivo muito só.
Com azedume, os adultos exigiram-lhe que não os importunasse mais e se fosse dali, imediatamente.
O troll fitou, então, o menino melancólico, que o olhava com simpatia, e sorriu-lhe. Por um momento a criança não reagiu, mas logo depois, corando, retribuiu-lhe o sorriso.
A partir dali, diariamente, o troll retornava e brincava com a criança, para desagrado dos pais, que o toleravam somente porque perceberam a suave mudança que se foi operando na face pálida e triste do filhinho. Ele agora sorria e falava, corria e cantava as músicas que o troll lhe ensinava.
O novo amigo falou-lhe, então, dos encantos da floresta, dos animais, das águas, dos ventos, das árvores, das folhas, das flores e dos frutos. Apresentou-o às fadas e aos elfos, aos gênios e aos gnomos...
Conforme se passava os dias, o troll foi tendo diminuído o rabo eriçado, as grandes orelhas, o enorme nariz, assumindo uma forma grácil e terminando por torna-se um lindo jovem, que se incorporou à família.
O amor recíproco, entre o troll e a criança, operou os milagres de tornar a criança feliz e o troll um belo e ditoso jovem.
Franco, Divaldo Pereira. Da obra: Sob a Proteção de Deus. Ditado pelo Espírito Selma Largerlöf.
* Selma Largerlöf é uma das maiores escritoras da Suécia. Embora não existam trolls no folclore brasileiro, estes seres elementais aparecem sob outras designações como saci-pererê, o negrinho do patoreio, boitatá e outros tantos
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