REVISTA ESPIRITA JANEIRO/1858
(pag. 13 a 15)
Lemos o que se segue, em le Spiritualiste de Ia Nouvelle-Orléans, do mês de fevereiro de 1857:
- "Recentemente, nos perguntamos se todos os Espíritos, indistintamente, fazem mover as mesas, produzem ruídos, etc., e logo a mão de uma dama, muito séria para brincar com essas coisas, traça, violentamente estas palavras:
- "Quem faz os macacos dançarem em vossas ruas? São os homens superiores?"
"Um amigo, espanhol de nascimento, que era espiritualista, e que morreu no verão passado, nos deu diversas comunicações; numa delas, acha-se esta passagem:
"As manifestações que procurais não estão entre aquelas que agradam mais aos Espíritos sérios e elevados. Confessamos, todavia, que elas têm sua utilidade, porque, mais que nenhuma outra, talvez, elas podem servir para convencer os homens de hoje.
"Para obter essas manifestações, é preciso, necessariamente, que se desenvolvam certos médiuns, cuja constituição física esteja em harmonia com os Espíritos que podem produzi-las. Ninguém duvida que não os vereis, mais tarde, se desenvolverem entre vós; e, então, não serão mais pequenos golpes que ouvireis, mas, ruídos semelhantes a um fogo circulante de fuzilaria entremeado de tiros de canhão.
"Em uma parte recuada da cidade, se acha uma casa habitada por uma família alemã; aí se ouvem ruídos estranhos, ao mesmo tempo certos objetos são deslocados; pelo menos, nos asseguram, porque não o verificamos; mas, pensando que o chefe dessa família poderia nos ser útil, convidamo-lo a algumas sessões que têm por objetivo esse gênero de manifestações, e, mais tarde, a mulher desse bravo homem não quis que continuasse a ser dos nossos, porque, nos disse esse último, o barulho aumentou entre eles. A esse propósito, eis o que nos foi escrito pela mão da Senhora.......
"Não podemos impedir os Espíritos imperfeitos de fazerem barulho, ou outras coisas aborrecidas e mesmo apavorantes; mas o fato de estarem em relação conosco, que somos bem intencionados, não pode senão diminuir a influência que exercem sobre o médium em questão."
Faremos notar a concordância perfeita que existe entre o que os Espíritos disseram em Nova Orleans, com respeito à fonte das manifestações físicas, e o que foi dito a nós mesmos. Nada poderia, com efeito, pintar essa origem com mais energia do que esta resposta, ao mesmo tempo, tão espiritual e tão profunda: "quem faz dançar os macacos nas nossas ruas? São os homens superiores?"
Teremos ocasião de narrar, segundo os jornais da América, numerosos exemplos dessas espécies de manifestações, bem mais extraordinárias do que aquelas que acabamos de citar. Responder-nos-ão, sem dúvida, com este provérbio: tem belo mentir que vem de longe. Quando coisas tão maravilhosas nos chegam de duas mil léguas, e quando não se pode verificá-las, concebe-se a dúvida; mas esses fenômenos atravessaram os mares com o senhor Home, que dele nos deu amostras. É verdade que o senhor Home não se colocou num teatro para operar seus prodígios, e que todo o mundo, pagando um preço de entrada, não pôde vê-los; por isso, muitas pessoas o tratam de hábil prestidigitador, sem refletir que a elite da sociedade, que foi testemunha desses fenômenos, não se prestaria, benevolente-mente, a lhes servir de parceiro. Se o senhor Home tivesse sido um charlatão, não estaria precavido em recusar as ofertas brilhantes de muitos estabelecimentos públicos, e teria re-colhido o ouro a mãos cheias. Seu desinteresse é a resposta, a mais peremptória, que se possa dar aos seus detratores. Um charlatanismo desinteressado seria sem sentido e uma monstruosidade. Falaremos, mais tarde e com mais detalhes, do senhor Home e da missão que o levou à França. Eis, à espera disso, um fato de manifestação espontânea que distinto médico, digno de toda confiança, nos relatou, e que é tão mais autêntico quanto as coisas se passaram entre seus conhecidos pessoais.
Uma família respeitável tinha por empregada doméstica uma jovem órfã de catorze anos, cuja bondade natural e a doçura de caráter lhe haviam granjeado a afeição dos seus senhores. No mesmo quarteirão, habitava uma outra família cuja mulher tinha, não se sabe porque, tomado essa jovem em antipatia, de tal modo que supunha espécie de mau proceder, do qual ela não fora causa. Um dia, quando voltava, a vizinha saiu furiosa, armada de uma vassoura, e quis atingi-la. Assustada, ela se precipita contra a porta, quer tocar, infeliz-mente o cordão se encontra cortado, e ela não pode alcançá-lo; mas, eis que a campainha se agita por si mesma, e se lhe vem abrir. Em sua perturbação, ela não se inteirou do que havia se passado; mas, desde então, a campainha continuou a tocar, de tempo em tempo, sem motivo conhecido, tanto de dia quanto à noite, e quando se ia ver à porta, não se encontrava ninguém. Os vizinhos do quarteirão foram acusados de pregar essa má peça; foi dada queixa perante o comissário de polícia, que fez uma investigação, procurou se algum cordão secreto comunicava fora, e não pôde nada descobrir; entretanto, a coisa persistia, cada vez mais, em detrimento do repouso de todo o mundo, e, sobretudo, da pequena pagem, acusada de ser a causa desse barulho. Segundo o conselho que lhes foi dado, os senhores da jovem decidiram afastá-la deles, e a colocaram com amigos no campo. Desde então, a campainha permaneceu tranqüila, e nada de semelhante se produziu no novo domicílio da órfã.
Esse fato, como muitos outros que vamos relatar, não se passou nas margens do Missouri ou do Ohio, mas, em Paris, Passagem dos Panoramas. Resta, agora, explicá-lo. A jovem não tocou a campainha, isso é positivo; ela estava muito terrificada com o que se passara para pensar em uma travessura da qual fora a primeira vítima.
Uma coisa não menos positiva, era que a agitação da campainha se devia à sua presença, uma vez que o efeito cessou quando ela partiu. O médico, que testemunhou o fato, explica-o por uma possante ação magnética, exercida pela jovem, inconscientemente. Essa razão não nos parece concludente, pois, por que teria ela perdido essa força depois da sua partida? A isso, disse que o terror inspirado pela presença da vizinha deveu produzir, na jovem, uma superexcitação de maneira a desenvolver a ação magnética, e que o efeito cessou com a causa. Confessamos não estar convencidos com esse raciocínio. Se a intervenção de uma força oculta não está aqui demonstrada de maneira peremptória, é ao menos provável, segundo os fatos análogos que conhecemos. Admitindo, pois, essa intervenção, diremos que, na circunstância em que o fato se produziu na primeira vez, um Espírito protetor, provavelmente, quis que a jovem escapasse do perigo que corria; que, malgrado a afeição que seus senhores tinham por ela, talvez, era do seu interesse que ela saísse daquela casa, eis porque o ruído continuou até que tivesse partido.
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