quarta-feira, 1 de agosto de 2007

DIÁLOGOS COM AS SOMBRAS - Hermínio C.Miranda




O MATERIALISTA

Este não constitui problema difícil, no trabalho de esclareci¬mento. Viveu, na carne, convicto de que além da matéria nada existe; de que, além da morte, só há o silêncio e a escuridão do não-ser. Às vezes, tais posições foram meramente filosóficas, isto é, platônicas. A despeito da descrença em qualquer tipo de realidade póstuma, não foram intrinsecamente maus, apenas desencantados, indiferentes, desarvorados intimamente, embora, na aparência, se¬guros e tranqüilos. São mais acessíveis, e mais prontamente aceitam a nova realidade.
Outros, porém, são daqueles que, descrentes da vida espiri¬tual, entregaram-se de corpo e alma ao culto desenfreado da ma téria. Ao contrário dos teóricos do materialismo, estes são os que o praticam, em todos os sentidos. Disputaram fortunas a ferro e fogo, intrigando, matando, se preciso fosse, promovendo negociatas, roubando, falsificando, ao mesmo tempo em que se deixaram arras¬tar pelo sensualismo pesado, que avilta todos os sentidos e anes¬tesia cada vez mais as faculdades e a sensibilidade. Para estes, nada é sagrado, nada importa, senão a satisfação de suas ambições, de seus desejos, de suas vontades.
A objetiva realidade da vida póstuma põe-nos em estado de total confusão. Alguns deles, endurecidos nas suas convicções, con¬tinuam a viver no mesmo clima de maquinações e articulações, ainda presos aos seus interesses terrenos, perseguindo aqueles en¬carnados e desencarnados que se atravessaram no seu caminho. Geralmente desejam a volta à carne, pois somente nela se sentem relativamente felizes, não apenas pelo esquecimento de suas mi¬sérias íntimas, mas porque lhes proporciona os prazeres mais gros¬seiros a que se habituaram.
Em outros, o choque desperta para uma condição que eles não poderiam jamais admitir sem o impacto da desencarnação. Quando incorporados aos médiuns, embora confusos, a princípio, acabam por reconhecer que continuam vivos depois da “morte”, pois estão pensando e falando, vendo e sentindo, através de um corpo que, evidentemente, não é o seu. Lembram-se das doenças que tiveram, mas se recusam a admitir que “morreram”, porque isto implicaria reconhecer que o materialismo que professavam éinteiramente falso. A relutância é, ainda, vaidade. Preferem continuar negando, por algum tempo, do que admitirem, honestamen¬te, que foram ludibriados por sua própria descrença na verdade superior.
É preciso conduzi-los com tato e paciência. A súbita e inopor¬tuna revelação da nova condição em que se encontram, poderá colocá-los em lamentável estado de choque emocional. Temos que compreender que é difícil àquele que não acredita na sobrevivên¬cia admitir que, a despeito da descrença em si mesmo, ele sobre¬viveu.
Em “Reformador” de setembro de 1975, no artigo “Lendo e Comentando”, está relatado um caso desses, tratado com extrema habilidade e carinho por uma excelente doutrinadora inglesa. O Espírito, por nome Tom, vivera agarrado aos seus bens e, especialmente, ao seu ouro, e, na sua imaginação, continuava a mani¬pular as moedas, no mundo espiritual, totalmente desligado da nova realidade que vivia. Aos poucos, vai sendo conduzido a admiti-la.

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