A morte, sempre detestada, especialmente quando chega
interrompendo a infância e a juventude, ou mesmo quando se encarrega de
arrebatar os afetos que constituem estímulos à luta e exemplos de
coragem e dignidade, prossegue incompreendida e malsinada.
Anelada pelos desesperados, que esperam com o seu
concurso encerrar a existência que se lhes apresenta como desfavor ou
castigo, é evitada, a todo custo, pelos que desfrutam das alegrias e dos
prazeres, transferindo-a para um futuro que esperam não seja alcançado
rapidamente.
Frutos do materialismo ambos os comportamentos, ou da
pobreza religiosa que não dispõe de recursos para assegurar a confiança
na imortalidade, a desencarnação permanece como um grande enigma para os
viandantes da esfera carnal.
Envolta em mistério pela tradição cultural de muitos
povos, ou significando gesto de estoicismo e de valor, na expectativa de
recompensas no Além, surge, no suicídio, como um recurso valioso para a
glória daquele que se permite a covarde fuga dos elevados compromissos,
especialmente quando esse gesto tem caráter religioso ou político,
ceifando outras vidas...
O terrorismo internacional encontrou nesse terrível
engano, o gatilho para destruir existências louçãs, estimulando o crime
hediondo, mediante falsas promessas de júbilos e de prazeres
inexcedíveis no mundo espiritual, como se o suicídio ampliado em
homicídio merecesse recompensa ao invés de punição.
A morte, no entanto, é o encerramento da injunção
biológica, nas suas sucessivas transformações, colocando reticências
numa fase do processo da vida, ao tempo que faculta a abertura de um
portal pra o triunfo na imortalidade.
É compreensível que se busque aproveitar ao máximo a
oportunidade carnal, ampliando o tempo e as condições favoráveis à
existência planetária, tendo-se, porém, na mente que, por mais se
prolongue esse périplo, momento surgirá em que será naturalmente
interrompido, graças aos mais diferentes fatores que lhe sejam a
causalidade.
A vida certamente não gastaria mais de dois bilhões de
anos para organizar as moléculas desde as mais primárias até os
complexos mecanismos cerebrais como os de outros órgãos, para, num
determinismo trágico, logo as destruir, aniquilando-as nas suas
transformações químicas e biológicas.
Desse modo, a morte é um portal de acesso a outra
dimensão de onde a vida se originou, a fim de ser realizado um objetivo
adrede estabelecido que é o aperfeiçoamento intelecto-moral do Espírito,
na busca da plenitude.
Desagregam-se as partículas e reoganizam-se,
incessantemente, obedecendo a leis desconhecidas que lhes trabalham a
essência dentro de uma programação clara a e lógica denominada vida.
Por que o ser humano deveria aniquilar-se, quando os fatos comprovam amiúde a sua sobrevivência?
Para aqueles que somente veem o lado hedonista da
existência, o ideal seria que a morte lhes significasse o término de
todos os esforços e lutas, anulando-os no nada. Como, porém, o nada não
existe, não passa de uma concepção existencialista sem qualquer
fundamento científico...
Morte, portanto, é prosseguimento da vida.
*
A angústia provocada pela morte de um ser querido é
compreensível e justa, em razão da ruptura dos liames da afetividade
firmada na convivência, no contato físico, na estruturação do grupo
social. Não, poucas vezes, transforma-se em desalento, perda de sentido
existencial daquele que fica no corpo, empurrando-o para os transtornos
graves da depressão...
Nada obstante, cultivada a certeza do prosseguimento da
vida, a saudade é substituída pela esperança do reencontro, das
evocações felizes que devem preencher os espaços vazios e a ternura de
todos os momentos ditosos, transformando-se em estímulo para as ações
dignificantes em memória daquele que viajou antecipadamente....
A morte é, portanto, um fenômeno natural e abençoado que
encerra largos processos de sofrimento, de desvitalização, de
perturbações emocionais e mentais, de enfermidades degenerativas e
dolorosas, alargando os horizontes da vida em novos mecanismos antes
adormecidos.
Vivendo-se num universo onde tudo se transforma em
incessantes mecanismos de energia vigorosa, o ser humano é o resultado
da mais avançada tecnologia transcendental, elaborado por Deus e pelos
Seus excelsos programados da vida, a fim de que alcance o nível de
luminosidade, num retorno à Causa que o originou.
O essencial é viver-se no corpo com todo o respeito pela
sua organização e pelos mecanismos emocionais e mentais,
intelectualizando a matéria, que se tornará menos densa e penosa no
processo de evolução.
Todos os desafios e incertezas, dificuldades e problemas constituem
instrumentos pedagógicos que promovem o progresso, ensejando o
conhecimento libertador da ignorância, ao mesmo tempo facultando a
edificação dos sentimentos superiores em direção a todas as criaturas.
Uma existência humana é grande investimento da Divindade
que a elaborou, tendo por meta o seu crescimento moral e espiritual, na
superação dos atavismos do comportamento inicial, para alcançar os
patamares sublimes da perfeição relativa que lhe está destinada desde o
começo.
Os instintos, que são uma forma de inteligência
embrionária, alcançarão o nível de sentimentos edificantes, deixando, à
margem, as paixões primitivas e defensivas para permitir que o amor
reine soberano em todos os seus pensamentos e atos.
Viver, pois, no corpo, não é apenas experienciar-lhe as
sensações básicas e primárias; sobretudo, é vivenciar os sublimes
sentimentos da paz e da fraternidade que devem viger entre todos os
seres humanos.
Tarefa ingente e inadiável essa, convocando todos ao
esforço da transformação moral para melhor, num infatigável trabalho de
autoiluminação.
Eis porque o Espiritismo propõe o sentido psicológico da
existência humana, que pode ser reduzido a três fatores essenciais: o
amor em todos os seus aspectos, o trabalho de dignificação pessoal e da
sociedade, e, por fim, a transformação de qualquer tragédia ? mortes
prematuras, processos de injustiça, doenças irreversíveis, dificuldades
econômicas e acontecimentos infelizes ? em triunfo pessoal no largo
jornadear pelas sinuosas estradas físicas, como prescrevia o admirável
psiquiatra austríaco Viktor Frankl.
Desse modo, quando ocorre a morte, de maneira alguma
será interrompido o processo de crescimento do Espírito, tornando-se um
renascimento em outra dimensão, qual sucede com a reencarnação, que pode
ser considerada como uma forma de morte no arcabouço material.
*
Não te desesperes ante o falecimento de um ser querido, que parece haver-te abandonado...
Ele viajou de retorno ao Grande Lar, onde te aguarda com ternura e gratidão.
Se foste feliz ao seu lado, recorda-te de todos os
momentos de júbilo e envolve-o em evocações afetuosas e de gratidão.
Nada obstante, se foi causa de muitos padecimentos, agradece a Deus a
felicidade de haveres resgatado os teus débitos para com ele, e
prossegue adiante firmado em valores positivos de homenagem à vida.
Tudo vibra, tudo vive, e o ser humano jamais morre.
Divaldo Pereira Franco. Pelo Espírito Joanna de
Ângelis. Psicografia de Divaldo Pereira Franco, no dia 7 de junho de
2011, na residência de Josef Jackulak, em Viena, Áustria. Fonte: http://www.divaldofranco.com/ |
* * * Estude Kardec * * *
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