quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

OS ANIMAIS TEM ALMA???




ERNESTO BOZZANO



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PREFÁCIO



Já se observou muitas vezes, a propósito das manifestações metapsíquicas, em que os homens são agentes ou percipiente, que elas foram conhecidas em todas as épocas e por todos os povos, mas não se pode dizer a mesma coisa nos casos em que o papel de agente ou percipiente é desempenhado por animais.

Naturalmente que as manifestações metapsíquicas, em que os protagonistas são animais, não podem deixar de estar circunscritas em limites de realização mais modestos do que quando os protagonistas são seres humanos, pois esses limites correspondem às capacidades intelectuais das espécies animais com as quais os fatos se produzem. Entretanto, eles parecem mais notáveis do que se poderia supor à primeira vista. Entre esses fenômenos encontram-se, com efeito, episódios telepáticos em que os animais não desempenham somente o papel de percipiente, mas também o de agentes, episódios concernentes a animais que percebem, ao mesmo tempo em que os homens, espíritos e outras manifestações supranormais fora de toda coincidência telepática e, finalmente, episódios em que os animais percebem, coletivamente com o homem, as manifestações que acontecem nas localidades assombradas. Deve-se acrescentar ainda a estas categorias episódios de materializações de formas de animais obtidas experimentalmente e, enfim, aparições post-mortem, de formas de animais identificados, circunstância que apresenta um valor teórico considerável, já que permite apoiar a hipótese da sobrevivência da psique animal.

O exame deste ramo dos fenômenos metapsíquicas foi completamente esquecido até aqui, embora nas revistas metapsíquicas e, sobretudo, nas coleções dos Proceedings e do Journal da excelente Society for Psychical Research, de Londres, encontrem-se numerosos casos do gênero, mas esses casos nunca foram recolhidos, classificados e analisados por ninguém, tendo-se, aliás, escrito e discutido bem pouco a respeito deles. Não há, pois, grande coisa a se resumir relativamente às teorias formuladas a este respeito.

Observarei apenas que, nos comentários de certo caso isolado pertencente à classe mais numerosa dos fenômenos em questão, isto é, aquela na qual os animais percebem, juntamente com o homem, as manifestações de telepatia ou de assombração, propõe-se a hipótese segundo a qual as percepções psíquicas dessa natureza extrairiam a sua origem de um fenômeno alucinatório criado pelos centros de idealização de um agente humano e transmitido em seguida, inconscientemente, aos centros homólogos do animal presente e percipiente.

Para uma outra classe de fenômenos e precisamente para a das aparições de formas de animais, supõe-se um fenômeno de alucinação pura e simples da parte do percipiente, mas a análise comparada dos fatos mostra que, muitas vezes, as formas de animais são percebidas coletiva e sucessivamente. Elas são, além disto, identificadas com as de animais que viveram e morreram na localidade, e mais, que os percipiente ignoravam que esses animais, vistos nessas condições, tivessem existido.

Assim sendo, é preciso concluir que, de modo geral, as duas hipóteses de que acabo de tratar são insuficientes para considerar os fatos. Esta conclusão é de uma grande importância teórica, pois que ela nos força a admitir a existência de uma subconsciência animal, depositária das mesmas faculdades supranormais que existem na subconsciência humana e, ao mesmo tempo, ela nos leva a reconhecer a possibilidade de aparições verídicas de formas ou almas de animais.

Resulta daí todo o valor científico e filosófico deste novo ramo das pesquisas psíquicas. Ele nos permite prever que devemos, antes, considerá-lo para estabelecer, em bases sólidas, a nova ciência da alma, que ficaria incompleta e mesmo inexplicável sem a contribuição que lhe trazem o exame analítico e as conclusões sintéticas relativamente à psique animal, o que me reservo demonstrar no momento preciso.

Inútil observar que não pretendo, de modo algum, que esta classificação - a primeira tentada sobre o assunto - baste para analisar a fundo um tema tão vasto e de grande importância metapsíquicas, científica, filosófica. Rejubilo-me unicamente de ter levado uma primeira contribuição eficaz às novas pesquisas e de ter com isso despertado o interesse de pessoas que se ocupam com estes estudos, favorecendo assim o acúmulo ulterior do material bruto dos fatos, o que parece indispensável para fazer confinar as pesquisas sobre este jovem ramo das doutrinas metapsíquicas.

Enfim, se quiser indicar a época em que se começou a levar à séria consideração as manifestações metapsíquicas dos animais, dever-se-ia indicar o famoso incidente de telepatia canina do qual o conhecido romancista inglês sir Rider Haggard foi o percipiente, incidente que se produziu em condições tais que é impossível duvidar se dele. Como resultado de uma dessas condições providenciais de tempo, de lugar, de meio, que se encontra bastas vezes no começo da história dos novos ramos da ciência, surgiu na Inglaterra um interesse inesperado, quase exagerado: os jornais políticos se apoderaram dele e o discutiram longamente, do mesmo modo que as revistas de variedades e as revistas metapsíquicas, determinando um ambiente favorável para as novas pesquisas.

É, portanto, oportuno começar a classificação das `manifestações metapsíquicas dos animais pelo caso telepático no qual o percipiente foi o romancista Rider Haggard.

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