quarta-feira, 1 de agosto de 2007

EVOLUÇÃO EM DOIS MUNDO-ANDRÉ LUIZ



Vampirismo espiritual

PARASITISMO NOS REINOS INFERIORES — Co¬mentando as ocorrências da obsessão e do vampirismo no veí¬culo fisiopsicossomático, é importante lembrar os fenômenos do parasitismo nos reinos inferiores da Natureza.
Sem nos reportarmos às simbioses fisiológicas, em que microorganismos se albergam no trato intestinal dos seus hos¬pedadores, apropriando-se-lhes dos sucos nutritivos, mas geran¬do substâncias úteis à existência dos anfitriões, encontraremos a associação parasitária, no domínio dos animais, à maneira de uma sociedade, na qual uma das partes, quase sempre após insi¬nuar-se com astúcia, criou para si mesma vantagens especiais, com manifesto prejuízo para a outra, que passa. em seguida, à condição de vítima.
Em semelhante desequilíbrio, as vítimas se acomodam, por tempo indeterminado, à pressão externa dos verdugos; con¬tudo, em outras eventualidades, sofrem-lhes a intromissão direta na intimidade dos próprios tecidos, em ocupação impertinente que, às vezes, se degenera em conflito destruidor e, na maioria dos casos, se transforma num acordo de tolerância, por necessi¬dade de adaptação, perdurando até à morte dos hospedeiros es¬poliados, chegando mesmo a originar os remanescentes das agregações imensamente demoradas no tempo, interferindo nos princípios da hereditariedade, como raízes do conquistador, a se entranharem nas células que lhes padecem a invasão nos componentes protoplasmáticos, para além da geração em que o con¬sórcio parasitário começa.
Em razão disso, apreciando a situação dos parasitas, pe¬rante os hospedadores, temo-los por ectoparasitas, quando limi¬tam a própria ação às zonas de superfície, e endoparasitas, quando se alojam nas reentrâncias do corpo a que se impõem.
Não será lícito esquecer, porém, que toda simbiose explo¬radora de longo curso, principalmente a que se verifica no cam¬po interno, resulta de adaptação progressiva entre o hospedador e o parasita, os quais, não obstante reagindo um sobre o outro, lentamente concordam na sociedade em que persistem, sem que o hospedador considere os riscos e perdas a que se expõe, com¬prometendo não apenas a própria vida, mas a existência da pró¬pria espécie.
TRANSFORMAÇÕES DOS PARASITAS — Temos, as¬sim, na larga escala dos acontecimentos dessa ordem, os parasi¬tas temporários, quais as sanguessugas e quase todos os insetos hematófagos, que apenas transitoriamente visitam os hospeda¬dores; os ocasionais ou os pseudoparasitas, que sistematicamen¬te não são parasitas, mas que vampirizam outros animais, quan¬do as situações do ambiente a isso os conduzam; os permanen¬tes de desenvolvimento direto, que dispõem de um hospedador exclusivo e a cuja existência se encontram ajustados por laços indissolúveis, quase todos relacionáveis entre os endoparasitas; os parasitas chamados heteroxênicos, que se fazem adultos, em ciclo biológico determinado, contando com um ou mais hospe¬deiros intermediários, quando se encontram em período larval, para atingirem a forma completa no hospedeiro definitivo; os hiperparasitas, que são parasitas de outros parasitas.
Concluindo-se que o parasitismo, entre os animais, não decorre de uma condição natural, mas sim de uma autêntica adaptação deles a modo particular de comportamento, é justo admitir se inclinem para novos característicos na espécie.
Assim é que o parasita, no regime de adaptação a que se entrega, experimenta mutações de vulto a se lhe exprimirem na forma, por reduções ou acentuações orgânicas, compreendendo-se, desse modo, que o desaparecimento de certos órgãos de loco¬moção em parasitas fixados e a conseqüente formação de órgãos necessários à estabilidade em que se harmonizam devem ser analisados como fenômenos inerentes à simbiose injuriante, no¬tando-se nesses seres a fácilidade de fecundação e a resistência vital, com a extrema capacidade de encistamento, pela qual se¬gregam recursos protetores e se isolam dos fatores adversos do meio, como o frio ou o calor, tolerando vastos períodos de abs¬tenção de qualquer alimento, a exemplo do que ocorre com o percevejo do leito, que consegue viver, mais de seis meses consecutivos, em completo jejum.
