segunda-feira, 9 de julho de 2012

CURSO DE ESPIRITISMO‏


Introdução ao estudo da Doutrina Espírita

Para as coisas novas, necessita-se de palavras novas. Assim o quer a clareza da linguagem, para evitar a confusão inseparável do sentido múltiplo provocado por vocábulos iguais. As palavras espiritual, espiritualista, espiritualismo já possuem uma acepção bem definida; dar-lhes uma outra para aplicar à Doutrina dos Espíritos seria multiplicar as causas já numerosas da anfibologia?. O espiritualismo é o oposto do materialismo; quem quer que acredite ter em si mesmo outra coisa além da matéria é espiritualista; mas não quer dizer que acredite na existência de Espíritos ou em suas comunicações com o mundo visível. Em lugar das palavras espiritual e espiritualismo, empregamos para designar essa última crença, Espírita e Espiritismo, cuja forma lembra a origem e o sentido radical e, por esse fato mesmo, têm a vantagem de ser perfeitamente inteligíveis, reservando à palavra espiritualismo suas próprias acepções. Diremos, portanto, que a Doutrina Espírita ou o Espiritismo tem por princípio as relações do mundo material com os Espíritos ou seres do mundo invisível. Os adeptos do Espiritismo serão os espíritas ou, se o quiserem, os espiritistas.
O Livro dos Espíritos contém a Doutrina Espírita, mas liga-se também à doutrina espiritualista, da qual representa uma das fases. Tal é a razão pela qual leva no topo de seu título as palavras: Filosofia Espiritualista.

C- Das Causas Primeiras - Deus - (LE - Livro 1º - cap. I - pergunta 1 a 3)

Deus e o Infinito

Que é Deus?
“Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas10.”

O que se deve entender por infinito?
“O que não tem nem começo nem fim: o desconhecido; todo o desconhe-cido é infinito.”

Pode-se dizer que Deus é o infinito?
“Definição incompleta. Escassez de recursos da linguagem, insuficiente para definir as coisas que estão acima da inteligência dos homens.”

Deus é infinito em suas perfeições, mas o infinito é uma abstração; dizer que Deus é o infinito é tomar o atributo de uma coisa por ela mesma; definir uma coisa, que não é conhecida, por uma que também não o é.

Condições da Prece

Condições da Prece
1. Quando orardes, não vos assemelheis aos hipócritas, que gostam de orar em pé nas sinagogas e nas esquinas, para serem vistos pelos homens. Eu vos digo, em verdade, que eles já receberam a sua recompensa. Mas vós, quando orardes, entrai em vosso aposento e, fechada a porta, orai ao vosso Pai em segredo, e Ele – que vê o que se passa em segredo – vos dará a recompensa.

E quando orais não faleis muito, como fazem os gentios, imaginando que serão ouvidos por muito falar. Não queirais, portanto, parecer-vos com eles, pois vosso Pai sabe do que tendes necessidade, antes que vós lho peçais. (Mateus, VI:5-8)

2. Quando vos puserdes em oração, se tiverdes algo contra alguém, perdoai-lhe, para que também o vosso Pai que está nos céus, perdoe os vossos pecados. Porque se vós não perdoardes, também vosso Pai que está nos céus, não vos perdoará os pecados.(Marcos, XI:25-26)

3. E propôs também esta parábola a alguns que confiavam em si mesmos, como se fossem justos, e desprezavam os outros: Dois homens subiram ao templo para fazer oração: um era fariseu e o outro publicano. O fariseu, em pé, orava lá no seu interior desta forma: Meu Deus, eu vos rendo graças, por não ser como o resto dos homens, que são ladrões, adúlteros, injustos, como é também este publicano. Eu jejuo duas vezes por semana, e pago o dízimo de tudo o que possuo.

O publicano, ao contrário, afastando-se, não ousava ao menos erguer os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Meu Deus, tende piedade de mim, pois sou um pecador.

Eu vos declaro que este voltou para casa justificado, e não o outro. Pois todo aquele que se exalta será humilhado, e todo o que se humilha será exaltado. (Lucas, XVIII:9-14)

4. As condições da prece foram claramente definidas por Jesus. Quando orardes, diz Ele, não vos coloqueis em evidência, mas orai em segredo. Não vos preocupeis em orar demais, pois não é pela multiplicidade das palavras que sereis atendidos, mas por vossa sinceridade. Antes de orardes, se tiverdes algo contra alguém, perdoai-lhe, pois a prece não será agradável a Deus, se não partir de um coração purificado de qualquer sentimento contrário à caridade. Orai, enfim, com humildade, como o publicano, e não com orgulho, como o fariseu. Examinai vossos defeitos, e não as vossas qualidades, e se vos comparardes aos outros, buscai o que há de mau em vós. (Ver Cap. X, nº 7 e 8).

