Amon-Rá
representa perfeitamente a evolução da religião egípcia ao longo de sua
história; Amon, deus de Tebas e libertador do Egito quando o pais fora
invadido pelos povos asiáticos chamados e Hicsos, fundiu-se com o deus
criador do universo, Rá, cultuado na cidade de Heliópolis desde o
surgimento desta civilização. Assim, após a vitória de Tebas contra os
invasores no período que é convencionalmente conhecido como Segundo
Período Intermediário egípcio, ocorreu a fusão dos dois mais importantes
deuses da religião egípcia.
Amon-rá,
era visto como rei dos deuses e como força criadora de vida. É marido
de Mut e pai de Khonsu. O seu nome significa "O Oculto". O seu principal
centro de culto era a cidade de Iunu, no Norte do País (depois chamada
Iunu-Ré, em sua honra), à qual os Gregos deram mais tarde ainda o nome
de Heliópolis ("cidade do sol"), e que a Bíblia chama de On. Como uma
das culturas agrícolas mais antigas e mais bem sucedidas da Terra, os
antigos egípcios deram ao seu deus sol, Ré, a supremacia, reconhecendo a
importância da luz do sol na produção de alimentos. Ao amanhecer, Rá
era visto como uma criança recém-nascida saindo do céu ou de uma vaca
celeste, recebendo o nome de Khepri. Por volta do meio-dia Rá era
contemplado como um pássaro voando ou barco navegando. No pôr-do-sol, Ré
era visto como um homem velho descendo para a terra dos mortos, sendo
conhecido como Atum. Durante a noite, Rá, como um barco, navegava na
direção leste através do mundo inferior em sua preparação para a
ascensão do dia seguinte. Em sua jornada ele tinha que lutar ou escapar
de Apopis, a grande serpente do mundo inferior que tentava devorá-lo.
Rá
foi adorado desde os tempos mais remotos da história do Antigo Egito,
encontrando-se associado desde cedo à realeza. Segundo alguns relatos,
Ré teria vivido em Heliópolis e teria governado o Egito antes do
nascimento das dinastias históricas, sendo os faraós seus descendentes. O
nome do primeiro rei da II dinastia, Raneb ("Ré é o senhor"), foi a
primeira alusão registada ao deus num nome real. No período da IV
dinastia a referência ao deus entra na titulatura dos faraós através do
nome de "filho de Rá" (Sa Rá), que Khafré emprega pela primeira vez. Na V
dinastia os reis dedicam-se a Rá estruturas ao ar livre cujo ponto mais
importante era um obelisco e que são conhecidas como templos solares.
A
representação habitual de Rá era na forma de um homem com cabeça de
falcão encimada pelo disco solar e pelo uraeus (serpente sagrada que
cuspia fogo, destruindo desta forma os inimigos do deus), segurando nas
mãos o ankh e o ceptro uase. Quando o deus realizava a sua viagem
nocturna ao mundo subterrâneo era representado como um homem mumificado
com cabeça de carneiro (Efu Rá, "o sagrado carneiro do Oeste"). Poderia
ainda figurar como uma criança real cuja cabeça emerge de um lótus. Rá
tinha como emblema o obelisco que era considerado como um raio do sol
petrificado. Na sua forma animal poderia encarnar como falcão, leão,
gato, como touro Mnévis (o ba de Rá) ou no pássaro Benu.
