Vinícius Lima Lousadavlousada@hotmail.com
Bento Gonçalves, RS (Brasil)http://www.oconsolador.com.br/
ano6/273/especial.html
“Pela lei da pluralidade das existências, [o
Espiritismo] abre um novo campo à Filosofia; o homem sabe de onde vem,
para onde vai, com que objetivo está na Terra. Explica a causa de todas as
misérias humanas, de todas as desigualdades sociais; dá as próprias leis da
Natureza como base dos princípios de solidariedade universal, de
fraternidade, de igualdade e de liberdade, que se assentavam apenas na
teoria. Enfim, lança luz sobre as questões mais árduas da Metafísica, da
Psicologia e da Moral.” [1]
UM SABER ESPÍRITA
Termo cunhado por Allan Kardec[2] e ensinamento ministrado pelos
Espíritos, como informadores da investigação científica levada a cabo pelo
mestre lionês, a reencarnação se refere à volta do Espírito à vida corporal.
No Vocabulário Espírita o mestre esclarece que esse
retorno do Espírito à vida corpórea pode dar-se em curto ou longo tempo
depois da morte, na Terra ou noutras moradas planetárias, sempre em corpo
humano pelo fato do Espírito não retroagir em sua escalada evolutiva e
tampouco retrogradar a fases infra-humanas. Nada obstante, a cada
reencarnação o Espírito pode evoluir de modo mais célere ou lento, conforme
o ritmo do seu esforço pessoal no campo do desenvolvimento de seu intelecto
e no da sua moralidade, podendo até mesmo estacionar temporariamente em
certo sentido.
De uma experiência corporal à outra, o Espírito pode alternar a
sua condição social, étnica e cultural, tendo em vista o seu adiantamento
através dos diferentes aprendizados que podem ser obtidos na diversidade das
circunstâncias materiais que se lhe apresentam, conforme as suas escolhas na
erraticidade que, por sua vez, geram provas pertinentes ao crescimento que
lhe cabe realizar, ou ainda, expiações que consistem em mecanismos
educativos de colheita da semeadura equivocada empreendida
outrora.
UM PSIQUIATRA E A SUA DESCOBERTA DA
REENCARNAÇÃO
O M.d. Brian Weiss, americano, lidava com seus pacientes mediante
os métodos convencionais da psicoterapia, sendo surpreendido pela
intervenção dos Espíritos na vida corporal e a pluralidade das existências
quando Catherine, uma de suas pacientes, espontaneamente, começou a recordar
traumas de vidas passadas que estariam conectados com os transtornos
emocionais que enfrentava na vida presente. Contudo, o ceticismo de Weiss
foi desafiado pela mediunidade de sua paciente que, em transe, fez
narrativas do além da vida a respeito de fatos particulares de seu
terapeuta, em especial, sobre o seu pai e filho, ambos desencarnados. Essa
experiência singular ele detalha com propriedade em seu Best-seller
“Muitas vidas, muitos mestres”.
Desde então a vida de Brian Weiss nunca mais foi igual ao que
era. O médico, pós-graduado na Universidade de Columbia e Yale Medical
School e presidente emérito do Mount Sinai Medical Center, em Miami, tem-se
dedicado à cura de seus pacientes através da terapia de vidas passadas, além
de se ocupar em contribuir com a formação de outros profissionais e realizar
seminários de âmbito nacional e internacional.
CONSTATAÇÕES NA TERAPIA DE VIDAS PASSADAS
A seguir, procurarei sintetizar ao leitor alguns aprendizados
indicados por Brian Weiss mediante a aplicação da terapia de vidas passadas
em busca da cura de seus pacientes[3]. Contudo, é de bom alvitre destacar
que a técnica utilizada por Weiss para levar seus pacientes à memória de
suas vidas anteriores é a hipnose, aliás, filha do magnetismo de Mesmer e
aceita academicamente desde o século XIX, quando difundida pelo Sr.
Broca[4].
Do mesmo modo, a meditação é um recurso utilizado pelo médico
para ajudar seus pacientes no acesso às lembranças de vidas passadas,
trata-se de um meio para fazer a mente ter foco e ativar informações do
subconsciente, tendo em vista a superação de conflitos que flagelam os que
procuram essa terapia. Jamais fins pueris orientam o quefazer de Brian
Weiss. Nesse processo, o paciente não é adormecido e estando consciente faz
uso da sua capacidade de discernir, sem perder o autocontrole. As lembranças
emergem sob a condução do terapeuta e se manifestam aos pacientes como um
filme ou fragmentos mnemônicos.
