A manhã esplendia em
júbilos. Havia um festival de sol, cor e música em a natureza. Pairava no leve
ar do alvorecer o suave perfume das flores miúdas encravadas nas íngremes
encostas do monte.
Há poucos minutos eles
tiveram ali a visão excelsa e o contato com o Mundo Transcendente.
Seu Rabi apresentara-se
rutilante ao lado dos pais da raça. Na grandeza eloqüente da cena, a figura do
Mestre se apresentara revestida de incomparável beleza. Nunca antes Ele se
reportara às Suas reais possibilidades...
Apagava-se na multidão,
embora o destaque natural que O elevava além e acima de todos.
Já afirmara as Suas
qualidades de Esperado, todavia, como crê-lo ou como duvidá-lo?! Os Seus atos
atestavam a elevação e a procedência da estirpe a que pertencia... Israel, no
entanto, apresentava profetas e emissários de Deus, frequentemente, e muitos
deles não passavam de possessos ou desequilibrados que o ridículo enxotava das
portas.
Onde, porém, n´Ele as
características habituais do profeta clássico? Nem o olhar injetado, nem a boca
contraída em ricto, nem cólera divina a extravasar na palavra sibilina e dura.
Falava docemente, emoldurando os seus conceitos com as palavras simples de todas
as bocas, faladas pela singeleza do povo, por todos entendidas.
Ensinava o amor como
solução única para os graves problemas e isto O fazia diferente. Perseguido, e
não poucas vezes humilhado, prosseguia dócil. Nunca arrazoava contra e jamais se
inquietava com as misérias dos homens. Misturava-se à turba e nunca se
igualava...
Era comum e, no
entanto, era especial.
Não amado e não
compreendido, continuava impertérrito no ministério do Seu amor, lecionando
bondade e aguardando resultados que comprovassem nos ouvintes a excelência das
Suas assertivas.
Compreendiam-nO agora e
estavam deslumbrados. Suas carnes ainda estremeciam ante o impacto da emoção que
os assaltara no colóquio da transfiguração que acabaram de ver.
Desciam a montanha, e a
música do ar cantava uma balada agradável aos seus ouvidos, como a fixar-lhes na
memória todas as realidades daquele momento.
***
- Não digais nada a
ninguém – falou, inesperadamente o Senhor – do que acabais de presenciar, até
que eu haja partido e ressurja dentre os mortos...
Não era a primeira vez
que Ele se referia à partida e acenava com o próprio sacrifício para a
consolidação dos Seus ensinos, e a informação lhes soava amarga, afligente...
Preocupavam-se, pois que O amavam. O testemunho dado por Ele, por outro lado,
exigir-lhes-ia igualmente o atestado de fidelidade, e receavam não estar
preparados...
- Rabi, não será
necessário – disse Simão – que venha primeiro Elias, conforme ensinam os
escribas, para que depois venha o Messias?
A interrogação que
mentalizavam da há algum tempo, escorrera-lhe dos lábios naturalmente, naquele
momento.
Elias fazia parte da
vida espiritual de Israel.
Sua voz penetrava
através dos tempos e a alma do povo eleito. Aquele verbo flamívono chibateara a
idolatria no passo e a sua eloqüência, inspirada por Deus, fizera-o anunciar o
Esperado libertador, que um dia faria de Israel o povo superior da
Terra.
Previra, também, o seu
próprio retorno para apontar Aquele que seria o Embaixador Excelso de Deus.
Esperava-se que Ele chegasse, fazia muito, mas Elias não retornara...
Todos recordavam que as
batalhas travadas contra os adoradores de Baal, nas margens do rio Kinzon,
implantando no seio dos bárbaros "o culto do Deus Único". Elias era, pois, o
ponto de partida, a chave decifradora do grande enigma.
- Sim – respondeu Ele
de olhar fulgurante – o Elias que havia de vir já veio, mas não o reconheceram,
fazendo-o experimentar tudo quanto quiseram... Assim, também, padecerá o Filho
do Homem...
Repassaram mentalmente
os últimos acontecimentos, os homens ilustres da Pátria, mas não o
identificavam.
Amargavam duro
cativeiro nas garras romanas, e a miséria lhes rondava as portas. Havia
rebeliões afogadas em sangue e os espiões do dominador, aliciados a peso de
ouro, estavam presentes em toda parte.
Por que não se escutava
o profeta invectivando, encorajando o povo a arrojar dos ombros ao solo os
pesados grilhões da escravidão?
Necessitavam de quem os
liderasse...
Enquanto conjeturavam,
na mesma harmoniosa voz, Ele concluiu:
- É este que aí
está...
Compreenderam que Ele
se referira a João Batista.
Sim. João morrera,
havia pouco, fora assassinado por Herodes e um manto de torpe tristeza ainda os
envolvia, dominando os discípulos do Batista, agora dispersos.
Sim, ele bradara contra
o crime e proclamara a chegada daquele de Quem ele não era digno de sacudir o pó
das sandálias.
Fora sacrificado por
não concordar com as altas arbitrariedades praticadas por Herodes, em pleno
concubinato com a cunhada. Sua voz se erguera, vigorosa, contra o abuso do poder
e anunciava a nova era.
Recorria à penitencia,
ao arrependimento, elucidando chegados os dias do Senhor...
.... E era
Elias!
Não havia dúvidas,
agora que foram informados. Por essa razão, Elias reaparecera na visão de há
pouco, em toda a sua grandeza.
João, morto, ressurgia
em Elias espiritual, vivo.
Decifravam-se os
enigmas e tornava-se mais fácil entender os desígnios do Alto.
Ele era, sem dúvida, na
Sua magnitude, o Esperado.
Fitaram-nO quase a
medo, e ante o olhar fulgurante de Jesus, a refletir a manhã clara, descendo a
montanha do colóquio com a verdade, na direção dos homens, havia tal
tranqüilidade que eles se entreolharam em júbilos e seguiram para baixo, para as
lutas humanas retendo aqueles segredos até a hora própria de
desvelá-los.
Elias chegara e
partira...
Começava, agora, o
Reino de Jesus, em sementes de luz e amor atiradas na direção do mundo todo e da
Humanidade inteira.
A sinfonia da Boa Nova
cantaria nos ouvidos do coração uma sonata de vida eterna.
A manhã continuava
esplendente, e Jesus descia para aplacar as aflições humanas nas baixadas das
paixões...
Divaldo Franco (médium)
Amélia Rodrigues (espírito)
Amélia Rodrigues (espírito)
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