HISTÓRIA DA
IGREJA
A Real Irmandade da Real Ordem de São Miguel da Ala
Ordo Equitum Sancte Michaelis sive de Ala
“QUIS UT
DEUS”
BREVE HISTORIA DA ORDEM EQUESTRE E MILITAR DE SÃO MIGUEL DA
ALA
Pelo Vice-Chanceler Carlos
Evaristo
A Real Irmandade da Ordem de São Miguel
da Ala é uma Associação de fiéis Católicos, herdeira das tradições e símbolos da
antiga Ordem de Cavalaria Portuguesa dedicada a São Miguel e fundada, segundo a
tradição, pelo primeiro Rei de Portugal, D. Afonso Henriques, depois da tomada
de Santarém aos Mouros, em Festa de São Miguel do Monte Gargano, 8 de Maio de
1147.
Não se pode precisar ao
certo a data da fundação da Ordem como tal, sendo essa um tanto obscura e
lendária.
No entanto, segundo alguns
historiadores, terá sido depois de um "Milagre ou Aparição de São Miguel", na
tomada de Santarém aos Mouros, que D. Afonso I, para comemorar e perpetuar a
história desse milagre, fundou a Ordem Equestre e Militar da Ala de São Miguel,
mais conhecida por Ordem de São Miguel da Ala, a mais antiga das ordens de
origem portuguesa.
Uma prova, apontada muitas vezes para
justificar esta história da origem da Ordem, é uma antiquíssima imagem em pedra
esculpida que existia na muralha de Santarém e que retrata o primeiro Rei
Português.
A imagem que se encontra hoje em
Lisboa, no Museu da Associação de Arqueólogos situado nas ruínas do Convento do
Carmo, acredita-se ser a única contemporânea do fundador da nação. Na sua base ainda se pode ler: " El Rei
D. Afonso Henriques, que esta vila (Santarém) tomou aos Mouros em dia de São
Miguel, 8 de Maio de 1147".A Crónica de Cister de Frei Bernardo de Britto (1597 -1602) refere como facto no Capitulo XVIII que a "Ordem de São Miguel da Ala” ou "Asa” foi instituída em 1171 por D. Afonso Henriques e os seus cavaleiros observavam a "Regra de São Bento" sendo uma das ordens militares de cavalaria sufragâneas da Ordem de Cister de Santa Maria de Alcobaça designado por Prelado.
Por ter sido
a Ordem de Cister a publicar, em 1630, a primeira Constituição conhecida da
Ordem de São Miguel da Ala; "Constitutiones Militum S. Michaelis sive de Ala" há
quem defenda que, até essa data, os cavaleiros da Ordem estavam divididos em
dois grupos, um de religiosos e outro de militares, sendo um composto por
professos da própria Ordem de Cister, e o outro por capitães e nobres (Doc.
1). No Volume II (Páginas 418-419)
da obra "De Iure Abbatum et Aliorum Praelatorum etc.", (1691), da autoria do
Abade Ascanio Tamburinio, encontrasse a transcrição do Breve ou Bula Papal de
Alexandre III datada de 4 de Janeiro de 1177 e referente ao reconhecimento da
"Ordo Equitum S. Michaelis sive de Ala", e outras Ordens Portuguesas. O mesmo documento refere o ano 1166 como
sendo o da data da fundação da Ordem e apresenta a data de 1205 como sendo a do
Milagre ou Aparição do braço armado e alado de São Miguel em Santarém. Como D. Afonso Henriques faleceu em
1185, a data de 1205 certamente faz referência ao Calendário Juliano em uso no
Reinado do Rei D. Afonso I e que corresponde ao ano 1147 do Calendário
Gregoriano "Ano Domini", só adoptado em Portugal no reinado de D. João I, e que
tem 38 anos de diferença da "Era de
César".
O Abade Bernardo Giustiniani, no
Capítulo XXVIII das suas "Historie Cronologiche dell'origine degl'Ordini
Militari e di tutte le Religioni Cavalleresche" intitulado: "Cavalieri dei Ala
di S. Michiele in Portogallo" Parte I, Páginas 428-433, (Veneza, 1692),
apresenta uma lista de cavaleiros e afirma ter havido vinte e três Grão-Mestres
da Ordem (todos eles Reis de Portugal) desde a fundação da Ordem por D. Afonso
Henriques, em 1165, até à regência de D. Pedro II
(1667).