Pensa-se
que Amon seria um deus local de Hermontis. A referência mais antiga ao
deus encontra-se nos Textos das Pirâmides que pertencem à época do
Império Antigo. Nestes textos Amon surge como uma divindade menor,
associada ao ar (brisa), protector dos navegantes. A importância do deus
cresceu após o Primeiro Período Intermediário, tendo atingido Tebas. Os
reis do Império Médio, nomeadamente os Amenemhat fizeram de Amon o
principal deus do Egito, atribuindo-lhe características de divindade
solar. Assim, Amon foi identificado com o deus Ré (ou Rá) de Heliópolis,
através da forma Amon-Ré. Amon também substituiu Montu como deus de
Tebas. A importância de Amon atinge o auge durante o Império Novo, após a
derrota dos Hicsos. A família real tebana que expulsou aquele povo
asiático tinha o deus em elevada consideração e assim se explica a
importância de Amon no Império Novo. O seu culto era tão importante
nesta época que o deus se tornou o principal alvo a abater pelo faraó
Akhenaton(também chamado Amenófis IV), que lançou uma reforma religiosa
na qual Aton seria a única divindade que deveria ser adorada. Esta
reforma (que para alguns autores é arcaizante pois procurava-se retomar
às concepções solares do Império Antigo) manifestou-se apenas entre os
membros do círculo de Akhenaton, já que o povo continuou a prestar culto
a Osíris e a Amon. Durante os reinados de Tutankhamon, Ai e Horemheb,
Amon voltou a ocupar o lugar de deus tutelar da dinastia. Com a invasão
do Egito pela Assíria (671-663 a.e.c.) o deus não perdeu a sua
importância. Por sua vez, os Núbios que tomaram conta do Egito, formando
a XXV dinastia, eram adeptos do deus, preservando o seu culto. Segundo o
relato Alexandre Magno teria consultado o oráculo do oásis de Siuá
(onde Amon era associado a Júpiter), tendo o deus declarado-o como seu
filho ao qual garantiu conquistas territoriais. Os primeiros reis
ptolemaicos apoiaram o culto de Amon por motivos políticos, porém quando
Ptolomeu IX Sóter II destruiu Tebas com o objetivo de debelar uma
revolta o culto ao deus sofreu um golpe.
Entre os cerúleos pilares de lápis-lazuli do
enleante templo dos céus, o Sol, sedutor feiticeiro do Infinito,
transfigurava, através da mística alquimia da luz, a noite da
inexistência, perpétuo algoz da alma humana, no resplandecente dia da
vida eterna. E seus lábios luzentes, pétalas de luz da fragrante rosa de
fogo que a aurora desfolhava sobre o leito do horizonte, na ânsia de
perfumar as núpcias do céu e da terra, albergavam o berço da humanidade e
a matriz da perfeição universal. No Antigo Egito, Amon-Rá, imanente
encarnação do astro- rei, era soberano do sublime éden de fruição
espiritual, de cujo seio de apoteoses divinas brotava o fruto da
harmonia cósmica que deuses e homens cobiçavam. Ávidos de saciar a sua
sede no néctar de paz intemporal dele resvalado, estes coroavam os céus
com arco -íris talhados em hinos esplendorosos que exaltavam a
magnificência do excelso regente dos deuses: "Único é o oculto que
permanece velado para os deuses, sem que a sua verdadeira forma seja
conhecida. Nenhum deles conhece a sua verdadeira natureza que não é
revelada em nenhum escrito. Ninguém o pode descrever, é demasiado vasto
para ser apreendido, demasiado misterioso para ser conhecido. Quem
pronunciasse o seu nome secreto seria fulminado." (Hino a Amon).
Todavia, oráculo algum preconizara que tal deidade, quase escrava do
anonimato total no Antigo Império, viria a coroar-se "rei dos deuses"
(nesu- netjeru) e incontestável soberano do vasto reino dos céus. Com
efeito, é apenas no decorrer do Médio Império, que Amon, efígie do Sol
criador, após haver vagueado, enquanto peregrino de luz, pelos ignotos
céus do desconhecimento, alcança por fim o santuário de magia
imarcescível, erguido no horizonte da fé em honra do panteão egípcio,
onde, volvida uma viagem mágica, que lhe permitiu a absorção de diversas
outras deidades, o deus solar renasce, cantando a Aurora do seu poder
como divindade nacional, dinástica, universal e criadora. Os jardins
onde a mitologia egípcia semeou as origens de Amon constituem ainda um
paraíso proibido, cujos encantos florescentes se oferecem somente à
nossa Imaginação nômada. Porém, alguns egiptólogos crêem que
originalmente Amon não era senão uma deidade do ar, que no Infinito nas
crenças egípcias, partilhava as características de Chu, estatuto do qual
não jamais viu-se privado, mesmo após a sua meteórica ascensão até ao
trono celeste. É, de fato, como rosa de vento, orvalhada de doces
brisas, que Amon desabrocha para a Primavera da popularidade na região
tebana de Ermant. Esta teoria é, contudo, contestada por uma fração
oponente, a qual defende que Amon, na realidade, floresceu na mitologia
egípcia enquanto um dos membros da Ogdóade de Hermopólis, formando assim
com Amonet, sua parceira feminina, um dos quatros casais que a
constituíam. Nesta representação, Amon e a sua esposa encarnam os
princípios primordiais, suspensos nos braços da escuridão, que se
transfiguravam num hipotético dinamismo criador. A introdução de Amon na
região tebana ofereceu-lhe uma inaudita ascensão no seio da Ogdoáde, ao
indigitá-lo líder dos deuses que a formavam.