Continuando a examinar as alterações nos parasitas em atividade, assinalamos muitos platelmintos e anelídeos que, em virtude do parasitismo, perderam os apêndices locomotores, substituindo-os por ventosas ou ganchos.
Identificamos a degeneração do aparelho digestivo em vá¬rios endoparasitas do campo intestinal e, por vezes, a total ex¬tinção desse aparelho, como acontece a muitos cestóides e acantocéfalos que, vivendo, de maneira invariável, na corrente abun¬dante de sucos nutritivos já elaborados no intestino de seus hos¬pedadores, convertem os órgãos bucais em órgãos de fixação, prescindindo de sistema intestinal próprio, de vez que passam a realizar a nutrição respectiva por osmose, utilizando toda a su¬perfície do corpo.
De outras vezes, quando o parasita costuma ingerir gran¬de massa de sangue, demonstra desenvolvimento anormal do intestino médio, que se transforma em bolsa volumosa a funcionar por depósito de reserva, onde a assimilação se opera, vaga¬rosa, para que esses animais, como sejam as sanguessugas e os mosquitos, se sobreponham a longos jejuns eventuais.
TRANSFORMAÇÕES DOS HOSPEDEIROS — Toda¬via, se os parasitas podem acusar expressivas transformações, àface do novo regime de existência a que se afeiçoam, os resultados de tais associações sobre o hospedeiro são mais profundos, porque os assaltantes, depois de instalados, se multiplicam, ameaçadores, estabelecendo espoliações sobre as províncias or¬gânicas da vítima, sugando-lhe a vitalidade, traumatizando-lhe os tecidos, provocando lesões parciais ou totais ou estendendo ações tóxicas, como a exaltação febril nas infecções, com que, algumas vezes, lhe apressam a morte.
Nessa movimentação perniciosa ou letal, conseguem irri¬tar as células ou destruí-las, obstruir cavidades, seja nos intesti¬nos ou nos vasos, embaraçar funções e obliterar glândulas im¬portantes, quais as glândulas genitais, que podem levar até àcastração, embora os recursos defensivos do hospedeiro sejam postos em evidência, criando exércitos celulares de combate às infestações, expulsando os invasores por via comum, ou neutra¬lizando-lhes a penetração, pelas membranas fibrosas que os en¬volvem, encistando-os a princípio, para aniquilá-los, depois, em pequeninos invólucros calcificados, no interior dos tecidos.
E lembrando os efeitos de certos parasitas heteroxênicos, que se desenvolvem no hospedeiro intermediário para alcançar a posição adulta no hospedeiro definitivo, bastará menção espe¬cial aos tripanossomas que, em espécies várias, se multiplicam nos tecidos e líquidos orgânicos, traçando aflitivos problemas da parasitologia humana, em complicadas operações de trans¬missão, evolução e instalação no quadro fisiológico de suas víti¬mas. Vale citar, dentre eles, o ‘Trypanosoma cruzi” que se hos¬peda, habitualmente no intestino médio de um “triatoma” ou de outro reduviídeo, onde apresenta formas arredondadas em divi¬são para adquirir novamente a forma de tripanossoma no intesti¬no posterior do hemiptero que, vivendo à custa de sangue, obti¬do por picada, vem a transmiti-lo pelas fezes, ao organismo hu¬mano, no qual, geralmente, passa a residir, em forma endocelu¬lar, nos músculos, no sistema nervoso, na medula dos ossos ou na intimidade de tecidos outros, aí se difundindo, na medida das resistências que lhe ofereça o mundo orgânico, desempenhando o papel de carrasco microscópico a perseguir e aniquilar popu¬lações indefesas.
OBSESSÃO E VAMPIRISMO — Em processos diferen¬tes, mas atendendo aos mesmos princípios de simbiose prejudi¬cial, encontramos os circuitos de obsessão e de vampirismo entre encarnados e desencarnados, desde as eras recuadas em que o espírito humano, iluminado pela razão, foi chamado pelos princípios da Lei Divina a renunciar ao egoísmo e à crueldade, à ignorância e ao crime.
Rebelando-se, no entanto, em grande maioria, contra as sagradas convocações, e livres para escolher o próprio caminho, as criaturas humanas desencarnadas, em alto número, começa¬ram a oprimir os companheiros da retaguarda, disputando afei¬ções e riquezas que ficavam na carne, ou tentando empreitadas de vingança e delinqüência, quando sofriam o processo liberató¬rio da desencarnação em circunstâncias delituosas.