Em qualquer momento o paciente pode ser desperto. E, assim, Brian
Weiss (2009, p. ) sintetiza a regressão:
A terapia de regressão é o ato mental de voltar a um tempo
anterior, qualquer que seja esse tempo, a fim de resgatar lembranças que
podem influir negativamente na vida atual do paciente e que são
provavelmente a fonte de seus sintomas. (...)
Em quarenta por cento de seus pacientes, Weiss identificou a
regressão como a chave da conquista da cura completa. Noutros casos, não
identificou essa necessidade. Em trezentos de seus pacientes verificou que,
com a regressão associada à hipnose, é possível explorar de forma mais
profunda o inconsciente. Igualmente, alerta que a carga emocional que surge
na regressão demanda que a terapia seja realizada por profissionais com a
devida formação na área da saúde mental para ajudar devidamente o paciente a
elaborar o aproveitamento da vivência experimentada.
Weiss descobriu que as vivências acessadas pelos seus pacientes
apresentam-se em dois padrões: o clássico, com riqueza de detalhes sobre
aquela vida e os acontecimentos; e em fluxo de momentos-chave, onde o
subconsciente entrelaça lembranças de momentos mais importantes e relevantes
das experiências passadas que são capazes de elucidar o trauma oculto,
favorecendo a cura.
A hipótese central dele consiste na constatação de que o simples
ato de rememorar ou revivenciar um trauma do passado longínquo resulta em
cura emocional, tal como ocorre na terapia convencional. Entende que há uma
notória possibilidade de que o agente da cura esteja na consciência de que a
alma nunca morre e na compreensão das causas profundas dos conflitos
psicológicos ou de enfermidades.
Entre os saberes encontrados por Weiss, pela memória que
transborda do inconsciente profundo de seus pacientes ou pelo diálogo com os
Espíritos orientadores (que ele nomeia por mestres em sua obra), encontramos
a imortalidade da alma, a reencarnação, a comunicabilidade entre os que
partiram para o além com os que vivem aquém, aliás, muito presentes em
experiências espirituais vividas por pacientes terminais, aqueles que
transitaram no estado de quase-morte, outros durante as sessões com o
terapeuta ou, ainda, de forma particular em momentos de visualização
terapêutica ou meditação.
A terapia de vidas passadas demonstrou eficácia em casos de dores
crônicas, alergias, asma, estresse, ansiedade, depressão, deficiências
imunológicas, úlceras, gastrites, podendo melhorar lesões ou tumores
cancerígenos, além de promover a tranquilidade, alegria e vontade de viver.
Para o terapeuta, o elemento espiritual da terapia de vidas passadas – a
certeza da imortalidade – tem um grande poder curativo ao afastar o paciente
do medo e do sofrimento.
Os laços de família são tecidos em razão dos encontros que as
vidas sucessivas fomentam, pois, segundo suas constatações, renascemos
várias vezes nos mesmos grupos e as simpatias ou antipatias são originadas
nessas convivências sadias ou não que se perdem na esteira do tempo. O
reconhecimento subconsciente dos encontros familiares do passado dá-se na
repulsa ou atração pelo afeto de hoje, de forma espontânea.
O condicionamento do carma é relativo, pois somos sujeitos de
nossas escolhas mediante o livre-arbítrio. Não somos determinados por
fatores genéticos e ou cármicos, muito embora as nossas ações condicionem de
certo modo nossa evolução espiritual e, nesse caso, a terapia de vidas
passadas parece fortalecer a vontade do paciente evitando que seja joguete
de suas próprias tendências.
As dificuldades e obstáculos superados a cada reencarnação fazem
o indivíduo progredir espiritualmente e as circunstâncias mais afligentes
devem ser encaradas como “chances de progresso, não de atraso”.
(Weiss, 2009, p. 82)
Vale destacar que a terapia de vidas passadas abre um caminho
para a espiritualidade, no sentido mais profundo, no cuidado com o paciente
e estabelece a possibilidade de um diálogo natural sobre a morte e as
doenças, psíquicas ou físicas entre o médico, seus pacientes e
familiares.
Outro saber pertinente aos achados de Weiss está na presença dos
guias espirituais, os Bons Espíritos responsáveis por bem orientar os
sujeitos na presente reencarnação, cujos laços de afinidade podem ser
estruturados já em vidas anteriores. Igualmente, o guia pode se
manifestar através de médiuns experientes ou a ele mesmo, mediante o
exercício da meditação ou visualização, práticas espirituais que ajudam o
paciente na concentração mental.
