domingo, 8 de julho de 2012

Ogum

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Ogum




Ogum (do iorubá Ògún) como personagem histórico, teria sido o filho mais velho de Odùduà, o fundador de Ifé. Era um temível guerreiro que lutou sem cessar contra os reinos vizinhos. Dessas expedições, trouxe sempre um rico espólio e numerosos escravos. Guerreou contra a cidade de Ará e a destruiu. Saqueou e devastou muitos outros estados e apossou-se da cidade de Irê, matou o rei, aí instalou seu próprio filho no trono e regressou glorioso, usando ele mesmo o título de Oníìré, (Rei de Irê).
Entretanto, Ogum nunca chegou a usar a coroa (adé), feita com pequenas contas de vidro e ornada por franjas de miçangas que dissimulava o rosto e é o emblema de realeza para os iorubás. Usava um simples diadema, chamado àkòró, e isso lhe valeu ser saudado, até hoje, sob os nome de Ògún Oníìré e Ògún Aláàkòró inclusive no Brasil e em Cuba. Ogum teria sido o mais enérgico dos filhos de Odùduà e foi regente do reino de Ifé quando Odùduà ficou temporariamente cego.

Ogum no Novo Mundo

Ogum no Brasil é sobretudo o orixá dos guerreiros e dos ferreiros. Perdeu a posição de protetor dos agricultores, pois os escravos, nos séculos anteriores, não possuíam interesse pessoal na abundância e na qualidade das colheitas e não procuravam sua proteção neste domínio. Isso explica, igualmente, pouco a pouco que os iorubas, escravos no Brasil, deram ao Òrişà Oko, cujo culto continuou popular na África. Como deus dos caçadores, Ogum foi substituído por Oxóssi, trazido à Bahia pólos africanos de Keto, fundadores dos primeiros candomblés desta cidade.
As pessoas consagradas a Ogum usam colares de contas de vidro azul-escuro e, algumas vezes, verde. Terça feira é o dia da semana que lhe é consagrado. Como na África, ele é representado por sete instrumentos de ferro, pendurados em uma haste do mesmo metal, e por franjas de folhas de dendezeiro desfiadas, chamadas màrìwò que, penduradas acima das portas e janelas de uma casa ou à entrada dos caminhos, representam proteção e barreiras contra as más influências. Seu nome é sempre mencionado por ocasião de sacrifícios dedicados aos diversos orixás no momento em que a cabeça do animal é decepada com uma faca – da qual ele é o senhor.
É também o primeiro a ser saudado depois que Exú é despachado. Quando Ogum se manifesta no corpo em transe de seus iniciados, dança com ar marcial, agitando sua espada e procurando um adversário para golpear. É, então, saudado com gritos de “Ogum ieee!” (“Olá, Ogum!”). É sempre Ogum quem desfila na frente, “abrindo caminho” para os outros orixás, quando eles entram no barracão nos dias de festa, manifestados e vestidos com suas roupas simbólicas.
O adarrum é o ritmo característico de Ogum. É um ritmo "quente", rápido e contínuo e que lembra o galope frenético de um cavalo. É um ritmo executável pelos atabaques apenas, sem canto. Ogum dança vestido com suas roupas de azul profundo, de capacete e empunhando um facão, numa dança cheia de movimentos rápidos, "abrindo os caminhos" e "guerreando" com vigor. As comidas cerimoniais a ele oferecidas costumam ser simples, preferencialmente secas, sem molhos elaborados, feitas com o mínimo de ingredientes para estar prontas rapidamente, sem necessidade de empregados e panelas - comiida de soldado ou viajante. Seu prato por excelência é o inhame assado, acompanhado de feijão-fradinho rapidamente torrado diretamente no fogo.
O arquétipo de Ogum é o das pessoas violentas, briguentas e impulsivas, incapazes de perdoarem as ofensas de que foram vítimas. Das pessoas que perseguem energicamente seus objetivos e não se desencorajam facilmente. Daquelas que nos momentos difíceis triunfam onde qualquer outro teria abandonado o combate e perdido toda a esperança. Das que possuem humor mutável, passando de furiosos acessos de raiva ao mais tranquilo dos comportamentos. Finalmente, é o arquétipo das pessoas impetuosas e arrogantes, daquelas que se arriscam a melindrar os outros por uma certa falta de discrição quando lhes prestam serviços, mas que, devido à sinceridade e franqueza de suas intenções, tornam-se difíceis de serem odiadas.
Na Bahia, Ogum foi sincretizado com Santo Antônio de Pádua, por uma tradição peculiar à cidade de Salvador. Em 1595 uma imagem sua foi maltratada por protestantes. Estes foram capturados e viram dar à praia a imagem, que tinham jogado ao mar. Pela vitória contra os inimigos luteranos, o santo foi alistado no Forte da Barra, com direito a soldo. Em 1705, foi promovido a capitão e, na II Guerra Mundial, a major. No Rio de Janeiro e demais estados do Sudeste, Sul e Centro-Oeste do Brasil é sincretizado com São Jorge e, em Cuba, com São João Batista e São Pedro.

