sábado, 14 de julho de 2012

Oxalufã



Oxalufã
IctoonAdicionada por Ictoon
Oxalufã (do iorubá Òrìşà Olúfọn), é um orixá velho e sábio, cujo templo fica em Ifọn, pouco distante de Oxogbô. No Brasil, é uma das "qualidades" de Oxalá, aquela em que ele se apresenta mais velho.

Oxalufã na África

Seu culto permanece ainda relativamente bem preservado na tranqüila cidade de Ifọn, que se caracteriza pela presença de numerosos templos, igrejas católicas e protestantes e mesquitas que atraem, todas elas, aos domingos e sextas-feiras, grandes números de fiéis de múltiplas formas de monoteísmos importados do estrangeiro. Em contraste, com essa afluência, o dia da semana iorubá consagrado a Òrìşànlá interessa atualmente a pouca gente. Exatamente um pequeno núcleo de seis sacerdotes, os Ìwèfà mẹfà (Aájẹ, Aáwa, Olúwin, Gbọgbọ, Aláta e Ajíbódù) ligados ao culto de Òrìşà Olúfọn e uns vinte olóyè, os dignitários portadores de títulos, que fazem parte da corte do rei local, Ọbà Olúfọn.
A cerimônia de saudação ao rei de dezesseis em dezesseis dias pelos Ìwẹfà e pelos Olóyè é impressionante pela calma, simplicidade e dignidade. O rei, Olúfọn, espera sentado a porta do palácio reservada só para ele e que dá para o pátio. Ele estava vestido com um pano e um gorro brancos. Os Olóyè avançam, vestidos de tecido branco amarrado no ombro esquerdo, e seguram um grande cajado. Aproximam-se do rei, param diante dele, colocam o cajado no chão, tiram o gorro, ficam descalços, desatam o tecido e amarram-no à cintura. Com o torso nu em sinal de respeito, ajoelha-se e prostra-se vária vez, ritmando, com uma voz respeitosa, um pouco grave e abafada, uma série de votos de longa vida, de calma, felicidade, fecundidade para suas mulheres, de prosperidade e proteção contra os elementos adversos e contra as pessoas ruins. Tudo isso é expresso em uma linguagem enfeitada de provérbios e de fórmulas tradicionais. Em seguida, os Olóyè e os Ìwèfà vão sentar-se de cada lado do rei, trocando saudações, cumprimentos e comentários sobre acontecimentos recentes que interessam à comunidade. A seguir, o rei manda servir-lhes alimentos, dos quais uma parte foi colocada diante do altar de Òşàlúfọn, para uma refeição comunitária com o deus.

Oxalufã na Bahia

Numa sexta-feira, dia da semana que no Brasil é consagrado a Oxalá, os axés do orixá são retirados do seu “pejí” e levados em procissão até uma pequena cabana, feita de palmas traçadas e simbolizando a viagem de Oxalufã e a sua estadia na prisão.
Na sexta-feira seguinte, ou seja, sete dias após, representando sete anos de encarceramento, tem lugar a cerimônia das “Águas de Oxalá”, águas para lavar Oxalá. Todos os que participam da cerimônia chegam na véspera, à noite. O maior silêncio é observado, a partir da quinta-feira ao findar do dia, estendendo-se até a manhã do dia seguinte. Os participantes vão, antes da aurora, pegar as “Águas de Oxalá”, todos vestidos de branco e com a cabeça coberta com um pano igualmente branco. Forma um longo cortejo que vai em silêncio, precedido por uma das mais antigas mulheres dedicadas a Oxalá, que agita, sem parar, um pequeno sino de metal branco, chamado adja. Fazem três viagens até a fonte sagrada. Nas duas primeiras, a água derramada sobre os axés de Oxalá. Essa parte do ritual é realizada como lembrança das pessoas do reino de Oyó que foram, em silêncio e vestidas de branco, buscar água para Oxalufã lavar-se. Na terceira vez, que ocorre ao nascer do dia, os vasos cheios d’água são arrumados em volta do axé de Oxalá. A proibição de falar é sustada, cânticos acompanhados pelo ritmo dos tambores são entoados e transes de possessão se produzem entre as filhas de Oxalá, como testemunho da satisfação do deus.
No domingo seguinte, tem lugar uma cerimônia, pouco importante, mas exatamente uma semana depois, realiza-se uma procissão que leva os axés de Oxalá ao seu “pejí” simbolizando a volta de Oxalufã ao seu reino.
Uma versão sincretizada das “Águas de Oxalá” é a lavagem do chão da Basílica do Senhor do Bonfim que acontece todos os anos na Bahia, na quinta-feira precedente ao domingo do Bonfim. Alguns piedosos católicos tinham o hábito de lavar zelosamente o chão da igreja, um ato de devoção que não é particular a esse templo. No Bonfim, porém, tomou um caráter diferente, pois os descendentes de africanos, movidos por um sentimento de devoção, tanto ao Cristo como ao deus africano, fizeram uma aproximação entre as duas lavagens: a dos axés de Oxalá e aquela do solo da igreja que leva o nome católico do mesmo orixá. Os devotos aparecem em grande número a fim de participarem da lavagem, na quinta-feira do Bonfim.
Essa festa é atualmente, uma das mais populares da Bahia. Nesse dia, as baianas, vestidas de branco, cor de Oxalá, vão em cortejo à igreja do Bonfim. Trazem na cabeça potes contendo água para lavar o chão da igreja e flores para enfeitar o altar. São acompanhadas por uma multidão, onde sempre figuram as autoridade civis do Estado da Bahia e da cidade de Salvador.