As vítimas de homicídio, e violência, brutalidade mani¬festa ou perseguição disfarçada, fora do vaso físico, entram na faixa mental dos ofensores, conhecendo-lhes a enormidade das faltas ocultas, e, ao invés do perdão, com que se exonerariam da cadeia de trevas, empenham-se em vinditas atrozes, retribuindo golpe a golpe e mal por mal.
Outros desencarnados, exigindo que Deus lhes providen¬cie solução aos caprichos pueris e proclamando-se inabilitados para o resgate do preço devido à evolução que lhes é necessária, tornam-se madraços e gozadores, e, alegando a suposta impos¬sibilidade de a Sabedoria Divina dirimir os padecimentos dos homens, pelos próprios homens criados, fogem, acovardados e preguiçosos, aos deveres e serviços que lhes competem.
“INFECÇÕES FLUÍDICAS” — Muitos acometem os adversários que ainda se entrosam no corpo terrestre, empolgan¬do-lhes a imaginação com formas mentais monstruosas, operando perturbações que podemos classificar como “infecções fluí¬dicas” e que determinam o colapso cerebral com arrasadora loucura.
E ainda muitos outros, imobilizados nas paixões egoísti¬cas desse ou daquele teor, descansam em pesado monodeísmo, ao pé dos encarnados, de cuja presença não se sentem capazes de afastar-se.
Alguns, como os ectoparasitas temporários, procedem à semelhança dos mosquitos e dos ácaros, absorvendo as ema¬nações vitais dos encarnados que com eles se harmonizam, aqui e ali; mas outros muitos, quais endoparasitas conscien¬tes, após se inteirarem dos pontos vulneráveis de suas víti¬mas, segregam sobre elas determinados produtos, filiados ao quimismo do Espírito, e que podemos nomear como simpati¬nas e aglutininas mentais, produtos esses que, sub-repticia¬mente, lhes modificam a essência dos próprios pensamentos a verterem, contínuos, dos fulcros energéticos do tálamo, no diencéfalo.
Estabelecida essa operação de ajuste, que os desencarna¬dos e encarnados, comprometidos em aviltamento mútuo, reali¬zam em franco automatismo, à maneira dos animais em absoluto primitivismo nas linhas da Natureza, os verdugos comumente senhoreiam os neurônios do hipotálamo, acentuando a própria dominação sobre o feixe amielínico que o liga ao córtex frontal, controlando as estações sensíveis do centro coronário que aí se fixam para o governo das excitações, e produzem nas suas víti¬mas, quando contrariados em seus desígnios, inibições de funções viscerais diversas, mediante influência mecânica sobre o simpático e o parassimpático. Tais manobras, em processos in¬trincados de vampirismo, prestigiam o regime de medo ou de guerra nervosa nas criaturas de que se vingam, alterando-lhes a tela psíquica ou impondo prejuízos constantes aos tecidos so¬máticos.
“PARASITAS OVÓIDES” — Inúmeros infelizes, obstinados na idéia de fazerem justiça pelas próprias mãos ou confiados a vicioso apego, quando desafivelados do carro físico, envolvem sutilmente aqueles que se lhes fa¬zem objeto da calculada atenção e, auto-hipnotizados por imagens de afetividade ou desforço, infinitamente repetidas por eles próprios, acabam em deplorável fixação mo¬noideística, fora das noções de espaço e tempo, acusando, passo a passo, enormes transformações na morfologia do veículo espiritual, porqüanto, de órgãos psicossomáticos retraídos, por falta de função, assemelham-se a ovóides, vinculados às próprias vítimas que, de modo geral, lhes aceitam, mecanicamente, a influenciação, à face dos pen¬samentos de remorso ou arrependimento tardio, ódio voraz ou egoísmo exigente que alimentam no próprio cérebro, através de ondas mentais incessantes.
Nessas condições, o obsessor ou parasita espiritual pode ser comparado, de certo modo, à sacculina carcini, que, provida de órgãos perfeitamente diferenciados na fase de vida livre, en¬raiza-se, depois, nos tecidos do crustáceo hospedador, perdendo as características morfológicas primitivas, para converter-se em massa celular parasitária.
No tocante à criatura humana, o obsessor passa a viver no clima pessoal da vítima, em perfeita simbiose mórbida, absor¬vendo-lhe as forças psíquicas, situação essa que, em muitos ca¬sos, se prolonga para além da morte física do hospedeiro, con¬forme a natureza e a extensão dos compromissos morais entre credor e devedor.