Independentemente das dúvidas que, quais planetas perdidos no
Universo da História, orbitam em torno da fulgurante estrela que
exaltara o nascimento de Amon, é certo que este deus manteve-se cativo
do cárcere do anonimato até ao Império Médio. Com efeito, a partir da
XII dinastia, o seu culto desenvolve-se de forma surpreendentemente
célere, permitindo a Amon ser consagrado soberano incontestável do
panteão egípcio. Despindo a mortalha de nuvens que obliterava o seu
rutilante corpo de Sol, Amon inundou de luz as almas dos monarcas
egípcios que, em retribuição, permitiram que o sublime pulsar do coração
da eternidade entoasse até ao seu atroz eclipsar, a maviosa sinfonia
composta pelo doce epíteto do deus criador. Assim, em Karnak foram
edificados templos, cujo esplendor conquistou o tempo e desafiou a
morte. Concomitantemente, o faraó torna-se filho carnal de Amon,
proclamando-se assim emissário dos deuses entre os homens e vice- versa.
Em Tebas, cidade cuja cosmogonia combina elementos oriundos de
Hermopólis, Heliópolis e Mênfis, Amon tange no doce harpa do coração da
doce deusa Mut a harmoniosa melodia do amor. Com ela e com Khonsu, fruto
dos seus esponsais, formará uma poderosa tríade. Na qualidade de deus
patrono da capital egípcia (Tebas), Amon é coroado regente dos deuses.
Contemplando a surpreendente ascensão ao trono dos céus do agora
prestigiado deus criador, o clero abraça a resolução de talhar na sua
coroa de luz a jóia rara de uma teologia apta a exaltar o fastígio da
sua soberania, fato facilmente constatável através da leitura e análise
do seguinte mito. Canta a lenda que a serpente Kematef, ou seja, "a que
cumpre o seu tempo", emergiu de Nun, o excelso oceano de energia
primordial, no local exato da cidade de Tebas, brindando os céus com o
nascimento de Irta, isto é, "aquele que fez a terra", para de seguida
desbravar o paraíso indômito dos sonhos.
Por seu turno, Irta, sublime ourives da Criação, converteu as trevas
do nada no suntuoso tesouro do Universo, principiando por esculpir a
terra, eterna barca de rubis navegando nos mares de pérolas negras do
Infinito e, ato contínuo, os já citados oito deuses primordiais que se
dirigiram a Hermopólis, a Mênfis e a Heliópolis para sonharem o
esplendor da luz divina que do áureo corpo do Sol se desprendia (Ptah e
Aton). Traídos pela sua obra colossal, que no decorrer da sua concepção
todas as suas forças havia furtado, as oito deidades retornaram a Tebas,
onde, à semelhança de Kematef e Irta, saborearam as nascentes de
fruição espiritual que brotavam do éden das quimeras. No cosmos deste
mito, a constelação de Amon brilhou enquanto ba (poder criador) de
Kematef, o que cimentou a sua posição fautor das maravilhas da Criação.
Gradualmente, Amon fundiu a sua identidade com a de Rá, senhor de
Heliópolis, concebendo assim a deidade Amon-Rá, suprema encarnação do
astro- rei. Esta conotação solar do deus tebano é enfatizada pelos seus
adoradores: "Tu és Amon, tu és Aton, tu és Khepri", numa clara oblação
às inúmeras metamorfoses vividas pela deidade solar, principiando pelo
seu derradeiro mergulho no oceano do horizonte, enquanto Sol poente
(Aton), até à sua ressurreição sob a forma de Sol nascente (khepri).
Conquistando igualmente aparência e funções de Min, deus da
fertilidade, Amon, agora, Amon- Min, encarna os elementos primordiais da
Criação. De fato, algumas das primeiras representações de Amon em
Karnak, datadas do início da XII dinastia, representam o deus tebano,
enquanto fruto da sua fusão com Min. Através da associação ecléctica às
mais proeminentes deidades do panteão egípcio (Rá, Ptah e Min), Amon
conquista a dádiva do poder, inevitavelmente depositada no suntuoso
altar de sua alma iluminada, bordando nas sedas consteladas que velam a
etérea silhueta do Universo a poesia da sua sublimação, enquanto
divindade nacional, primordial e demiúrgica. Durante o reinado de
Akhenaton, em meados do séc. XIV, o deus tebano é alvo da perseguição do
regente, quiçá numa represália contra o intimidatório poder do clero
amoniano, que aumentara proporcionalmente ao prestígio da deidade em
questão. Após uma noite de cerca de quinze anos, uma aurora adornada de
paradoxos e controvérsias canta a ressurreição do Sol, que uma vez mais
se apodera do trono dos céus, sob a forma de Amon. Este converter das
trevas na luz deve-se à alquimia secreta de um único faraó: Tutankhamon
(reinado: 1337- 1348 a.e.c.).