Certamente o leitor, se for espírita, está pensando que Brian
Weiss não nos traz novidade alguma, pois recolhemos esses saberes nos textos
de Allan Kardec. Todavia, encontramos na produção escrita de Weiss uma
expressiva convergência com o pensamento kardequiano, o que acaba por
reforçar não só a atualidade da filosofia espírita, como também, a abertura
– ainda que tímida – de outros campos de saber à dimensão espiritual do ser
humano. As profícuas descobertas de Weiss pedem ao pesquisador sensato e sem
preconceito um contato mais atento com fenômenos dessa ordem e uma
curiosidade epistemológica que transcenda as suas verdades pré-concebidas.
E O ESQUECIMENTO DO PASSADO?
Em seu diálogo com o cético, em O que é o
Espiritismo?, Allan Kardec aborda o problema do esquecimento do
passado que é matéria de objeção pelo inquiridor ao princípio da
reencarnação. E, nesse sentido, esclarece o pensador da Doutrina Espírita:
“Se em cada uma de suas existências um véu esconde o passado do Espírito,
com isso nada perde ele das suas aquisições, apenas esquece o modo por que
as conquistou”. [5]
Há um olvido do passado, para a consciência atual do Espírito,
cuja finalidade é permitir-lhe novas aprendizagens, a partir dos saberes e
vivências adquiridos grafados em seu psiquismo sem estar preso a essas
experiências, abrindo-lhe os horizontes do intelecto e da moralidade
orientado pelas imensas possibilidades latentes em seu vir-a-ser.
Reencarnado, o ser humano traz de forma intuitiva e em suas
ideias inatas o que adquiriu em ciência e em moralidade, mas detalhes das
vivências passadas ficam ocultos no inconsciente profundo para que o
indivíduo não se prenda a eles, com o risco de caminhar em um círculo
vicioso, desviando-se do campo do aprendizado que deve empreender. Caso toda
gente se lembrasse de tudo, viveríamos um caos porque com a nossa limitada
cosmovisão perpetuaríamos preconceitos, disputas inúteis, ódios e, por
certo, exigiríamos na vida presente respeito às prerrogativas que nos foram
concedidas no passado, como classe social, valores étnicos e religiosos,
enraizando ainda mais em nosso ser as ilusões que nos prendem ao sofrimento
nas vidas sucessivas.
Entretanto, ao identificar o esquecimento do passado como uma
ferramenta da solicitude de Deus em prol de seus filhos, o Espiritismo
jamais fez dele um dogma. Como doutrina progressista, nele não há qualquer
prescrição proibitiva nesse sentido, muito pelo contrário, porque tendendo a
absorver os progressos científicos de campos distintos do conhecimento, como
pretendia Kardec, o Espiritismo é dialógico em relação às contribuições que
são confirmadas pelo mais rigoroso e atual método
científico.
Aliás, a lembrança de vidas passadas é uma possibilidade do ser
humano porque acessadas essas memórias extracerebrais e trazidas para o
consciente, se traduzem em experiência transpessoal que fala fundo à alma
sobre a sua imortalidade e progressividade espiritual. Esse emergir de
lembranças de vidas passadas tem sido alvo de registros de diversos
pesquisadores como Albert Rochas (1837-1914), Hernani G. Andrade
(1913-2003), Prof. Hamendra Nath Banerjee (1929-1985) e Dr. Ian Stevenson
(1917-2007).
Esse fenômeno merece estudo, seja daqueles que se interessam pelo
tema, que desejam fazer dele objeto de suas pesquisas ou para os que
percebem a fertilidade do diálogo da Ciência Espírita com as pesquisas
contemporâneas sobre reencarnação. A lembrança das vidas passadas, enfim, é
um fato que colabora com a difusão do princípio da reencarnação e corrobora
a terapêutica psicológica que dela se serve e que tem sido útil para o
alívio do sofrimento humano. Contrapô-las com as armas da proibição ou
discursos em prol de uma cultura do medo, que nada têm a ver com o
Espiritismo, é tão ingênuo quanto negá-las por desconhecê-las. Aqui, como
noutras questões, o bom senso é sempre bem-vindo.
NOTAS:
[1] Revista Espírita, agosto de 1865.
O que ensina o Espiritismo.
[2] Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas. Vocabulário Espírita. REENCARNAÇÃO
[3] WEISS, Brian. A cura através da terapia de vidas passadas. Rio de Janeiro: Sextante, 2007.
[4] Vide Revista Espírita de Janeiro de 1860 - O Magnetismo perante a Academia.
[5] KARDEC, Allan. O que é o Espiritismo. 55. Ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007, p. 127.
[2] Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas. Vocabulário Espírita. REENCARNAÇÃO
[3] WEISS, Brian. A cura através da terapia de vidas passadas. Rio de Janeiro: Sextante, 2007.
[4] Vide Revista Espírita de Janeiro de 1860 - O Magnetismo perante a Academia.
[5] KARDEC, Allan. O que é o Espiritismo. 55. Ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007, p. 127.
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