A obra "The Institution, Laws &
Ceremonies of the Most Noble Order of the Garter", de Elias Ashmole (1672),
também faz referência à Ordem de São Miguel da Ala no Capítulo II, Página 70: "é
uma Ordem Religiosa Portuguesa dedicada a defender a religião Católica, as
fronteiras de Portugal dos Mouros e de levar conforto às viúvas e aos
órfãos". Numerosas referências à Ordem de São Miguel da Ala e gravuras semelhantes alusivas ao traje dos Cavaleiros também aparecem reproduzidas em várias obras sobre Ordens, editadas no estrangeiro entre os Séculos XVII e XVIII, constituindo assim prova irrefutável da continuidade e actividade da Ordem desde a sua criação até à época. Referências à actividade da Ordem entre os anos 1733 e 1912 estão reunidas e documentadas na obra "História da Franco-Maçonaria em Portugal" da autoria do Professor Manuel Borges Grainha.
A principal missão histórica e tradicional dos Cavaleiros da Ordem de São Miguel da Ala foi sempre a defesa da Fé Católica, Apostólica, Romana, a protecção dos membros da Família Real Portuguesa, a defesa da nação, a ajuda aos pobres e a propagação da devoção ao Arcanjo São Miguel em Portugal, terra que o aclamou de Anjo da Paz, e Anjo Custódio da nação ou Anjo de Portugal.
A Ordem de São Miguel da Ala gozou de um certo elevado
prestígio no tempo do Rei D. Miguel I que, na época conturbada que veio a seguir
às Lutas Liberais, a escolheu como organização secreta para defesa da Fé
Católica e da Monarquia legítima em Portugal. Foi já depois de 26 de Maio de 1834 que
o exilado monarca, instalando-se em Roma sob a protecção do Papa Gregório XVI, e
depois, com a anuência do Beato Papa Pio IX, reestrutura a Ordem, para a partir
de 1848 a mesma passar a ser, de acordo com o artigo lº da sua constituição, uma
"Ordem secreta, militante e política".
O artigo 2° refere que o objectivo da Ordem, que passou a ser denominada
"Ordem Secreta de São Miguel da Ala", era "defender a religião Católica
Apostólica Romana e restaurar a legítima sucessão", os Cavaleiros da Ordem
podendo até "levantar armas para cumprimento dos seus fins", de acordo com o
artigo 4°.
A Grã-Mestria da Ordem, (segundo o
artigo 28°), pertencia ao Rei D. Miguel I por direito que era reconhecido pela
Santa Sé e, depois de sua morte ou incapacidade, seria continuada pelos seus
legítimos sucessores na Chefia da Casa Real Portuguesa da linha Miguelista, ou
seja os herdeiros do Trono e da Coroa de Portugal. A herança do título de "Grão-Mestre Nato
da Ordem de São Miguel da Ala" seria sempre reconhecida à nascença do
primogénito dos descendentes sucessores de D. Miguel
I. Por ser reestruturada como uma Ordem Secreta, para assim também melhor poder combater como "força política contra o liberalismo, o modernismo e os outros inimigos da Igreja" das sociedades secretas anti-religiosas, que faziam parte do governo do regime anti-clerical de Joaquim António de Aguiar (o chamado "Mata Frades"), a Ordem mantinha algumas semelhanças a essas sociedades nas suas cerimónias e no numero e graus de seus membros. Segundo carta de D. Miguel datada de 23 de Junho de 1859, os membros também tomavam nomes secretos de cavaleiros do tempo de D. Afonso Henriques que, segundo a tradição, tinham sido os primeiros membros da Ordem de São Miguel da Ala: D. Egas Moniz, D. Pedro Afonso, D. Gonçalo Gonçalves, D. Pedro Paes, D. Gonçalo de Sousa, D. Lourenço Veigas, etc...
Das poucas actividades organizadas e conhecidas dos Cavaleiros da Ordem no Século XIX só sabemos que apoiavam D. Miguel I e sua família no exílio, contribuindo regularmente com um tributo.
Todos os títulos e direitos da Ordem de São Miguel da Ala passaram exclusivamente e definitivamente para a linha de D. Miguel porque a actividade da antiga Ordem em Portugal, e a investidura com as insígnias como condecoração honorífica, continuavam suspensas desde o reinado de D. Maria II e assim continuaram suspensas pelos reis descendentes de D. Pedro IV até D. Manuel II.
A notícia da restruturação e continuidade da Ordem de São
Miguel da Ala e a actividade secreta e militante dos seus Cavaleiros em Portugal
só vieram a publico em 1868, já depois de o Rei D. Miguel ter falecido em
1866. Nessa altura já toda a
actividade social, organizada, secreta e militante dos seus cavaleiros tinha
sido oficialmente suspensa, em 1859, por decisão de D. Miguel, sendo que a
actividade do Mestrado do Porto só terminou em 1861
(Doc.2).
O Rei exilado continuou a dispensar as insígnias da Ordem
"a titulo honorífico, até ao final da sua vida", mas, como a Constituição e
designação de "Secreta" não foi alterada, para estar em conformidade com as
exigências da Santa Sé, toda a actividade social, organizada, dos Cavaleiros da
Ordem permaneceu suspensa, com a condenação e suspensão de todas as Ordens
Secretas, decretada pelo Papa Beato Pio IX, na carta "Syllabus" de 70 erros
(1864), e pelo o Papa Leão XIII, na carta "Humanum Genus", contra as sociedades
secretas (1884).