PARASITISMO E REENCARNAÇÃO — Nas ocorrências dessa ordem, quando a decomposição da vestimenta carnal não basta para consumar o resgate preciso, vítima e verdugo se equiparam na mesma gama de sentimentos e pensamentos, caindo, além-tumulo, em dolorosos painéis infernais, até que a Misericórdia Divina, por seus agentes vigilantes, após estudo minucioso dos crimes cometi¬dos, pesando atenuantes e agravantes, promove a reencarnação da¬quele Espírito que, em primeiro lugar, mereça tal recurso.
E, executado o projeto de retorno do beneficiário, a re¬gressar do Plano Espiritual para o Plano Terrestre, sofre a mu¬lher, indicada por seus débitos à gravidez respectiva, o assédio de forças obscuras que, em muitas ocasiões, se lhe implantam no vaso genésico por simbiontes que influenciam o feto em ges¬tação, estabelecendo-se, desde essa hora inicial da nova existên¬cia, ligações fluídicas através dos tecidos do corpo em forma¬ção, pelas quais a entidade reencarnante, a partir da infância, continua enlaçada ao companheiro ou aos companheiros menos felizes, que integram com ela toda uma equipe de almas culpa¬das em reajuste.
Desenvolve-se-lhe, então, a meninice, cresce, reinstrui-se e retorna à juvenilidade das energias físicas, padecendo, porém, a influência constante dos assediantes, até que, freqüentemente por intermédio de uniões conjugais, em que a provação emoldu¬ra o amor, ou em circunstâncias difíceis do destino, lhes ofereça novo corpo na Terra, para que, como filhos de seu sangue e de seu coração, lhes devolva em moeda de renúncia os bens que lhes deve, desde o passado próximo ou remoto.
Em tais fatos, vamos anotar situações quase idênticas às que são provocadas pelos parasitas heteroxênicos, porqüanto, se os adversários do Espírito reencarnado são em maior número, atuam, muitos deles, à feição dos tripanosso¬mas, tomando os filhos de suas vítimas e afins deles pró¬prios, por hospedeiros intermediários das formas-pensamen¬tos deploráveis que arremessam de si, alcançando em segui¬da, a mente dos pais ou hospedeiros definitivos, a inocular-lhes perigosos fluídos sutis, com que lhes infernizam as almas, muitas vezes até à ocasião da própria morte.
TERAPÊUTICA DO PARASITISMO DA ALMA — Importa, no entanto, observar que todos os sofrimentos e cor¬rigendas a que nos referimos estão conjugados para as cons¬ciências encarnadas ou não, dentro da lei de ação e reação que a cada um confere hoje o equilíbrio ou o desequilíbrio, por suas obras de ontem, reconhecendo-se Uunbém que assim como existem medidas terapêuticas contra o parasitismo no mundo orgânico, qualquer criatura encontra, na aplicação viva do bem, eficiente remédio contra o parasitismo da alma.
Não bastará, porém, a palavra que ajude e a oração que ilumina.
O hospedeiro de influências inquietantes que, por suas aflições na existência carnal, pode avaliar da qualidade e exten¬são das próprias dívidas, precisará do próprio exemplo, no ser¬viço do amor puro aos semelhantes, com educação e sublima¬ção de si mesmo, porque só o exemplo é suficientemente forte para renovar e reajustar.
A ação do bem genuíno, com a quebra voluntária de nos¬sos sentimentos inferiores, produz vigorosos fatores de transfor¬mação sobre aqueles que nos observam, notadamente naqueles que se nos agregam à existência, influenciando-nos a atmosfera espiritual, de vez que as nossas demonstrações de fraternidade inspiram nos outros pensamentos edificantes e amigos que, em circuitos sucessivos ou contínuas ondulações de energia renovados, modificam nos desafetos mais acirrados qualquer disposi¬ção hostil a nosso respeito.
Ninguém necessita, portanto, aguardar reencarnações fu¬turas, entretecidas de dor e lágrimas, em ligações expiatórias, para diligenciar a paz com os inimigos trazidos do pretérito, porque, pelo devotamento ao próximo e pela humildade real¬mente praticada e sentida, é possível valorizar nossa frase e san¬tificar nossa prece, atraindo simpatias valiosas, com intervenções providenciais, em nosso favor.
É que, em nos reparando transfigurados para o melhor, os nossos adversários igualmente se desarmam para o mal, com¬preendendo, por fim, que só o bem será, perante Deus, o nosso caminho de liberdade e vida.

Uberaba, 19/3/58.

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