Filho de Zeus (Júpiter) e Hera (Juno), Hefesto (Vulcano) era patrono dos humanos que trabalhavam os metais. Divindade que presidia o fogo, o ferro, o bronze, a prata, o ouro e todas as demais matérias fundíveis, sobre ele diz a lenda que sua mãe Hera, desgostosa com a feiúra da criança que acabara de nascer, atirou-a imediatamente ao mar, a fim de que permanecesse nos abismos oceânicos. No entanto, na Teogônia, de Hesíodo, que trata da genealogia e filiação dos deuses, ele é dado como filho unicamente de Hera, que o teria gerado sem participação do sexo masculino.
Recolhido pelas belas Tétis e Eurínome, filhas do Oceano, o primeiro deus aquático e pai de todos os seres, o enjeitado permaneceu escondido por elas durante nove anos, morando em uma gruta profunda onde suas protetoras o ensinaram a trabalhar os metais. Uma vez dominada essa arte, ele passou a se ocupar da fabricação de brincos, broches, colares, anéis e outros ornamentos com que presenteava suas protetoras, sem que, além delas, ninguém mais tivesse conhecimento de sua existência. Até que certo dia Hera viu uma dessas jóias, e admirada da beleza com que ela fora criada, perguntou pelo nome do artista, ficando sabendo, então, que ele era o seu filho. Arrependendo-se do que fizera, a deusa o chamou de volta ao Olimpo, mas o convite foi recusado porque Hefesto não se esquecera da rejeição de que fora vítima e por isso conservava, no fundo do coração, um grande ressentimento contra a sua mãe.
Diz a lenda que por conta dessa mágoa ele fez uma cadeira de ouro com mola oculta e a enviou ao céu, como presente para Hera. Esta gostou da oferenda tão bonita e preciosa, e sem perceber que se tratava de uma armadilha, sentou-se nela, e ali ficaria presa por muito tempo se não fosse a intervenção de Dionísio (Baco), o deus do vinho, que procurou Hefesto para levá-lo ao Olimpo a fim de libertar a deusa aprisionada, mas só conseguiu fazer isso depois de embebedá-lo. Homero afirma que os maus momentos passados pela mãe dos deuses na cadeira que lhe fora dada pelo filho, causou riso a todos os habitantes do Olimpo.
Em outra passagem, o mesmo Homero conta que foi o próprio Zeus quem precipitou Hefesto do alto do céu. Isso aconteceu no dia em que para punir Hera por esta ter excitado uma tempestade que deveria provocar a morte de Hércules, o deus maior a suspendeu no meio dos ares, entre o céu e a terra. Foi quando Hefesto, por um sentimento de compaixão ou de piedade filial, socorreu sua mãe, mas pagou caro por esse gesto de bondade: Zeus o segurou pelos pés e o atirou no espaço. Depois de ter rolado nos ares durante todo o dia, o infeliz Hefesto caiu na ilha de Lemnos, quebrando as duas pernas nessa queda terrível, e ficando coxo para sempre. Mas recolhido e tratado pelos habitantes locais, ele decidiu morar definitivamente no lugar aonde fora arrojado pelo pai, e para tanto construiu um palácio e ergueu nele forjas para trabalhar os metais. Contando com a ajuda dos Ciclopes da Sicília, ele se pôs a fabricar armas para os deuses e heróis mais famosos, bem como os raios trovejantes de Zeus, instalando também fornalhas de ferreiro sob o monte Etna, na Sicília, e em outras partes do mundo onde houvesse vulcões. Ajudado por Dionísio (Baco), voltou a cair nas graças de Zeus, que o fez desposar Afrodite (Vênus), a mais volúvel de todas as deusas, e que logo o traiu com Ares, infidelidade essa que foi descoberta por Febo e relatada ao marido enganado. Sobre tal episódio, conta-se que Hefesto, ao tomar conhecimento da traição que lhe faziam, armou uma armadilha para os amantes: assim, durante sua ausência. quando os dois deitaram-se em sua cama, ficaram presos em uma rede da qual, por mais que tentassem, não conseguiam libertar-se, sendo expostos a todos os outros deuses dessa forma humilhante e vergonhosa.
Apesar da aparência disforme, Hefesto, ou Vulcano, para os romanos, era o mais laborioso de todos os deuses. Estes lhe ergueram muitos templos fora dos muros da cidade, e nos sacrifícios em sua honra, a vítima era completamente consumida pelo fogo Seus templos eram guardados por cães, o leão lhe era consagrado, e suas festas celebradas no mês de agosto, sob os calores ardentes do estio europeu. Nos antigos monumentos é representado como um homem barbado, com os cabelos um pouco descuidados, coberto por uma veste que só lhe chega um pouco acima do joelho e com um gorro redondo e pontudo. Com a mão direita segura um martelo e com a esquerda, as tenazes.
Os poetas situavam a morada de Vulcano em uma das ilhas Eólias, coberta de rochedos, cujo cimo vomita turbilhões de fumo e chama. Homero louva o deus da in-dústria e da riqueza com o seguinte hino:
“A Hefesto
Musa harmoniosa, canta a ilustre inteligência de Hefesto
Que, com Atenas de olhos penetrantes, ensinou os nobres trabalhos
Aos homens da terra, aqueles que antes habitavam
Como feras selvagens, os antros das montanhas.
Agora, ao contrário, instruídos no trabalho graças a Hefesto,
O ilustre artesão, levam a vida tranqüila, todo o ano,
Nas casas que são sua obra.
Seja-nos propício, Hefesto! Dá-nos talento e riqueza!”
FERNANDO KITZINGER DANNEMANN
Enviado por FERNANDO KITZINGER DANNEMANN em 04/05/2007
Alterado em 03/12/2011
Alterado em 03/12/2011
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