Um orvalho cristalino, eivado de mil enigmas, perla a rosa da
fortuna, em cujas pétalas repousa o simulacro incerto do príncipe
Tutankhaton, espírito isento de origens concretas. Teria o futuro faraó
despontado dos braços de Akhenaton ou do seio de uma família nobre? Um
vórtice de conjecturas enlaça igualmente o significado do seu nome,
sendo " imagem viva de Aton" ou "poderosa é a vida de Aton" as traduções
mais credíveis. Após a extinção de Akhenaton, o trono do Egito
oferece-se ao olhar hesitante de Tutankhaton, uma criança de apenas nove
anos, que, contudo, havia já desposado a terceira filha do faraó
falecido. Inebriado pelo fausto de jogos e festas, enclausurado num
débil esboço de uma personalidade esbatida, Tutankhaton prostra-se
diante dos conselhos de um preceptor, possivelmente, o alto- dignitário
Ay, ignorando as ferozes querelas entre os partidários de Amon e de
Aton, cujo fulgor torna-se num sorriso da heresia. Gradualmente, a
influência do clero enleia, irreversivelmente, o ingénuo jovem,
depositando na sua alma ainda perfumada pela infância, o desejo de
retornar ao seio da primordial religião, tecida em torno de Amon. Por
conseguinte, o jovem altera o seu nome para Tutankhamon, entregando cada
suspiro do seu império aos lábios de nácar do politeísmo. Desta forma,
no regaço de seu reinado o compasso do tempo esculpiu o sepulcro da
excelsa "Cidade do Sol", cujo fulgor foi extinto com o fito de restituir
a soberania à olvidada cidade de Tebas, no seio da qual o faraó se
reinstalou, concedendo, uma vez mais, imensuráveis poderes aos
sacerdotes que se prostravam diante do divino simulacro de Amon.
Submissamente, todos aqueles que haviam ornado de vida a quimérica
cidade de Akhenaton seguiram a família real, entregando Akhetaton aos
nefastos braços da decadência. As carícias letais do vento árido
arrebatou o fastígio dos templos e palácios, resumindo-os a lúgubres
escombros, no coração da areia enclausurados. Somente após 3000 anos, a
alma desta cidade foi enfim libertado do seu lúrido cárcere.
Intoxicado pelo incenso celestial queimado sobre a cidade de Tebas,
Tutankhamon não empreendeu qualquer campanha militar, impedindo assim
uma ascensão do Egito no plano internacional. Privado do seu antigo
poder, o exército egípcio entrega-se aos braços da decadência. Na
realidade, somente a contínua vigília de Horemheb, a quem Tutankhamon
havia entregue plenos poderes, impediu toda e qualquer invasão do
território egípcio. Este general encontrava-se deveras distante da
imagem de soldado grosseiro e rude que inúmeras vezes lhe é atribuída na
atualidade. Trata-se, na verdade, de um escriba, um letrado, cuja alma
se encontra escravizada pelo amor ao direito e à justiça. Ao completar
quinze anos, no ano 6 do seu reinado, a consciência dos seus deveres
fende as pálpebras outrora cerradas de Tutankhamon, Desprendendo-se do
torpor da infância, o jovem faraó principia a mergulhar nos seus ofícios
de soberano, recorrendo ao pronto auxílio de seus mentores Ay e
Horemheb, detentores de um poder imensurável, concedido pelo próprio
regente. Surpreendentemente, Tutankhamon lida, habilmente, com a
política externa, solucionando diversas questões pendentes.
Simultaneamente, almeja restituir ao Egito o seu esplendor estonteante,
pelo que ordena a restauração e construção de monumentos e o
levantamento de ruínas. De seu espírito resvalaram rasgos de luz,
orvalhados pelo gotejar da independência, que fenderam enfim a sufocante
influência que Ay e Horemheb possuíam sobre o faraó e sobre o destino
do Egito. Porém, quando Tutankhamon completou dezoito anos, a auspiciosa
melodia entoada pela sua fortuna extinguiu-se nas trevas de uma
sinfonia de silêncio, concebida pelas lúgubres carícias da morte...