Eficácia da prece


5. O que quer que pedirdes através da prece, crede, conseguireis. (Marcos, XI:24)
6. Há pessoas que contestam a eficácia da prece entendendo que, por conhecer Deus as nossas necessidades, torna-se inútil expô-las a Ele. Acrescentam ainda que, como tudo se encadeia no universo por meio das leis eternas, nossas rogativas não podem mudar os desígnios de Deus.

Sem dúvida alguma, há leis naturais e imutáveis que Deus não pode anular segundo os caprichos de cada um. Mas daí a acreditar que todas as circunstâncias da vida estejam submetidas à fatalidade, a distância é grande. Se assim fosse, o homem seria apenas um instrumento passivo, sem livre arbítrio e sem iniciativa. Nessa hipótese, só lhe caberia curvar a fronte aos golpes de todos os acontecimentos, sem procurar evitá-los. Não deveria esquivar-se dos perigos. Deus não deu ao homem o entendimento e a inteligência para não serem utilizadas; a vontade para não querer; a atividade para ficar na inação. Sendo o homem livre para agir, num ou noutro sentido, seus atos têm, para ele mesmo e para os outros, conseqüências subordinadas às suas decisões. Por sua iniciativa, há portanto, acontecimentos que escapam, forçosamente, à fatalidade, e que nem por isso destroem a harmonia das leis universais, assim como o avanço ou o atraso dos ponteiros do relógio não destrói a lei do movimento, sobre o qual está estabelecido o mecanismo. Deus pode, então, atender a certos pedidos sem derrogar a imutabilidade das leis que regem o conjunto, dependendo sempre da Sua vontade.

7. Seria, pois, ilógico concluir-se desta máxima: “Aquilo que pedirdes através da prece vos será concedido”, que basta pedir para obter, é injusto acusar a Providência se ela não atender a todos os pedidos que lhe fazem, pois ela sabe melhor do que nós o que nos convém. Assim acontece a um pai prudente, que se recusa a dar ao filho o que lhe seria prejudicial. O homem, normalmente, só vê o presente. Ora, se o sofrimento é útil à sua felicidade futura, Deus o deixará sofrer, como o cirurgião deixa o doente passar por uma cirurgia que deve curá-lo.

E o que Deus lhe concederá, se for pedido com confiança, é a coragem, a paciência e a resignação. O que Ele lhe concederá ainda são os meios de livrar-se dos problemas, com a ajuda das idéias que os bons Espíritos lhe sugerem, deixando-lhe assim, o mérito da ação. Deus assiste aqueles que se ajudam a si mesmos, segundo esta máxima: “Ajuda-te e o céu te ajudará”, e não os que tudo esperam do socorro alheio, sem usarem as suas próprias faculdades. Mas na maior parte do tempo, preferimos ser socorridos por um milagre, sem nada fazermos. (Ver Cap. XXV, nº 1 e seguintes).

8. Tomemos um exemplo: Um homem está perdido num deserto; sofre terrivelmente de sede; sente-se desfalecer, cai ao chão; pede a Deus que o ajude, mas nenhum anjo vem lhe trazer água. Entretanto, um bom Espírito lhe sugere levantar-se, e seguir determinada direção. Então, com um movimento instintivo, reúne suas forças, levanta-se e, caminha ao acaso. Chegando a uma elevação, ele descobre, ao longe, um regato e com isso coragem. Se tiver fé, dirá: “Obrigado, meu Deus, pelo pensamento que me inspiraste e pela força que me deste.” Se não tiver fé, dirá: “Que ótima idéia eu tive! Que sorte eu tive, em tomar o caminho da direita ao invés do caminho da esquerda; o acaso, algumas vezes, nos ajuda de fato! Como eu estou feliz pela minha coragem e por não ter me deixado abater!”

Mas, dir-se-á, por que o bom Espírito não lhe disse claramente: “Siga este caminho, e no fim encontrarás o que tens necessidade!” Por que não lhe apareceu para guiá-lo e sustentá-lo no seu abatimento? Dessa forma, o teria convencido da intervenção da Providência. Primeiramente, para lhe ensinar que é preciso ajudar-se a si mesmo e fazer uso de suas próprias forças, depois, porque, por incerteza, Deus coloca à prova a confiança e a submissão à sua vontade. Esse homem estava na situação da criança que, ao cair, vendo alguém, põe-se a gritar esperando que alguém a levante; Mas, se não vê ninguém, esforça-se e levanta-se sozinha.
Se o anjo que acompanhou Tobias lhe houvesse dito: “Eu fui enviado por Deus para guiar-te em tua viagem e te preservar de todo perigo”, Tobias não teria nenhum mérito. Foi por isso que o anjo somente se deu a conhecer na volta.

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