Mitos de Oxalufã

  • Oxalufã, rei de Ifan, decidira visitar Xangô, o rei de Oyó, seu filho. Antes de partir, Oxalufã consultou um babalaô para saber se sua viagem se realizaria em boas condições. O babalaô respondeu que ele seria vítima de um desastre, não devendo, portanto, realizar a viagem. Oxalufã, porém, tinha um caráter obstinado e persistiu em seu projeto, perguntando que sacrifícios poderia fazer para melhorar a sua sorte. O babalaô lhe confirmou que a viagem seria muito penosa, que teria de sofrer numerosos reveses e que, se não quisesse perder a vida, não deveria jamais recusar os serviços que, por acaso, lhe fossem pedidos, nem reclamar das conseqüências que disso resultassem. Deveria, também, levar três roupas brancas para trocar e sabão. Oxalufã se pôs a caminho e, como fosse velho, ia lentamente, apoiado em seu cajado de estanho. Encontrou, logo depois, Èsù Elèpo Pupa (‘Exu-Dono-do-Azeite-de-Dendê’), sentado à beira da estrada com um barril de Azeite-de-Dendê ao seu lado. Após uma troca de saudações, Exu pediu a Oxalufã que o ajudasse a colocar o barril sobre a sua cabeça. Oxalufã concordou e Exu aproveitou para, durante a operação, derramar, maliciosamente, o conteúdo do barril sobre Oxalufã, pondo-se a zombar dele. Este não reclamou, seguindo as recomendações do babalaô; lavou-se no rio próximo, pôs uma roupa nova e deixou a velha como oferenda. Continuou a andar com esforço, e foi vítima, ainda por duas vezes, de tristes aventuras com Èşù-Eléèdu (‘Exu-Dono-do-Cavão’) e Èşù Aláàdì (‘Exu-Dono-do-Óleo-da-Amêndoa-de-Palma). Oxalufã, sem perder a paciência, lavou-se e trocou de roupa após cada um das experiências.Chegou, finalmente, à fronteira do reino de Oyó e lá encontrou um cavalo que havia fugido, pertencente a Xangô. No momento em que Oxalufã quis amassar o animal, dando-lhe espigas de milho, com a intenção de levá-lo ao seu dono, os servidores de Xangô, que estavam à procura do animal, chegaram correndo. Pensando que o homem idoso fosse um ladrão, caíram sobre ele com golpes de cacete e jogaram-no na prisão. Sete anos de infelicidade se abateram sobre o reino de Xangô. A seca comprometia a colheita, as epidemias acabavam com os rebanhos, as mulheres ficavam estéreis. Xangô, tendo consultado um babalaô, soube que toda essa desgraça provinha da injusta prisão de um velho homem. Depois de seguidas buscas e muitas perguntas, Oxalufã foi levado à sua presença e ele reconheceu seu pai Oxalá. Desesperado pelo que havia acontecido, Xangô pediu-lhe perdão e deu ordem aos seus súditos para que fossem, todos vestidos de branco e guardando silêncio em sinal de respeito, buscar água três vezes seguidas a fim de lavar Oxalufã. Em seguida, este voltou a Ifan, passando por Ejigbô para visitar seu filho Oxaguiã, que, feliz por rever seu pai, organizou grandes festas com distribuição de comidas a todos os assistentes.

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