No paraíso de seu reinado, brotou a cobiçada fonte da ressurreição,
onde Amon, outrora cativo do sepulcro do esquecimento, saciou a sua sede
de vida. Durante cerca de meio século, mais precisamente de 1000 a.e.c.
até 525 a.e.c., data da invasão persa, a soberania da suntuosa cidade
de Tebas não foi senão dança ritmada da melodia de luz refletida pelos
cristais de Sol, que no olhar de uma magnificente dinastia de mulheres
haviam esculpidos pela benção do astro- rei. A estas mulheres,
intituladas "Adoradoras Divinas" ou, em egípcio, duat-netjer, o faraó
havia concedido, sem hesitar, um poder espiritual e régio sobre a
principal cidade santa do Alto Egipto.
Sacerdotisas iniciadas nos mistérios de Amon, a quem se uniam em
esponsais divinos, com o fito de lhes prestarem um culto ornado de um
certo erotismo, as Adoradoras Divinas eram regra geral provenientes de
famílias nobres. Em diversas representações, contemplamos o rito que
permitia à dama despertar na carne e espírito do deus tebano os ardores
da paixão. Sob a liderança desta casta de mulheres viviam sacerdotisas,
contempladas como o "harém de Amon", a quem era também confiada a
incumbência de semear o desejo no peito do rei dos deuses e preservar a
harmonia entre os céus e a terra. Enquanto esposas de Amon, as
Adoradoras divinas, não obstante não serem coagidas a celebrar votos de
castidade, eram privadas não de vincular um casamento humano, mas também
de ter filhos. De fato, a herdeira do seu cargo era a sua filha
espiritual, elevada a este estatuto através da adoção.
Consagrando-se
exclusivamente ao culto da deidade, as Adoradoras Divinas, excelsas
instrumentistas que na harpa do cosmos fazem vibrar a energia celestial,
garante da vida terrena, embora não fossem reclusas, usufruíam da maior
parte do seu tempo no interior do templo de Amon em Karnak, onde todos
os dias persuadiam o deus a exprimir de forma benéfica o seu poder
criador.
Personalidades proeminentes no seio da cidade tebana, as Adoradoras
Divinas eram incontestáveis proprietárias de casas, terrenos, servidores
e diversos outros bens que contribuíam para a sua comodidade e
autonomia.
Detalhes e vocabulário egípcio:
Amonet- Deusa constituinte da Ognóade de Hermopólis. É freqüente
depararmo-nos em Tebas com efígies suas, enquanto versão feminina do
deus Amon, papel geralmente concedido a Mut. Diversos textos da dinastia
ptolomaica apresentam-nos Amonet ou Amaunet como encarnação do vento do
Norte, a mãe primordial que "é pai", isto é, aquele que sem intervenção
masculina se encontra apta a conceber os seus filhos. Algumas fontes
revelam que Amonet deu à luz Rá, ou, segundo outras vozes, Amon,
enquanto personificação de Rá. É exequível aventurar que o culto
dedicado à deusa ultrapassa o da sua versão masculina em antiguidade.
Identificamos Amon nas diversas representações que o honram, como um
homem ostentando sobre a sua cabeça uma coroa com duas plumas (kachuti) e
em suas mãos (consoante as circunstâncias em que é invocado) o signo da
vida (ankh), uma cimitarra (khopech) ou o cetro uase, entre outros. O
seu trono assenta sobre uma esteira que, por seu turno, se encontra
sobre um pedestal dotado dos símbolos da deusa Maet.
Amon, "aquele cuja natureza escapa ao entendimento", é representado
por um carneiro de chifres curvos ou, pontualmente por um ganso. Com
freqüência, as díspares formas de animais adotadas por um deus
confere-lhe o poder para se tornar irreconhecível ou apto a ser
confundido com outra deidade. A imagem do carneiro simboliza o conjunto
das forças criadoras, quer aquelas encarnadas pelo Sol, quer aquelas que
permitam garantir a reprodução dos seres vivos.
"Tu és o deus oculto (Amon), Senhor do silencioso, que acorre ao
apelo do humilde, tu que dás alento a quem dele é privado" (Estela de
Berlim).
http://www.mitologiaegipcia.templodeapolo.net |
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