Mitos de Ogum

  • Depois de numerosos anos ausente de Irê, Ogum voltou para visitar seu filho. Infelizmente, as pessoas celebravam, no dia da sua chegada, uma cerimônia em que os participantes não podiam falar sob nenhum pretexto. Ogum tinha fome e sede; viu vários potes de vinho de palma, mais ignorava que estivessem vazios. Ninguém o havia saudado ou respondido às suas perguntas. Ele não era reconhecido no local por ter ficado ausente por muito tempo. Ogum, cuja paciência é pequena, enfureceu-se com o silêncio geral, por ele considerado ofensivo. Começou a quebrar com golpes de sabre os potes e, logo depois, sem poder se conter, passou a cortar as cabeças das pessoas mais próximas, até que seu filho apareceu, oferecendo-lhe as suas comidas prediletas, como cães e caramujos, feijão regado com azeite-de-dendê e potes de vinho de palma. Enquanto saciava sua fome e sua sede, os habitantes de Ire cantavam louvores onde não faltavam a menção a Ògúnjajá, que vem da frase Ògún jẹ aja (“Ogum come cachorro”), o que lhe valeu o nome de Ògúnjá. Satisfeito e acalmado Ogum lamentou seus atos de violência e declarou que já vivera bastante. Baixou a ponta de seu sabre em direção ao chão e desapareceu pela terra adentro com uma barulheira assustadora. Antes de desaparecer, entretanto, ele pronunciou algumas palavras. A essas palavras, ditas durante uma batalha, Ogum aparece imediatamente em socorro daquele que o invocou. Porém elas não podem ser usadas em outras circunstâncias, pois, se não encontra inimigos diante de si, é sobre o imprudente que Ogum se lançará.
  • Oiá (Iansã) era companheira de Ogum antes de se tornar a mulher de Xangô. Ela ajudava o deus dos ferreiros nos seus trabalhos; carregava docilmente seus instrumentos, da casa à oficina, e aí ele manejava o fole para ativar o fogo da forja. Um dia, Ogum ofereceu a Oiá uma vara de ferro, semelhante a uma de sua propriedade, e que tinha o dom de dividir em sete partes os homens e em nove as mulheres que por ela fossem tocados no decorrer de uma briga. Xangô gostava de vir sentar-se à forja a fim de apreciar Ogum bater o ferro e, freqüentemente, lançava olhares Oiá; esta, por seu lado, também o olhava furtivamente. Xangô era muito elegante, muito elegante mesmo, afirmava o contador da história. Seus cabelos eram trançados como os de uma mulher e usava brincos, colares e pulseiras. Sua imponência e seu poder impressionaram Oiá. Aconteceu, então, o que era de se esperar: um belo dia ela fugiu com ele. Ogum lançou-se a sua perseguição, encontrou os fugitivos e brandiu sua vara mágica. Oiá fez o mesmo e eles se tocaram ao mesmo tempo. E, assim Ogum foi dividido em sete partes e Oiá em nove, recebendo ele o nome de Ògún Mejé e ela o de Iansã, cuja origem vem de Iyámésàn – ‘a mãe (transformada em) nove’.

Ogum na Umbanda



São Jorge / Ogum na Umbanda
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Na Umbanda, Ogum é um dos orixás mais importantes e responde por toda uma Linha de espíritos. Seus caboclos são invocados por aqueles que necessitam de ajuda mística em alguma disputa ou demanda judicial. É o guerreiro, general destemido e estrategista, desbravador e protetor dos desamparados, além de ser o ferreiro dos orixás, senhor das armas e dono das estradas. Irreverente e valente, traz na espada tudo o que busca. As cores de suas guias variam conforme a região e influências do candomblé ou do batuque.Na Bahia azul-marinho ou verde, no Rio Grande do Sul, são verde, vermelho, branco (e em alguns terreiros estas associadas ao preto sendo que no caso de Ogum Beira-mar, verde, vermelha, branca e azul claro). A grande parte dos umbandistas de vários estados brasileiros, inclusive dos citados acima, utiliza a cor vermelha para guias e velas dedicadas a este orixá. Sua bebida energética é a cerveja branca.

ReferênciasEditar

  • Pierre Fatumbi Verger, Orixás: deuses iorubás na África e no Novo Mundo, São Paulo: Corrupio, 1981


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