A continuidade legal e moral da antiga "Ordem de São Miguel
da Ala" comprova-se através da atribuição, uso e registo na Chancelaria das
Ordens Dinásticas da Casa Real, de condecorações e títulos concedidos pelos
herdeiros Grão-Mestres titulares de D. Miguel
I.
Entre os muitos títulos confirmados e ainda apresentados
pelos Chefes da Sereníssima Casa de Bragança, descendentes de Sua Majestade
Fidelíssima EI Rei D. Miguel I até Sua Alteza Real o Senhor Dom Duarte Nuno de
Bragança, continua o de Grão-Mestre Nato da Ordem de S. Miguel da Ala. O mesmo título também foi herdado,
assumido e é apresentado pelo actual Chefe da Casa Real Portuguesa, Sua Alteza
Real o Senhor Dom Duarte Pio João Miguel Gabriel Rafael de Orleans e Bragança,
Duque de Bragança, Guimarães e Barcelos, Marquês de Vila Viçosa, Conde de
Arraiolos, Ourém, Barcelos, Faria, Neiva e Guimarães, que é descendente directo
dos irmãos monarcas D. Miguel I e D. Pedro IV. O actual Duque de Bragança é também
Grão-Mestre da Ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila
Viçosa.
A 4 de Agosto de 1981, houve uma
tentativa, por parte de alguns amigos monárquicos, de restaurar, com regulamento
reconhecido em Cartório Notarial, a actividade social dos Cavaleiros da Ordem de
São Miguel da Ala. O objectivo era
de se proceder à revisão, actualização e alteração da sua Constituição ou
Estatutos, insígnias e fins, mas a mesma actividade ficou permanentemente
suspensa por ordem do Duque de Bragança e seus Estatutos substituídos em 2001
por Estatutos Canónicos.
Por Decreto de 27 de Outubro de 1986, Dom Duarte de Bragança,
publicamente afirmou, para o esclarecimento dos que erradamente achavam a Ordem
de São Miguel extinta, que a continuidade da Ordem era mantida pelo título que
apresenta de Soberano Grão-Mestre Nato da Ordem de São Miguel da Ala. A validade do mesmo decreto foi
reconhecido pela Santa Sé, que confirmou não haver impedimento Legal ou Canónico
para o reconhecimento da existência contínua da Ordem de São Miguel ou para o
reconhecimento das Condecorações da Ordem conferidas pelo Chefe da Casa
Real. Deste modo o nome da Ordem
foi retirado da lista das Ordens
extintas.
Desde então, a Ordem de São Miguel da Ala consta no Livro
Oficial de Ordens de Cavalaria, Condecorações da Santa Sé ("Orders of
Knighthood, Awards and the Holy See”) e a sua história vem documentada no
suplemento ”The Cross on the Sword" publicado desde 1983 por Peter Bander van
Duren com a anuência do Secretário de Estado do
Vaticano.
A 29 de Setembro do Ano Santo e Jubilar 2000, o Duque de
Bragança ordenou a preparação de Estatutos para a criação de uma Real Irmandade
para “a preservação da memória e tradições da Ordem de São Miguel da Ala”, a
“consagração de Irmãos a São Miguel”, e também para servir de "único complemento
activo e social organizado” para aqueles que tenham sido investidos com títulos
e condecorações honoríficas da mesma Ordem e queiram integrar a Irmandade como
Irmãos.
Os presentes estatutos, elaborados em conformidade com os
Cânones do Código de Direito Canónico aplicáveis às Associações Privadas de
Fiéis, receberam parecer favorável das competentes autoridades eclesiásticas e
foram aprovados por Sua Alteza Real o Duque de Bragança, a 8 de Maio de
2001.
Em 1191, o Rei Afonso IX de Leão entregou vários povoados
aos cavaleiros portugueses de São Miguel da Ala, criando assim uma versão
Espanhola dessa Ordem, mais tarde incorporada na Ordem de Calatrava (Doc.
8).
Em França, no ano 1469, foi fundada uma Ordem de São Miguel
pelo Rei Luís XI.
A Inglaterra também conserva uma Ordem de São Miguel
e São Jorge, fundada pelo Rei Jorge IV em 1818. (Ver Insígnia em
cima)
Exterior de la iglesia
de San Esteban y Museo del Santísimo Milagro de Santarém (arriba) e interior de la iglesia de San Esteban
(abajo) con el Museo del Santísimo Milagro localizado en el segundo piso
tras el altar. Este es uno de los lugares en que se realizan las investiduras de
la real Hermandad y Orden de San Miguel del Ala. Es también la sede de la Real Hermandad del Santisimo
Milagro de Santarém, fundada en 1547.
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